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Futebol e Rugby – Parte 7: San Isidro

Após esta série abordar os cinco times do rúgbi argentino que chegaram a ser campeões nacionais de futebol e, antes deles, sobre o próprio clube pioneiro no país nos dois esportes, a partir de agora se direcionará àqueles que lograram ao menos um vice-campeonato argentino com a bola primordialmente nos pés.

Nada mais apropriado então que iniciar com aquele que, neste item, obteve maior número de vices (três). Ainda mais quando tal instituição posteriormente dividiu-se em duas, com ambas sendo justamente as maiores vencedoras e rivais do rúgbi na Argentina. Para completar, o fato de Che Guevara ter atuado, ainda que brevemente, por uma delas. Este especial, então, será dedicado aos dois times de San Isidro (distintivos acima), capital do rúgbi argentino e onde não por acaso encontra-se o Museu do Rúgbi nacional (na Juan B. de Lasalle, 653, com entradas francas).

San Isidro é uma pequena cidade ao norte de capital federal. É a capital do partido também chamado San Isidro, em que o único clube de futebol na ativa é o minúsculo Acasusso, fundado em 1922, que está no equivalente à terceira divisão. Mas, no início do século passado, ali, em um terreno de um gentil senhor chamado Manuel Aguirre, uma equipe de ingleses (San Isidro Athletic Club) e uma criolla (Club de Foot Ball de San Isidro) compartilhavam suas práticas, decidindo então por fundir-se em 1902, sob o nome dos britânicos.

Após três anos na segundona estando perto de obter o acesso, o San Isidro Athletic Club conseguiu-o o quando a Associação Argentina de Futebol resolveu, para a primeira divisão de 1906, estabelecer um alargamento do número de participantes, que saltaram de sete para onze, no que atraiu maior interesse de público. Debutante na elite, o San Isidro teve um ano de aprendizado: nas Copas internacionais, já abordadas anteriormente nesta série de especiais, caiu no primeiro confronto em ambas (para o Argentino de Quilmes na Honor e, na Competencia, por um 1 x 6 contra o Belgrano Athletic).

Já no campeonato, até então sempre disputado por pontos corridos, houve uma inovação: os cinco times mais fortes ficaram em um grupo, com outro reunindo os restantes. Os vencedores de cada chave disputariam a taça em uma final. Isso possibilitou que o decadente Lomas Athletic, outrora o grande conquistador do torneio, pudesse postular o título com o seu “sucessor”, o Alumni (estes dois já foram abordados na série, respectivamente aqui e aqui). O San Isidro ficou apenas em quarto no grupo dos “fracos”, o do Lomas.

Em 1907, ano em que nacionalizou o nome, o novato já demonstrou notável evolução. Caiu na semifinal da etapa argentina da Copa Honor (em um 1 x 2 contra o Quilmes) e, no campeonato (novamente por pontos corridos), terminou em terceiro. Nos campeonatos seguintes, obteve colocações inferiores, mas conseguia grande desempenho nas Copas internacionais: na Copa Honor de 1909, passou por Quilmes, Porteño (abordado no especial anterior desta série) e, na decisão da fase argentina, goleou o Estudiantes de Buenos Aires com um 8 a 1.

Foi o primeiro troféu do San Isidro, pois a etapa nacional já valia uma taça, chamada Copa Honor Municipalidad de la Ciudad de Buenos Aires. Na decisão internacional, vendeu caro uma derrota de 2 x 4 para o CURCC (Central Uruguayan Railway Cricket Club, o time que deu origem ao Peñarol). Já na Copa Competencia do mesmo ano, caiu na semifinal argentina em um duro 2 x 3 contra o futuro vencedor Alumni.

Em 1911, então, teve seu melhor ano até aquele momento: foi outra vez o terceiro colocado no campeonato argentino, em que Ricardo Malbrán, um dos fundadores do clube, se tornaria seu único jogador a terminar a competição como artilheiro. O San Isidro obteve ainda a etapa argentina da Copa Competencia, que rendeu-lhe a taça Copa Competencia Jockey Club.

