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Argentinos nos 65 anos de história do Lyon

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Lisandro López, hoje no Internacional: único que a Argentina convocou do Lyon

Última potência francesa sem bilionários por trás, o Olympique Lyonnais não deve exatamente a hermanos seus momentos áureos, concentrados no heptacampeonato na década passada. Nantes (Ángel Bargas, Oscar Müller, Enzo Trossero, Víctor Trossero, Jorge Burruchaga, Néstor Fabbri) e Monaco (Delio Onnis, Carlos Bianchi, Ramón Díaz, David Trezeguet, Marcelo Gallardo, Lucas Bernardi) seriam clubes da Ligue 1 melhor associados a sucesso argentino. O que não torna a contribuição alviceleste nula no Lyon, que deveu muito aos portenhos antes de se converter em potência no novo século. Dois deles até jogaram pela seleção da França.

O OL, a rigor, tem precedentes que datam ao século XIX, na Universidade Olímpica de Lyon, mas só foi formalizado definitivamente naquele 3 de agosto de 1950. Sob a nova instituição, os lioneses esperaram apenas dois anos para se verem na elite francesa. O sucesso foi moderado pelo resto do século XX. O representante vencedor da região dos Rhône-Alpes era o rival Saint-Étienne, até hoje o maior campeão da Ligue 1, começando a domina-la nos anos 60. Foi exatamente a década que viu os primeiros sucessos do Lyon para além da segunda divisão. Praticamente os únicos até a “Era Juninho”.

Os primeiros hermanos no clube foram Roberto Marteleur e Néstor Combín, em 1959. O primeiro não durou. Já o outro foi histórico, ficando por cinco anos, se naturalizando francês e só saindo ao ser comprado pela Juventus. Em 1960, o Lyon importou Ángel Rambert do Lanús, outro emblema: passou dez anos no clube. Ele é pai de Sebastián Rambert, ídolo do Independiente nos anos 90 (fez o golaço do título da Supercopa de 1994, em final caseira contra o Boca. Foi contratado pela Internazionale junto com Javier Zanetti) e de passagem rápida pela seleção argentina e também por Boca e River.

Já Ángel, assim como Combín, defendeu a seleção francesa mesmo. Ambos foram eleitos em site de torcedores para o time dos sonhos do Lyon em 2011 – já após o período áureo do OL, portanto. O refinado Rambert (apelidado de L’Ange, “o anjo”) foi alinhado na meia-esquerda e o matador Combín (apelidado por sua vez de La Foudre, “o relâmpago”), de centroavante: clique aqui para acessar. A estreia de Rambert virou lenda: contra o Valenciennes, não tinha qualquer documentação consigo mas o cavalheiro técnico adversário não se opôs a enfrenta-lo. A novidade marcou o gol da vitória.

O primeiro título lionês expressivo veio com a dupla. Rambert recebeu a Copa da França de 1964 das mãos do general Charles de Gaulle, com Combín despedindo-se rumo à Juventus marcando os dois gols dos 2-0 na final com o Bordeaux – que, aliás, contava com outro argentino da seleção francesa, Héctor de Bourgoing (ele e Combín foram colegas na Copa de 1966 pelos Bleusfalamos aqui). Na mesma temporada, o time foi quarto na Ligue 1, sua melhor colocação nela até então, e semifinalista da Recopa Europeia, caindo no jogo-desempate para o Sporting Lisboa – a classificação teria vindo se o critério do gol fora de casa valesse, pois dentro foi 0-0 e em Portugal, 1-1.

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Combín em um de seus gols na final da Copa da França de 1964 e pelos Bleus

Combín também faria sucesso na Itália. Foi sua imagem desfigurada em sangue após o mundial entre Milan e Estudiantes em 1969 que ajudou a afugentar europeus do duelo: veja aqui. Acusado inicialmente de desertor do exército argentino, foi rapidamente “perdoado” pela ditadura em razão da péssima repercussão da final. Os jornais da época também esclareceram que ele cumprira serviço militar já na França e que um tratado entre os dois países os fazia aceitar o alistamento um do outro.

