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Trinta anos do primeiro título do Ferro Carril Oeste na primeira divisão

 

Arregui, Gómez, Garré, Cúper, Rocchia e Basigalup; Saccardi, Juárez, Cañete, Márcico e Crocco. Jogadores do primeiro jogo da final. Os mesmos estariam no segundo

Desde Buenos Aires – Nesta última quarta-feira decisiva pela Libertadores, fez-se exatamente trinta anos do dia em que um dos clubes mais antigos e mais queridos da capital argentina conquistava o maior triunfo futebolístico de sua vitoriosa história. O Club Ferro Carril Oeste sagrava-se supremo campeão com a bola no pé no país e, com uma campanha irretocável, marcou definitivamente seu nome com letras de ouro (ou verde) na memória de seus torcedores e até mesmo nas lembranças dos simpatizantes de outras equipes.

Um título que já vinha se desenhando desde a temporada anterior, quando a glória escapou duas vezes, uma para o Boca Juniors de Maradona no Metropolitano de 1981 e a outra nas finais do Nacional do mesmo ano depois de duas derrotas para o River Plate de Passarella, Mario Kempes e Ramón Díaz, à época grandes referentes do plantel millonario. O Ferro do lendário técnico Carlos Griguol foi a grande sensação do campeonato nacional de 1982 e levantou a taça sem ter sofrido uma derrota sequer.

Mais do que a importante conquista, este Ferro de 82 rompeu com antigos parâmetros e jogou ao seu estilo. Não era um futebol vistoso e de encher os olhos de quem assistia, mas sim o futebol de resultado e que ainda hoje pode ser discutido como um precursor da eterna polêmica: perder dando espetáculo ou ganhar jogando feio?

Contextualização de 1982

O clube de Caballito, uma das zonas mais populosas de Buenos Aires, sempre foi reconhecido, inclusive por seus tradicionais rivais, pela excelente estrutura naqueles tempos e a dedicação com que tratava todas modalidades esportivas (conforme o epílogo, mais abaixo). O Ferro Carril Oeste era realmente um clube e não apenas uma instituição que vivia dos resultados de seu time de futebol profissional. Tanto foi assim, que as maiores glórias do Ferro até este período vieram de outros esportes onde não jogavam onze atletas. O basquete e o vôlei eram motivo de orgulho de toda a comunidade verdolaga.

Até por isso, a equipe de futebol, durante muitos anos, passou a ser um mero detalhe no dia-a-dia do clube. Obviamente, os dirigentes sabiam da importância deste esporte para controlar o balanço positivo e faziam deste departamento uma lucrável fonte de renda para manter funcionando, e em alto nível, todas as outras modalidades.

Naquele ano de 82, o panorama político da Argentina era mais do que conturbado. A polêmica ditadura militar era duramente criticada e procurava uma forma de se sustentar no poder. O presidente Leopoldo Galtieri, general do exército argentino, não teve melhor ideia que invadir as Ilhas Malvinas e desta forma expôs o país a uma custosa guerra com pouquíssimas chances de vitória contra os britânicos. A crise política se alastrou e transformou-se numa crise financeira que assolava os grandes clubes do país. River e Boca não conseguiam manter seus grandes talentos: Maradona no lado xeneize e Passarella e Kempes pelo Millo e seguiram para o futebol europeu após a decepcionante Copa do Mundo de 1982 .

O descontentamento se fazia sentir nas canchas, onde raramente o público era algo aceitável. O êxodo das estrelas e o baixo nível futebolístico dos principais times da Argentina afastavam os torcedores dos estádios. Soma-se a isso toda a insatisfação que o quadro político gerava naquela sociedade.

Além disso, a competição coincidiu com a própria Copa do Mundo da Espanha. O técnico do selecionado argentino, César Luis Menotti, não teve dúvidas em convocar força máxima e chamou os principais jogadores, desfalcando ainda mais as equipes que teriam pela frente a disputa do torneio.

