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Elementos em comum entre Grêmio e Newell’s

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Jardel: “Super Mário” no Grêmio e já fora de forma no Newell’s, embora também campeão nele

Grêmio e Newell’s se enfrentam hoje às 21h15. Fundados em 1903, fora isso têm poucas semelhanças. Normalmente, quando um estava bem, o outro vivia crise. Por exemplo, o Newell’s estava na segundona quando o Grêmio começava o hepta gaúcho. Quando o Newell’s foi campeão da elite pela primeira vez, o Grêmio vivia o octa do Inter. Nos melhores anos da Lepra, entre 91-92, o Inter foi bi estadual, venceu a Copa do Brasil e o Tricolor foi rebaixado, descenso repetido em 2004, ano de novo título rojinegro

Além disso, o Grêmio se orgulha da fama de arrancar triunfos épicos, autoproclamando-se por isso como Imortal Tricolor. Já o Newell’s sofre na Argentina com uma pecha de amarelão. Ao perder o campeonato argentino de 1987 justo para o arquirrival Rosario Central (que voltava da segundona!), viu o próprio treinador leproso Jorge Solari culpar os torcedores de Pechos Fríos.

A expressão significa literalmente “peito frio” em português, mas equivale ao que chamamos de pé frio, sensação reforçada pelos títulos que insistiram em escapar na Libertadores durante as boas fases: vices em 1988 e 1992 e queda dramática nas semis do ano passado (ocasião em que uma das brincadeiras nas redes sociais foi Newell’s Cold Boys). Vamos a quem passou pelos dois oponentes de logo mais:

Juarez, Ivo Diogo, João Cardoso, Cléo, Ronald Dias, Dilson, Adair e talvez outros

Em 1960, o Grêmio conseguiu um penta gaúcho. Um dos protagonistas era o atacante Juarez. No mesmo ano, o Newell’s  foi pela única vez rebaixado. A dupla Boca-River, inspirada pelo sucesso da seleção brasileira, encheu-se de brasileiros e a Lepra também foi atrás de uns. Só em 1961, trouxe seis, como o corintiano Roberto Belangero e Eduardo Pimentel, ex-América Mineiro e que também jogaria no Vélez. De Porto Alegre, vieram os colorados Deraldo (que jogaria também em River e Argentinos Jrs) e Ivo Diogo (artilheiro do Gaúchão 1960, passaria pelo Grêmio e San Lorenzo depois), além de Juarez.

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Cardoso no Grêmio e com o outro único brasileiro a vingar no Newell’s, Zucca

O NOB (onde o mencionado Jorge Solari era jogador) foi campeão, mas ao fim do torneio, a AFA tirou-lhe 10 pontos por uma “mala preta” ao Excursionistas bater o concorrente dos rosarinos ao acesso, o Quilmes. Prática polêmica ainda hoje, era bem menos tolerada na época. Juarez jogou pouco, só 7 vezes, mas marcou 4. Mantido na segundona, o Newell’s continuou a chamar brasileiros. Em 1962, vieram pelo menos três outros gremistas: o zagueiro Cléo, o meia-esquerda Ronald Dias e um ex-reserva de Juarez, João Cardoso. Cléo e Cardoso foram titulares.

O acesso novamente não veio em 1962 e Cléo e Ronald Dias saíram. A volta à elite enfim foi garantida em 1963, também extra-campo: o time, que havia se reforçado com outro ex-zagueiro tricolor (Dilson, reserva e que logo saiu) e ainda mantinha Deraldo, Ivo e Cardoso, ficou só em 6º no campeonato, mas teve sucesso na apelação judicial contra aquela decisão de 1961. Cardoso vingou: ficaria no clube até 1966, saindo para o gigante Independiente. Foi justo no arquirrival do Independiente, o Racing, para onde foi em 1967, que Cardoso se eternizou na Argentina.

Naquele mesmo 1967, o brasileiro marcou nos 2-1 na única final de Libertadores disputada e vencida pelo Racing: clique aqui. Cardoso também foi titular no elenco que fez da Academia o primeiro time argentino campeão mundial: clique aqui. Ainda voltou ao Newell’s em 1969, onde deixou 36 gols em 113 jogos, o mais lembrado em um clássico contra o Rosario Central em 1965, vencido pelos rojinegros pela primeira vez na casa rival em 9 anos (a vitória seguinte nela no dérbi demoraria outros 15). Em 1968, com Belangero de técnico, outro ex-defensor gremista estivera sem sucesso: Adair, com só 2 jogos.

Nos anos 60, o clube ainda teve o meia-esquerda Zucca, ex-América Mineiro e que ficou de 1961 a 1969 no NOB, e o ponta-esquerda Heraldo Bezerra, ex-Cruzeiro e que faria sucesso no Atlético de Madrid. Dos outros brasileiros, não conseguimos identificar se chegaram a jogar no Grêmio os zagueiros Dippe e Marcelo de Rocha Moreau e os ponta-direitas Adroaldo Martins (estes três também estiveram no time  que voltou à primeira divisão em 1963) e Antero de Castro, titular em 1968. O mesmo em relação ao primeiro brasileiro no clube: Hortêncio de Souza (em 1938), que era porto-alegrense.

