Rugby

História dos Pumas – Parte IV: As primeiras Copas

A primeira delegação puma mundialista: Molina, Dengra, Allen, Milano, Travaglini, Cobelo, Branca, Mostany, Carosio, Schiavio e Torres; Salvat, Turnes, Madero, Angaut, Cuesta Silva, Cash, Gómez, Manuele, Morel e Clement; J. Lanza, Yangüela, tradutor Uranga, delegado Otaño, delegado Martínez Basante, Porta, técnico Silva, técnico Guastella, médico García Yáñez, Campo e P. Lanza

A partir de 1987, a cada quatro anos vêm se disputando o terceiro torneio esportivo mais acompanhado no planeta, a Copa do Mundo de Rúgbi, de audiência inferior apenas às da Copa do Mundo da FIFA e das Olimpíadas de Verão. A Argentina (a enfrentar a Austrália às 7 da manhã deste sábado pela quarta rodada do Quatro Nações, com transmissão ao vivo da ESPN+) é a única nação sul-americana presente em todas as edições. Neste quarto especial, falaremos do desempenho dela nas três primeiras.

O rúgbi foi o último mundialmente grande esporte boleiro a criar a sua Copa; na realidade, mundiais já vinham sendo realizados desde 1954, mas da modalidade League, a menos difundida no globo: apenas na Austrália (a grande dominadora desta outra Copa) e na Papua Nova Guiné (onde é o esporte nacional) esta é mais popular que a modalidade Union, a ter seu primeiro mundial há 25 anos – adequadamente entre os anos da Copa da FIFA e o das Olimpíadas de Verão, para não concorrer com as mesmas.

A primeira Copa da FIFA foi realizada no Uruguai por conta do domínio que a Celeste impunha na América do Sul e nas Olimpíadas. Com o primeiro mundial de rúgbi, o critério foi similar, com a superpotência Nova Zelândia sendo a anfitriã, ainda que com a vizinha Austrália como subsede. Outra semelhança com o mundial de futebol de 1930 esteve no fato de que as nações chegaram sob convite e ainda não por eliminatórias.

As duas sedes se juntaram às demais nações do International Rugby Board: Inglaterra, Escócia, Gales, Irlanda e França, e aos convidados. A África do Sul foi o único membro do IRB excluído da festa, por conta do boicotado apartheid, embora tenha sido ela a persuadir ingleses e galeses pela criação do evento – os quatro britânicos vinham sendo contra. Os convites foram distribuídos às emergentes Argentina (evolução esta retratada no especial anterior), Canadá, Fiji, Itália, Japão, Romênia, Tonga, Zimbábue e União Soviética, a única a recusá-lo; foi substituída pelos rivais Estados Unidos.

Lance de Argentina x Fiji na Copa de 1987: a estreia puma em mundiais decepcionou

A primeira delegação argentina em uma Copa de Rúbgi foi composta principalmente por jogadores do CASI, com cinco (Jorge Allen, Eliseo Branca, Roberto Cobelo, Fernando Morel, Gabriel Travaglini); seu arquirrival SIC, com três (Diego Cash, Diego Cuesta Silva, Rafael Madero), mesmo número dos de Pueyrredón (Marcelo Campo, Alejandro Schiavio e Martín Yangüela) e do Banco de la Nación (o capitão Hugo Porta, Fabio Gómez e Fabián Turnes).

Foram chamados ainda dois cada de La Plata (Guillermo Angaut e Julián Manuele) e do CUBA (os irmãos Juan e Pedro Lanza) e um de Olivos (Sergio Carosio), Universitario de Santa Fe (Julio Clement), San Martín (Serafín Dengra), Jockey Club de Rosario (Gustavo Milano), Los Tarcos de Tucumán (Luis Molina), Manuel Belgrano (José Mostany), Alumni (Sebastián Salvat) e Tala de Córdoba (Hugo Torres).

O grupo sorteado para eles foi o 3, justamente o mesmo dos principais anfitriões. Ainda assim, uma classificação à segunda fase não era tida como das mais difíceis. Os demais oponentes seriam Fiji e Itália.