Diante deste quadro complicado, o Ferro conseguiu controlar suas finanças, equilibrar seus gastos e montar um time de nível altamente competitivo. Não era nem de longe uma equipe que fazia menção ao bom futebol, mas era um plantel de resultados. Não agradava a quem assistia, mas alcançava, e numa cadência impressionante, o objetivo proposto. Um dos segredos para este sucesso estava na valorização de suas categorias de base.

O Ferro Carril Oeste de 1982

A estrada que levou o Ferro a sua maior glória no futebol (feito que repetiria dois anos mais tarde, em 1984) começou a ser percorrida em 1980 graças à chegada de Carlos Timoteo Griguol, naqueles tempos um  DT de primeira linha. O novo treinador implementou uma nova linha de ação, apostando nos jogadores que surgiam dentro do próprio clube e dispensando as contratações de alto custo. Assim ganharam destaque naquela equipe atletas como Héctor Raúl Cúper, Gerónimo Saccardi, Rafael Herrera e Óscar Garré. Mas a principal característica daquele time era o conjunto e não especificamente um jogador em particular, ainda que alguns ganharam maior destaque, como foi o caso de Miguel Ángel Juárez, artilheiro da competição com 22 gols, e Alberto Márcico, que tornou-se ídolo em Caballito.

Os dois vice-campeonatos conquistados pelo Oeste no ano anterior (um diante do Boca por pontos corridos e outro frente ao River em sistema de finais), indicava que o caminho percorrido estava sendo o correto e que a chegada ao auge era apenas uma questão de tempo e detalhes.

Griguol gostava de atuar num falso 4-3-3. Falso porque ele não era seguido ao pé da letra e podia variar conforme a situação que o jogo se desenhava. O sistema foi revolucionário, pois visava pura e simplesmente o resultado, assim como o Estudiantes de Bilardo fazia em La Plata para aquela época. Os dois times abandonavam o tradicional e exigido jogo bonito, para algo mais efetivo e de eficácia comprovada. Os treinamentos eram compostos por elevadas cargas físicas e contavam com elaborados sistemas táticos. Inclusive se diz que à época, Griguol frequentava treinos e partidas da equipe de basquete do Ferro procurando adaptar alguma tática ao time de futebol profissional.

Beto Márcico, ídolo do Ferro. Também o seria no Boca Juniors

Eis a escalação principal do Ferro Carril Oeste, ano 1982: Carlos Barisio, Juan Domingo Rocchia, Héctor Raúl Cúper, Silvio Sotelo, Óscar Garré, Carlos Arregui, Gerónimo Saccardi, Adolfino Cañete, Claudio Crocco, Miguel Ángel Juárez e Alberto Márcico (Julio César Jiménez).

O treinador ainda podia contar no banco de reservas com Eduardo Basigalup, Carlos Mario Gómez, Jorge Brandoni, Luis Andreuchi  e Rafael Herrera.

A campanha do título de 82

Naquele ano, o torneio foi organizado em quatro grupos com oito times cada. Os dois melhores classificados avançariam às quartas de final. Ainda havia uma data prevista especificamente para os clássicos de bairro, chamados então de “interzonales”. Outra característica importante foi que a AFA decidiu que o torneio seria disputado antes mesmo do campeonato metropolitano, uma grande novidade.

Assim estavam formados os grupos:

Zona A: Quilmes, Independiente Rivadavia, Newell’s Old Boys, Instituto, Sarmiento, River Plate, Gimnasia y Esgrima (Jujuy) e Nueva Chicago.

Zona B: Ferro Carril Oeste, Independiente, Argentinos Juniors, Unión (Santa Fe), Atlético Concepción, San Lorenzo (Mar del Plata), Estudiantes (Santiago del Estero) e Unión San Vicente (Córdoba).

Zona C: Estudiantes (La Plata), Talleres, Rosario Central, Boca Juniors, Gimnasia y Esgrima (Mendoza), Central Norte (Salta), Huracán e Mariano Moreno (Junín).

Zona D: Racing (Córdoba), San Martín (Tucumán), Vélez Sarsfield, Renato Cesarini (Rosario), Platense, Deportivo Roca (Río Negro), Guaraní Antonio Franco (Misiones) e Racing Club.