Alfredo Obberti

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Obberti e Maidana: ídolos no Newell’s. No Grêmio, nem tanto

El Mono Obberti deu-se bem em todos os clubes em que jogou na Argentina: no Colón, ajudou-o a subir à elite em 1965, fazendo do Sabalero o primeiro time de Santa Fe na primeira divisão. No nanico Los Andes, rival original do Banfield, foi artilheiro do Nacional 1968. No Huracán, teve três ciclos. No Newell’s, em 1971, voltou a ser artilheiro do Nacional e chegou à seleção. Com esse cartaz, veio em 1972 ao Grêmio; buscava-se um substituto para Néstor Scotta, que teve de ser devolvido ao River.

Obberti não foi ruim, mas o Grêmio não conseguiu furar a sequência de Estaduais do Inter. Em 1974, o argentino estava de volta ao Newell’s e se deu muito bem, participando do primeiro título argentino da Lepra, garantido justo em clássico contra o Rosario Central na casa adversária.

Jardel

Jardel é um dos maiores ídolos do Grêmio e um dos maiores (e menos reconhecidos nacionalmente) goleadores que o Brasil já teve: em 2005, por exemplo, só tinha menos gols dentre os ainda em atividade que os depois “milenares” Romário e Túlio. Após estar no único tri estadual do Vasco, entre 1992-94, chegou ao Tricolor em 1995. O cearense logo foi campeão e artilheiro da segunda e última Libertadores vencida pelo clube, não deixando de marcar nas finais contra o Atlético Nacional de Aristizábal, Higuita, Serna e Ángel. Também fez nos 4-1 sobre o Independiente na Recopa de 1996.

Naquele mesmo 1996, foi a Portugal, onde foi ainda mais ídolo: é o maior goleador estrangeiro na terrinha. Na segunda metade dos anos 90, foi ultravencedor no Porto. O “primo pobre” Boavista só teve seu único nacional exatamente na primeira temporada longe do carrasco, que também protagonizou o último Portuguesão ganho pelo Sporting, em 2002, quando foi o maior artilheiro da Europa e recebeu por isso a Chuteira de Ouro (sua segunda). Mas Scolari, seu ex-técnico no Grêmio, preferiu Luizão e Edílson na Copa em vez do “Super Mário”, que sentiu o baque: não foi mais o mesmo.

Já decadente, chegou ao Newell’s em 2004 como um dos reforços badalados, ao lado de Ortega. Começou titular, mas não convenceu. O técnico Américo Gallego o sacou após os três primeiros jogos. E o time engrenou, a ponto de voltar a ser campeão pela primeira vez desde a saudosa Era Bielsa (1990-92) e ali ultrapassou o número de taças argentinas do arquirrival Rosario Central.

Julián Maidana, Diego Gavilán e Rolando Schiavi

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Gavilán jogou pouco no Newell’s e não foi tão marcante no Grêmio; Schiavi só correspondeu na Lepra

Naquele título de 2004, o xerife da zaga do Ñuls era Maidana, também o autor do gol do dramático título do Talleres na Copa Conmebol 1999 (última edição dela, em insólita final contra os alagoanos do CSA: clique aqui). Em 2006, tentou ser o mesmo em um Grêmio altamente Mercosul, onde havia também o argentino Herrera, o chileno Escalona e o uruguaio Lipatin no elenco de Mano Menezes. O time recém-saído da segundona foi terceiro no Brasileirão e voltou à Libertadores, mas o zagueiro não vingou.

Para a Libertadores, o Grêmio trouxe outros do futebol argentino: o volante paraguaio Gavilán, um dos poucos estrangeiros vira-casacas no Grenal, vinha da reserva no Newell’s. Já o zagueiro Schiavi era um símbolo de raça tão apreciada pelos tricolores, ídolo no Boca. Outro foi o goleiro Saja. O time eliminou São Paulo e Santos do caminho, só parando em espetaculares performances de Riquelme na final contra o Boca. Mas Gavilán foi menos reconhecido no meio-campo que Sandro Goiano e Tcheco.

Já Schiavi nem titular foi, pois perdeu a vaga para Teco. El Flaco no mesmo ano foi mandado ao Newell’s, onde se reergueu. Esteve no Estudiantes campeão de volta na Libertadores, em 2009. Voltou ao Newell’s para ser capitão do time quase campeão argentino no mesmo ano, em que se tornou o mais velho estreante na seleção. É o maior zagueiro-artilheiro da Lepra. Escalamos ele no hipotético “time dos sonhos” dela: clique aqui. Aos 39 anos, ainda seria um raríssimo recontratado por Bianchi no Boca.

Clique aqui para lembrar dos outros argentinos que já passaram pelo Grêmio, em Especial feito ainda antes da chegada de Alán Ruiz.

*Com agradecimentos especiais ao especialista argentino Esteban Bekerman e para Claudia Cardoso e seu pai, o ex-jogador João Cardoso

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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