Frente à espantosa evolução dos argentinos, que apenas nos anos 80 haviam conseguido vitórias fora de casa em amistosos contra África do Sul (quando compuseram na totalidade os quinze da Sudamérica XV) e Austrália, e com frescos triunfos contra a França em 1985 – ano em que empataram contra a Nova Zelândia – e 1986, os dois não inspiravam tanto temor.

Fiji, principalmente, era visto como o menos complicado. Perdera os dois embates já travados até então contra a Argentina, quando visitaram o país em 1980 (22 a 34 e 16 a 38), ocasião em que foram derrotados também pelo SIC (11 a 28). E contra os fijianos seria realizada a estreia hermana em mundiais. O jogo ocorreu no Rugby Park de Hamilton, em 24 de maio, em cotejo a ser arbitrado pelo escocês Jim Fleming.

Salvat, Campo, Cuesta Silva, Turnes, Juan Lanza, Porta, Gómez, Mostany, Travaglini, Allen, Milano (Schiavio), Branca, Morel, Cash e Molina foi a escalação escolhida pelos técnicos da Argentina, a dupla Héctor Silva e Ángel Guastella. Ambos haviam estado no divisor de águas da seleção, a vitória sobre os Junior Springboks em 1965 que transformara os argentinos em Pumas – Silva atuara em campo e Guastella, ex-jogador, como um dos treinadores. Outros pumas originais de 1965 também estavam na delegação, casos de Aitor Otaño e Luis García Yáñez.

A igualmente estreia mundialista de Fiji contou com Severo Koroduadua Waqanibau, Serupepeli Tuvula, Epineri Naituku, Tomasi Cama, Kavekini Nalaga, Willie Rokowailoa, Pauliasi Tabulutu, Manasa Qoro, John Sanday, Peceli Gale (Samu Vunivalu), Koli Rokoroi, Ilaitia Savai, Rusiate Namoro, Salacieli Naivilawasa e Sairusi Naituku sendo os representantes do pequeno arquipélago.

Contra a anfitriã e futura campeã Nova Zelândia, a confirmação de uma queda precoce

Os alvinegros protagonizaram a primeira zebra das Copas de Rúgbi. Não apenas venceram, como o fizeram de forma elástica: 28 a 9. O cachetazo fijiano foi construído com tries de Gale, Naivilawasa, Nalaga, Savai, duas conversões e dois penais de Koroduadua Waqanibau e uma conversão de Rokowailoa. Os sul-americanos retiraram-se de campo tendo pontuado apenas com um try de Gómez e um penal e uma conversão assinalada pelo veterano capitão Hugo Porta. Já com 36 anos, o melhor rugbier do mundo de dois anos antes se programava para deixar a seleção.

Quatro dias depois, no Lancaster Park de Christchurch, foi a vez de encarar a Itália. Contra os europeus, veio a primeira vitória puma nas Copas, um 25 a 16 no time formado por Daniele Tebaldi, Marcello Cuttitta, Stefano Barba, Fabio Gaetaniello, Massimo Mascioletti, Fulvio Lorigiola, Oscar Collodo, Antonio Colella, Gianni Zanon, Marzio Innocenti, Mario Pavin, Mauro Gardin, Guido Rossi, Antonio Galeazzo e Tito Lupini. Os Azzurri pontuaram com tries de Innocenti e Cuttitta, uma conversão e dois penais de Collodo.

Os primeiros argentinos vencedores foram Salvat, Juan Lanza, Cuesta Silva, Madero, Pedro Lanza, Porta e Yangüela, Schiavio, Travaglini, Allen, Branca, Carosio, Molina, Cash e Dengra. Mesmo ali, houveram problemas. Yangüela contundiu-se e teve de ser cortado do torneio, tendo seu lugar ocupado por Marcelo Faggi, jogador do Estudiantes de Paraná (um dos poucos clubes argentinos de futebol e rúgbi), equipe que estava em excursão pela Nova Zelândia na época.

Gómez, que substituiu Yangüela no decorrer da partida, assinalou um dos tries alvicelestes, o outro sendo de Juan Lanza. Porta voltou a mostrar sua eficiência nos chutes, garantindo cinco penais e uma conversão. Porém, além de torcer pela derrota de Fiji, com quem concorreriam na última rodada pela segunda colocação, para a Itália, era necessário tirar uma diferença de tries (primeiro critério de desempate) para com os algozes da estreia. E o compromisso argentino seria diante da temida anfitriã.

