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A última conquista internacional de um gigante

river97
Sorín, Astrada,Berizzo, Ayala, Díaz e Burgos, Monserrat, Francescoli, Gallardo, Berti e Salas

Desde Buenos Aires – Há 15 anos atrás e sob o comando do mesmíssimo Ramón Díaz que hoje se senta no banco de reservas, o River Plate conquistava o seu último grande título internacional: a Supercopa Libertadores de 1997. Agora, o clube aposta novamente no treinador mais vitorioso de sua história para tentar reencontrar o caminho de sucesso e projeção no continente. Mas os tempos são outros.

A escassez de títulos vem acompanhada por uma forte crise financeira e com poucos nomes revelados em suas categorias de base, decadentes desde a saída da comissão liderada por Delém. Díaz, em sua primeira passagem como técnico do Millonario (1995  até 1999), contava com um plantel de dar inveja a qualquer grande equipe no mundo: Juan Pablo Sorín, Marcelo Gallardo, Marcelo Salas e Enzo Francescoli eram algumas das grandes figuras daquele time vencedor.

A Supercopa era um torneio que reunia somente campeões da Libertadores. Os três outros grandes argentinos a terem a Libertadores já haviam vencido também a Super (Racing em 1988, Boca em 1989, Independiente em 1994 e 1995), assim como o Vélez em 1996. A de 1997 seria a última edição, dando ares de “agora ou nunca” para os de Núñez: para reunir mais equipes de peso, a partir de 1998 seria substituída pela Copa Mercosul, onde o critério era apenas o convite de clubes tradicionais.

Na competição, o River Plate formou parte do Grupo 3, ao lado de Vasco, Santos e Racing. Terminou com folga na primeira posição, cinco pontos na frente do Vasco, o segundo colocado. Os cruzmaltinos só venceriam a Libertadores em 1998, mas foram admitidos na derradeira Supercopa após a conquista do Sul-Americano de 1948 (sobre o próprio River) ser equiparada à Libertadores pela Conmebol.

O técnico Ramón Díaz, na época

Na primeira fase, os de Núñez tiveram apenas uma derrota – para o Santos, por 2 a 1, na Vila Belmiro – e cinco belíssimas vitórias. Ganhou os dois clássicos que fez com a Academia racinguista, ambos pelo mesmo placar; 3 a 2. Diante do rival carioca do grupo, uma sonora goleada por 5 a 1 em Buenos Aires e vitória tranquila por 2 a 0 no Rio. Contra o Santos, disputou os jogos mais duros desta fase: vitória por 3 a 2 no Monumental e a já citada única derrota em solo brasileiro, quando já estava classificado.

Com o passaporte carimbado para a semifinal, o adversário era o Atlético Nacional, da Colômbia. No jogo de ida, o River Plate deu um passo importantíssimo para avançar à decisão: 2 a 0, com dois gols do chileno Marcelo Salas, que, a partir de então, se consolidaria como figura incontestável daquela campanha vitoriosa. No jogo de volta, em Medellín, o drama foi um companheiro constante. Derrota por 2 a 1, mas o golzinho marcado fora de casa por Gallardo deu a garantia necessária para o time disputar a esperada final contra o São Paulo, que vinha de eliminar o Colo Colo, do Chile.

Os dois jogos das finais, como era de se esperar, foram os mais complicados de toda a campanha. A primeira partida ocorreu no estádio do Morumbi numa quinta-feira, dia 04 de dezembro. Jogo fechado, com o Tricolor um pouco melhor, já que queria fazer o resultado em casa. O River se segurava bem e apostava em velozes contra-ataques, mas quase vê tudo a perder quando Berti foi expulso por uma falta desleal. Seu lugar seria ocupado por Diego Placente na partida de volta.

Atuando com dez homens praticamente durante todo o segundo tempo, os visitantes precisaram se esforçar para manter o igualdade sem gols. Tamanho esforço e desgaste físico cobrou do plantel Millonario; Sorín e Astrada precisaram ser substituídos por sentirem lesões. Por sorte, o jogo de volta estava marcado para dali duas semanas, dia 17, uma quarta-feira, no Monumental de Núñez. Ramón Díaz teve tempo suficiente para estudar qual o melhor esquema e pôde contar com os dois atletas que deixaram o campo machucados no Brasil.

