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Há 20 anos, o Rosario Central jogava em Manaus – contra o Flamengo

Ah, os anos 90 e suas múltiplas competições da Conmebol. Se hoje há um calendário enxuto com Libertadores, Sul-Americana e Recopa (entre os vencedores das outras duas), na década retrasada haviam Copas a rodo: Supercopa, Copa Master da Supercopa e Copa Ouro fizeram parte do calendário no início daqueles anos, assim como a Copa Conmebol e a Copa Master da Conmebol. Uma delas, a Copa Ouro, foi realizada em três dias na capital amazonense em 1996, em um primeiro contato de competições sul-americanas com o futebol do Norte do Brasil.

A Copa Ouro, disputada só três vezes, reunia os outros quatro campeões sul-americanos do ano anterior: da Libertadores, da Supercopa (que também duelavam à parte, pela Recopa), da Copa Master e da Conmebol. A Copa Conmebol tinha uma premissa similar ao da atual Copa Sul-Americana, reunindo normalmente equipes que não haviam se classificado à Libertadores.

No caso brasileiro, nas três últimas edições da Conmebol (1997-99) as vagas foram dos campeões regionais. Foi assim que o futebol nortista retomou contato internacional, primeiro com a participação do Rio Branco do Acre em 1997 (uma surpresa, pois venceu a Copa Norte sobre o Remo dentro de Belém) e depois com novo intercâmbio para os amazonenses, bonito: o São Raimundo, em seu auge, só não disputou uma insólita final com o Talleres em 1999 pois caiu nos pênaltis para o CSA (o vencedor da Copa Norte em 1998 era na verdade do Nordeste: o Sampaio Corrêa). Prólogos da saga do Paysandu na Libertadores em 2003.

Quando a Copa Conmebol ainda tinha representantes “máximos” do Brasil, o Rosario Central venceu a edição de 1995 com uma das reviravoltas mais sensacionais que o futebol já viu. Os canallas haviam perdido para o Atlético Mineiro por 4-0 no Mineirão, mas abriram 3-0 ainda no primeiro tempo no Gigante de Arroyito. Conseguiram o quarto gol no antepenúltimo minuto (a imagem da matéria é a da comemoração dele, do autor Horacio Carbonari, que havia marcado outro) e levaram nos pênaltis. Detalhamos neste outro Especial.

Já a Supercopa era uma competição valorizada, que reunia os campeões da Libertadores. Seria substituída a partir de 1998 pela Copa Mercosul, por sua vez substituída pela Sul-Americana (com premissa diferente, como já salientado). E a Copa Master da Supercopa reunia os vencedores da Supercopa. Melhor para o Boca: o time viveu seu mais longo jejum nacional entre 1981 e 1992, e depois ficaria na seca nacional até 1998. Crise amenizada com os títulos da Supercopa em 1989, da Copa Master em 1992 e da Copa Ouro em 1993, engordando a galeria do autoproclamado Rey de Copas.

A Copa Ouro de 1996 foi a terceira a última realizada, com uma novidade: a Copa Master requisitada não foi a Master da Supercopa (vencida pelo Cruzeiro em 1995), e sim a Master da Conmebol, realizada pela única vez no primeiro semestre de 1996 e ganha pelo São Paulo contra o Botafogo. O outro representante brasileiro seria o Grêmio, vencedor da Libertadores de 1995.

A dupla brasileira deveria se juntar a uma dupla argentina: enquanto o Rosario Central ganhara a Copa Conmebol em 1995, o Independiente aos trancos e barrancos havia segurado a ótima campanha do Flamengo na Supercopa 1995, enterrando em pleno Maracanã o último sonho rubro-negro de um título no centenário – detalhamos neste outro Especial. Mas o Rojo abriu mão da vaga. E assim o vice Flamengo entrou. Semanas antes, as agruras do centenário haviam sido afastadas com um título estadual invicto, uma despedida de Romário, que iria ao Valencia – para seu lugar, voltou Bebeto.

Mas nem Bebeto nem Sávio, lesionados respectivamente na virilha e no tornozelo, jogaram há 20 anos no Vivaldão. O ataque seria formado por Marques e Aloísio (o Chulapa). Mas os gols foram de Fábio Baiano, primeiro em uma bomba de fora da área logo aos sete minutos de jogo e depois, já no segundo tempo, com oportunismo em bola cruzada na área por Gilberto.

Ainda aos onze minutos do primeiro tempo naquele 13 de agosto de 1996, os argentinos haviam empatado. Eduardo Bustos Montoya aproveitou falha da defesa e, livre na pequena área, tocou no canto esquerdo de Roger. No segundo tempo, antes do segundo gol carioca, os rosarinos quase viraram, com um cabeceio de Rubén da Silva na trave. O atacante uruguaio, em outro cabeceio, quase empatou no último minuto, mas Roger defendeu à queima-roupa.

A Copa Ouro foi uma maratona. No dia seguinte, Grêmio e São Paulo fizeram no Vivaldão a outra semifinal, favorável aos paulistas. E outro dia depois o “intruso” Flamengo bateu o Tricolor em Manaus, voltando a ser campeão continental após quinze anos. Embora eliminados de cara, os argentinos também sentiram o desgaste. Antes da curiosa partida de vinte anos atrás, haviam jogado apenas 48 horas antes, pela penúltima rodada do Clausura: ganharam dentro de Buenos Aires por 6-1 do Argentinos Jrs, com três gols do mencionado Da Silva e outros dois de Bustos Montoya, dali partindo para a viagem e clima a qual não estavam acostumados.

Abaixo, a ficha da partida contra o Flamengo e os gols rubro-negros:

FLAMENGO: Roger, Paulo César, Fabiano, Ronaldão e Gilberto (Pedrinho); Alejandro Mancuso, Márcio Costa, Nélio e Fábio Baiano (Athirson); Marques e Aloísio (Iranildo). T: Joel Santana. ROSARIO CENTRAL: Hernán Castellano; Cristian Daniele (Humberto Biazotti), Horacio Carbonari, Daniel Kesman e Diego Ordóñez. Eduardo Coudet, Omar Palma, Martín Boasso e Rubén da Silva. Eduardo Bustos Montoya (Martín Cardetti) e Mario Pobersnik (Sergio Fernández). T: Ángel Tulio Zof. Gols: PT: 7´Fábio Baiano (F) 10´Bustos Montoya (RC). ST: 19´Fábio Baiano (F). Árbitro: Epifanio González (Paraguai).

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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