Na estreia em Caballito, uma vitória magra sobre o Unión de Santa Fe por 1  a 0. Já na segunda rodada, um surpreendente 3 a 0 sobre o Estudiantes de Santiago del Estero colocava o Ferro na primeira posição do grupo B. Depois vieram mais duas vitórias: em casa, bateu o San Lorenzo de Mar del Plata numa partida difícil que terminou em 3 a 2 e como visitante conseguiu outro importante triunfo diante do Argentinos Juniors por 1 a 0.

Era hora do clássico de bairro e o time tinha pela frente o Vélez Sarsfield, que lutava no grupo D. Uma vitória de lavar a alma: solene goleada por 4 a 0 jogando na casa do rival. Esse feito, somado aos triunfos das rodadas anteriores, já credenciavam o Oeste como forte candidato ao título. Também é válido destacar que o plantel de futebol profissional do River estava em greve devido a divergências financeiras com os dirigentes do clube.

O Millo atuava com um time formado de improviso e todo ele composto por jogadores das categorias de base, No dia reservado para os clássicos da temporada, recebeu o Boca Juniors no Monumental. Os auriazuis não tiveram piedade dos garotos que enfrentavam e cravaram um sonoro 5 a 1.

O 2 a 1 sobre o Atlético Concepción mantinha o 100% de aproveitamento do FCO na competição. Todas as atenções já se voltavam para o que ocorria em Caballito. Devido a tamanha cobiça dos rivais, o time encontra seu primeiro empate em Córdoba: 1 a 1 com o Unión San Vicente. O Independiente era o único time que seguia de perto os passos do Ferro e uma vitória nesta rodada deixou o Rojo a apenas dois pontos atrás.

Por isso mesmo, a sétima rodada ganhou em importância quando se enfretaram Ferro e Independiente e o empate por 2 a 2 favoreceu o “verdolaga” que, graças ao empate do Argentinos Juniors (que neste momento vinha em terceiro), conseguiu manter a primeira colocação terminado o primeiro turno.

Quando começam as partidas de volta, um empate contra o Unión de Santa Fe por 1 a 1 deixou todos preocupados em Caballito, já que a vitória do Rojo em sua partida diminuiu a distância para apenas um ponto. Os jogadores pareciam conscientes da situação e o time emplacou uma surpreendente campanha de sete vitórias consecutivas: 3 a 0 no Estudiantes de Santiago del Estero, 3 a 1 no San Lorenzo de Mar del Plata, 2 a 0 no Argentinos Juniors, 2 a 1 no clássico com o Vélez, 3 a 0 no Atlético Concepción, 4 a 0 no Unión San Vicente e, finalizando a fase de grupos, uma histórica goleada no Independiente por 4 a 0 que deixou o time de Avellaneda fora das finais, dando a vaga para o Unión Santa Fe, segundo colocado no grupo B.

O Ferro termina a primeira fase da competição com impressionantes números: foram 29 pontos resultados de 13 vitórias, 3 empates e apenas 9 gols sofridos. O dado curioso deste campeonato foi que nenhum dos ditos grandes conseguiram passar para a fase final, sendo os outros classificados os seguintes: no grupo A, Quilmes e Independiente Rivadavia; no grupo C, Estudiantes e Talleres; e, no grupo D, Racing de Córdoba e San Martín de Tucumán.

Quartas de final: Independiente Rivadavia, o rival de Mendoza

Era a vez do clube fazer valer tudo aquilo que havia apresentado durante a primeira fase do torneio. Chegou como claro favorito e precisava realizar a primeira partida em condição de visitante. Viajou até Mendoza e conseguiu voltar a Buenos Aires com uma belíssima vitória por 1 a 0, que valeu a vantagem de jogar por um empate na volta a ser realizada em Caballito.

Dito e feito. Sem muito esforço e jogando para o gasto, os comandados de Griguol seguram um sonolento 0 a 0 que foi o suficiente para reder a passagem para as semi-finais. O rival já era conhecido: o Talleres de Córdoba.