Alumni comemorando um de seus quatro primeiros e seguidos títulos de rúgbi na virada dos anos 80 para os 90. Fora campeão em série também no futebol, no início do século XX

Um dia antes, em 31 de maio, a derrota fijiana, surpreendentemente, ocorrera: os já eliminados italianos lograram sua primeira vitória em Copas com um 18 a 15. Contra cada um destes dois, os All Blacks haviam somado sete casas decimais em seus pontos contra os europeus (70 a 6) e seus vizinhos da Oceania (74 a 13). Contra a Argentina, em 1 de junho, obtiveram “apenas” 46 a 15. A derrota honrosa não salvou os sul-americanos, que só conseguiram um try, com Juan Lanza.

Porta foi o autor dos demais pontos, com uma conversão e três penais, despedindo-se do seu único mundial com a agridoce eliminação precoce somada à artilharia do elenco hermano. Além do capitão, o outro argentino a ter se salvado na competição foi Enrique Rodríguez, ex-puma que vinha jogando pela Austrália, quarta colocada. Com Rodríguez, os Wallabies vieram à Argentina para dois amistosos no fim do ano, e não venceram: 19 a 19 e 19 a 27 foram os resultados, no estádio do Vélez Sarsfield, na despedida (inicial) de Porta.

Estes test matches acabaram por ser uma solitária alegria para a seleção em 1987. Curiosamente, os jogos marcaram a despedida internacional também de El Topo Rodríguez, que havia se despedido, em 1983 – e também debutado, em 1979 –, pela Argentina exatamente contra a Austrália, o adversário de logo mais neste Quatro Nações. Rodríguez é o rugbier que mais defendeu seleções no esporte, pois jogou também pela América do Sul e pelo Taiti.

Por ocasião da segunda Copa, em 1991, muitas mudanças: se antes do primeiro mundial, os resultados para a seleção eram animadores, nos quatro anos até o segundo, as decepções contra os grandes oponentes tomaram conta. Em 1988, venceu um e perdeu os outros três jogos contra a França (15 a 18 e 18 a 6 na Argentina, 9 a 29 e 18 a 28 na Europa). No ano seguinte, derrotas largas na visita à Nova Zelândia (9 a 60 e 12 a 49 para os All Blacks). Em 1990, em passagem pelas Ilhas Britânicas, reveses para Irlanda (18 a 20), Irlanda B (12 a 27), Escócia (3 a 49) e Barbarians (22 a 34, na primeira vez contra a equipe que reúne os melhores jogadores do mundo para amistosos festivos).

Momentos prévios de um scrum na primeira vitória da Argentina sobre a Inglaterra, em 1990: Bertranou (agachado), Cash, Angelillo e Aguirre são os pumas na imagem

A grande exceção foi na visita que a Inglaterra realizou em 1990. O primeiro jogo foi contra o Banco de la Nación, clube que um Hugo Porta à beira da aposentadoria dos gramados levara ao título no ano anterior. Ele e colegas impuseram um 29 a 21. Depois, a seleção de Tucumán perdeu por estreitos 14 a 19, para em seguida a de Buenos Aires lograr um 26 a 23 e a do Cuyo, um dramático 22 a 21. A de Córdoba também saiu-se honrosamente, perdendo por 12 a 15. Já contra os Pumas, a Rosa até venceu o primeiro test, por 25 a 12. Mas, no último compromisso, perdeu a revanche.

Foi a primeira vez que a Argentina venceu a Rosa, tendo se alinhado com Alejandro Scolni (Alumni), Hernán Vidou (Buenos Aires CRC), Marcelo Loffreda, Diego Cuesta Silva (ambos do SIC), Sebastián Salvat (Alumni), Rafael Madero (SIC), Fabio Gómez (Banco de la Nación), Marcos Baeck (Pueyrredón), Miguel Bertranou (Los Tordos de Mendoza), Pablo Garretón (Belgrano Athletic), Eliseo Branca (CASI), Alejandro Iachetti (Hindú), Diego Cash, Juan José Angelillo (ambos do SIC) e Manuel Aguirre (Alumni). Iachetti era o remanescente do histórico 19 a 19 obtido em Twickenham em 1978, na catedral mundial do rúgbi.

