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Elementos em comum entre Boca e River (Parte I)

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Tarantini, titular nas Copas 1978 e 1982

Enfim, o provável capítulo mais esperado da série, apropriadamente deixado para o final. Hoje é dia de falar dos principais jogadores a passarem pelos polos do Superclásico argentino. Evento tão grande que teremos de dividir o especial em mais de uma parte.

Nenhum duelo teve tantos jogadores que por ambos passou pela seleção: Boca-River já tiveram doze, possibilitando um time titular com goleiro, defensores, meias e atacantes. As demais rivalidades – incluindo, aí, as estrangeiras – tiveram no máximo dois, a não ser que abranjamos para clássicos “indiretos”: assim, os que mais chegam perto são os duelos que a dupla faz contra o Racing, a ter cinco jogadores em comum com o River na Albiceleste e outros cinco com o Boca.

Cerca de uma centena de jogadores já vestiram as duas camisas, incluindo alguns estrangeiros (como o paraguaio Julio César Cáceres, ex-Atlético Mineiro). Mas em que pese o número elevado na seleção, só dois chegaram a ponto de ficarem bem lembrados de forma mais equivalente nas duas maiores hinchadas da Argentina. Nesta primeira parte, falaremos deles e, com menos rigor, de ao menos dois outros nomes únicos na rivalidade.

Norberto Menéndez

Se há um nome unânime nos dois lados, é o deste meia-atacante. Quando a El Gráfico publicou edições especiais sobre os cem maiores ídolos dos cinco grandes, Beto foi o único presente em comum nas de Boca e River. Os livros oficiais dos centenários de ambos (River, El Campeón del Siglo e The Book of Xentenary) também têm verbetes de destaque para ele. Pudera: jogou nos anos 50-60, época em que a glória máxima em um clube ainda se resumia a vencer o campeonato argentino. Menéndez venceu três por ambos. Nenhum outro conseguiu algo perto.

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O fanfarrão Menéndez no River, no Boca e zombando do ex-colega Carrizo (que seria desafeto seu) em um dos Superclásicos de 1964-65 em que, veterano, “El Beto” foi decisivo

Estreou no River em 1954, justo em vitória sobre o Boca na Bombonera. Mesmo com só 17 anos, jogou meio campeonato. Ganhou ainda mais espaço após a saída do titular Walter Gómez. Com bom arranque e toques curtos, fez grande dupla com outra revelação, Omar Sívori, com quem foi tri seguido de 1955-57. Até então, só o Racing era tri seguido profissional. No embalo, chegou à seleção.

Foi o autor do primeiro gol argentino em eliminatórias de Copa e, na Suécia, foi o centroavante titular. Mas a desastrosa campanha (lembre aqui) abalou por um tempo o River, base da Albiceleste. O tetra seguido passou distante em 1958. O rebelde Menéndez, cheio de suspensões por indisciplina, saiu em 1960, para o Huracán, uma fachada para que não fosse diretamente ao Boca. Nos auriazuis, chegou em 1961 e passou a jogar mais recuado, para municiar os gols do brasileiro Paulinho Valentim.

Virou um grande gozador do ex-time: foi sobre o River que o Boca venceu os três títulos com Menéndez, que se dava bem nos clássicos. Marcou 5 pelo Millo e dois pelo rival: em 1964, marcando o gol do empate que deu o título ao Boca na penúltima rodada. Em 1965, ao fazer a 3 minutos do fim o gol da vitória de virada que pôs seu clube isolado na liderança. Já havia vencido o de 1962, eternizado pelos brasileiros Valentim e Delém (veja aqui). Estes três clássicos estão entre os dez eleitos favoritos do Boca pelo The Book of Xentenary.

Atualização em 31-05-2014: dedicamos um especial só para Menéndez – clique aqui.

Alberto Tarantini

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Taggino: sua época era tão diferente que a faixa diagonal era do Boca

Depois de Menéndez, quem mais se aproxima de ser tão prestigiado nos dois é o lateral titular da Argentina campeã mundial em 1978. Ele foi bicampeão nacional por ambos. No Boca, teve o plus de ganhar ainda a primeira Libertadores bostera, em 1977, sobre o Cruzeiro, além de ter sido campeão em 1976 sobre o próprio River, na primeira ocasião em que ambos decidiram o campeonato em uma final oficial. O problema foi a maneira que saiu do clube…

Uma versão de que ele seria torcedor do River mas que começara no Boca por morar mais próximo da Bombonera foi divulgada, mas em 2013 Tarantini esclareceu que era boquense, mas ficou desgostoso com um suposto desprezo do presidente Alberto Jacinto Armando (cujo nome é o oficial da Bombonera) para com a morte do pai do jogador.