Semi-finais: Talleres, o rival de Córdoba

Diferente do que havia ocorrido na fase anterior, agora era o Ferro quem fazia a primeira partida em casa. Um verdadeiro teste para saber o real poder da equipe. Seria capaz de lograr um resultado convincente que lhe permitisse viajar a Córdoba com relativa traquilidade? Sim, seria. A resposta veio dentro de campo e um inesquecível 4 a 0 praticamente minou as chances do rival para a partida de volta.

Mas para quem gosta e acompanha futebol, sabe bem que esse esporte vive desses imprevistos e de jogos memoráveis. Quando se enfrentaram Talleres e Ferro na capital cordobesa, ninguém poderia esperar o resultado final: um surpreendente 4 a 4 naquela que foi considerada a melhor partida do torneio. O nome do jogo foi Juárez, que anotou três vezes naquele dia.

Com a passagem assegurada para a final, veio o adversário: seria o Quilmes, que havia derrubado o Estudiantes em La Plata. Fato que creditava os cerveceros (campeões em 1978) como adversários de respeito na final.

Finais: Quilmes, um rival que não conseguiu fazer frente

Consciente de que necessitava afirmar sua posição de futebol de resultados e apagar os dois vice-campeonatos do ano anterior, o Ferro visitou o Quilmes para a primeira partida da grande final. Sufocou o adversário do começo ao fim, mas não conseguiu tirar o zero do marcador. Os donos da casa tampouco fizeram algo por merecer a vitória e o empate sem gols acabou sendo um resultado injusto por tudo que apresentou o time de Caballito.

A revanche (ou o desempate) veio exatamente uma semana depois, no dia 27 de junho. Uma tranquila vitória por 2 a 0 (com gols de Juárez e Rocchia) por fim coroava o Ferro Carril Oeste como legítimo campeão argentino invicto de 1982. Era um importante golpe na mesa e um basta nas campanhas que só batiam na trave.

A alegria era tamanha que a torcida não conseguiu esperar até o apito final para comemorar. Antes mesmo do árbitro encerrar a partida, vários torcedores saltavam o alambrado que separava os fanáticos do campo de jogo e forçaram o encerramento antecipado do encontro. Já não havia mais reação para o Quilmes e o título estava sacramentado.

A invasão de campo

Ficha da partida – Ferro 2 x 0 Quilmes

Árbitro: Teodoro Nitti.
Cancha: Ferro

Ferro Carril Oeste: Basigalup; Gómez, Cúper, Rocchia, Garré; Arregui, Saccardi, Cañete; Crocco, Márcico e Juárez. DT: Carlos Griguol.

Quilmes: Tocalli; Zárate, Milozzi, Díaz, Gizzi; Freddiani, Gáspari, Gissi; Lorea, Acevedo e Converti. DT: Roberto Rogel.

Gols: PT 24’ Juárez, ST 8’ Rocchia.
Alterações: Martínez por Freddiani e Ponce por Gissi.
Cartões amarelos: Crocco, Díaz e Gáspari.

Números do Ferro na vitoriosa campanha de 82

22 jogos (16 vitórias e 6 empates)
50 gols pró
13 gols contra
Miguel Juárez, artilheiro do torneio com 22 gols

Gols da final em Caballito:

httpv://www.youtube.com/watch?v=NaHl3Po52OQ

Epílogo, por Caio Brandão: a multiplatinada década de 80 verdolaga

Cañete contra o Vélez. Com histórico desfavorável no clássico, o Ferro teve nos anos 80 seu melhor período diante do rival, tanto em taças como também em confrontos diretos

Em 1984, o clube seria campeão nacional pela segunda vez, com duas vitórias sobre o River Plate de Francescoli nas finais, incluindo um 3 a 0 em pleno Monumental de Núñez, e por pouco não consegue também o Metropolitano, perdido por um ponto para o Argentinos Juniors. Por nove anos, ficou à frente do rival Vélez Sarsfield (então com apenas um título na elite, em 1967) dentre os maiores vencedores argentinos.

