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Top 15 colônias argentinas no futebol europeu

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Cambiasso, Milito, Zanetti e Samuel na super Inter de 2010

Dois argentinos serão campeões amanhã da Liga dos Campeões da UEFA: o Barcelona tem Javier Mascherano e, claro, o maior jogador da história do time. E a Juventus tem Roberto Pereyra e o protagonista Carlitos Tévez. Um bom momento para relembrarmos as colônias argentinas de maior sucesso na Europa, o que não chega a ser o caso dos finalistas, contudo: como critério, estabelecemos um mínimo de 25% de argentinos na escalação titular, podendo incluir o treinador.

Daí a ausência da Roma campeã em 2001, de Gabriel Batistuta, Walter Samuel e Abel Balbo, pois Balbo jogou só duas vezes na Serie A, sem marcar. O Deportivo La Coruña campeão pela única vez, em 2000, tinha Lionel Scaloni, José “Turu” Flores e Gabriel Schürrer, nenhum titular. Outro critério é que o sucesso deve ser no mínimo comparável ao de grandes períodos do clube, ou sem precedentes até então caso tais períodos tenham ocorrido depois, daí nota-se a ausência do Barcelona, que já juntou Roberto Bonano, Juan Pablo Sorín, Javier Saviola e Juan Román Riquelme. As ligas de Espanha e Itália são, por sinal, exatamente as que melhor renderam colônias. As ricas ligações ancestrais com os dois países facilitava a dupla cidadania, essencial, pois até a Lei Bosman se permitiam só dois ou três estrangeiros por clube. O mesmo idioma no caso espanhol também facilitava.

Mas os argentinos também brilharam em outros países latino-europeus fortes na bola, Portugal e França. Contudo, não consideramos o Benfica campeão de 2010 com Javier Saviola, Pablo Aimar e Ángel Di María em razão do sucesso não se comparar ao apogeu dos “encarnados”, nos anos 60. A decadência tão grande do Sporting poderia fazermos cogitar o elenco campeão após quase duas décadas, em 2000, mas ele tinha “só dois” hermanos: Alberto Acosta e Facundo Quiroga. Já a Ligue 1, cujo maior goleador (Delio Onnis) veio de campos portenhos, não é de reunir vários argentinos em um time. Exceção, o Nice foi campeão em 1956 com Héctor González, Rubén Bravo (ambos titulares), Alberto Muro, Juan Carlos Auzoberry e o técnico Luis Carniglia; Miguel Lauri, Oscar Tellechea e Raúl Sbarra venceram a Copa da França em 1937 no auge do Sochaux, mas só Lauri foi titular.

Ex-clube de Onnis, o Reims juntou nos anos 70 Carlos Bianchi, Santiago Santamaría, César Laraignée, Roberto Zwyca e Ignacio Peña, mas não passou da metade da tabela, longe dos brilhantes anos 50, assim como o Olympique de Marselha de Raúl Noguès, Héctor Yazalde e Norberto Alonso não vingou como o clube já fizera antes e faria depois. Vale registro ao Monaco campeão de 1978 com Onnis, Noguès e Heriberto Herrera (paraguaio da seleção argentina) e ao Nantes campeão de 1980, com Enzo Trossero, Víctor Trossero (que não eram parentes) e Ramón Müller; como Nice, Monaco e Nantes tiveram pelo menos outros seis títulos nacionais, lhes demos menor peso qualitativo e ficaram de fora.

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O assistente Ángel Cappa, Dertycia, Valdano, Pizzi, Redondo e Castillo no Tenerife; e Cúper, de dois times da lista

O atual PSG de Javier Pastore e Ezequiel Lavezzi esbarra no critério de 25%, assim como o Feyenoord campeão holandês pela última vez, com Patricio Graf e Julio Cruz em 1999 ou ainda o Tottenham Hotspur de Osvaldo Ardiles e Ricardo Villa campeão da Copa da Inglaterra em 1981. Já o futebol alemão ainda carece de uma colônia hermana com glórias verdadeiras: o último título nacional do Hamburgo, a Copa da Liga de 2003, com Rodolfo Cardoso, Bernardo Romeo e Pablo Ledesma, foi o mais perto disso (saiba mais), mas está longe do porte à altura do clube. Vamos aos escolhidos:

15) Belenenses 1954-55: a “equipa” azul de Lisboa só tem um título português, mas na época ainda concorria a terceiro grande do país. Com o meia Miguel Di Pace, falecido recentemente, e os atacantes Ricardo Pérez e José Pellejero, chegou muitíssimo perto do bi naquela temporada. Concorria com o Benfica e receberia o Sporting, que era treinado por outro ídolo argentino no Restelo, Alejandro Scopelli. Por isso, a impressão geral era que os alviverdes não fariam esforço para impedir a festa nas Salésias, mas empataram no fim e deram a taça aos benfiquistas, que justo ali iniciariam a ascensão que lhes fariam os maiores campeões lusitanos. A ironia é que este posto era do Sporting…

14) Tenerife 1991-94: teve o melhor momento de sua história naqueles anos. Conseguiu sua melhor colocação em La Liga, o quinto lugar em 1992-93. Mas chamou ainda mais atenção ao tirar por duas temporadas seguidas o título espanhol do Real Madrid, em 1992 e 1993, vencendo-o em ambas na última rodada (em 1992, virando para 3-2 derrota parcial de 2-0), permitindo que o Barcelona (que não era tão Dream Team assim) ultrapasse o arquirrival. Fernando Redondo era maestro nas Canárias e seria contratado pelo próprio Real, onde viraria El Príncipe. O técnico era outro ícone da vítima, Jorge Valdano. No ataque, Oscar Dertycia e Juan Antonio Pizzi, único jogador do clube artilheiro do Espanholzão, já em 1995 – defenderia a seleção espanhola. Ainda havia Ezequiel Castillo.

13) Celta de Vigo 2000-01: a rivalidade galega viveu seu auge na virada do milênio, com o La Coruña enfim campeão e o Celta também com ótimas campanhas, seguidamente nas copas europeias. Em 2001, o Eurocelta foi até declarado o melhor time do mundo pelo IFFHS. Ganhou a Copa Intertoto e foi pela terceira e última vez finalista da Copa do Rei – a escalação celeste tinha o goleiro Pablo Cavallero, o meia Gustavo López (ambos na Copa 2002) e a dupla de zaga Fernando Cáceres e Eduardo Berizzo, atual técnico do clube (além do peruano Juan Jayo, contratado junto ao Unión de Santa Fe).

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Demichelis, Agüero e Zabaleta com a Premier League de 2014

12) Manchester City 2012-14: estaria bem mais à frente se Carlitos Tévez não passasse no ostracismo a temporada da quebra de 44 anos do jejum inglês, em 2012, mas ao menos reapareceu com 4 gols em 7 jogos da reta final (importante em torneio decidido só nos critérios de desempate contra o arquirrival) junto do lateral Pablo Zabaleta e do herói Sergio Agüero. Também estaria mais à frente se os campeões de 2014 tivessem Martín Demichelis a temporada inteira (o zagueiro chegou na metade, vindo do Atlético de Madrid) com Agüero e Zabaleta. O trio foi treinado pelo chileno Manuel Pellegrini, que iniciou trajetória na Europa após bons trabalhos no San Lorenzo e no River.

11) Real Zaragoza 2004-06: o time campeão da Recopa Europeia em 1995 tinha três hermanos: o meia Darío Franco, o mesmo Fernando Cáceres do Celta de 2001 (titular na Copa do Mundo em 1994) e o atacante Juan Esnáider, mas só os dois últimos foram titulares absolutos. Uma década depois, ainda que sem uma taça como aquela, a modesta equipe aragonesa teve bons momentos, indo a duas finais de Copa do Rei em três anos. Em 2004, ganhou do “galático” Real Madrid, iniciando o jogo com o volante Leonardo Ponzio e o xerife Gabriel Milito e tirando do banco o talismã Luciano Galletti, que marcou o gol do título já na prorrogação. Diego Milito se juntaria ao irmão e a Ponzio no vice em 2006.