Curiosamente, na campanha desse título, foi eliminando os mesmos adversários daquela edição de 1909 na Copa Honor: Porteño, Quilmes, e, na decisão, o Estudiantes de Buenos Aires (que perdeu desta vez por 2 x 4). Porém, na decisão internacional, foi derrotado em casa para o Montevideo Wanderers, que venceu por 2 x 0.

Elenco do Club Atlético de San Isidro (ainda de camisa celeste) vencedor da Copa Competencia de 1912, seu maior feito no futebol.

Mas o desempenho do ano seguinte foi ainda mais notável, talvez o melhor do San Isidro no futebol. A consagração internacional finalmente veio, na Competencia. Depois de tirar do caminho o Argentino de Rosario, o Estudiantes de La Plata, o Tiro Federal e o Quilmes, obteve o torneio para si ao derrotar o Nacional pelo placar mínimo. No campeonato, ficou no vice da liga mais forte (outras equipes, dissidentes, fundaram uma federação que realizou um campeonato paralelo), quatro pontos atrás do campeão Quilmes, bem reforçado por jogadores do recém-extinto Alumni.

Em 1913, novamente o San Isidro esteve no páreo. Na liga, foi o melhor time de seu grupo, deixando o segundo colocado, o Boca Juniors (debutante na elite), cinco pontos atrás. Decidiu o título com o melhor time do outro grupo, o Racing. A três dias do ano-novo, o time de Avellaneda obteve com um 2 x 0 aquele que seria o primeiro de seus sete títulos argentinos seguidos na década (ainda um recorde na Argentina). As duas equipes decidiram também a etapa argentina da Copa Competencia. Pelo mesmo placar, foi o San Isidro quem levou a melhor, mas acabou recebendo o troco do Nacional na final internacional.

Em 1915, as ligas reunificaram-se e, em um torneio de 25 times disputando o título em pontos corridos, San Isidro e Racing terminaram o campeonato empatados na ponta superior da tabela, com 46 pontos, forçando um jogo extra entre ambos. Já bicampeão, o adversário impediu a revanche do San Isidro com um solitário 1-0 obtido aos 6 minutos de jogo, no estádio do Independiente, já em 6 de janeiro do ano seguinte. Detalhe: o San Isidro teria sido o campeão se o tapetão não tivesse entrado em cena, ao retirar os pontos do Independiente pela vitória dele por 2-1 no Clásico de Avellaneda (o primeiro da elite argentina, precisamente) e entrega-los à Academia após suposta escalação irregular de um jogador do Rojo.

Os racinguistas tiveram ainda mais três partidas depois do dérbi e calharam de vencer todas, forçando aquele desempate, curiosamente no campo do próprio Independiente. O terceiro vice-campeonato foi a última vez que o San Isidro chegou tão perto do título nacional no futebol: no torneio de 1916, ficou em 13º enquanto o carrasco obtinha o tetracampeonato seguido. Nas edições que se seguiram, que chegaram a envolver novas ligas separadas, o melhor desempenho sanisidrense foi um quarto lugar, em 1918. O segundo melhor já foi um oitavo (1923). Nas Copas, a equipe também já não chegava longe mesmo nas fases nacionais.

Em 1931, o profissionalismo instalou-se oficialmente no futebol argentino, embora clubes resistentes tenham continuado a disputar paralelamente um campeonato amador até 1934. O San Isidro (antepenúltimo em 1930) inicialmente se colocou entre estes, participando das quatro primeiro rodadas. Com um empate e 3 derrotas, desafiliou-se; não para ingressar na liga profissional, e sim para retirar-se do futebol, onde sua trajetória estava inversa à que vinha obtendo no rúgbi – ainda um esporte que prezava o amadorismo.

