Primeira Divisão

B Nacional: Show de Riquelme, o sofrimento do Chicago e a luta do Aldosivi

Lucas Cano voa para cabecear a pelota e guardá-la no arco do verdinegro. Gol salvador
Lucas Cano voa para cabecear a pelota e guardá-la no arco do verdinegro. Gol salvador

As últimas rodadas da B Nacional revelam dramas, surpresas e os acessos já garantidos de Unión Santa Fe e Temperley. Restam duas rodadas para o fim e várias equipes ainda lutam pelas oito equipes restantes. Uma das vagas mais garantidas estava com o Nueva Chicago. República de Mataderos estava lotada e esperando por uma vitória que colocaria o Torito com um pé na primeira divisão. Equipe vencia até os 44 minutos do segundo tempo, quando Nico Mazzola empatou para o Instituto e frustrou a imensa torcida do Touro. Épica foi a vitória do Aldosivi de Mar del Plata, algo absurdo. E enquanto o Boca sofre com falta de criatividade no meio-campo, Riquelme deu show e manteve o Argentinos na briga pelo acesso. Vejamos.

Zona A

Líder, Gimnasia Jujuy descansou na rodada e já vai se preparando para receber o Chicago e, provavelmente, assegurar uma vaguinha na elite. Então, a correria atrás da bola apresentou resultados previstos e outros surpreendentes. Em Santa Fe, o Colón foi anfitrião para o Ferro Carril Oeste. Era jogo para vencer ou vencer. Nada além disso. “Cementerio de los Elefantes” lotado e com gente saindo pelo ladrão. Jogo foi tenso e dificílimo para o Sabalero. Porém, aos seis minutos da etapa final, Mariano Bittolo foi o nome do gol salvador. E foi só. Com a vitória o Colón segue vivo na briga, ostentando o terceiro lugar e com mais dois jogos para fazer. Tá certo que na próxima rodada será visitante para o Douglas Haig, mas na rodada final, vai preparar o Cementerio para o Boca Unidos de Corrientes.

Em Mar del Plata, o Aldosivi praticou uma virada épica para cima do Boca Unidos. Jogo foi daqueles que a torcida faz a sua parte nas arquibancadas e não entende por que sua equipe não faz o mesmo dentro de campo. Não que o Tiburón tenha jogado mal; problema estava na incapacidade de guardar ao menos uma pelota no arco. Ela passava perto, passava longe, acertava os quatro paus e, algumas vezes, ia parar na torcida. E o problema era que o Boca Unidos também lutava pelo triunfo, já que segue na luta pelo acesso. Aproveitando-se do nervosismo da equipe local, o conjunto de “La Ribera Correntina” foi para o ataque e obrigou famílias inteiras na cancha a fechar os olhos a cada arremate de seus atacantes. Porém, aos 37 minutos, Pep Sand guardou: 1×0.

Segundo tempo foi de loucura. Nada parecia dar certo para o Tiburón e tudo indicava que a tarde seria mesmo de pesadelo até o fim. Problema seguia o mesmo da primeira etapa: a redondinha passava perto, mas não se encontrava com as redes. De tal modo foi que hinchada local lamentava, chorava e até xingava seus jogadores. Foi então que aos 34 minutos Ágel Vildozo voou dentro da área e, de cabeça, colocou a pelota no arco: 1×1. A pressão sobre a defensiva visitante se intensificou até que aos 49 do segundo tempo uma falta foi anotada para o Tiburón. Era a última bola do jogo. Carranza cobrou a falta com perfeição e virou a partida para o Aldosivi. O Tiburón segue na luta.

Uma final antecipada foi disputada em La Paternal. O Argentinos recebia um dos favoritos para o acesso, o San Martín Sj. Derrota do Verdinegro não o retiraria da disputa. Contudo, um simples empate do Bicho já seria suficiente para a equipe dar adeus ao acesso. Sabendo disso, Riquelme tratou de jogar. E jogou muito. Foi o homem do meio-campo que Arruabarrena lamenta não ter hoje no Boca. O craque organizou o jogo ofensivo da equipe, orientou e distribuiu aquelas pelotas matreiras para os atacantes do Bicho. Um show. Contudo, o gol saiu de um levantamento de Torrén para a área e com a contribuição infeliz do guardametas verdinegro. A redonda sobrou para Lucas Cano que não teve dificuldades para guardar. Só que o placar foi apenas um alívio. Para que ele fosse realmente bom uma combinação de resultados precisava acontecer. E aconteceu.

