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Argentinos pela América Latina na seleção

José María Basanta, que na Argentina destacou-se no Olimpo de Bahía Blanca, hoje estreou pela seleção, e como titular. Veio do Monterrey

O jogo contra a Bolívia, hoje, marcou na seleção a entrada de novos jogadores do mercado latino-americano: José María Basanta, zagueiro do mexicano Monterrey, e Pablo Horacio Guiñazú, agora vindo do paraguaio Libertad. Vamos lembrar outros que a Argentina chamou de co-irmãos do continente.

México

Basanta, que foi titular, é o décimo jogador em campo pela Argentina vindo do futebol mexicano, e o décimo primeiro na seleção se considerarmos um mundialista que nunca jogou. Ou seja: o México já forneceu um time inteiro à Albiceleste. Só o Brasil, com doze, “exportou” mais.

O primeiro “chicano” foi o zagueiro Enzo Héctor Trossero, um dos maiores ídolos do Independiente, mas que na seleção sofria com a concorrência com Daniel Passarella – era canhoto, como o Kaiser, o que complicava uma escalação conjunta. Quando Carlos Bilardo tornou-se técnico, após a Copa de 1982, contudo, insistiu na dupla na maior parte das eliminatórias. Ainda que de forma bastante dramática, a classificação veio.

Só que, para o mundial, Bilardo não confirmou a dupla: Passarella, herói da classificação, ficou no banco o torneio inteiro. Trossero, do seu lado, fora jogar no Toluca após as eliminatórias. Foi convocado para amistoso em dezembro de 1985, no próprio México, contra o anfitrião do mundial. Acabou sendo seu último passo, pois Bilardo não o colocou na lista para a Copa, preferindo usar os reservas José Luis Brown e Oscar Ruggeri e o novato José Luis Cuciuffo.

Outra surpresa para o mundial de 1986 foi a convocação do goleiro Héctor Miguel Zelada. Ao contrário de Trossero, não integrara o caminho até o torneio e estava “sumido” no futebol mexicano desde 1979. Ainda por cima, tirou a vaga do veterano Ubaldo Fillol, titular nas eliminatórias e que vinha de uma boa temporada europeia de 1985-86, em que fora vice da Recopa com o Atlético de Madrid.

O “anfitrião” Zelada, em 1986, e Bauza, em 1990

Zelada serviu como “anfitrião”, pois a delegação hospedou-se exatamente nas instalações do América, seu clube. Não chegou a entrar em campo: ao lado dos também goleiros Ángel Comizzo, Fabián Cancelarich (que estiveram na Copa de 1990) e Norberto Scoponi (1994), é um dos jogadores levados pela Argentina a uma Copa do Mundo que nunca chegaram a jogar por ela.

O seguinte esteve presente no mundial posterior: o zagueiro Edgardo Bauza, que estava no Veracruz, pelo qual realizou dois amistosos preparatórios, contra o próprio México e contra a Escócia. Como Trossero, sofreu com a concorrência com Passarella, com quem tinha um estilo mais parecido, sendo um defensor artilheiro: no futebol mundial, só fez menos gols que o próprio Passarella e o holandês Ronald Koeman.

Na Argentina, El Patón é um dos maiores heróis do Rosario Central, participando do único bicampeonato nacional seguido na era profissional em que um título da segunda divisão foi emendado com um na elite, saga que explicamos aqui. Ele também, como técnico, conduziu os canallas às semifinais da Libertadores de 2001, e venceu o torneio em 2008 comandando a LDU, onde trabalha atualmente. No mundial de 1990, porém, ficou no banco de Juan Simón.

Em 1991, o meia Germán Ricardo Martelotto, ex-Central, fez sua única partida pela Argentina, um 2-2 contra a Inglaterra em Wembley após derrota parcial por 0-2. Vinha do mesmo Monterrey de Basanta. A seguir, outro zagueiro: o já mencionado Óscar Alfredo Ruggeri. É o jogador que mais defendeu a Argentina por clubes diferentes (oito), o único pelos três grandes de Buenos Aires (Boca, River e San Lorenzo; Independiente, pelo qual torce, e Racing são da vizinha Avellaneda) e o primeiro a ultrapassar as 100 partidas por ela.

