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Argentina Sub-17 fica sem o Sul-Americano, mas vai para o Mundial do Chile

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A seleção da Argentina, Sub-17, ficou com o vice-campeonato do Torneio realizado no Paraguai, atrás apenas do selecionado brasileiro. Apesar disso, a equipe comandada por Miguel Ángel Lemme se classificou mais uma vez para o mundial da categoria, que será realizado em outubro deste ano, no Chile. Provável que o desempenho albiceleste no próximo mundial seja influenciado pelo aprendizado ou pela ignorância acerca do percurso da Sub-17 em terras guaranís. Vejamos então como foi este percurso e o que ficou para as necessárias reflexões.

Primeira Fase

De início, a Argentina foi para o Grupo B, ao lado de Equador, Uruguai, Bolívia e Chile. O início das disputas diriam muito do que seria a performance albiceleste no Sul-Americano. Começou perdendo por 2×1 para o Equador, em partida na qual a equipe de Lemme foi dominada pelos nervos e pelo melhor futebol do rival. Talvez até pelos efeitos negativos do resultado, a Argentina também levou a derrota na partida seguinte, 2×1 para o seu maior rival histórico, o Uruguai. Se no primeiro jogo o fator estreia entrou em campo, no segundo, foi a rivalidade e as provocações e o melhor futebol dos uruguaios que não foram bem digeridos pelo elenco albiceleste. Só que esses dois primeiros rivais estariam no caminho da Argentina, na fase final; o que daria ao conjunto de Lemme a chance de devolver as derrotas.

Nos dois jogos seguintes, a Argentina entrou em campo precisando vencer. Goleou a Bolívia por 4×1, embora tenha mostrado pouca evolução em relação às duas partidas iniciais. Prova disso foi o triunfo duríssimo com o Chile, por 1×0, com um gol do artilheiro Tomas Conechny, do San Lorenzo. Se o futebol deixou a desejar, nesta fase, importou mais a classificação para o hexagonal, junto com Equador, Uruguai, Brasil, Colômbia e o anfitrião, Paraguai.

Jogo decisivo contra o Brasil

No hexagonal, fase final do torneio, a Argentina pegou de cara outro de seus rivais históricos, o Brasil. O encontro seria decisivo para a evolução albiceleste em terras paraguaias. Mas dentro do jogo ela demorou a aparecer. Após um primeiro tempo de pesadelo, no qual a equipe achou um gol, na única chegada ao ataque, os 45 minutos finais revelaram uma Argentina bem postada em campo, cobrindo os espaços que cedia ao rival, no início, e com uma melhor saída de jogo. Isto ocorreu graças ao desempenho de Pablo Ruíz e de Conechny, que deixou o setor de ataque para atuar com meia-avançado pelos lados do campo.

Germán Berterame: "O Brasil se assusta, quando vê a camisa celeste e branca"
Germán Berterame: “O Brasil se assusta, quando vê a camisa celeste e branca”

Vencer o Brasil foi vital para a Argentina se encontrar com o melhor de seu futebol. Além disso, de cara passou a se candidatar ao bi-campeonato, até então, algo distante em decorrência da pouca personalidade futebolística da equipe. Efeito disso foi o belo futebol e a goleada de 4×1 contra o Paraguai. Foi um novo show de Conechny, e um partidaço de Julián Chicco, volante do Boca Juniors. Na partida seguinte, a Albiceleste foi surpreendida pela Colômbia, que precisava de reabilitação para manter alguma chance de também ela chegar ao caneco. As duas equipes não saíram do empate de 1×1.

Dois jogos decisivos. E o Uruguai pela frente

Restando duas rodadas para o fim do Sul-Americano, a Argentina liderava o hexagonal com sete pontos, um a mais que o Brasil e três à frente dos anfitriões guaranís. Seria campeão com um empate e uma vitória. Contudo, os dois rivais eram justamente aqueles que a equipe dirigida por Lemme não havia vencido, na primeira fase, Uruguai e Equador.