Justamente a partir de 1916, ano em que seu desempenho no futebol passou a decair, o San Isidro evoluía magistralmente no rúgbi, cujas práticas haviam começado ali dez anos antes, embora só em 1917 o esporte fosse realmente efetivado. Nele, o clube trocou a camisa azul celeste pelas listras horizontais alvinegras que o deixariam célebre.

San Isidro e Buenos Aires FC em capa da El Gráfico, na época em que rivalizam no número de títulos de rúgbi

Aproveitando-se de que as equipes rivais estavam desfalcadas de muitos de seus jogadores, que haviam ido ao Velho Continente lutar na Primeira Guerra Mundial (enquanto o futebol já se popularizara entre os criollos, o rúgbi ainda era mais acolhido entre as comunidades de imigrantes europeus), o San Isidro conseguiu vencer nada mais do que treze títulos seguidos entre 1917 e 1930 (a edição de 1919 não foi realizada), exatamente seu último ano de participação plena no futebol. O suficiente para ser, já ali, o maior vencedor do rúgbi argentino, ultrapassando em larga escala os então oito títulos do Buenos Aires FC (antigo recordista e que obteve somente mais dois títulos desde então).

Na imagem ao lado, uma El Gráfico de 1922 mostra justamente estas duas equipes. O San Isidro, ali, já somava cinco conquistas no rúgbi, já se encostando nas oito do Buenos Aires. Por sinal, a primeira vez que a revista dedicou uma capa ao rúgbi, também envolveu o San Isidro: foi em edição de 1920, que retratava partida sua contra o Belgrano Athletic; tal capa encontra-se no especial dedicado a esta outra equipe, outra que trilhou futebol e rúgbi na Argentina.

Claudio Bincaz, em capa de El Gráfico de 1927

Nenhum atleta simbolizou tão bem o contraste entre esses dois esportes no San Isidro quanto Claudio Bincaz . Nascido na própria cidade, participou de oito daquelas treze conquistas seguidas. No futebol, jogou apenas uma partida pela Argentina, contra o Brasil, no Sul-Americano de 1916. Multiesportista, Bincaz dedicou-se ainda ao remo e ao iatismo, representando neste esporte o seu país nas Olimpíadas de 1936, em Berlim, sendo inclusive posteriormente presidente do clube Náutico de San Isidro. Ele poderia ter ido aos Jogos também de 1924, pela seleção de rúgbi (inativa entre 1910 e 1927), caso as condições econômicas tivessem permitido a viagem à Paris – ele seria o único a ter defendido a Argentina nas duas modalidades.

Além de Bincaz, outros jogadores do San Isidro a terem ido a Sul-Americanos de futebol pela Albiceleste foram, também ao de 1916, Gerónimo Badaracco e Carlos Tomás Wilson (recordista de jogos pela Argentina como atleta do clube, com 25, sendo ainda o primeiro goleiro a defender um pênalti por ela) e, para o de 1919, J.G. Shilley.

Por sua vez, também defenderam a Argentina como jogadores de futebol do San Isidro os atletas Inocencio Alzúa, Juan Anunziatta, Juan José Bello, Elías Fernández (primeiro jogador do River Plate na seleção, em 1909), Juan Gil, Manuel Malbrán, Ricardo Malbrán (o mencionado artilheiro de 1911), Alfredo Meira, José Morroni, Alberto Olivari (que foi ainda medalhista de ouro no tiro nos primeiros Jogos Pan-Americanos, em 1951, meses antes de morrer), Humberto Recanatini (integrante do elenco vencedor do Sul-Americano de 1927, mas ali já como jogador do Almagro), Juan Rossi, Eduardo Rothschild (da célebre família judaica banqueira), Amadeo Vernet e Luis Cilley – este também praticava rúgbi, esporte que ficou ligado à sua família (conforme a próxima imagem).