Ruggeri, do América, ergue a Copa América de 1993 – vencida sobre o México

El Cabezón chegou ao América em 1992, fazendo sua primeira aparição na seleção em novembro, em 2-0 na Polônia. Passou todo o ciclo das eliminatórias para a Copa de 1994 no clube da capital mexicana, totalizando quinze partidas vindo de lá. No semestre do torneio, porém, já havia se transferido ao San Lorenzo. Ele é também o único campeão nos três grandes portenhos.

Dois dos jogos de Ruggeri como atleta do América foram ao lado de um adversário, Julio César Zamora, ex-ponta-esquerda do Newell’s de Marcelo Bielsa. El Negro estava na Cruz Azul e jogou no 1-2 contra a Colômbia em Barranquilla, no dia em que a Argentina perdeu um recorde mundial de invencibilidade de 32 jogos, e no 0-0 contra o Paraguai em Buenos Aires, pelas eliminatórias. Acabou não usado mais.

Em 1995, Rolando Hernán Cristante teve a sua vez. Era o goleiro do bom Platense da época, em que o jovem David Trezeguet era inclusive reserva. Carozo ainda é o último jogador do clube marrom na seleção. Ao fim daquele ano, transferiu-se ao Toluca e jogou uma partida: a derrota de 0-1 para o Brasil, o último revés para o rival em Buenos Aires. A derrota com gol de Donizete Pantera foi a última vez de Cristante, titular na Copa América, pela Albiceleste.

Os próximos foram César Fabián Delgado e Luciano Gabriel Figueroa, a dupla ofensiva do Rosario Central de Bauza semifinalista da Libertadores. A equipe terminou eliminada pela Cruz Azul, que levaria ambos em 2003. El Chelito Delgado foi o primeiro a chegar à seleção vindo da nova equipe, a partir de um 2-2 contra o Chile pelas eliminatórias para 2006. Lucho Figueroa estreou em um 0-2 amistoso contra a Colômbia, já em 2004.

A dupla Delgado (à esquerda) e Figueroa (direita), no Cruz Azul

Delgado é quem mais jogou pela Argentina vindo das terras astecas: foram 19 partidas até os fins de 2005, durante todo o ciclo das eliminatórias. Figueroa rumou em 2005 para o Villarreal, mas também mantinha-se na seleção. No período, a dupla esteve junta no vice da Copa América (foi de Delgado o gol que quase deu o título à Argentina, ao fim da decisão), no ouro em Atenas e em novo vice para o Brasil, na Copa das Confederações, a partir de onde ambos perderam espaço. José Pekerman preferiu Julio Cruz e as revelações Rodrigo Palacio e Lionel Messi para a Copa 2006, além das estrelas Hernán Crespo, Javier Saviola e Carlos Tévez.

O meia Federico Insúa, hoje no Vélez, fora o último em campo vindo da Liga MX. Na última década, vinha sempre recebendo oportunidades de novos ciclos: esteve na primeira partida de Bielsa pós-Copa 2002, na primeira de Pekerman e na primeira de Maradona, sempre com ares de “velha novidade”, pois nunca chegou a se firmar.

Ainda com Pekerman, El Pocho jogou dois amistosos em 2007, vindo do América: 1-2 contra a Noruega em Oslo e 1-0 na Austrália em Melbourne. Depois dele e antes de Basanta, o meia Christian Giménez (então no Pachuca) e o goleiro Federico Vilar (então no Atlante) foram chamados, em 2009, mas não chegaram a jogar, assim como o zagueiro Daniel Alberto Cata Díaz, quando estava na Cruz Azul – era outro semifinalista com o Central na Libertadores de 2001 levado pelo algoz.

Atualização após a matéria: em 14 de outubro de 2014, o goleiro Nahuel Guzmán, do Tigres, estreou pela seleção. Pelo clube de Nuevo León, foi em 2015 vice da Libertadores e convocado à Copa América.

Paraguai

Guiñazú, que entrou ao fim da partida de hoje, é apenas o segundo jogador vindo do Paraguai a jogar pela Argentina, e o primeiro do Libertad. O antecessor não se trata de Juan Manuel Iturbe, só chamado do Cerro Porteño para as seleções de base; o jogador em questão foi convocado a partir tanto do mesmo Cerro como do arquirrival Olimpia, o goleiro Sergio Javier Goycochea.