10) Porto 2008-09: a dobradinha caseira (venceu-se a Copa e a Liga) culminou um tetracampeonato seguido em Portugal. Lisandro López fazia os “golos” e poderia ter ido à Copa de 2010 se não tivesse tanta concorrência mais badalada. Ele e o volante Lucho González estiveram em todo o tetra, tendo naquela temporada a companhia de Mariano González e de Ernesto Farías, bom reserva. Não está mais à frente pela falta de um título europeu, logrado em outros momentos pelo Dragão; e pelo clube já ter conseguindo uma sequência maior, um pentacampeonato, nos tempos de Jardel.

9) Villarreal 2004-06: o auge do Submarino Amarillo, cujo sucesso foi marcado pela larga presença alviceleste e conexão com o grande Boca da virada do milênio, primeiro com Diego Cagna, Rodolfo Arruabarrena (atual técnico do Boca), Martín Palermo e Gustavo Barros Schelotto. Foi semifinalista continental em 2004, na Copa da UEFA, com Arruabarrena, Juan Román Riquelme e Fabricio Coloccini; e em 2006, na Liga dos Campeões – por um pênalti perdido por seu grande craque não a decidiu. Uma injustiça com Riquelme, líder dos titulares Arruabarrena, Juan Pablo Sorín, Gonzalo Rodríguez e dos reservas Luciano Figueroa, Mariano Barbosa e Guillermo Franco, argentino que jogava pela seleção mexicana. O técnico era o já citado chileno Manuel Pellegrini.

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Crespo, Verón, Balbo e Sensini com a Copa da UEFA do Parma em 1999

8) Real Madrid 1957-59: os merengues somaram nestas temporadas a terceira e quarta taças seguidas na Liga dos Campeões. Além de Alfredo Di Stéfano, a escalação de 1957-58 tinha o meia-direita Héctor Rial, colega de Di Stéfano também na seleção espanhola e que marcou junto com ele nos 3-2 na final de 1958 sobre o Milan (dos argentinos Ernesto Grillo e Ernesto Cucchiaroni); e, como técnico, Luis Carniglia. O goleiro Rogelio Domínguez juntou-se a eles no título de 1959. Não fica mais à frente pois o Real já vinha em alta havia alguns anos, com “apenas” Di Stéfano, Rial e o reserva Roque Olsen.

7) Real Mallorca 1997-99: um time de vices à frente do Real Madrid? Qualitativamente, o alcançado vale mais em relação ao porte do clube das Baleares. O técnico Héctor Cúper transportara com sucesso a Cúperativa do seu Lanús bifinalista da Copa Conmebol nos anos 90: Carlos Roa (titular na Copa 1998), Ariel López, Ariel Ibagaza, Gustavo Siviero, Leonardo Biagini e outro da Copa 1998, Mauricio Pineda, só perderam nos pênaltis para o Barcelona a Copa do Rei de 1998 e conseguiram a melhor colocação rubro-negra em La Liga, o 3º lugar, e um vice continental, na Recopa Europeia. Algo muito distante para quem luta contra o rebaixamento à terceirona.

6) Atlético de Madrid 1973-77: na época em que os colchoneros estiveram a um título espanhol de se igualarem ao Barcelona, ficaram a segundos de um inédito título da Liga dos Campeões. Foi com o técnico Juan Carlos Lorenzo e o zagueiro Ramón Heredia, além do atacante José Gárate, que nascera em Buenos Aires. Já sem Lorenzo, virariam campeões mundiais graças a outro argentino, o atacante Rubén Ayala, ainda reserva no vice europeu. Ao trio se somaria o lateral Rubén Díaz no título da Copa do Rei em 1976. O título espanhol de 1977, último antes de um jejum de dezoito anos, contaria também com os gols de Rubén Cano, que jogaria pela Espanha. No elenco, apelidado de Los Indios, havia ainda o brasileiro Heraldo Bezerra, importado do Newell’s pelo Atleti. Saiba mais.

4) Parma 1998-99: ele acaba de voltar à segundona. E seu porte foi esse na maior parte de sua história, com exceção aos anos 90. Hernán Crespo e Roberto Sensini já brilhavam antes, mas naquele calendário contaram com Juan Sebastián Verón no auge, além do útil reserva Abel Balbo. Na temporada mais rica dos auriazuis, levantaram a Copa da Itália e a Copa da UEFA, tendo mais glória continental que clubes historicamente mais tradicionais na Itália. Saiba mais.

