Primeira Divisão

11 jogadores para os 110 anos do Colón

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Sabaleros confraternizam na véspera dos 110 anos oficiais, ontem

A rigor, o mais provável é que o rubronegro de Santa Fe não tenha sido fundado naquele 5 de maio de 1905. Garotos humildes na tenra infância iniciaram-no, tanto que o nome escolhido homenageia homem objeto de estudos deles na época, Cristóvão Colombo – cujo nome em espanhol é Cristóbal Colón. Atilio Badalini fez 6 anos de idade exatamente uma semana depois daquela data, em 12 de maio. Adolfo Celli tinha 8 anos e seu irmão Ernesto, 10. Foram três dos fundadores, os outros sendo Geadá Montenegro, Mariano Rodríguez, Helvecio Fontana, Juan Leyes, Aníbal, Antonio e Juan Ribechi, Humberto Sosa, Alfredo e Roberto Casablanca, Simón Bru e Guillermo e Ricardo Cullen Funes. A mãe destes dois últimos, Doña Manuela, apoiou o clubinho juvenil. E por ela ter nascido em um 5 de maio, mas de 1862, é que ao formalizar-no a garotada adotou simbolicamente esses dia e mês.

Sabemos os anos de nascimento de Badalini e dos irmãos Celli pois foram os mais proeminentes daquele grupelho: defenderiam o país, ainda que o destaque que os tivesse levado à seleção tenham-no tirado antes do seu Club Atlético Colón – o meia-direita Gringo Badalini estreou pela Argentina em 1916, com 17 anos e 4 meses, ainda sendo um dos cinco mais jovens estreantes na Albiceleste. Era contra o Uruguai em Montevidéu e marcou o único gol. Já jogava no Gimnasia y Esgrima de Rosario e entre 1919-22 fez um punhado de jogos vindo do Newell’s, também o clube dos Celli quando estes apareceram na seleção, entre 1919 e 1924. Ironia: a lenda diz que a coincidência de camisas fez o rubronegro de Rosario, fundado dois anos antes, travar naqueles primórdios um duelo com o Colón pelo direito de usa-las. Os santafesinos ganharam dos rosarinos, que não cumpriram o supostamente pactuado.

Precoces foram aqueles fundadores. Tão jovens eram que ao se afiliarem na nascente liga santafesina, em 1912, só puderam ser aceitos na segunda divisão. Foi então que jogaram um amistoso contra um clube da primeira, o Unión. Nasce ali o Clásico Santafesino, talvez o mais equilibrado da Argentina e que já mereceu este outro Especial. Mas não começa exatamente parelho: antes de dar desfrute de seu futebol por Rosario, Badalini marca cinco vezes naqueles 6-0. A liga não tem moralmente escolha senão acolher na elite mesmo a garotada rubronegra, que ratifica isso ao ganhar de forma invicta já em 1913 seu primeiro título local, e com outra goleada sobre o clássico rival: 5-1.

No amadorismo, mais títulos em Santa Fe vêm em 1914, 1916, 1918, 1922, 1925 e 1929. Em 1922, o Colón também bate, por 2-1, o Peñarol, já prestigiado no continente. Os protagonistas já não são aqueles humildes garotos que viviam às margens do rio Salado e que receberam o apelido de Sabaleros em alusão ao curimbatá (sábalo, em espanhol), peixe que segundo uma versão pescavam e que segundo outra, por constantes inundações, enchia o campo onde jogavam. Em 1924, o meia Tomás Loyarte, titular na Copa América, torna-se o primeiro a defender a Argentina vindo do Colón e do futebol santafesino. No ano seguinte, é a vez de outro meia, Martín Sánchez.

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“El Chocolate” Baley, “El Negro” Ibarra e Hugo Villaverde

Mas os feitos do Colón rareiam nos anos 30, com só um título santafesino. O time consegue ceder um jogador à Copa do Mundo de 1934, o zagueiro Ramón Astudillo, mas tratava-se de uma seleção sem os jogadores profissionais, eliminada no primeiro jogo na pior participação da Argentina em mundiais: explicamos melhor aqui. A expressão sangre y luto fica restrita aos arredores até 1948. O clube havia vencido quatro das cinco edições anteriores da liga e é enfim afiliado à Associação do Futebol Argentino. Apesar do nome, a AFA era restrita à Grande Buenos Aires e La Plata até 1939, quando recebeu os clubes rosarinos. Em 1940, ela aceitou o Unión (que ganhara sete taças de Santa Fe nos anos 30), mas na segundona. A mesma condição inicial foi imposta ao rubronegro. A subida à primeira divisão só viria em 1965, ainda assim sendo o primeiro clube de Santa Fe a lograr isso.