Os ingleses da ocasião foram Simon Hodgkinson, Nigel Heslop, Will Carling, John Buckton, Chris Oti, David Pears, Richard Hill, Dean Ryan, Peter Winterbottom, Mickey Skinner, Nigel Redman, Wade Dooley, Jeff Probyn, Brian Moore e Jason Leonard. Só que, ainda em 1990, a Inglaterra enfrentou a Argentina em novembro. E venceu por 51 a 0, na referida turnê pelas Ilhas Britânicas. Foi nela a despedida definitiva de Hugo Porta, a ter voltado para a seleção especialmente para a viagem e que ali tornou-se o mais velho a jogar por ela  (superando em pouco mais de um ano os 38 com os quais Fairy Heatlie tinha no jogo inaugural da Argentina, em 1910). 1990, ao menos, assinalou também a entrada plena da Argentina no IRB, após apoio de Austrália e França.

Outras mudanças vinham no cenário doméstico. Os clubes de San Isidro (CASI e SIC) deixaram a cidade sem ser campeã em 1989, na primeira vez desde 1970 que ela ficou sem título. O Banco de la Nación dividiu ali a taça com o Alumni. Este, grande potência do futebol na primeira década do século XX (ainda hoje, só os cinco grandes – River Plate, Boca Juniors, Racing, Independiente e San Lorenzo – têm mais campeonatos nacionais que os dez dele), seria ainda campeão isolado de 1990 a 1992, logrando de forma seguida seus quatro primeiros títulos no rúgbi. Já falamos, aqui, da importância do Alumni no futebol argentino.

Argentina x Austrália em 1991. A exemplo da Copa anterior, os Pumas perderam na primeira fase para os futuros campeões, adversários também no jogo de logo mais

Mais sentida ainda foi a quebra da hegemonia da seleção de Buenos Aires no campeonato argentino de províncias. Os bonaerenses haviam conquistado todos desde 1966 até 1985, quando a seleção de Tucumán quebrou a escrita, conseguindo ainda um tetra de 1987 a 1990 e o bi de 1992-93. A lista para a Copa do Mundo de 1991 seria marcada pela grande presença de jogadores tucumanos.

Ricardo Le Fort, Santiago Mesón, José Santamarina e Martín Terán foram convocados do Tucumán. Outros da província homônima presentes foram Pablo Garretón (Universitario), Pablo Buabse (Los Tarcos) e Luis Molina (Lawn Tennis). O grande Alumni do momento cedeu Manuel Aguirre, Gonzalo Camardón e Mariano Lombardi. La Plata (Guillermo Angaut e Germán Llanes), Olivos (Mariano Bosch e Mario Carreras), SIC (Diego Cash e Diego Cuesta Silva), Pueyrredón (Hernán García Simón e Agustín Zanoni) e Pucará (Gustavo Jorge e Eduardo Laborde), dois cada.

A convocação foi completada com um cada de CASI (Matías Allen), Belgrano Athletic (Lisandro Arbizu), Jockey Club de Rosario (Guillermo del Castillo), Newman (Francisco Irarrázaval), Curupaytí (Pedro Sporleder) e do Mendoza (Federico Méndez) na escolha dos técnicos Luis Gradín (outro puma original de 1965) e Guillermo Lamarca. O que não se alterou foi o fraco desempenho em um mundial. Na verdade, houve mudança, só que para pior: os Pumas perderam todos os seus compromissos. Se Porta conseguira somar 32 pontos em 1987, o goleador argentino da ocasião, Martín Terán, faria apenas 12.

No jogo da eliminação na Copa de 1991, Laborde, García Simón e G. del Castillo disputam bola com jogador de Gales

Em uma Copa multinacional – a Inglaterra foi a sede principal, mas houveram jogos também na Escócia, França, Gales e nas Irlandas (que, no rúgbi, são unidas em uma só seleção) -, as derrotas para a futura campeã Austrália (32 a 19) e para o tradicional País de Gales (7 a 16) foram seguidas pelo mais vexaminoso. Assim como em 1987, um pequeno arquipélago da Oceania sacudiu os Pumas. Já eliminados, levaram de 12 a 35 da surpreendente Samoa Ocidental, a estreante da Copa.