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Sensini e Verón novamente, agora acompanhados do chileno Salas (ex-River) e de Simeone na Lazio em 2000

4) Lazio 1999-2000: campeão tanto do campeonato italiano como da Copa da Itália na temporada do centenário. O título italiano não vinha há 26 anos e ainda é o último do clube. Para completar, na época se igualou às conquistas da arquirrival Roma. Eis o cartaz daquela Lazio 2000. Em 1999, já havia vencido a Recopa (sobre aquele Real Mallorca) e a Supercopa (sobre o Manchester United) Europeias. Entre os titulares, os volantes Matías Almeyda (eleito melhor jogador da Serie A em 1999) e Diego Simeone e duas contratações certeiras daquele Parma, Sensini e Verón. O clube romano fez até uniforme à la Albiceleste. Saiba mais.

3) Internazionale 2009-10: os nerazzurri lograram ali um recordista penta seguido na Serie A. Walter Samuel, Esteban Cambiasso e Javier Zanetti estiveram em todo o penta. Mas não abrangemos os anos anteriores, já cheios de argentinos como Juan Sebastián Verón, Nicolás Burdisso, Julio Cruz e Hernán Crespo, pela pouca concorrência caseira oriunda pelo calciopoli em 2006. Mas 2010 não teve desculpas: dobradinha com a Copa da Itália e quebra de jejum de quase meio século na Liga dos Campeões, além do Mundial, tudo no embalo do iluminado reforço Diego Milito. A Inter, após décadas em baixa, virou o primeiro clube italiano a conseguir de uma vez as principais competições do calendário. Algo que a arquirrival Juventus, dona do scudetto e da Copa da Itália em 2015, tentará igualar amanhã.

2) Valencia 2000-04: auge em período dourado da liga espanhola, que tinha um Barcelona forte e Real Madrid, Deportivo La Coruña e o já citado Real Mallorca em fases históricas. E do próprio Mallorca veio o comandante dos Ches: Héctor Cúper voltou a um vice continental, mas na Liga dos Campeões em 2000 e 2001. O time de 2000 tinha o zagueiro Mauricio Pellegrino, o volante Kily González e o ponta Claudio López, reforçados em 2001 com Roberto Ayala e o maestro Pablo Aimar. Cúper foi à Internazionale em 2001, mas os ex-comandados conseguiram em 2002 vencer o Espanholzão após trinta anos de jejum. Ayala, Pellegrino e Aimar venceram-no outra vez dois anos depois (e a Copa da UEFA também, sobre o Olympique Marselha de Didier Drogba, após eliminarem nas semis aquele Villarreal no clássico valenciano). Foi a única vez após a Lei Bosman que alguém fora da dupla Real-Barça venceu duas vezes La Liga em espaço de três anos. E só dez anos depois, em 2014, outro de fora da dupla pesada, o Atlético de Madrid de Diego Simeone, seria campeão.

1) Juventus 1931-35: se a Lazio fez história nos últimos anos dourados do calcio, a Juve leva a melhor por brilhar em um período áureo que também se refletiu na seleção: campeã mundial pela primeira vez, em 1934, repleta de jogadores bianconeri, dentre eles os argentinos Luis Monti (único bifinalista de Copas por países diferentes) na defesa e Raimundo Orsi (com gol na final) no ataque. Estiveram presentes em todo o penta assim como o ponta Renato Cesarini, italiano crescido na Argentina e ex-jogador da Albiceleste que também integrou o plantel da Azzurra em 1934. Juan Maglio e Eugenio Castellucci também integraram aquele ciclo, que fez a Vecchia Signora, então de médio porte, tornar-se grande e o mais popular clube italiano. Foi a primeira pentacampeã seguida, marca só igualada pelo mitológico Grande Torino dos anos 40 e pela questionada Internazionale de 2006-10. Saiba mais.

Abaixo, fotos dos elencos escolhidos, com os argentinos destacados em caixa alta. Vá clicando na imagem para avançar às seguintes:


Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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