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Quando o Boca conquistou a América pela segunda vez

Há 32 anos o Boca Juniors levou sua torcida ao delírio. Venceu os colombianos do Deportivo Cali em plena Bombonera e conquistou a Libertadores pela segunda vez, e de forma consecutiva. A equipe de La Boca se consolidava como um grande no futebol sul-americano.

Hoje muita gente não sabe que a equipe auriazul (bem como seu grande rival, o River) demorou para ultrapassar as fronteiras de seu país. Em 1977, quando o Boca conquistou a Libertadores pela primeira vez, o Independiente já tinha seis conquistas, o Estudiantes três e o Racing uma. Aquele time do final dos anos 1970 é, portanto, parte importantíssima da história xeneize.

Curiosamente, em termos individuais aquela equipe, treinada por Juan Carlos Lorenzo, estava longe de ser brilhante. Nenhum dos jogadores do time base xeneize campeão daquela Libertadores (Gatti, Pernía, Sá, Mouzo e Bordón; Benitez, Suñé e Zanabria; Mastrangelo, Salinas e Perotti) esteve em campo quando a albiceleste venceu o mundial daquele ano (o representante xeneize na conquista deveria ter sido o arqueiro Hugo “El Loco” Gatti, titular da seleção nos amistosos preparatórios; mas Gatti abandonou a seleção às vésperas do mundial, por não querer ser usado pela ditadura vigente).

Mas a equipe era bastante competitiva. E levava a vantagem de entrar na competição como atual campeã, o que naquele tempo significava entrar na fase final. Naquela fase, se formavam dois grupos de 3 equipes, com os vencedores das chaves disputando o título. Isso explica o alto número de equipes que conseguiam manter o título por mais de um ano naquela época.

A chave do Boca era terrível: seus concorrentes eram o arquirrival River Plate e o excelente Atlético Mineiro. Mas os xeneizes não deram moleza: venceram os dois confrontos contra os mineiros e garantiram a classificação ao vencer o superclássico decisivo dentro do Monumental de Nuñez por 2 a 0.

O Boca estava na final, contra o Deportivo Cali, curiosamente treinado por Carlos Bilardo, futuro campeão mundial em 1986. Embora fosse uma boa equipe, os colombianos não foram páreo para os argentinos. No primeiro jogo, em Cáli, ainda seguraram um 0 a 0. Mas na Bombonera a história seria outra.

O primeiro tempo foi disputado, e as equipes desceram para o intervalo com o Boca vencendo por um magro 1 a 0, gol de Perotti. Mas no segundo tempo veio a avalanche de gols xeneizes: Mastrangelo ampliou aos 15, Salinas levou a torcida ao delírio ao marcar mais um aos 26, e a cinco minutos do fim Perotti marcou mais um, para fechar o caixão colombiano. O Boca era bi campeão da América.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

3 thoughts on “Quando o Boca conquistou a América pela segunda vez

  • Caio Brandão

    Já tava sentindo falta desses especiais e de uma vez vocês colocam esse e o do Rojo, legaal :)

    Li em algum lugar sobre esse fator político que fez o Gatti ficar de fora de 1978… por outro lado, a FourFourTwo Brasil, número 1, que fez uma matéria sobre goleiros revolucionários, disse que a razão da ausência dele seria uma lesão. Foi a razão “oficial” ou ele ficou de fora pelos dois motivos?

    Ah, o Tarantini já não era mais do Boca na época da Copa?

  • Tiago Melo

    Caio, obrigado pelos comentários. O Tarantini foi para o Birmingham pouco antes do mundial de 1978, e já era jogador do clube inglês durante a copa (embora eu tenha a impressão de que ele ainda não tinha atuado por lá).

    Fato: Gatti e Carrascosa (lateral do Huracán) eram titulares absolutos da albiceleste, e deixaram a seleção às vésperas do mundial. Daí a questão é saber o que aconteceu. Há a informação das lesões sim. E também há quem diga que ambos jogaram normalmente por seus clubes depois disso, entao só pode ser pelas simpatias que ambos tinham pelos opositores da ditadura (que era real). Taí algo que certamente será uma controvérsia eterna.

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