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Paris Saint-Germain faz 45 anos e lembramos seus argentinos

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O trio promissor da nova temporada: Pastore, Lavezzi e Di María

Conforme antecipado na semana passada, quando celebramos os 65 anos do Lyon (clique aqui), hoje é a vez de relembrar os hermanos do PSG, fundado em 12 de agosto de 1970. Como ocorrido com os lioneses, os tempos mais áureos dos parisienses foram caracterizados por protagonismo brasileiro. Mas a equipe já teve um número relativamente alto de argentinos se considerarmos a pouca idade. E pela primeira vez reunirá três em uma mesma temporada: na semana passada contratou Ángel Di María, que acompanhará Ezequiel Lavezzi e Javier Pastore. Será que a colônia engrenará aos níveis desejados – leia-se título na Liga dos Campeões da UEFA?

O futebol parisiense já tinha riqueza argentina bem antes do aniversariante. O problema eram os outros clubes. A fraqueza deles ensejou o surgimento e fortalecimento do PSG, oriundo da fusão dos inexpressivos Paris FC e Stade Saint-Germain. O que tinha mais tradição era o Racing, de melhores momentos antes do profissionalismo, tendo ganho só uma vez a Ligue 1. Nos anos 20, os alvicelestes tiveram Félix Romano, argentino das seleções francesa e italiana. Mais recentemente, o sumido time promoveu o meia Alberto Tino Costa, que vinha da filial do clube em Guadalupe (!) e jogou duas partidas pela Argentina entre 2011 e 2012, já como jogador do Valencia. Antes, Carlos Sosa, maior lateral-direito do Boca, passou pelo Racing anos 50.

Ex-jogador das seleções argentina e francesa, Héctor de Bourgoing esteve nos anos 60 nos pengouins, que tentaram rivalizar com o PSG nos anos 80 com um generoso patrocínio da Matra que não rendeu o esperado – hoje o Racing, que inspirou o homônimo argentino de Avellaneda, está nas divisões amadoras do futebol francês e foca-se no rúgbi (recentemente acertou o contrato mais alto deste esporte, pelo astro neozelandês Dan Carter, maior pontuador de jogos de seleções). Destino semelhante teve o Stade Français, potência do rúgbi que no futebol já contou em suas fileiras com o mítico técnico Helenio Herrera, como jogador e treinador. Herrera também jogou no Red Star, clube fundado por Jules Rimet.

O Red Star teve ainda Guillermo Stábile, artilheiro da primeira Copa do Mundo; Oscar Tarrío, bi da Copa América em 1929 e 1937; e foi onde Néstor Combín (da seleção francesa e destaque de Lyon, Juventus, Torino e Milan) pendurou as chuteiras, com o time ainda na elite. O Cercle Athlétique (clube de Lucien Laurent, autor do primeiro gol das Copas do Mundo) teve nos anos 30 mais um argentino da seleção francesa, André Chardar, e Carlos Volante, grande ídolo no Flamengo. Vale ainda mencionar que o Paris FC desmembrou-se posteriormente do PSG e teve em 1978 o atacante Humberto Bravo, um dos últimos três cortados da Copa de 1978 por César Menotti, “acompanhando” na triste sorte Víctor Bottaniz e Diego Maradona. Foi justamente a última temporada do Paris FC na elite (está hoje na segundona, com o Red Star).

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Bianchi foi bem demais. Heredia e Ardiles eram astros na Europa, mas decepcionaram

Já o novato teve seus primeiros argentinos em 1977 e não quis fazer feio, com duas contratações arrasa-quarteirões: o atacante Carlos Bianchi e o zagueiro Ramón Heredia. O sucesso estrondoso de Bianchi como técnico ofusca o quão espetacular goleador ele era: teria sido o maior artilheiro do campeonato argentino se não se mudasse ao francês – e vice-versa: El Virrey ainda é o hermano com mais gols em ligas nacionais na história, 385 (Messi neste 12 de agosto ainda soma 99 gols a menos que ele por campeonatos nacionais). E não fez feio em Paris, com quase um gol por jogo.

Bianchi totalizou 71 buts em 80 partidas, uma média que nem o astro Zlatan Ibrahimović (com um time muito mais competitivo) chega perto. Foi artilheiro da Ligue 1 nas duas temporadas em que ficou, só deixando o Parc des Princes em 1979 ao ser contratado pelo então campeão, o Strasbourg. Só faltaram taças. Eram anos modestos: em seus primeiros dez anos, a melhor campanha do Paris Saint-Germain foi um sétimo lugar. Mas duas temporadas individualmente magníficas bastaram para colocar Bianchi no Top 10 de artilheiros do clube, feito enorme para qualquer um em qualquer lugar.