Argentina e Uruguai fazem um dos clássicos de maior rivalidade no planeta. Ninguém treme em campo e trata-se de um campeonato à parte. Isto, em todas as categorias do futebol profissional. Porém, na atual edição do Sul-Americano Sub-17, podemos afirmar categoricamente que a Albiceleste tremeu. Na primeira partida, praticamente não se achou em campo, chegou ao empate, sem merecer e, em seguida, levou o segundo gol charrúa. Inútil dizer que o Uruguai jogou bem, mais vale notar a exibição de gala do meia charrúa Federico Valverde, talvez o melhor jogador da atual edição do torneio e futuro titular da seleção principal do Uruguai. O maltrato de Valverde ao meio-campo e defesa argentina foi tão relevante, neste jogo, que certamente a equipe albiceleste entrou aterrorizada com ele, no segundo encontro.

Pois bem, a Argentina entrou no jogo decisivo precisando ao menos empatar com o Uruguai. Justo reconhecer que a marcação se mostrou melhor pelos lados do campo. Contudo, ela foi a mesma pelo centro. Além disso, Mancuso e Chicco, dois destaques albicelestes no torneio, novamente não acharam Valverde dentro de campo. A lição de marcação foi oferecida pelo rival, que utilizou bem suas duas linhas para bloquear o trabalho de Ruíz, os avanços-surpresa de Chicco e o bom jogo centralizado de Roskopf. Mas o principal responsável pela derrota argentina foi outro: o técnico Miguel Ángel Lemme.

Ocorre que na partida anterior, Tomas Conechny recebera um cartão amarelo que o tiraria do jogo contra os charrúas. Lemme tinha quatro atacantes como opção para a vaga de “la joyta patagónica”, além do meia Exequiel Palácios, que poderia ser improvisado no ataque, assim como “Tuta” Cejas, do Estudiantes. Eis que ele optou pela pior alternativa possível. Improvisou o zagueiro Luis Oliveira como um terceiro volante, reforçando a marcação e sinalizando para o Uruguai o pavor com a partida. Se não bastasse a bobagem, Lemme ainda adiantou Ruíz para a posição de Conechny, praticamente desarticulando a criatividade no meio-campo argentino.

Outra falha do treinador foi quanto à substituição de Mancuso, que também estava suspenso para o encontro contra o Uruguai. Como ele reforçou a marcação, com o zagueiro Oliveira fechando o cadeado, no meio, o meio-campista Palácios, do River, poderia entrar como um segundo volante, oferecendo uma saída para o jogo argentino. Em vez disso, Lemme optou pela entrada de Lucas Coyette, mas um volante de marcação e um dos atletas com o menor dinamismo entre os selecionados argentino para o Sul-Americano. O recado para o grande rival era claro. E os charrúas souberam bem interpretá-lo.

Com a derrota por 2×1 a Argentina precisou entrar em campo para vencer o Equador e torcer para o Brasil empatar ou perder para a Colômbia. O Brasil fez sua parte, ao ser derrotado pela esquadra cafetera. Então, bastava ao conjunto albiceleste fazer a sua parte, a sua obrigação. Não fez. Novamente sem o artilheiro Conechny, Lemme repetiu o erro de adiantar Ruíz para a sua posição. Certo é que a formação foi bem mais ofensiva, contudo, o desentrosamento pareceu claro. Isto ocorreu em decorrência normal não apenas Ruíz, mas de outros jogadores atuarem fora de suas melhores posições. Com o empate sem gols, a Argentina ficava com o vice-campeonato, com a classificação para o Mundial da categoria, mas com a sensação de que poderia levar muito mais para casa.

Os 23 jogadores do elenco argentino

Arqueros: Matías Blengio (Tigre), Franco Petroli (River Plate) e Federico Bonansea (Belgrano de Córdoba).

Defensores: Juan Antonio Di Lorenzo (Independiente), Matías Escudero (Racing), Julián Ferreyra (Argentinos Juniors), Luis Olivera e Héctor Martínez (River Plate), Facundo Pardo e Tiago Ruiz Díaz (Newell’s).