Clásico del Oeste, por sinal, também rendeu alegrias: a década de 80 foi a única em que houveram mais triunfos verdolagas (doze, que chegaram a incluir outro 4 a 0 no campo rival, em 1985) do que fortineros (seis, e seis também foram os empates) na história do confronto direto entre os dois. Até 1981, a conta estava em 48 triunfos a 34 para os lados do bairro vizinho de Liniers, que viu sua vantagem reduzida até 1990 para 54 a 46.

E, polidesportivamente, o sucesso do FCO nos anos 80 teria horizontes ainda maiores. O time masculino de basquete, que tinha até torcida organizada própria, foi três vezes campeão sul-americano (1981, 1982 e 1987), incluindo conquistas sobre os brasileiros do São José e do Monte Líbano, além de obter inúmeras taças locais. E mostrou estar à altura dos melhores do mundo ao perder o título mundial de 1985 por míseros cinco pontos, para os soviéticos do Žalgiris Kaunas, a contarem com Arvydas Sabonis, Rimas Kurtinaitis e Valdemaras Chomičius (campeões olímpicos pela URSS em 1988 e em 1992 bronze pela Lituânia, parada ali só pelo Dream Team).

O preparador físico Luis Bonini chegaria a ser convidado por Marcelo Bielsa para auxiliá-lo na seleção argentina de futebol, tendo feito o mesmo na comissão de Griguol, que por sua vez fora recomendado para a equipe futebolística pelo próprio patrono do basquete alviverde: León Najnudel. El Rey León participou ativamente da criação de uma liga nacional de baloncesto e seu olho clínico trouxe para o clube Miguel Cortijo, além de ter descoberto Manu Ginóbili.

Seus rivais internos do plantel de vôlei – o escárnio de que se tratava de um esporte feminino ainda pairava -, com quem dividiam o frequentemente lotado Ginásio Etchart, não deixaram nada a dever: bicampeões seguidos em âmbito sul-americano e mundial, em 1987 e 1988, e base do selecionado argentino (historicamente não tão forte e popular) que alcançou um surpreendente terceiro lugar no mundial que sediou, em 1982. Assim como o time masculino, as damas do vóley também trouxeram diversas taças provinciais e nacionais.

O time masculino de vôlei campeão nacional em 1987, um dos anos em que venceria também continental e mundialmente; e o feminino, que chegou a ser hexacampeão seguido, de 1980 a 1985, do torneio oficial

Mesmo os times de handebol tiveram bons momentos, com destaque especial para o título de 1984 do masculino, quando o Ferro conseguiu a última taça que faltava para poder dizer ser uma instituição campeã em todos as suas atividades federadas na época, ocasionando uma festa de todo o clube. Os homens deste esporte, fortalecido tardiamente no Ferro, venceram outras quatro vezes e as mulheres, duas. Três anos antes, a equipe de tênis também obtivera, e de forma invicta, seu primeiro título. Na ginástica artística, todos os torneios nacionais de 1987 de cada modalidade e gênero foram vencidos.

A dominação se estendeu dos campos e quadras também para as piscinas. Em 1984, diferentes nadadores trouxeram simplesmente 83 títulos metropolitanos e sete nacionais para as salas de troféus de Caballito. Em competições por equipes, instauradas um ano depois, o clube foi tricampeão consecutivo dali até 1987. No tatame, o nipo-argentino Claudio Yafuso, quinto lugar nas Olimpíadas de 1988, foi o maior representante dos judocas verdolagas campeões metropolitanos em 1986. No tênis-de-mesa, Néstor Tenca e Armando Cerrigni foram os representantes argentinos no mundial de 1984.

Diversos títulos foram obtidos ainda através da bocha, squash e beisebol. No atletismo, os membros do FCO também eram frequentemente os máximos atletas nacionais, casos também do lançador de martelo Andrés Charadía, dos corredores Luis Migueles (especialista da corrida de 800 metros, chegou a liderar o ranking mundial júnior em 1984), Ana María Comaschi (recordista nacional dos 100 metros com barreiras e eleita a décima atleta mais importante da Argentina) e Carlos Gats, do decatleta Carlos Gambetta e dos saltadores Fernando Pastoriza (em altura) e Óscar Weilt (com vara).