O maior concorrente nas competições de rúgbi do San Isidro surgiria da própria instituição. Em 1935, um novo presidente, Julio C. Urien, indicou o novo diretor da subcomissão de rúgbi do clube sem realizar uma eleição entre os jogadores, como era feito até então. Alguns foram inclusive suspensos por demonstrarem seu descontentamento com tal fato após uma derrota para o Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires (outra equipe a ter praticado futebol), insatisfação esta que aumentou ao não serem autorizados sequer para treinar e disputar amistosos. Muitos jogadores se solidarizaram com os punidos e recusaram-se a jogar; a nova direção manteve-se firme mesmo com nove derrotas seguidas, algo inédito na história do time de rúgbi (que vinha sendo representado por juvenis). Naquele ano, acabou em sexto.

Os renegados do San Isidro passaram a jogar amistosos sem identificarem-se como jogadores dele. O estopim para decidirem fundar seu próprio clube partiu de declaração neste sentido do próprio Urien, que, apesar da situação, foi reeleito. Cinco meses depois daquela derrota para o Gimnasia, 440 antigos sócios, incluindo todas as jogadoras de hóquei feminino do Club Atlético de San Isidro, fundaram o San Isidro Club.

A luta para ser o melhor representante local, tão comum em rivalidades de outras cidades argentinas ou de bairros portenhos, teve aí um ingrediente a mais bastante raro no futebol argentino, uma vez que, nesta, a disputa estende-se aos nomes dos arquirrivais, ambos carregando o nome da pequena San Isidro. Para evitar confusões, as equipes passaram a ser referidas por suas siglas. Se, no futebol, o Superclásico argentino é travado entre Boca Juniors e River Plate, no rúgbi isso se dá entre CASI e SIC.

Jorge Cilley em El Gráfico de 1939. Naquele ano, seu SIC obteve o primeiro título na elite. Ele já era Puma, e seus familiares Ernesto (em 1932) e José (goleador argentino na Copa de 1995) também defenderam a Argentina

Já nos dois primeiros anos de existência, o SIC logrou dois acessos seguidos, passando da terceira divisão para a elite, fazendo seu primeiro confronto contra o CASI em 1937: venceu por 3 x 0. A “matriz” demorou a recompor-se do grande êxodo de membros, só voltando a ser campeã em 1943, oito anos depois da cisão – período em que o SIC obteve dois títulos na elite da URBA, o primeiro deles em 1939 (ano desta capa da El Gráfico, com o atleta Jorge Cilley).

Atualmente, o CASI ainda é o maior vencedor deste campeonato que, embora provincial, é mais valorizado que o próprio nacional; tem 33 títulos, nove a mais que o SIC, segundo maior vencedor. Porém, se for contabilizado apenas os títulos pós-ruptura, é este quem foi mais vezes campeão: 24 vezes (incluindo a do último campeonato, em 2010) contra 18 do CASI. Para reforçar o fato de San Isidro ser a capital do rúgbi argentino, seus dois times obtiveram 57 dos 112 campeonatos da URBA, exatamente um a mais que a metade.

A URBA foi, até 1997, disputada em pontos corridos, e o título tinha de ser sempre dividido quando duas ou mais equipes terminavam empatadas na ponta superior; curiosamente, isto jamais ocorreu entre os dois maiores arquirrivais argentinos. A partir de 1998, então, o campeonato passou a ser disputado com fases eliminatórias e uma grande final.

O Superclásico decidiu duas vezes a URBA, com uma vitória para cada lado. O SIC venceu a de 2003 por 20 a 9 e levou o troco dois anos depois, em que um gol de penal no final da partida deu um título dos mais dramáticos ao CASI, que venceu por 18 a 17, no que representou ainda a quebra de um jejum de exatas duas décadas sem títulos no torneio e de uma sem qualquer título – o clube faturara o nacional de 1995, seu único, enquanto o SIC possui quatro nesta competição (disputada desde 1993), sendo seu segundo maior vencedor (atrás somente dos cinco títulos do Hindú). Por outro lado, o CASI tem maior número de triunfos nos Superclásicos: 59 contra 44 do rival em 113 disputados.