Salas marcando o primeiro da final e com o troféu: principal figura da Supercopa 97

O estádio do River estava tomado por uma torcida que esperava pela conquista do único título de prestígio que ainda faltava na gloriosa galeria de troféus do clube. Prova disso foi a majestosa recepção que o time teve no instante que pisou no gramado, uma das mais grandiosas e relembradas até hoje por seus torcedores, enquanto os jogadores, longe de apresentar o futebol que foi marca registrada daquela era Ramón Díaz, realizaram uma partida digna de final de competição internacional. Sem luxo, sem brilho, mas firme e efetivo o suficiente para buscar a vitória de qualquer maneira.

A dúvida se o campeonato realmente viria começou a ganhar força quando Roger defendeu o pênalti cobrado pelo eterno ídolo Francescoli logo aos 10 minutos do primeiro tempo. O goleiro voou e com o braço esquerdo esticado conseguiu espalmar a cobrança. O nervosismo durou até o primeiro minuto do segundo tempo, quando Salas, meio sem querer, conseguiu desviar o cruzamento vindo do lado direito e mandou para o fundo das redes. Porém, nem bem a torcida terminava de festejar e quatro minutos depois Dodô deixou tudo igual com uma bomba de fora da área.

Então, aos 12 minutos da etapa final, outra vez Salas fez linda jogada individual, driblou dois marcadores e tocou por baixo, na saída de Roger colocando números finais na decisão; 2 a 1 e River Plate campeão! E, naqueles tempos de glórias e campeonatos, apenas quatro dias depois a banda roja, vestida por um time que marcou época e deixou saudades, daria mais uma volta olímpica, conforme contaremos ainda nessa semana. Desde então, o River só teve (poucas) conquistas caseiras, principalmente no novo século, marcado por más administrações.

Atualização em 21-12-2012: clique para conferir a outra volta olímpica histórica que aquele timaço pôde dar quatro dias depois.

A lista de decepções internacionais é grande. Das mais vexatórias, a perda da Sul-Americana de 2003 para o modesto Cienciano e queda em casa nas semifinais do torneio em 2007, para o minúsculo Arsenal; eliminações na Libertadores após goleadas para o Grêmio (4 a 0 em 2002), América de Cali (4 a 1 em 2003) e Libertad (3 a 1 em 2006) – nas duas últimas, após eliminar os bons times do Corinthians; queda na primeira fase em 2007 e 2009; e, com dois jogadores a mais e em casa, sofrer o empate de 2 a 2 que lhe eliminaria após estar vencendo por 2 a 0 o San Lorenzo nas oitavas-de-final de 2008.

O chileno marcando o segundo gol

Ficha técnica do segundo jogo da decisão

River Plate 2 x 1 São Paulo

River Plate: Germán Burgos, Hernán Díaz, Celso Ayala, Eduardo Berizzo, Diego Placente, Roberto Monserrat, Leonardo Astrada, Juan Pablo Sorín, Marcelo Gallardo, Enzo Francescoli e Marcelo Salas. Técnico: Ramón Díaz.

São Paulo: Roger, Zé Carlos, Edmílson, Álvaro, Serginho, Fabiano, Alexandre, Sidney, Marcelinho Paraíba, Dodô e Víctor Aristizábal. Técnico: Darío Pereyra.

Árbitro: Ubaldo Aquino (PAR)

Gols: Salas (RP) aos 2′ ST; Dodô (SPFC) aos 6′ ST e Salas (RP) aos 12′ ST.

httpv://www.youtube.com/watch?v=tEnHwK_SOWg

Leonardo Ferro

Jornalista e fotógrafo paulistano vivendo em Buenos Aires desde 2010. Correspondente para o Futebol Portenho e editor do El Aliento na Argentina.

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