Ainda em 1991, os maus resultados incluiriam largas derrotas para a Nova Zelândia na Argentina (14 a 28 e 6 a 36) e o rebaixamento do outrora poderoso CASI, em jejum desde 1985. Até a Copa de 1995, o principal ineditismo foram os primeiros jogos contra a seleção principal da sede do mundial, a África do Sul – que, oficialmente, já havia enfrentado (e até perdido, uma vez) a América do Sul, ainda que de seleção composta apenas por argentinos.

A seleção de Buenos Aires chegou a vencer os Springboks na visita destes em 1993 (28 a 27), mas os sul-africanos nunca conheceriam outro resultado que não a vitória diante dos Pumas: 29 a 26 e 52 a 23 naquela viagem e, em casa, 42 a 22 e 46 a 26 no ano seguinte. Só na última partida entre ambos, neste Quatro Nações, é que os Pumas deixaram de perder pela primeira vez – em um empate (16 a 16).

Até 1995, cabe destacar também uma vitória sobre a França em Nantes, em 1992 (24 a 20), após derrotas para os mesmos Bleus em Buenos Aires naquele ano (12 a 27 e 9 a 33); os primeiros jogos contra a principal força asiática, o Japão (30 a 27 e 45 a 20 em visita nipônica de 1993); e múltiplas vitórias argentinas em visita da Escócia em 1994 (25 a 11 para a seleção de Cuyo, 27 a 24 para a de Rosario, e, para os Pumas, um 16 a 15 e um 19 a 17).

Decisão do torneio nacional de clubes de 1995, entre La Plata (campeão de Buenos Aires naquele ano) contra o decadente CASI de Santiago Phelan, o atual técnico dos Pumas. Ele é o alvinegro prestes a receber a bola

Fora a seleção, em 1993, ano em que o CASI foi rebaixado outra vez (após ter voltado a elite no anterior), foi criado um campeonato nacional de clubes, vencido pelo rival SIC. Com isso, a União Argentina de Rúgbi deixou, em 1995, de administrar o principal campeonato provincial, o de Buenos Aires. Para ele, fora criada em 1994 a União de Rúgbi de Buenos Aires, a URBA.

No último campeonato bonaerense feito pela UAR, um campeão novo: o La Plata. Foi um ano forte para o esporte platense, que viu, no futebol, o Estudiantes vencer a segunda divisão após rebaixamento em 1994 e, no rival Gimnasia y Esgrima (que originara o La Plata), um dramático vice-campeonato para o San Lorenzo. O La Plata ainda foi vice no nacional, onde perdeu para um CASI reascendido.

1995 foi também o ano que marcou a permissão oficial para o profissionalismo no rúgbi, justamente o motivo principal para que, exatos cem anos antes, em 1895, clubes dissidentes ligados a atletas operários tivessem criado a referida modalidade League. A Argentina é precisamente o único país do alto escalão da modalidade Union a manter ferrenhamente o amadorismo nela.

Para a Copa, os tucumanos continuaram bem presentes: Le Fort, Mesón e Santamarina, do Tucumán, e Buabse, dos Tarcos, foram reconvocados. Salvat, Cuesta Silva, Arbizu, Guillermo del Castillo, Llanes, Méndez e Sporleder, igualmente presentes nos mesmos clubes de 1991, também. Os clubes que mais cederam novatos foram o SIC (Diego Albanese, José Cilley, Matías Corral e Rolando Martín) e o Jockey Club de Rosario (Rodrigo Crexell, Fernando del Castillo, Ezequiel Jurado e Martín Sugasti).

rodriguez dominguez
Rodríguez e Domínguez, ex-pumas que enfrentaram a terra natal. “El Topo”, pelo adversário de logo mais. “Diegolito” foi mais longe: carrasco em 1995

Francisco García (Alumni), Nicolás Bossicovich (Gimnasia y Esgrima de Rosario), Sebastián Irozqui (Palermo Bajo de Córdoba), Patricio Noriega (Hindú), Marcelo Urbano (Buenos Aires CRC), Cristián Viel (Newman) e o futuro símbolo Agustín Pichot (CASI) foram outros a irem para a sua primeira Copa, que, para os Pumas, não seria muito melhor que a de 1991. As novidades do mundial foram duas estreantes, ambas africanas: a Costa do Marfim e a África do Sul, primeira anfitriã única do evento. Os Springboks teriam uma campanha redentora após anos de ostracismo por conta do apartheid, rendendo até filme de Clint Eastwood (o belo Invictus).