Desde há meio século, o Colón é assíduo da elite argentina, à exceção dos anos 80 e início dos 90. Vez ou outra apronta das suas, a ponto do seu estádio, o Brigadier General Estanislao López, ser mais conhecido pela sugestiva alcunha Cementerio de Elefantes. Ainda que tenha lá vencido em 1964, como time de segunda divisão, o Santos de Pelé e até a seleção argentina, resolvemos não escalar prolongados nomes na história sabalera que não tenham brilhado na elite nacional. Isto fez com que esse onze se concentrasse nas melhores décadas do clube, os anos 70 e 90, com alguns enxertos. Loyarte e Martín Sánchez seriam exceções aceitáveis ao critério; só não são profundamente cogitados porque calharam de ser da mesma posição de outro homem dos anos 20 que foi mais duradouro que eles na seleção.

Vamos ao time:

GOLEIRO: Diego Pozo, como sabalero, foi convocado à Copa de 2010, após ser pilar em 2009, 4º no Clausura, 3º no Apertura e vaga na pré-Libertadores 2010. Raúl Tenutta destacou-se na virada dos anos 40 para os 50. Leo Díaz foi o paredão por oito anos, entre 1994 a 2002, saindo para ser ainda em 2002 titular do último título argentino do gigante Independiente. Mas preferimos Héctor Baley, que brilhou em uma época bem mais competitiva do Argentinão. Compôs de 1973 a 1975 o melhor setor defensivo do Colón. Chegou à seleção e é o goleiro com menor índice de gols sofridos por partidas disputadas dentre os que defenderam a Argentina mais de dez vezes. El Chocolate foi às Copas de 1978 (já como atleta do Huracán) e 1982 e é talvez o mais célebre jogador afro-argentino.

LATERAL-DIREITO: Ernesto Aráos foi por trinta anos o recordista de jogos pelo Colón, sendo outro integrante dos bons anos 70. Mas temos de ficar com Hugo Ibarra. Os laterais argentinos tradicionalmente são defensores, não avançando como comum na escola brasileira. El Negro virou também “Zé Ibarra” exatamente pelas constantes subidas ao ataque. De boa técnica e forte na marcação, integrou com 20 anos 45 dos 48 jogos da campanha que em 1995 recolocou o Sabalero na elite argentina após quatorze anos. Brilhou no histórico vice de 1997, que pôs o clube na boa Libertadores de 1998: saiba mais. De lá saiu para vencer o torneio quatro vezes pelo Boca de Carlos Bianchi. Vice na Liga dos Campeões pelo Monaco em 2004, sofreu por concorrer com Javier Zanetti.

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“El Vikingo” Trossero, Dante Unali e Orlando Medina

ZAGUEIROS: Jorge Sanita era o capitão do elenco que subiu à elite em 1965. Eulalio Gómez defendeu o Colón por dez anos, na década de 50. Horacio Ameli foi um dos líderes da subida de 1995 e passaria bem por San Lorenzo e River. Mas ficamos com os dois da melhor defesa do clube, a de 1973-75. Mais por ela do que pelos atacantes, o time esteve a dois pontos de jogar o quadrangular final de 1974 e a oito do campeão River em 1975: Hugo Villaverde e Enzo Trossero, que sofreu por ser da mesma época de outro zagueirão canhoto, Daniel Passarella, sendo seu reserva na Copa 1982. Villaverde e Trossero passaram ambos ao timaço do Independiente na virada para a década seguinte, compondo a defesa roja campeã da Libertadores e Mundial pela última vez, em 1984. O time de Avellaneda também fez 110 anos em 2015 e igualmente os escolhemos para seu time dos sonhos: clique aqui.

LATERAL-ESQUERDO: Edgar Fernández ou Dante Unali? Tiveram tempo (entre seis e sete anos) e características parecidas, velozes que sabiam sair jogando. Ficamos com Unali pelo melhor desempenho: vice da elite em 1996, 3º em 2000 (que na verdade rendeu a pontuação sabalera mais alta nos torneios curtos, 36) e as boas campanhas internacionais – semis da Copa Conmebol 1997 e quartas na Libertadores 1998, além do acesso à primeira divisão em 1995. Tudo isso pondo a vida em risco, pois tomava medicamentos diariamente desde 1991 em razão de um problema cardíaco crônico.

