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Apedrejamento de Maxi Biancucchi mascara problemas do Bahia

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Bode expiatório é aquela história: é a materialização da covardia burra e estúpida que joga um pobre diabo no inferno, enquanto protege, em geral, os donos do poder. A situação pode não ser tudo isso, mas é um pouco disto que ocorre no Bahia. O time está à beira do precipício, mas o maior culpado de tudo parece ser o primo de Messi, Maxi Biancucchi. Ao menos é assim que pensa parte da torcida, que protagonizou cenas de terror para cima do moço. Foram pedras sobre seu carro, intimidação e tentativa de agressão física. Enquanto isso, os péssimos gestores do maior clube do Nordeste seguem a fazer besteiras, como a demissão de Maquinhos Santos e a recente contratação do questionável Rodrigo Pastana, odiado por grande parte dos torcedores do Figueirense.

Na data de ontem, segunda-feira, Maxi Biancucchi foi agredido por alguns torcedores do Bahia, após deixar o treino da equipe, no Fazendão. Seu carro foi apedrejado com ferocidade. Além disso, socos e pontapés, desferidos sobre a lataria de seu veículo, na prática buscavam seu rosto, o que sinaliza que a data de ontem pode ter sido o seu dia de sorte do primo de Messi, não o seu dia de azar. A coisa foi feia. Contudo, ela foi desproporcional, pois joga no lixo a necessidade de ponderações sobre o atual momento do Bahia.

Fato é que Biancucchi é o alvo principal, pois era a grande esperança da torcida para animar e dar brilho ao Bahia no Brasileirão. E o primo de Messi de fato não é sombra do que foi no rival, Vitória, em 2013. Contratado a peso de ouro, o atacante deixou de receber 80 mil reais na temporada passada para perceber 180 mil na atual temporada pelo Bahia. Normal, portanto que a torcida do Tricolor contasse com o moço. Só que além de não vê-lo brilhar, ainda tem de conviver com as provocações e tiração de sarro dos torcedores rivais, ainda magoados pelo fato de Biancucchi trocar de camisa. E precisamos considerar uma coisa: há de fato legitimidade na decepção da torcida tricolor com o seu desempenho na cancha.

Até agora, Biancucchi marcou dois gols em 24 jogos. Isto quer dizer que pelo seu salário, cada um de seus gols custou nada menos do que 540 mil reais nestes seis messes em que veste a camisa tricolor. Para se ter uma ideia, no rival, ele anotara 17 tentos em 42 partidas e recebeu algo em torno de 54 mil reais por gol, nos 12 meses em que ficou no Vitória. Mas reflexo de que sua performance não é das melhores, foi o fato de que o atacante foi substituído em 15 dos 24 jogos como titular. Tudo isso depõe contra Biancucchi, mas é necessário dizer que sua chegada ao Esquadrão de Aço já mascarava o principal problema do clube: sua dificuldade de superar a profunda crise institucional que arrasta para o precipício até mesmo as mais genuínas das boas intenções.

Incompetente buscar um argentino tão caro para o clube, principalmente pelo fato de que ele era o ídolo do grande rival. Bom dizer que mesmo após encerrar as negociação com o Vitória, em 2013, Biancucchi revelava nas redes sociais o seu profundo lamento em não ter continuado no Leão. Tinha tudo para dar errado. E deu. Ao menos até agora. E aqueles que atiraram pedras sobre o carro do atacante deveriam fazer a seguinte pergunta aos dirigentes: “Senhores, por esses valores, por que não contrataram um outro atacante argentino?” A pergunta seria relevante, pois a miopia da cartolagem tornava nítidas apenas as opções mais próximas. Se não distinguia melhores opções nem mesmo no mercado local era natural que não as visse também no mercado argentino. Mas não nos iludamos: isto é reflexo da mais honesta e profunda incompetência.

Tudo bem que alguns irão alegar que o grande problema das escolhas infelizes vem da “histórica” gestão Guimarães e mesmo de sua versão remodelada e ao mesmo tempo cruel e no mesmo grau: “Marcelinho”. Daí a aposta em Jorginho e, pior ainda, no sempre lamentável Joel Santana. Porém, saltam aos olhos os inúmeros equívocos da “moderna” gestão do Tricolor e que envergonhariam até os antigos gestores (se eles tivessem vergonha na cara, claro!) pelo fato de serem, esses equívocos, em tamanha quantidade e em tão pouco tempo. Da posse de Fernando Schmidt até os dias atuais, Cristóvão Borges foi demitido de forma estúpida. Para o seu lugar apostaram em um técnico de um único bom trabalho, Marquinhos Santos. Mas isso não foi tudo.

Ocimar Bolicenho era o testa de ferro para os erros do inexperiente Márcio Della Volpe, na presidência da Ponte Preta. Sob sua gestão, a Macaca foi para a segunda divisão, ao mesmo tempo em que Bolicenho foi eleito à presidência da Abex – Associação brasileira dos executivos de futebol. Ou seja, enquanto a “Nega Véia” ia para o inferno, Bolicenho caminhava para o céu. Odiado pela torcida da Macaca, o executivo foi visto pela “moderna” direção do Bahia como a solução para os problemas do Tricolor. Não bastasse isso e ainda trouxeram Cícero de Souza para um mal definido cargo, que depois se configurou como o de gerente de futebol. Souza foi demitido do Criciúma após forte pressão da torcida, que o considerava incompetente para o cargo. Mas não termina por aí.

Rodrigo Pastana acaba de ser anunciado para a vaga de Cícero de Souza. Lá no Figueirense, Pastana consegue ser mais odiado do que foi Bolicenho na Ponte e Cícero, no Criciúma. Para se ter uma ideia do problema, à demissão esdrúxula do técnico Vinícius Eutrópio, responsável pelo acesso do Figueira, Pastana disse que “era a decisão mais fácil a ser feita”. E se não bastasse tudo o que apontamos, tem mais: Souza assumira o Criciúma em substituição a Pastana, que deixara o Tigre para ir ao rival, Figueirense. Agora, Pastana assume o Bahia, em substituição a Cícero, que deixa o Esquadrão de Aço. Então fica a pergunta: “não dá para os cartolas se livrarem dessa gente?”.

E pior: com todo respeito a Ponte, Figueirense e Criciúma, o Bahia é diferente. Por questões que permeiam essas diferenças, os dirigentes tricolores deveriam saber que se essa “gentinha” não serve para os clubes citados acima, jamais serviria para o Esporte Clube Bahia. Mas se esses cartolas são míopes- para sermos eufemistas -, não são os únicos.

Os torcedores que atacaram o carro de Biancucchi também são. Não que o argentino não mereça cobranças e até críticas, mas ele não pode ser o bode expiatório à profunda incompetência dos dirigentes do clube. Tudo o que descrevemos acima trata-se de uma ponderação em torno das agressões ao primo de Messi. Certo é que muitos torcedores baianos condenam o fato e entendem do que falamos, porém se faz necessário que várias ponderações ocorram de maneira a que os principais responsáveis pela crise do maior clube do Nordeste sejam identificados e cobrados à altura dos atos infantis, apaixonados e subjetivos que eles têm tomado desde que se propuseram a ser a “moderna” gestão do Esquadrão de Aço do Nordeste.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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