Cacho Heredia, do seu lado, havia sido titular da Copa de 1974 e era ídolo no grande momento do Atlético de Madrid dos anos 70, integrando os vices da Liga dos Campeões que foram campeões mundiais pelos colchoneros. Mas decepcionou. Lesões e perda da forma fizeram-no sair também em 1979, mas por ser dispensado mesmo. A contratação seguinte foi outro astro que não rendeu: por conta da Guerra das Malvinas, Osvaldo Ardiles deixara o Tottenham Hotspur, onde era ídolo.

Ossie até integrou o plantel vencedor da Copa da França (apenas o segundo título do PSG) e se tornou o primeiro jogador do clube usado pela Albiceleste. Mas não se adaptou e voltou ao Tottenham em poucos meses, com os ânimos da guerra mais arrefecidos. Assim como ele, o atacante Omar da Fonseca mal ficou uma temporada apesar de ser campeão. E não foi qualquer título e sim o primeiro do time na Ligue 1, em 1985-86 – o PSG só conseguiria vencer outro antes de receber a fortuna recente dos Emirados. Aliás, esse outro, nos anos 90, também veio com patrocínio generoso, do Canal+.

Da Fonseca, em tempos onde só se permitiam dois estrangeiros, não tirou a vaga cativa do iugoslavo Safet Sušić e do holandês Pierre Vermeulen, o escolhido para ser a dupla ofensiva de Dominique Rocheteau. Já Gabriel Calderón veio do Real Betis em 1987 com a experiência de ter ido à Copa de 1982. Ele, como Bianchi, foi muito bem apesar da falta de taças (chegou perto em 1989, perdida por três pontos para o poderoso Olympique de Marselha da época), fazendo bela dupla com Sušić no meio-campo por três anos. Acabou indo à Copa de 1990, na vaga do cortado Jorge Valdano.

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Calderón, Pochettino e Heinze: um trio aplaudido

Vieram os anos 90 e as apostas focaram no Brasil. David Trezeguet poderia ter sido a exceção: recomendado por Omar da Fonseca, passou três semanas na pré-temporada de 1995-96 e teria o aval do técnico Luis Fernández, mas os diretores não tiveram o futuro Trezegol (ainda com 17 anos) em conta e foi com o Monaco que o atacante acertou. Os argentinos seguintes que se concretizaram só vieram mesmo após a primeira fase áurea: a dupla de zaga Gabriel Heinze e Mauricio Pochettino.

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Da Fonseca: sem êxito como campeão e como agente de Trezeguet

Pochettino foi bem, logo conquistando a braçadeira de capitão e indo à Copa de 2002. Heinze foi ainda mais duradouro, ganhando uma Copa da França já em tempos onde o Lyon monopolizava a Ligue 1 (onde foi vice por três pontos, na melhor campanha que o time teve na década perdida entre 2000 e 2010) e saindo para jogar no Manchester United. O grande problema de El Gringo Heinze foi anos mais tarde ter vindo jogar justo no rival Olympique de Marselha. Não só jogou como foi campeão e, como se não bastasse, a taça encerrou um jejum de 17 anos do OM.

O atacante Martín Cardetti jogou uma temporada com Pochettino e Heinze, em 2001-02, credenciado pela artilharia do Apertura 2001 com o River. El Chapulín começou com tudo, com 7 gols em 12 jogos, mas murchou depois: só fez mais 1 em outros 14. E a equipe ficou só em 11º.

Juan Pablo Sorín também ficou uma temporada na França, mas sua passagem foi muito bem recordada. Venceu a Copa da França de 2004 com Heinze (se ausentaram da final por servirem a seleção em jogo contra o Brasil nas eliminatórias). Sorín, sobretudo, conseguiu não perder nenhuma de suas 26 partidas realizadas pelo PSG. O clube, porém, não quis melhorar seu contrato e Juampi rumou ao Villarreal, onde manteve a ótima fase que por um pênalti não terminou em 2006 na final da Liga dos Campeões – a decisão tão almejada pelos parisienses.

O próximo chamado também era ex-River: Marcelo Gallardo apareceu em 2007 ainda credenciado pelo enorme brilho que tivera quase dez anos antes no Monaco. El Muñeco, porém, não foi nem a sombra do que rendera no Principado. E os parisienses foram très mals no campeonato, escapando do rebaixamento por só três pontos. E Gallardo foi jogar na MLS, que ainda engatinhava o prestígio. O vitorioso técnico do River foi o último argentino antes do trio atual.

Pastore chegou em 2011 e Lavezzi, em 2012, após passagens brilhantes de ambos pela Itália, respectivamente por Palermo e Napoli. A dupla, assim como o novato Di María, é da nova era: um PSG dominante na Ligue 1, agora pequena demais para as ambições continentais que os cheques dos xeques (com o perdão do trocadilho) tentam buscar. A passagem de Pastore e Lavezzi, por enquanto, está marcada por altos e baixos individuais, com o ex-Huracán por enquanto de rendimento mais satisfatório que o do ex-San Lorenzo.

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Cardetti, Sorín e Gallardo ficaram só uma temporada em Paris. Só o lateral recebe “merci” da torcida

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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