Naturalmente, diversas vezes atletas do Ferro Carril Oeste foram escolhidos os do ano em suas modalidades no país, por meio do Olimpia de Plata, a máxima premiação esportiva na Argentina. No futebol, Alberto Márcico levou o de 1984. Hugo Conte, do vôlei, recebeu naquela década três de seus quatro prêmios (1985, 1987 e 1990). Eduardo Ross, do squash, foi premiado duas vezes, em 1983 e 1987. Jorge Martínez, do time de beisebol, em 1989, assim como os acima referidos Luis Migueles (tri seguido de 1984 a 1986) e Andrés Charadía (1986 e 1987). Pelo handebol, Miguel Furmento (1985) e Marcelo Schmidt (1988) foram coroados, assim como a meso-tenista Lina Swarc em 1983. Em 1988, Karina Oliveira foi eleita a melhor ginasta.

Miguel Cortijo com um de seus cinco Olimpias como melhor jogador de basquete da Argentina, e em ação pelo Ferro diante do Atenas, futuro dominante deste esporte no país. Cortijo foi considerado o melhor armador do mundial de 1986

Nenhum esporte rendeu mais Olimpias para o FCO naquele período de infinitas glórias que o atualmente decadente basquete verdolaga, cujo último louro foi ter revelado Luis Scola, mas ainda hoje sendo o terceiro maior vencedor sul-americano (atrás só dos brasileiros Franca e Sírio). Miguel Cortijo conseguiu quatro na década: 1981, 1982, 1986 e 1987, sendo premiado também em 1980. Sebastián Uranga levou o de 1989. Este declararia que “nunca houve uma organização desportiva como o Ferro nos anos 80. Isto era sempre uma festa, inclusive até quando havia problemas”. Seu colega Gabriel Darrás assinalou: “Ferro era o clube dos sonhos, em que todos queriam jogar”.

A UNESCO, em 28 de março de 1988, bem reconheceu: “esta instituição é um exemplo de solidariedade e princípios internacionais, já que, apesar de ser sua origem essencialmente privada, tem feito da difusão do esporte e da educação física um verdadeiro objeto institucional. (…) E tem demonstrado, através de seus logros, como se podem complementar à perfeição o esporte recreativo e comunitário com o da mais alta competição”.

Fontes de consulta:

Site oficial Ferro Carril Oeste: http://www.ferrocarriloeste.com.ar/fija.php?srubro=2&refer=208

Livro Ferro 100 Años

Atualização em 21-10-2013: nos 25 anos do reconhecimento da UNESCO, publicamos essa nota aprofundando o sucesso poliesportivo do Ferro dos anos 80.

Ferro exaltado em edição de maio de 1987 da revista El Gráfico, um ano antes do reconhecimento da Unesco. O representante do futebol, Oscar Garré, esteve na seleção vencedora da Copa de 1986 e é o terceiro em pé. Também mencionados nessa nota, Cortijo (basquete) é o último em pé, Ross (squash) é o segundo sentado, Tenca (tênis-de-mesa) é o último sentado e Conte (vôlei) é o deitado

Leonardo Ferro

Jornalista e fotógrafo paulistano vivendo em Buenos Aires desde 2010. Correspondente para o Futebol Portenho e editor do El Aliento na Argentina.

5 thoughts on “Trinta anos do primeiro título do Ferro Carril Oeste na primeira divisão

  • Márcio Pereira

    SENSACIONAL!!! Uma das matérias mais completas que eu já vi nesse site, que tem sempre matérias muito boas, desconhecia muitas coisas da história desse clube. Parabéns Leonardo Ferro!

  • Maicon

    Esta época do Ferro foi realmente histórica! Uma pena que o clube passou uma crise forte nos anos 90 e ainda não conseguiu retornar ao seu lugar de verdade, que é na primeira divisão, além de ter atingido os outros esportes que o Ferro sempre praticou. Parabéns pelo belíssimo texto!!!!!

  • Renato Pais da Cunha

    Não canso de elogiar o pessoal do site FP pelas ótimas matérias!!!
    Quanto ao Ferro Carril, ele precisa voltar urgente para a primeira divisão, pois esse time é a cara do futebol argentino!!!

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