Um dos últimos Superclásicos. O Club Atlético de San Isidro é o alvinegro e o San Isidro Club, o tricolor

A despeito da grande rivalidade, a mesma se dá de forma confraternizada, como é comum no rúgbi, sendo bastante raros episódios de violência. Apesar disso, nos primeiros anos de separação, houveram histórias em que avôs torcedores do CASI que não permitiam visita de netos que torcessem pelo SIC. Atualmente, a rixa continua dividindo famílias, mas de forma mais tranquila (e racional). Embora não seja tão raro jogadores terem atuados nos dois rivais, apenas um foi campeão em ambos: J.S. Morganti, que esteve naquela conquista de 1943 do CASI e, cinco anos depois, faturou a URBA com o SIC.

Um outro folclore deste clube está no fato de Che Guevara ter atuado por ele. De fato, ele era um apreciador da prática multidesportiva: gostava ainda de natação, montanhismo, futebol (se dizia torcedor do Rosario Central, de sua cidade-natal), tênis de mesa; era exímio enxadrista e foi caddy no golfe; além de se divertir também nos saltos ornamentais, boxe, hipismo, beisebol, basquete, e, convenientemente a um guerrilheiro, o tiro.

Ele, que foi ainda repórter fotográfico nos Pan-Americanos de 1955, levava à loucura a família, que temia que os ataques de asma que frequentemente acometiam Ernesto fizessem-no sucumbir durante alguma atividade física. Seus pais costumavam justamente impor a retirada dele dos clubes em que ele se metia, e com o SIC, onde seu pai fora um dos fundadores, não foi diferente. Ali, Guevara ainda não era Che, e sim Chancho.

Uma lenda urbana conta que ele, já uma celebridade da Guerra Fria, retornou secretamente à Argentina para conversar com o governo de seu país natal. Estava disfarçado, de modo a não ser reconhecido nem mesmo por seu motorista, que sabia apenas que iria conduzir algum figurão da política global. Che teria então indagado a este sobre como estariam o CASI e o SIC, no que o condutor, desinformado ou nervoso, não soube na hora do que se tratava. Foi no rúgbi, por sinal, que Guevara conhecera o amigo Alberto Granado, com quem fizera a famosa viagem retratada no filme Diários de Motocicleta, do brasileiro Walter Salles.

Na foto, Guevara é o primeiro agachado, com as mãos na bola

***

Sobre o jogo ocorrido neste domingo, a Nova Zelândia confirmou o seu franco favoritismo, vencendo por 33 a 10, resultado que não traduz como foi a partida. A forte defesa argentina conseguia impedir os All Blacks de alcançarem um try, obtido aos 32 minutos do primeiro tempo por Julio Farías Cabello para os Pumas (que os deixou, com o acerto também do chute de conversão deste jogada, momentaneamente à frente no placar, com 7 a 6, silenciando o Eden Park). O adversário teve que recorrer aos gols (jogada secundária) para retomar a dianteira no escore, aproveitando a excelente pontaria de Piri Weepu, que converteu os sete penais que chutou.

Até os vinte minutos finais, a partida estava equilibrada, com os anfitriões vencendo parcialmente os sul-americanos por 15 a 10. Mas, para impedir um try neozelandês a centímetros de ocorrer, Nicolás Vergallo cometeu falta e foi expulso. A cobrança da penalidade foi convertida e o placar ficou parcialmente em 18 a 10. Com um a mais, os locais não demoraram a impor-se de maneira mais firme. Dez minutos depois, com a disputa ainda em aberto, enfim efetuaram seu primeiro try, abrindo 23 a 10, praticamente selando sua classificação mesmo perdendo o chute de conversão. Ainda conseguiram um gol, estabelecendo um 26 a 10 e, no penúltimo minuto, um novo try (agora com sucesso na conversão), sobre os nossos já desiludidos vizinhos.