VOLANTE: Ernesto Cococho Álvarez, completo no meio de campo, foi outra lenda dos anos 70, assim como Hugo Villarruel. Poderia até ser escalado como meia. O sucessor Ricardo Roldán tinha pegada até para arrematar, com bons 39 gols para a posição em 224 jogos, assim como Iván Moreno y Fabianesi, mais recentemente, fez 25 em 153. Pacífico Ramírez era chamado de “marechal” nos anos 40 e 50. Adrián Marini ficou de 1991 a 1998, década de Pedro Uliambre e Diego Castagno Suárez também. Mas a posição é do uruguaio Orlando Medina, dono de doze gols na campanha do primeiro acesso, em 1965, incluindo o do título. Após a campanha a 3 pontos do campeão Vélez em 1968, foi ganhar títulos no Boca e só voltou ao Colón para ajuda-lo na crise: o time acabara de voltar à segundona, em 1982.

MEIAS: Juan Rivarola desbanca Tomás Loyarte e Martín Sánchez assim como ídolos mais recentes como Gabriel González e o peruano Giovanny Hernández. Com o Colón ainda só na liga santafesina (e decadente nela), jogou pela seleção entre 1929 e 1935. Foi titular no título da Copa América 1929, a revanche nos uruguaios pela prata olímpica de 1928. Chegaria a jogar no America-RJ. A seu lado, o uruguaio Marcelo Saralegui. Reforço para os recém-ascendidos de 1995, liderou a permanência com 11 gols em 31 jogos atuando como volante. Decisão era com ele: metade de seus 32 gols em 118 jogos foram contra os cinco grandes do país, três de uma vez em um 5-1 no timaço campeão do River no vice em 1997 – naquele dia, o ¡U-ru-guayo! da plateia foi para ele e não ao oponente Enzo Francescoli. Outro foi o único do jogo-extra contra o Independiente para definir quem ia à Libertadores 1998.

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Juan Rivarola, Marcelo Saralegui e “La Chiva” Di Meola

ATACANTES: com dois laterais ofensivos como Ibarra e Unali, o meio está bem recheado. No ataque, dispensamos José Canteli (homem com maior média de gols pelo Colón, mas todos na segundona), Pedro Pasculli (revelado no clube, venceria a Copa de 1986), o talismã de 1995 Miguel Ángel Gambier e os endiabrados Cristian Castillo, dos anos 90, e César Carignano, dos 2000. Edgardo Di Meola era bastante técnico, jogando por vezes até como volante ou meia-armador, podendo recuar para reforçar mais o meio-campo. Mas, mesmo sem físico trombador, sabia jogar até de centroavante.

Tanto é que La Chiva Di Meola foi por décadas o jogador com mais gols pelo clube na elite (para o horror da mãe, fanática pelo Unión) e foi o primeiro camisa 9 testado por César Menotti na seleção. Para muitos, é o maior ídolo. Mais na ponta, Agustín Balbuena, revelado em 1964. Passou meia década, até 1969, sendo lembrado pelo gol da vitória no fim contra o então campeão do mundo Peñarol em 1967, outro elefante tombado no Cementerio. El Mencho brilharia no Independiente tetra da Libertadores de 1972-75, incluindo gol nas finais contra o São Paulo em 1974, ano em que foi à Copa do Mundo.

Mais centralizado, o único que rivaliza em idolatria com Di Meola: Esteban Fuertes, artilheiro máximo, homem com mais jogos e maior filho pródigo do Colón. Teve diferentes passagens entre 1997 e 2012, todas excelentes – entre 1997 e 1999, no único vice-campeonato rubronegro e como artilheiro do clube na sua única Libertadores, em 1998; foi à Europa e voltou já em 2000, alcançando a artilharia do Argentinão com 17 gols em 18 jogos na campanha de pontuação mais alta do clube. Mais Europa, uma boa fase no River para manter boa média de gols na última passagem, a partir de 2008. No ano seguinte, o grande momento sabalero o colocou na seleção aos 36 anos. Foi por uns meses o mais velho estreante na Albiceleste (o recorde depois seria de Rolando Schiavi).

TÉCNICO: Ricardo Aráuz treinou o título na segundona de 1965 e Nelson Chabay, na de 1995. O belo time de 1975 a colocar diversas revelações na seleção era de Miguel Juárez. Osvaldo Piazza era o treinador naquele ótimo 2000. Antonio Mohamed fez o bom trabalho de 2009, indo em 2010 ganhar a Sul-Americana para um frágil Independiente (e depois quase eliminar o Atlético Mineiro da Libertadores 2013 treinando o mexicano Tijuana). Mas Francisco Ferraro é imbatível. O Pancho esteve na função no auge do Colón: o vice no Clausura 1997 e a boa Libertadores de 1998.

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“El Mencho” Balbuena, “El Bichi” Fuertes e “Pancho” Ferraro

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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