Goycochea, quem mais veio de diferentes clubes latino-americanos à seleção. À esquerda, no Millonarios. Ao centro, no Cerro Porteño (a seu lado, Francisco Arce)

Após se consagrar na Copa de 1990, Goycochea gerou expectativas que não se concretizaram a nível de clubes. Como ele mantinha fase regular na seleção, contudo, seguiu chamado mesmo pulando de time em time, como o Brest, que estava na segunda divisão francesa em 1991. De lá, Goyco foi ao Cerro em 1992, realizando duas partidas: 1-0 no Japão pela Copa Kirin e 2-0 amistoso na Austrália.

No mesmo ano, trocou o Ciclón paraguaio pelo Olimpia, com o qual foi vice para o Atlético Mineiro na Copa Conmebol e eliminado pelo campeão Cruzeiro na semifinal da Supercopa. Pelo Decano, jogou duas partidas da Copa das Confederações e, já em fevereiro de 1993, um 1-1 com a Dinamarca pela Copa Artemio Franchi, extinto tira-teima entre o vencedor da Copa América com o da Eurocopa.

Ainda em 1993, o arqueiro recebeu nova chance do clube que o revelou, o River Plate, pelo qual foi à Copa de 1994. Ele foi o primeiro dos nove jogadores que a seleção já chamou de dois clubes estrangeiros rivais, e o único com estes fora da Europa.

Outros

Goycochea também jogou pela Argentina vindo do futebol colombiano: foi pelo Millonarios que ele fora à Copa de 1990. Integrara o time campeão de 1988, no último troféu nacional do clube de Bogotá até o ano passado. Ele ocupou no mundial um lugar que poderia ter sido do colega de posição Julio César Falcioni, do América de Cali trivice-campeão da Libertadores naquela década (ver aqui). Falcioni jogou só uma vez, em amistoso na própria Colômbia, contra a seleção local. Perdeu de 0-1, em 1989.

Além destes goleiros, o outro único cafetero na Albiceleste foi o mencionado zagueiro José Luis Brown, que foi à Copa de 1986 vindo do Atlético Nacional, de Medellín. Era apreciado por Bilardo desde os tempos de Estudiantes de La Plata, onde foram campeões duas vezes no início de 1983 – há especial próximo programado, no aniversário de 30 anos deste bi.

José Luis Brown (1986), do Atlético Nacional, e Sergio Vázquez (1994), da Universidad Católica, foram a Copas do Mundo por estes clubes

O Chile forneceu três jogadores à seleção, nos anos 90: o zagueiro Sergio Fabián Vázquez, com passagens pela seleção vindo de Ferro Carril Oeste, Racing e Rosario Central, foi o primeiro; participou da Copa América de 1993 e das eliminatórias para 1994 pertencendo à Universidad Católica (vice-campeã da Libertadores de 1993, para o São Paulo), pela qual foi à Copa dos EUA.

Em 1995, também da Católica, veio o atacante Alberto Federico Acosta, um dos maiores ídolos do San Lorenzo. Ele estivera no ciclo pré-Copa 1994, mas foi um dos que caíram em desgraça após o 0-5 para a Colômbia em Buenos Aires e ficou de fora do mundial. Acosta recebeu suas últimas chances na Copa América de 1995, realizando quatro jogos.

Também para aquela Copa América, Passarella chamou Marcelo Fabián Espina, o homem que deixava Trezeguet no banco do Platense, do qual foi o penúltimo utilizado na Albiceleste. El Cabezón estava no Colo Colo e jogou duas vezes. A última, no vexatório 0-3 contra os Estados Unidos.

O lateral-direito Matías Rodríguez, da recente sensação Universidad de Chile, chegou a ser convocado ano passado, mas sua estreia em campo não se confirmou. Do Brasil, por sua vez, já fizemos um especial – ver aqui; a única mudança é que Walter Montillo tornou-se o primeiro santista na Albiceleste. O tradicional futebol uruguaio, como o dos demais países do continente, por sua vez, ainda não chegou a exportar ninguém à seleção.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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