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Bielsa e o começo: treinando time de Universidade

Bielsa (primeiro em pé) e o time da Unviersidade de Buenos Aires em 82 - Foto Canchallena

Desde Buenos Aires – Na tarde desta quinta -feira o Athletic Bilbao tentará escrever mais um capítulo na sua história. Enfrentará o Schalke 04 de Raúl e companhia na Alemanha, válido pela primeira partida das quartas de final da Europa League. Depois de eliminar o poderoso Manchester United com duas vitórias, a equipe tradicionalmente conhecida por aceitar apenas jogadores de origem basca, é a atual sensação na Europa depois do poderoso Barcelona de Messi.

Mas talvez a grande figura deste time não está dentro do campo de jogo, mas agachado ao lado da linha lateral. Marcelo Bielsa, ou como é mais conhecido na Argentina “Loco Bielsa” está conduzindo de forma brilhante um elenco tecnicamente limitado. Por tudo que tem feito na Espanha ganhou o reconhecimento, em mais de uma ocasião, de Pep Guardiola, companheiro de profissão e de competência, com a diferença que Pep pode contar com Messi, Iniesta, Xavi … Talvez por isso mesmo, o técnico do Barça reconheceu a capacidade de Bielsa e não teve dúvidas em mencioná-lo como “o melhor treinador do planeta”.

Bielsa no Bilbao; para fazer história

Por onde passou Bielsa foi um revolucionário. Nunca foi fã dos elegantes ternos que alguns técnicos gostam de exibir durantes as partidas. Também não faz pose de “intelectual” à beira do gramado, com os braços cruzados ou com o o indicador erguido sobre o rosto. Prefere utilizar os agasalhos da equipe ou da seleção que dirige. Parece estar sempre muito confortável agachado próximo a linha lateral observando o desenrolar das partidas.

Sempre foi um referente por onde passou. Elevou de forma primorosa o padrão de jogo da seleção chilena conseguindo levá-la ao mundial de 2010 depois de estar ausente em duas edições consecutivas. Fez grande campanha e classificou a Argentina de forma tranquila para a Copa do Mundo de 2002, conquistou o ouro nas Olimpíadas de 2004 com a seleção olímpica do país e o vice-campeonato da Copa América no mesmo ano.  Isso só para falar de seleções.

Seus comandados sempre exaltam o grande interesse técnico, a dedicação e a seriedade com que Bielsa conduz seu trabalho. O treinador é um grande devorador de vídeos de jogos dos times rivais. Pode chegar a assistir entre 40 e 50 gravações antes de armar sua equipe. É um estrategista que aposta na dedicação e no profissionalismo.

Quem atesta que este estilo de ser do treinador nunca mudou são os seus primeiros comandados. Bielsa estreou como treinador, conduzindo o time de futebol da Universidade de Buenos Aires (UBA) em 1982. Tinha apenas 27 anos, mas já era fiel a suas convicções e um inovador. Dono de um temperamento muito particular, daí o apelido de “Loco”, não foram raras as vezes que discutiu com jogadores do seu plantel. Miguel Calloni, um dos estudantes da UBA relembra o dia em que o técnico discutiu com um dos jogadores da equipe. Claramente o atleta levava vantagem física sobre Bielsa que não se intimidou. Retirou o relógio e o casaco, desceu para o vestiário e teria dito ao seu atleta “vamos resolver isso como cavalheiros”. Nunca souberam o que verdadeiramente ocorreu depois. “Foi uma demonstração de força”, conta rindo o ex-estudante.

Mas também lembram que Bielsa sempre foi leal a seus atletas. Odiava o jogo violento e se irritava quando os adversários recorriam a duras faltas como forma de parar seus jogadores. “Houve um caso de um companheiro que recebeu uma cotovelada. Depois do jogo, Marcelo queria buscá-lo para resolver de outra forma”, conta Calloni.

A forma predileta de assistir aos jogos: agachado

Hoje o treinador já não tem mais o temperamento intempestivo dos tempos de técnico amador na UBA. Prefere o diálogo. Gosta de ouvir e muito mais de ser escutado. Forti, outro ex-jogador que foi treinado por Bielsa, marca a postura que o técnico tinha desde aquela época: “Apesar da pouca diferença de idade que tínhamos, nos convencia pela convicção com que falava”, essa característica Marcelo não perdeu. Calloni complementa: “Pela seriedade que fazia as coisas. Não me lembro de uma rebelião por excesso de treinos, por exemplo”.

Outra marca pessoal do treinador: o bom nível de preparo físico de suas equipes. É devoto dos treinamentos táticos, mas um seguidor assíduo dos treinos físicos. “No começo não entendíamos nada. Nos fazia treinar como se fossemos profissionais. Nos matava. Fazíamos 600 abdominais por dia”, revela Calloni.

Com sua forma de ser profissional e dedicada, Bielsa conseguiu alcançar exito em sua carreira profissional. Mais do que isso, deixou uma importante marca por onde passou e seu legado estende-se inclusive na UBA. “Bielsa foi quem deu o pontapé inicial. Desde então todos seguiram a mesma linha”, afirma Calloni.

De fato, a mais pura realidade.

 

 

Fonte: Canchallena

 

 

 

Leonardo Ferro

Jornalista e fotógrafo paulistano vivendo em Buenos Aires desde 2010. Correspondente para o Futebol Portenho e editor do El Aliento na Argentina.

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