Meio-campistas: Juan Bautista Cejas (Estudiantes de La Plata), Julián Chicco (Boca Juniors), Lucas Coyette (Arsenal), Lucas Ferraz Vila e Ezequiel Palacios (River Plate), Gianluca Mancuso (Vélez Sarsfield) e Pablo Ruiz (San Lorenzo).

Atacantes: Pablo Algañaráz (Lanús), Germán Berterame e Tomás Conechny (San Lorenzo), Valentín Aguirre (Instituto de Córdoba) e Matías Roskopf (Boca).

Pontos fortes: agilidade e articulação no meio-campo; chegada ao ataque pela dupla de voltantes titular; jogadores decisivos no ataque e com características diferentes; ultrapassagem e transição ofensiva rápida pelos lados do campo.

Pontos fracos: defesa confusa, aparentemente mal treinada e com desentrosamento. Mal posicionamento da primeira linha e laterais com pouca efetividade na cobertura dos volantes. Além disso, a dupla de laterais revela dificuldade para retornar ao posicionamento defensivo. Conta ainda o fato de que os jogadores do ataque deixam claro a necessidade de amadurecimento profissional, principalmente nos casos de Germán Berterame e Matías Roskopf.

Destaques da equipe

A dupla de volantes, formada por Julián Chicco, do Boca, e Gianluca Mancuso, do Vélez. Ambos formam um doble 5 interessante, com entrosamento, boa marcação e com a ida para o ataque como elementos-surpresa. A evolução de ambos pode levá-los a ser típicos jogadores que dão personalidade para o setor.

Pablo Ruíz e Germán Berterame são duas grande promessas do Ciclón. O primeiro, pode atuar como meia pelo lado esquerdo do campo ou como enganche, como vem constantemente jogando na base cuerva. Jogador de dribles precisos, mas também um lançador que assiste fácil aos atacantes de sua equipe. Quanto ao Berterame, é um atacante pelo lado direito; habilidoso, inteligente e jogador de equipe. Outro jogador a ser observado é o lateral-direito Mathías Escudero, do Racing. Ainda jovem e com falhas na marcação, porém um atleta com um grande potencial. Típico caso de atleta que precisa da base para completar sua formação. Pode dar alegrias para a Academia de Avellaneda.

O grande destaque

Tomás Conechny,  o grande nome da Argentina, no Sul-Americano Sub-17
Tomás Conechny, o grande nome da Argentina, no Sul-Americano Sub-17

Talvez o grande feito da Sub-17 da Argentina tenha sido a apresentação do atacante Tomás Conechny, do San Lorenzo. “la Joyta patagónica” já é tido como uma das maiores promessas do futebol argentino. Em alguns momentos, ele lembra Correa, destaque do San Lorenzo, na última Libertadores. Mas se as semelhanças ocorrem pela velocidade e capacidade de driblar em situações de pressão, Conechny apresenta a vantagem de, vejam só, ser um excelente cabeceador, embora só tenha 1,69m, seis centímetros a menos do que Ángel Correa. Além disso, não estamos falando de um atacante antigo, fixo, mas de um jogador comprometido com a marcação e com o retorno ao meio-campo para ajudar ou resolver os problemas de articulação das jogadas.

Alguns lacunas vistas em outros atletas da equipe não são encontradas em “la Joyta”. Em parte, isto ocorre porque o jogador veio da base do CAI, de Comodoro Rivadávia, um clube organizado, sério e nem sempre lembrado pelo seu planejamento e pela postura de oposição aos desmandos da históricos da AFA. Em parte, a evolução de Conechny ocorre pelo fato de estar no San Lorenzo, clube que tem investido muito não só em desenvolver jogadores, mas também em descobri-los nos rincões da Argentina. Prova da maturidade do atacante está no fato de ser ele o capitão da equipe de Lemme. Com 17 anos completados no dia de hoje, 30/03/3015, “la Joyta patagónica” rapidamente será alçado à equipe principal do San Lorenzo.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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