Novo título na Copa da França veio em 1967, contra o Sochaux. Foi a vez de Rambert (que só se ausentara da Copa de 1966 por lesão) marcar um dos gols. O colega argentino da vez era o volante Héctor Maison, ex-Tigre e recém-contratado junto ao Nice. Ángel também se destacou no dérbi com o Saint-Étienne, somando seis gols no rival, sendo o segundo maior artilheiro lionês no clássico. A temporada 1969-70 também contou com Néstor Rambert, irmão dele e que havia jogado por Racing (sendo reserva útil no elenco vencedor da Libertadores em 1967) e Independiente.

Porém, até a Era Juninho o Lyon só levantaria a Copa e a Supercopa da França de 1973 e a segunda divisão de 1989, título que contou com o folclórico ponta Claudio García. Antes dele e depois dos irmãos Rambert, o outro único argentino presente em Gerland foi Néstor Mourglia, em 1976. Apelidado de El Turco, García havia sido reforço recém-adquirido junto ao Vélez.

Após mais uma temporada, voltou à Argentina. Segundo ele, por estarem lhe devendo. Segundo franceses, por não se entender com o técnico Raymond Domenech. Turco García brilharia em seguida no Racing, integrando a seleção argentina bicampeã na Copa América em 1991 e 1993, os últimos títulos da seleção principal.

Quase vinte anos depois se passaram para um novo hermano no Lyon. O ponta César Delgado, autor do gol quase decisivo da Copa América de 2004, veio do México para integrar o último título francês em Gerland, concluindo o hepta em 2008 – ano de taça também na Copa da França. Chelito, que em 2015 regressou ao Rosario Central, onde se projetara, teve bons momentos (como a eliminação do Real Madrid nas oitavas-de-final da Liga dos Campeões em 2010), mas bem maior foi o sucesso individual do colega Lisandro López, contratado junto ao Porto em 2009.

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Ángel Rambert também jogou pela França. À direita, sua imagem promovendo o clássico com o Saint-Étienne

Licha não venceu a Ligue 1, mas fez meio gol por jogo no campeonato (59 em 119 partidas) e foi a principal referência da melhor campanha lionesa na Liga dos Campeões, parando nas semifinais de 2009-10 – ele poderia ter ido à Copa do Mundo se não tivesse concorrência tão mais badalada no ataque. Ainda é o único jogador utilizado pela seleção argentina vindo do clube, em 2009. Hoje no Internacional, Lisandro também marcou o gol do último título do Lyon, a Copa da França de 2012.

A última novidade argentina no Lyon foi o lateral-esquerdo Luciano Monzón, campeão olímpico em 2008. Veio em 2012 após boa passagem no Nice, mas não se firmou e terminou emprestado ao Fluminense. Após uma temporada de contrato, foi vendido ao Catania e hoje está de volta ao Boca, clube que o revelou.

O Paris Saint-Germain é outra notável colônia brasileira que já colecionou bons argentinos. Entraremos em detalhes na semana que vem.

Atualização em 12-08-2015: clique aqui para acessar o especial dedicado aos argentinos do PSG.

Atualização em 01-07-2016: clique aqui para acessar o especial sobre os argentinos que dividiram igualmente dez artilharias seguidas na Ligue 1 – Carlos Bianchi (sim!) e Delio Onnis.

Atualização em 04-07-2016: clique aqui para acessar o especial sobre colônias argentinas em clubes franceses.

Atualização em 07-07-2016: clique aqui para acessar o especial sobre os craques argentinos de origem francesa.

Atualização em 09-07-2016: clique aqui para acessar o especial sobre os argentinos da seleção francesa.

Atualização em 12-01-2017: clique aqui para acessar o especial dedicado aos argentinos do Monaco.

Atualização em 24-03-2018: clique aqui para acessar o especial dedicado a Delio Onnis, maior artilheiro da Ligue 1.

Atualização em 21-04-2018: clique aqui para acessar o especial dedicado aos argentinos do Nantes.

Atualização em 12-08-2020: clique aqui para acessar especial dedicado a argentinos de outros clubes de Paris.

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Maison, García e Delgado, os outros argentinos campeões em Gerland

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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