Primeira Divisão

Jogo feio, expulsões, confusão marcam vitória do Lanús no “Clásico del Sur”

ala

Dois anos depois, o “Clásico del Sur” voltou a premiar as hinchadas de Lanús e Banfield, embora a comunidade taladra não pudesse se apresentar à cancha granate. Do começo ao fim, prevaleceu o “jogo feio”, marcado por imprecisões de ambas as partes, pouca profundidade e entradas ríspidas num grau inaceitável para um espetáculo de futebol. Mas se o Banfield pareceu disposto fazer um jogo no campo de ataque do rival, o Granate soube ter o bom senso de esperar e sair numa boa. Além disso, contava com o mais lúcido atacante dentro de campo, Silvio Romero. E foi o “Chino” que fez o gol da vitória. Um triunfo que credita o conjunto de Schelotto a brigar pelo caneco do Argentinão.

Jogo foi daqueles: feio que chegou a doer. Mas tudo isso fica na conta dos nervos, todos eles a flor da pele em ambos os elencos. Fácil pensar que isso não é nada, mas basta conhecer um pouco do que é o “Clásico del Sur” para se ter uma ideia aproximada do que cada jogador sentia dentro de campo. E prova do que o jogo é gigante foi a presença maciça da hinchada local em La Fortaleza. Exceto num setor preservado da cancha, nos demais lugares a ocupação foi total. Problema nesse caso é que afirmar a condição técnica muitas vezes se reduz somente a brilharecos de um caso e de outro. E foi o que aconteceu na primeira etapa.

Almeyda colocou o Taladro no ataque e dava a entender que pretendia construir o resultado positivo ainda na primeira etapa. Adiantava suas linhas e pressionava o meio-campo do Lanús, que, obrigado a se defender, não conseguia construir muita coisa. Destaque para o duelo de Cazares e Somoza, vencido pelo ex-volante xeneize, apesar do melhor rendimento do visitante pelo setor. Normal portanto que as melhores chances de gol tenham sido do visitante. Aos 11 minutos, Rick Noir habilitou Salcedo, que obrigou Marchesín a uma estupenda intervenção. Minutos depois, aos 32, Salcedo deixou Bertolo na cara do gol, mas o arremate saiu impreciso e à esquerda dos quatro paus.

Já o Granate teve apenas uma boa chance. Isto porque a equipe insistia demasiadamente pelo setor direito com Araújo e Lautaro Acosta. Por certo que deram enorme trabalho a Noguera, mas pouco adiantou. Tanto é assim que aos 41 minutos, foi da esquerda para o centro que por pouco não saiu o gol do Lanús. Ayala tocou forte à pequena área e González chegou atrasado. O arco estava aberto e pedindo pela gorduchinha.

Segunda etapa começou tão quente quanto à primeira. Quente nos nervos; quento na disposição do Granate em mudar o rumo prosa. Logo aos dois minutos, Araújo faz excelente jogada e cede a pelota a Braghieri. O defensor arremata forte e rasteiro, mas Lucha Acosta trata de interceptar a pelota e conduzi-la até se colocar em condição de marcar. Em vez disso, toca para o Chino Romero guardar: 1×0. Após o gol, o Banfield teve dois ou três minutos de forte pressão e uma ótima chance com Noir. O jogo ganhou qualidade, embora a pancadaria seguisse a dar o tom no gramado de La Fortaleza.

Só que foi o Lanús que por muito pouco não marcou novamente. A mudança no panorama se deu porque Schelotto liberou o meio-campo da obrigação primária de somente marcar. Natural, a partir daí, que a qualidade do meio-campo local entrasse no jogo. Ele era formado por González, Ortiz, Ayala e Lucha Acosta, que voltava para compor uma linha com cinco homens no setor, juntamente com Somoza, que abandonava a proteção da defesa para compor um “doble 5” com González. E foi numa articulação de Ortiz, Ayala e Lucha que a pelota sobrou nos pés de Romero. Com o porteiro já rendido no lance, o Chino carimbou o travessão e perdeu um dos gols mais “feitos” do campeonato.

Contudo, poucos minutos depois do gol, o Lanús curiosamente passou a adotar uma postura muito parecida a do primeiro tempo. Claro que amadureceu essa postura e dava a entender que poderia voltar se fazer valente na criação de jogadas. Mesmo assim, o que pareceu foi que havia certo temor ao rival e que se resguardar do meio para trás era o melhor a fazer. Um Lanús burocrático se fez rival de um Taladro cada vez mais corajoso. Porém, a disposição do visitante tampouco resultou no refinamento de suas conclusões. Havia um problema ou no passe final ou na conclusão ao arco de Marchesín.

Até os 30 minutos, o Banfield teve três chances claras de marcar. Isto aumentou tanto a preocupação quanto o nervosismo no elenco local e no comando de seu banco. Schelotto foi expulso aos 37 minutos até por reclamar do que considerava um excesso de faltas do rival. Dois minutos depois, González por muito pouco também não vai para o chuveiro antes do fim da partida. Desta forma, o Taladro se agigantava e reduzia pouco a pouco a valentia tática do Granate. Nos minutos finais, inclusive, imprimia uma pressão que se materializava no volume de jogo ofensivo e nos inúmeros arremates a gol.

Para se ter uma ideia, em todo o jogo, o Lanús arrematou somente sete vezes ao arco, simplesmente a metade do que fez o time de Almeyda. Outros números também favoreciam ao Banfield, que teve quase 54% de posse de bola. Talvez frustrado pelo placar parcial injusto, Nahuel Yeri foi expulso aos 44 e Tagliafico aos 49. E curioso também foi a entrada de “Tanque” Silva no final da partida. Temendo pela pressão do Banfield, Schelotto levou a campo o seu melhor defensor disparado nas bolas paradas. E deu resultado. Em dois ou três minutos, o “Tanque” cortou quatro cruzamentos à área de Marchesín. Contudo, apesar de uma pressão infernal, o resultado de 1×0 se manteve até o fim.

Do lado do Banfield vale destacar que a boa equipe de Almeyda teve quatro expulsões nos últimos três jogos. Uma postura que não condiz com a sobriedade de seu comandante técnico. Do lado do Lanús, o que importa é que a vitória duríssima foi do tipo que credita uma equipe à luta pelo caneco do campeonato que disputa. Uma equipe organizada e inteligente e que agora conta com a eficiência e objetividade de Chino Romero no ataque. O clássico ficou para o Granate e se foi justo ou não importa menos do que o resultado final e do que os sopapos de alguns jogadores rivais após o apito final de Patricio Loustau.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

13 + 19 =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.