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Messi: de príncipe a sapo no Barça

Messi já sinalizava desgaste com certas críticas. Agora, começaram as ofensas
Messi já sinalizava desgaste com certas críticas. Agora, começaram as ofensas

A fase do Barcelona segue terrível. Prestes a perder o título espanhol, eliminado da Champions e derrotado pelo Real, na final da Copa do Rey. Foi sobrando para um e para outro. O técnico sempre esteve entre eles. Depois, a vítima preferencial foi Neymar. E nada daquela história de que é principalmente por causa da negociação obscura. Torcedores inteligentes separam as coisas; os estúpidos não. Agora, o alvo não poderia ser outro, Linonel Messi. E as críticas são pesadas. E abrem espaço para o argentino refletir sobre a saída do clube. Pretendentes não faltam.

Poucos entendem que o modelo Barcelona vive uma crise faz tempo. O jornalista Paulo Calçade é um deles. Sempre que pode, o conceituado membro da equipe ESPN Brasil toca na tecla. E de fato tem razão. Os clubes europeus vinham estudando o Barça ao menos desde os últimos dois anos de Gaurdiola no clube. Pouco a pouco foram entendendo o que fazer. Porém, a genialidade de alguns atletas mascaravam o fato. Hoje, um deles, Xavi Hernández, já não vive o melhor de sua forma física; não consegue marcar, não consegue fazer o jogo girar como antes, não consegue acionar jogadores que muitas vezes são mais rápidos que seu raciocínio brilhante, porém de atleta em final de carreira.

Outro deles é Carles Puyol. Defensor-símbolo da equipe; chefão, capitão e catalão de alma e de sangue. Ao se contundir, viu a defesa ser armada pelo improvisado Mascherano e outros. Contusões se somaram a isso. Busquets vez ou outra está na enfermaria e Víctor Valdéz já está praticamente fora da temporada e até da Copa do Mundo, pela Espanha. Já estava quase impossível disfarçar o desgaste no modelo de jogo do Barça. Então, dois fatos surgiram para escancarar de vez o problema: a contratação do excelente Neymar e as sucessivas contusões de seu craque maior, Lionel Messi.

Não é por que Neymar é um gênio que ele servia para o Barcelona do “toco y me voy”. O jogo vertical do ex-craque do Peixe se adaptava bem mais ao estilo do Real Madrid do que ao do Barcelona. Claro que Neymar poderia ser o grande ponto de mudança e permear as necessárias modificações na concepção e forma de jogar da equipe. Porém, não foi por isso que ele foi contratado, mas pela artimanha de Rosel de tentar redirecionar o foco à sua administração obscura para o maior jogador brasileiro da atualidade.

Desnecessário dizer quem é o maior atleta culé do presente. Necessário, porém, é associá-lo ao momento do clube. Só que Messi não é de ferro; é de carne e osso. Por isso, após tanta dedicação em campo para o clube que o revelou para o futebol mundial, o corpo de Messi disse “basta!”. As contusões surgiram uma a uma e ele foi conhecer a enfermaria do clube catalão. Ficou íntimo dela.

Isto aconteceu justamente no momento que a equipe sofre pela necessidade de mudança no modelo. Pela lógica, Tata Martino foi contratado para seguir com o trabalho de antes. Não o contrataram para mudar nada, mas para manter o que existia. Por sorte, um dos nomes ideias para fazer a transição talvez seja mesmo o de Martino. Profissional sensível, inteligente e conhecedor como poucos do “toco y me voy”. Só que ninguém aceita a mudança e não perdoa tanto ao técnico quanto ao elenco culé pelos resultados atuais.

Não demorou para os resultados negativos chegarem. Isto é lógico; só que não é menos lógico o fato de que eles chegariam de qualquer maneira, independente de técnico e modelo do time. Porém, a arrogância da comunidade culé não facilita nada para o novo comandante, para a proposta de mudança e para os jogadores, que sofrem em campo para modificar o panorama atual do Barcelona. E se o elenco recebe críticas, elas recaem sobretudo em Messi.

Acusado de não correr pela equipe; de “vestir a camiseta da Argentina”, por baixo da camiseta azugraná; acusado de disso e daquilo. Só que agora começaram os chingos. Após derrota para o Real, na decisão da Copa do Rey, palavras como “marica”, “ladrão” etc viraram as ofensas principais a “la Pulga”. Insatisfeitos com as abordagens no aeroporto, os mesmos torcedores esperam pelos atletas ao fim dos treinos. Um grupo deles tentou parar o carro de Messi para perguntar algumas coisas. O argentino sinalizou que saíssem da frente, pois não daria atenção para eles. Messi precisou acelerar o veículo e obrigar os malucos a saírem da frente com urgência.

Mesi não vive o melhor de sua forma física e técnica. Só que todos deveria saber disso. Após a última contusão, ele, comissões médicas do Barça e da Argentina concordaram com uma preparação que o faria estar no melhor de sua forma apenas no meio do ano. Esgotado com a ideia de não ser para a Argentina o que sempre foi para o Barça, Messi decidiu que chegaria bem ao Mundial. Se isto está certo ou errado, o fato é que a direção do Barcelona aceitou o fato. Neste momento, algum cartola consciente do clube deveria vir a público e dizer isso. Mas lá, com cá, dirigentes honestos, sérios e competentes estão em falta.

Se um dos traços construtores da simpatia de todos por “La Pulga” é seu comportamento sóbrio fora dos gramados, este mesmo comportamento também vai permear suas respostas sobre as críticas que atualmente recebe. Ele não aceita que “marginais” o interpele nas ruas, na saída dos treinos e dos jogos. Não vai dar atenção a esses torcedores; não falará sobre eles e não irá transformá-los em seres públicos e famosos. Enquanto isso, pouco a pouco ele deve abrir mão de algo que jamais deu sinais de fazer: refletir sobre sua possível saída do clube catalão.

Interessados não faltam. Bayern de Munique é um deles. PSG, United também estão na lista. Manchester City já ofereceu 200 milhões de euros. Contudo, quem decide mesmo se quer ou não ficar no clube catalão é o próprio atleta. Se seguirem com críticas honestas, ele não pensará em sair. Se as ofensas aumentarem, e principalmente se a direção do clube se mantiver neutra, ele não pensará duas vezes em partir.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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