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Relembre as maiores goleadas brasileiras sobre a Argentina

O E.T. se humaniza contra o Brasil. Ontem foi o terceiro 3-0 que Lionel Messi sofreu da canarinho, após outros em amistoso no primeiro jogo pós-Copa em 2006 e na final da Copa América de 2007. A própria estreia de La Pulga veio na ressaca de outra goleada: Leo debutou contra a Hungria no jogo seguinte aos 4-1 da Copa das Confederações de 2005.

(Este escriba abre parênteses para um depoimento pessoal: em meados de 2005, os fotologs ainda eram importantes. Uma página comunitária, criada pela futura VJ Marimoon, era a /the_beatles, dedicada obviamente aos rapazes de Liverpool e cheia de fãs brasileiros e argentinos. Vez ou outra o futebol desvirtuava a página, como naquela final de 2005. Este redator, então com 16 anos, lembra perfeitamente de uma foto do jogo carregada por algum hermano com os dizeres “esperemos que Messi cresça”. E também lembra, como galvãobuenista que era, ter carregado outra, de algum alviceleste estirado no chão. A legenda dessa era mais beatlemaníaca: “Cry Baby Cry”).

Mas nem o terceiro 3-0 sofrido por Messi nem aqueles 4-1 que o antecederam foram as maiores goleadas favoráveis ao Brasil no clássico. A primeira delas segue sendo a maior de todas: os 6-2 aplicados em São Januário em 20 de dezembro de 1945, pela Copa Roca. A Argentina vinha com a banca de recém-campeã da Copa América realizada naquele mesmo ano. Além disso, havia derrotado o próprio Brasil no Pacaembu quatro dias antes, por 4-3, no jogo de ida.

Como se não bastasse, os vizinhos haviam aplicado exatamente 6-2 em seu compromisso anterior, contra o Uruguai, em agosto. Adolfo Pedernera, descrito como Alfredo Di Stéfano como o maior jogador que vira (confira), até abriu o marcador. Ademir e Leônidas viraram. Rinaldo Martino (jogaria no São Paulo e falamos dele na segunda-feira: clique aqui) empatou, mas Chico (neto de uma argentina), Zizinho, Heleno de Freitas e outra vez Ademir esticaram o placar.

O 6-2 foi um desafogo não só pelo revés anterior, mas porque na virada para aquela década os hermanos colecionaram as maiores goleadas no clássico. Na Copa Roca de 1939, arrancaram um 5-1 em São Januário, a pior goleada que o Brasil sofreu em casa até os 7-1. Aquela Copa Roca só foi encerrada já em 1940, com um 6-1 no Gasómetro. Em 1940 houve nova edição da Copa Roca, com um 5-1 para a Albiceleste em Avellaneda. Foi o período de Emilio Baldonedo e Herminio Masantonio.

O goleiro Claudio Vacca detém Leônidas da Silva e Heleno de Freitas no lance, mas tomou os 6-2 em 1945

Ambos faziam dupla de ataque no Huracán e o entrosamento foi reeditado pelo país: Baldonedo contra o Brasil somou sete gols (saiba mais sobre sua carreira) e Masantonio, seis (saiba mais). Dentre todas as nacionalidades, são até hoje quem mais marcaram contra os brasileiros. Nenhum deles continuava na seleção em 1945, mas outro ex-huracanense, Norberto “Tucho” Méndez (conheça-o), sim. Ele é justamente o terceiro maior carrasco brasileiro, com cinco. Três deles, todos de fora da área, haviam dado a vitória por 3-0 em outro clássico naquele 1945, pela Copa América.

Os 6-2 não bastaram para decidir a Copa Roca de 1945, apesar do saldo de gols favorável ao Brasil; como cada um havia vencido uma partida, forçou-se uma terceira, que teria consequências diplomáticas; o Brasil ganhou por 3-1 em tarde em que José Battagliero saiu fraturado (confira). Dois meses depois, ambos se enfrentaram pela Copa América, realizada em Buenos Aires. Os hermanos voltaram a ganhar (2-0, outros gols do “Tucho” Méndez), mas sofreram outra fratura (de José Salomón) e as “cenas lamentáveis” acabaram inevitáveis: falamos aqui. Foram tamanhas que AFA e CBD romperam relações por dez anos, uma das razões para a Argentina não vir à Copa do Mundo de 1950.

Quando as relações foram retomadas, o contexto passava a ser outro. Em 1958, o Brasil foi campeão mundial enquanto a Argentina caía na primeira fase, por sinal com a derrota mais elástica de sua história (ver ao fim). Dois anos depois, foi goleada pelos canarinhos tanto no Rio de Janeiro como em Buenos Aires. Primeiramente, em pleno Monumental de Núñez, sofreu um 4-1 por nova Copa Roca após ter vencido por 4-2 no jogo anterior, também no estádio do River. Dois meses depois, disputou-se a Taça do Atlântico, um quadrangular que reunia também Uruguai e Paraguai.