Em Posada, o já eliminado Guaraní Antonio Franco fez 3×1 no Douglas Haig e acabou com os sonhos de acesso dos Fogoneros de Pergamino. Porém, o melhor resultado para o Argentinos teve na alegria de sua torcida o mesmo grau de tristeza de uma outra hinchada fiel e sofredora. O drama aconteceu na República de Mataderos.

Na cola do Lobo de Jujuy, o Chicago estava com um pé na elite argentina. Para seguir nesta situação, bastava vencer o Instituto de Córdoba, em Mataderos. Cancha lotada e gente de todas as idades acalentavam o Touro, crentes de que svoltariam para suas casas em estado de graça. Contudo, o jogo em si não foi nada do que a torcida do Chicago esperava. Já eliminado da competição, La Glória não tinha nada a perder. Foi para o ataque e por muito pouco não abriu o placar no primeiro tempo. Nem o Torito nem sua hinchada tinha a mínima ideia do que acontecia. Após forte pressão, o conjunto visitante mudou sua proposta. Recuou para seu campo de defesa e se propôs ao contra-ataque. Deu campo para o Touro, pois sabia que o nervosismo dos jogadores locais não os deixariam construir a vitória. E se o primeiro tempo foi doloroso para a torcida local, o segundo seria ainda pior.

Jogo duríssimo para o Touro. Rival lutou por todas as bolas
Jogo duríssimo para o Touro. Rival lutou por todas as bolas

Na etapa complementar, tampouco o Nueva Chicago conseguiu mudar o panorama. Com o passar do tempo o desespero tomou conta de vez. Era ataque contra defesa, embora era La Glória quem estava mais próxima de abrir o marcador. Foi então que aos 32 do segundo tempo o técnico Omar Labruna resolveu sacar Christián “Gomito” Gómez e levou a campo Diego Mendoza. Um minuto depois, a pelota foi lançada à área do porteiro Brian Oliveira. Antes que ele interceptasse o cruzamento, Mendoza apareceu de cabeça para levar a felicidade à República de Mataderos.

A vitória que se desenhava era a alegria e felicidade tudo pelas quais o Chicago vinha lutando há várias rodadas. Na memória da torcida, ainda estavam acesas o sofrimento dos dois últimos jogos. Em casa, a equipe sofrera para igualar com o Douglas Haig; já em Corrientes, a equipe do Oeste havia praticado a tática dos 11 homens no campo de defesa para arrancar um valioso empate contra o conjunto de La Ribera Correntina. Contudo, ao menos desta vez, era o alívio que dava o tom.

Mas estranhamente quem sentiu o gol foi o próprio Torito. Irreconhecível em campo, a equipe recuou e deu todo o campo para La Glória. Era o sinal. Aos 44 minutos, teve uma articulação rápida do centro para o setor direito da defesa do touro. Bernardi cruzou e Mazzola colocou a cabeça na bola para guardar. A redonda voava para o arco, mas se deparou com o voo de um outro pássaro. Damián Lemos foi o porteiro da rodada na defesa salvadora. Problema é que Lemos é meio-campista, não goleiro. Pênalti para o Instituto. Mazzola converteu e calou Mataderos. No banco, o mito “Gomito” Gómez, prestes a se aposentar, olhava incrédulo. Nas tribunas, o choro tomava conta de todos: o Chicago quase que selava o seu destino de mais uma temporada na B Nacional.

Apos a finalização da rodada, o Chicago ficar na dependência de um milagre. A equipe tem apenas mais um jogo a fazer. E ele será em San Salvador de Jujuy, contra o líder, Gimnasia y Esgrima. Argentinos e Boca Unidos têm amplas chances de levar a vaga que rodadas atrás todas davam como certa para o Touro bravo e sem sorte de Mataderos. Veja a tabela abaixo:

Tabela da Zona A

1º Gimnasia y Esgrima de Jujuy: 29 pontos – 18 jogos
2º Nueva Chicago: 29 pontos – 19 jogos
3º Colón de Santa Fe: 28 pontos – 18 jogos
4º San Martín (SJ): 28 pontos – 19 jogos
5º Aldosivi de Mar del Plata: 27 pontos – 18 jogos
6º Argentinos Juniors: 27 pontos – 18 jogos
7º Boca Unidos: 24 pontos – 18 jogos
8º Douglas Haig: 21 pontos – 18 jogos
9º Instituto de Córdoba: 19 pontos – 18 jogos
10º Guaraní A. Franco: 18 pontos – 18 – 18 jogos
11º Ferro Carril Oeste: 16 pontos – 18 jogos

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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