O lateral então não renovou seu contrato em 1977. Foi campeão mundial em 1978 oficialmente sem clube: Armando teria negociado com outros clubes argentinos para que não contratassem o jogador, que após a Copa conseguiu emprego na Inglaterra, no Birmingham City.

Em 1979, foi ao Talleres e, dali, ao River em 1980, ano em que Armando deixou a presidência do Boca. Tarantini passou a jogar de zagueiro central, formando boa dupla de marcadores com Daniel Passarella. Foi logo campeão e o seria também em 1981. Titular também na Copa de 1982, foi um dos que jogaram pela Argentina a partir de ambos. A El Gráfico o elegeu entre os cem maiores ídolos do River, mas não nos do Boca. Por outro lado, o mencionado The Book of Xentenary o colocou entre os cem principais jogadores dos primeiros cem anos boquenses.

Outros nomes únicos

Dos que já passaram pela seleção ou dos campeões em ambos, a maioria se destacou individualmente só em um. Destes dois referenciais (seleção e títulos), objetos das próximas partes, antecipamos exemplares únicos de cada. Francisco Taggino foi simplesmente o primeiro que a Argentina usou do Boca, há cem anos, em 1913, no que falamos aqui. E foi também o primeiro em comum nela a partir da rivalidade: em 1916, fez sua primeira partida pela seleção como jogador do River.

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Di Stéfano: o ex-craque também é o único técnico campeão nos dois

O detalhe é que ele conseguiu isso em uma época onde ambos estavam por demais distantes do porte atual: eram apenas rivais de bairro, o de La Boca. Quando Taggino esteve na Albiceleste, a dupla simplesmente não havia ainda sido campeã nacional: os xeneizes o seriam só em 1919 e o rival, um ano depois. Na época, o Superclásico era apenas El Clásico Boquense (veja). Durante a era amadora (1891-1930), ele foi o único alçado pelo dérbi à seleção. E o segundo só conseguiria o mesmo em 1950.

Alfredo Di Stéfano tem história no futebol por inúmeras razões. A maioria, relacionadas ao que fez no Real Madrid. Se seu passo pelo River também é conhecido, um detalhe que poucos sabem é que, já como técnico, até hoje só ele foi campeão na dupla. Apesar de mais ligado ao River, ele já declarou apreciar ambos: “Me sinto riverplatense, mas como tinha toda a família em La Boca, sou meio boquense, e não tenho inveja, nem ciúme, nem ódio, nem nada, é um clube extraordinário”.

Começou no River em 1945, mas só triunfou dois anos depois; falamos aqui. Mas em 1948, veio uma greve de jogadores que, não atendida, levou muitos participantes ao exterior. Di Stéfano foi um deles e só a partir dali viria a se tornar um jogador completo. Primeiro, no Millonarios colombiano e, depois, no Real. Voltou à Argentina ao fim dos anos 60 para treinar o Boca. Foi campeão nacional em 1969 com só 1 derrota em 17 jogos, com o título vindo exatamente sobre o River em pleno Monumental, em um 2-2. É outro clássico listado entre os “dez mais” pelo The Book of Xentenary.

O time só voltaria a ser campeão em 1976. La Saeta Rubia ainda voltou a trabalhar nos xeneizes em 1985, quando viviam sua pior crise. Nesse meio-tempo, ele trabalhara no River em 1981, em um time que contratou ele e Mario Kempes para responder à ida de Maradona ao Boca. Os reforços corresponderam e os millonarios foram campeões pela última vez até 1986.

Clique nestas outras rivalidades para acessar seus elementos em comum: Boca-RacingRiver-IndependienteIndependiente-San LorenzoRacing-San LorenzoRacing-IndependienteRiver-RacingBoca-IndependienteBoca-San LorenzoRiver-San Lorenzo, Boca-River II, Boca-River IIIBoca-River IV. No mesmo estilo, também fizemos a da rivalidade San Lorenzo-Huracán.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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