O conjunto dos técnicos Alejandro Petra e Ricardo Paganini, por sua vez, só perdeu, apesar de demonstrar boa técnica. O artilheiro, com 26 pontos somados, seria Cilley. Inglaterra e (novamente) Samoa Ocidental venceram respectivamente por 24 a 18 e 32 a 26, mas por conta de súbitos apagões argentinos: contra os ingleses, foram derrotados pela falta de pontaria, tendo errado cinco penais e caindo mesmo tendo aplicado dois tries e não levado nenhum.

Rodrigo Crexell perdendo a bola após tackle samoano no dia da eliminação em 1995

Já os samoanos estavam sendo vencidos por 12 a 26 até os últimos 18 minutos, quando iniciaram uma espetacular virada. Os sul-americanos despediram-se contra os italianos, que também os venceriam por seis pontos de diferença, 31 a 25.

Esta última derrota contou com shows de ex-pumas: Mario Gerosa marcou um try e Diego Domínguez, não só outro como também duas conversões e quatro penais em uma morte de abraçados, pois as duas seleções já estavam eliminadas.

O reserva Diego Scaglia era outro argentino (mas sem ter sido puma) entre os adversários, outros a ganharem de virada: Domínguez fez o try da vitória no último minuto, revertendo a vitória parcial de 25 a 24 da chorosa terra natal.

Domínguez, ex-La Tablada de Córdoba, defendera a Argentina duas vezes em 1989 (Gerosa, ex-Atlético del Rosario, duas em 1987) e em 1995 comandava o time de rúgbi do Milan. Não foi o primeiro hermano entre os Azzurri, mas abriu portas para outros: é o maior artilheiro da Itália, com 983 pontos, muitos deles nas primeiras vitórias italianas sobre Irlanda (1995), França (1997), Escócia (1998) e Gales (2003).

A Velha Bota ainda não ganhou precisamente das campeãs mundiais (Nova Zelândia, Austrália, África do Sul e Inglaterra), mas, antes de ter o cordobês, só havia derrotado, das nações do alto escalão (da qual a Itália é historicamente a mais fraca), justamente a Argentina, em 1978. Somando-se os 27 pontos que Domínguez fizera como puma, ele é um dos cinco a terem marcado 1000 pontos por seleções. Foi o segundo a atingir a marca, precisamente na vitória sobre Gales, em sua penúltima partida pelos europeus. Antecedido pelo galês Neil Jenkins, depois recebeu a companhia do inglês Jonny Wilkinson, do irlandês Ronan O’Gara e do neozelandês Dan Carter nesse grupo “milenar”.

Apenas na última Copa, foram seis “argento-italianos” (nem a seleção de futebol da Itália usou tantos oriundi simultaneamente): Martín Castrogiovanni, Pablo Canavosio, Luciano Orquera, Gonzalo Canale, Gonzalo García e até o capitão, Sergio Parisse. Já a Copa de 1999 fora a que a Argentina teve, enfim, a sua primeira grande satisfação em Copas. Relato que fica para o próximo especial.

capitães
Os capitães campeões dessas Copas, com a Taça Webb Ellis em mãos: o neozelandês David Kirk, o australiano Nick Farr-Jones (com o colega David Campese à direita) e o sul-africano François Pienaar (com o presidente Nelson Mandela). Seus países, os maiores vencedores dos mundiais (todos bicampeões), são os adversários da Argentina no Quatro Nações, a reunir as melhores do hemisfério sul

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

3 thoughts on “História dos Pumas – Parte IV: As primeiras Copas

  • Diogo Terra

    Essa camiseta antiga dos Pumas é fantástica. Vale mais a pena gastar os tubos nela do que na atual, destruída pela Nike… Será que tem um brasileiro na equipe de design da marca do “swoosh”? Só pode ser.

  • Caio Brandão

    haha. Confesso que, no jogo contra a África do Sul em Mendoza, tava começando a simpatizar. Pela soma da vitória inédita que ia se encaminhando e pelas cervas, haha. Pena que ficou no quase, assim como o da Austrália…. essa contra os Wallabies ainda não me desceu… =/

    Obrigado pelo acesso e prestígio, Diogo! Abraço…

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