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Espanhóis, pero no mucho

Amanhã se encontrarão num amistoso no Monumental de Núñez argentinos e espanhóis. O jogo marcará a vinda de um país europeu à Argentina depois de 11 anos e todo o país estará de olho nos atuais campeões mundiais, apesar do horário alternativo da partida, 17h. Sete jogadores que estiveram na final da Copa contra a Holanda deverão começar o jogo contra a albiceleste.

Apesar de o primeiro confronto entre Argentina e Espanha ter ocorrido somente em dezembro de 1952 (vitória argentina por 1 x 0 em Madri), antes disso já existia uma relação entre argentinos e a seleção da Espanha. A história começou há quase 90 anos, com a atuação de Emili Sagi Barba pela seleção espanhola.

Sagi Barba, na realidade, se chamava Emili Sagi Liñán. Ficou assim conhecido pois esse nome era de seu pai, um famoso barítono do final do século XIX e começo do século XX. O artista chegou à Argentina em 1895 e fez sucesso no país inteiro. Em 1900 se casou e Emili nasceu na cidade de Bolívar. Poucos anos depois a família voltou a Barcelona, e o filho do barítono começou sua carreira de jogador. Em 1917 Emili (já conhecido como Sagi Barba) entrou na equipe principal, mas dois anos depois largou o futebol. Voltou em 1921 e jogou até 1932. No total disputou 434 jogos e marcou 136 gols, sendo considerado até hoje um dos melhores extremo-esquerdos da história do Barcelona. Jogou apenas uma partida pela Espanha.

Quase na mesma época, Eduardo Arbide, nascido em Rosario e filho de bascos, jogou pela Real Sociedad e atuou uma vez com a camisa vermelha. Como Arbide, também Juan Errazquín era filho de bascos. Mas se destacou defendendo o então poderoso Real Unión de Irún (campeão de quatro Copas do Rei entre 1913 e 1927) e em seis jogos com a seleção espanhola marcou seis gols.

Passaram-se 30 anos para que outro argentino jogasse pela Espanha. E ninguém menos que Alfredo Di Stéfano foi o próximo a vestir a “Roja”. Depois de sua naturalização, o mitológico jogador do Real Madrid participou de 31 jogos, marcando 23 gols. Além da Espanha, Di Stéfano defendeu a seleção da Argentina, onde conquistou o campeonato sul-americano de 1947, e da Colômbia, embora os quatro jogos que disputou não sejam reconhecidos como oficiais. Por fatores que talvez só o destino possa explicar, Di Stéfano, considerado um dos melhores jogadores da história do futebol, nunca pôde jogar uma Copa do Mundo. Em 1950 a Argentina não compareceu por estar em litígio com a CBD, em 1958 a Espanha não conseguiu se classificar e em 1962 esteve com o time espanhol, mas uma lesão o impediu de jogar o torneio. Vale destacar que Di Stéfano foi, até 1990, o maior artilheiro da seleção espanhola, sendo superado por Butragueño.

Com Di Stéfano jogou pela Espanha seu companheiro inseparável, o meio-campo Héctor Rial, que atuara com a “Flecha Loira” no Millonarios colombiano e no Real Madrid, tendo jogado na Argentina pelo San Lorenzo. Defendeu por cinco vezes a seleção espanhola e marcou um gol. Ainda na década de 60 outro filho de bascos, José Gárate, jogou pela seleção em 18 oportunidades e fez cinco gols. Após ter atuado pelo Eibar, Gárate foi ídolo do Atlético de Madrid por mais de dez anos e foi um dos principais jogadores que ajudaram os colchoneros a conquistar o título mundial de 1974.

Ainda na década de 70 jogaram pela Espanha Juan Carlos Heredia (apelidado “Milonguita” e ídolo do Barcelona até hoje), Roberto Martínez (nascido em Mendoza e com boa passagem pelo Real Madrid), Juan Carlos Touriño (um dos melhores zagueiros do Real Madrid), Oscar Valdez (ídolo do Valencia) e Rubén Cano (grande ídolo do Atlético de Madrid). Cano, que marcou quatro gols em 12 partidas com a Espanha, foi o herói da classificação espanhola para a Copa de 78, marcando o gol da vitória da Fúria contra uma das seleções mais fortes da Europa na época, a Iugoslávia. Além de ter garantido a classificação, o jogo ganhou ares épicos por ter sido disputado numa fechada Belgrado ante a hostilidade de quase 70 mil pessoas.

Quase 20 anos depois do feito histórico, outro argentino passou a figurar entre os selecionáveis espanhóis. O centroavante Juan Antonio Pizzi, goleador que começou sua carreira no Rosario Central e que teve seu auge no Tenerife e no Barcelona, nunca teve uma oportunidade na albiceleste, cujo ataque era dominado por Batistuta, Caniggia, Ortega e Claudio López. Assim, se naturalizou espanhol e foi convocado por Javier Clemente, tendo disputado 22 jogos e marcado oito gols, sendo um deles marcado na Copa de 98. Após a Copa, Pizzi voltou à Argentina, jogando pelo River e novamente pelo Rosario Central e encerrou sua carreira no Villarreal. Atualmente é técnico da Universidad Católica do Chile.

O último jogador argentino a atuar com a camisa espanhola é Mariano Pernía. Revelado pelo Independiente, seus gols de falta jogando pelo Recreativo Huelva, pelo Getafe e pelo Atlético de Madrid lhe valeram uma naturalização relâmpago, já que o titular Asier Del Horno se lesionou e foi cortado do elenco comandado por Luís Aragonés. Assim Pernía foi chamado e fez parte da equipe espanhola na Copa de 2006. No último dia 30 de junho seu vínculo com o Atlético de Madrid se encerrou e na semana passada o lateral-esquerdo acertou sua vinda ao Nacional de Montevidéu.

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

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