O jogo marcou a aposentadoria de Mario Ledesma, camisa 2 na foto abaixo, dos gramados. Ele, substituído às lágrimas pouco após o primeiro try do oponente, é, com somadas 18 partidas em quatro edições do torneio, o rugbier argentino com mais jogos em Copas do Mundo, quatro atrás do recordista inglês Jason Leonard (com 22 entre as quatro de 1991 a 2003). Só Felipe Contepomi, o camisa 12 na mesma foto, esteve com Ledesma no elenco argentino nestas últimas quatro Copas, tendo alcançado os 17 jogos; o técnico deles neste mundial, Santiago Phelan (por sinal, um emblema do CASI, onde atuara entre 1992 e 2003), jogou com ambos nas de 1999 e 2003. Martín Scelzo e Lucas Borges foram outros a se despedir da seleção hoje.

Os algozes terão pela frente na semifinal a arquirrival Austrália, que vencera mais cedo a África do Sul (detentora do título), no que será uma verdadeira final antecipada, apimentada pelo fato de que os australianos, mesmo preferindo a modalidade league do rúgbi (explicada no já referido especial do Porteño; a Copa que vem ocorrendo neste momento é a da modalidade union, a mais popular mundialmente), possuírem dois títulos nas Copas: além de serem os maiores campeões da menos badalada Copa de league, dividem com os sul-africanos o posto de maiores vencedores da Copa do union.

Os anfitriões fazendo a tradicional performance do haka, ritual maori para guerras que se tornou famoso como símbolo dos All Blacks antes de seus jogos…

A Nova Zelândia, por sua vez, ainda tem somente um título. Sua seleção, após vencer a edição inaugural do torneio (1987, onde fora igualmente a sede), não conseguiu mais exercer nele a sua tradicional supremacia no esporte, em decepções que já incluíram duas derrotas, justamente também em semifinais, para os Wallabies; do lado rival, o fato de terem perdido a final da Copa de league mais recente (2008) exatamente para os neozelandeses, que gostam mais até de críquete do que desta modalidade de rúgbi.

É contra estes três países que, a partir do ano que vem, a Argentina medirá forças no agora Torneio Quatro Nações (até então, logicamente, Três), tradicional competição anual a reunir as seleções de rúgbi mais fortes do hemisfério sul e que deverá aprimorar ainda mais o selecionado argentino, na opinião dos próprios All Blacks – que também realçaram após a partida as grandes dificuldade a que foram impostos e a paciência que lhes foi necessária, afirmando ainda que também terão o que aprender com os argentinos no Quatro Nações.

Os neozelandeses reconheceram ainda os Pumas como o adversário mais difícil que já enfrentaram nesta Copa; vale ressaltar que os anfitriões já jogaram nesta edição contra a boa seleção de Tonga e a sempre forte (mais expressiva, inclusive historicamente, que no futebol) França (que, após eliminar a arquirrival Inglaterra nas quartas, pegará na outra semifinal o País de Gales, que tirou a Irlanda).

Argentina: Martín Rodríguez (Lucas González Amorosino), Gonzalo Camacho, Marcelo Bosch, Felipe Contepomi, Horacio Agulla (Juan José Imhoff), Santiago Fernández, Nicolás Vergallo, Leonardo Senatore, Juan Manuel Leguizamón, Julio Farías Cabello, Patricio Albacete, Manuel Carizza (Alejandro Campos), Juan Figallo (Martín Scelzo), Mario Ledesma (Agustín Creevy) e Rodrigo Roncero (Marcos Ayerza). Técnico: Santiago Phelan.

Nova Zelândia: Mils Muliaina (Isaia Toeava), Cory Jane, Conrad Smith, Ma’a Nonu, Sonny Bill Williams, Colin Slade (Aaron Cruden), Piri Weepu (Jimmy Cowan), Kieran Read, Richie McCaw (Victor Vito), Jerome Kaino, Sam Whitelock (Ali Williams), Brad Thorn, Owen Franks (John Afoa), Keven Meleamu (Andrew Hore) e Tony Woodcock. Técnico: Graham Henry.

…e, após a partida, aplaudindo os Pumas, reconhecido pelos próprios locais como o adversário mais difícil enfrentado por eles até o momento nesta Copa

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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