No Maracanã, veio a segunda maior goleada brasileira: 5-1 de virada. Pelé deixou o dele nessa partida e o parceiro Pepe fez dois, mas a estrela da série de três clássicos em 1960 foi o vascaíno Delém. Hoje desconhecido no Brasil, ele marcou em cada um, somando quatro gols. Acabou transferido ao River, onde virou ídolo a ponto de radicar-se até o fim da vida em Buenos Aires, trabalhando com sucesso como técnico juvenil millonario nos anos 90: mostramos aqui. Pelé, por sua vez, não jogou o segundo tempo dos 5-1. Vicente Feola preferiu poupar o astro, em dia de caça e caçador: não teria condições físicas mas desculpou-se por cabecear o oponente Néstor Cardoso.

Três anos depois, em nova edição da Copa Roca, o roteiro se assemelhou ao de 1945: os argentinos venceram o primeiro jogo por um gol de diferença (3-2), mas terminaram goleados no segundo, com um placar quase igual. Dessa vez, foi 5-2. Pelé marcou três vezes. “O Rei” viraria o maior artilheiro da rivalidade, com um gol a mais que Baldonedo, ainda que jogando muito mais clássicos. Amarildo, o vitorioso reserva do santista na Copa de 1962, fez os outros dois.

A segunda maior goleada a favor do Brasil: 5-1 em 1960, com Pelé jogando um só tempo

Em 1968, em novo 4-1, Pelé não jogou um amistoso no Maracanã. Mas o Botafogo, que forneceu oito titulares da canarinho, deu conta: Roberto Miranda marcou duas e Waltencir e Jairzinho, um cada, com Alfio Basile marcando o de honra quando a partida já era 4-0. O encontro tenso no Sarrià pela Copa de 1982 teria terminado em 3-0, mas um golaço de Ramón Díaz no finzinho aliviou. De forma semelhante, um golaço no finzinho, dessa vez de Ariel Ortega, ajustou para 4-2 a tarde inspirada que Rivaldo, autor de três gols, teve em no Beira-Rio em 1999, em amistoso promovido pelo jornal Zero Hora.

Depois de 1968, então, goleada, mesmo, veio naqueles 4-1 na final da Copa das Confederações de 2005. Poucas semanas antes, Juan Román Riquelme e colegas haviam deslumbrado com um 3-1 barato em Buenos Aires pelas eliminatórias – teriam sido 3-0 não fosse Roberto Carlos. Mas em Frankfurt seriam 4-0 não fosse um desconto de Pablo Aimar já após os quatro gols canarinhos. Adriano (duas vezes), Ronaldinho Gaúcho e Kaká anotaram a última exibição de gala de um time treinado por Parreira.

Por fim, os outros dois 3-0 sofridos por Messi. No primeiro (a estreia de Sergio Agüero pela seleção principal), em amistoso em Londres, Elano marcou duas vezes mas o gol mais recordado foi o de Kaká, em arrancada na qual o próprio Lionel desistiu de acompanhar. Na outra, na final da Copa América, um Brasil instável superou uma Argentina embalada mas de tarde com muita falta de sorte: Júlio Baptista acertou um chute improvável e Roberto Ayala despediu-se da seleção marcando gol contra. Daniel Alves apenas terminou de jogar terra em um time que do meio para frente reunia Messi, Tévez, Riquelme, Verón, Mascherano e Cambiasso.

No geral, estas foram as outras goleadas sofridas pela Albiceleste, em ordem cronológica: 6-2 para o Uruguai em 1910 (Copa Honor), 3-0 para o Uruguai em 1911 (Copa Honor), 3-0 para o Uruguai em 1912 (Copa Honor), 4-1 para o Uruguai em 1919 (Copa Honor), 3-0 para o Uruguai em 1935 (Copa América), 3-0 para o Uruguai em 1940 (Copa Gómez), 5-1 para o Paraguai em 1945 (Copa Chevallier Boutell), 6-1 para a Tchecoslováquia em 1958 (Copa do Mundo), 5-1 para o Uruguai em 1959 (segunda Copa América), 4-1 para a Itália em 1961 (amistoso), 3-0 para o Paraguai em 1964 (Copa Chevallier Boutell), 3-0 para a Itália em 1966 (amistoso), 4-1 para a Holanda em 1974 (amistoso), 4-0 para a Holanda também em 1974 (Copa do Mundo), 4-1 para a Austrália em 1988 (Copa Bicentenário da Austrália), 5-0 para a Colômbia em 1993 (eliminatórias), 3-0 para os EUA em 1995 (Copa América), 3-0 para a Colômbia em 1999 (Copa América), 6-1 para a Bolívia em 2009 (eliminatórias), 4-0 para a Alemanha em 2010 (Copa do Mundo) e 4-1 para a Nigéria em 2011 (amistoso).

Foto da revista Placar após a última goleada, os 3-0 de 2007, para o desconsolo de Mascherano, Tévez (semi encoberto), Gago, Palacio, Messi, Riquelme, Ibarra, Abbondanizieri (encoberto) e Daniel Díaz

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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