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Relembre as maiores goleadas de Boca x River na casa rival

O 4-2 de domingo não deixou de ser uma surpresa. Afinal, o Superclásico vinha padecendo de placares mornos, exceção a um 5-0 em 2015, um jogo amistoso que, como tal, normalmente é desconsiderado na visão estatística dos argentinos. O último confronto a ter somado quatro gols ocorreu há pouco mais de dez anos, em vitória millonaria por 3-1 decisiva para os dramáticos rumos do Apertura 2006, relembrado hoje mais cedo (clique aqui). Para lembrarmos quatro gols na casa rival, seria preciso voltarmos mais no tempo. Hora de lembrar as visitas mais indigestas de Boca e River.

O Monumental de Núñez foi inaugurado em 1938 e La Bombonera, em 1940. Antes, a maior vitória fora de casa registrada na rivalidade foi um 3-0 do Boca no estádio anterior do River, situado então no bairro de Palermo (atualmente, na Recoleta), na esquina Alvear e Tagle. Esse jogo, em 6 de janeiro de 1932, foi válido pelo campeonato de 1931, o primeiro da era profissional. O Boca havia assegurado a taça na rodada anterior e deu-se não só ao luxo de dar uma volta olímpica (em tempos cavalheiros, foi bastante aplaudido pela plateia) como fechar o placar ainda no primeiro tempo, gols de Antonio Alberino, Ramón Mutis e Francisco Varallo.

O troco do River demorou cerca de vinte anos e veio em novembro de 1951, pelo mesmo placar, na Bombonera, que mesmo durante os tempos de La Máquina do rival vinha sendo uma fortaleza: o primeiro triunfo riverplatense lá só veio em 1948, já depois daquele auge. Mas entre 1950 e 1951 o Millo conseguiu vencer quatro clássicos seguidos, algo inédito. Dois deles, na caixa de bombons. O último, aqueles 3-0, no qual Walter Gómez e Santiago Vernazza abriram 2-0 com cinco minutos de jogo. Vernazza, de pênalti, faria o terceiro. A diferença é que tanto em 1950 como em 1951 o troféu terminou com o Racing.

O River ainda perdeu de 4-0 como mandante em 1940, mas no estádio do Racing. Esse placar também ocorreu no Monumental em 1964, mas em amistoso. Assim, oficialmente esses números vieram pela primeira e única vez em 1972, pelo Torneio Metropolitano, com dois gols de Ramón Ponce e outros dois de Hugo Curioni. Mas eram tempos em que o time dominante era o San Lorenzo – o River daria o troco com um emocionante 5-4 cheio de viradas e um 3-2 naquele mesmo ano, mas ambos no campo do Vélez.

Troco na Bombonera, mesmo, teve de esperar dez anos. Foi um 5-2 com shows de Ramón Díaz e Juan Ramón Carrasco, autores de dois cada: no primeiro tempo, Díaz abriu e Carlos Randazzo empatou. Carrasco ampliou no primeiro minuto do segundo tempo, Oscar Ortiz assinalou 3-1 aos dez e Carrasco e Díaz anotaram em minutos seguidos, aos 22 e 23. Seria 5-1 se Hugo Perotti não diminuísse de falta a sete minutos do fim. Aquele River foi arrasador também no campeonato, conquistado com quatro rodadas de antecedência. O impressionante é que a crítica da El Gráfico pontuou que o Millo não jogou bem, tendo sim homens que souberam aproveitar as chances criadas.

Dois anos depois, um Boca já em decadência e sem contar com Maradona, concentrado com a seleção, devolveu com juros. Foi um 5-1 de virada, ainda a maior goleada no Superclásico em campo inimigo. Curiosamente, o jogador do River que abriu o placar tinha o sobrenome Tevez: Jorge Tevez, aos quatro minutos. Só que se o Boca não tinha Maradona, o Millo, base da Argentina, estava bem mais desfalcado: nada de Fillol, Kempes, Passarella, Díaz e Tarantini, dentre outros na Albiceleste.

Oscar Ruggeri e Ricardo Gareca, que dali a alguns anos virariam juntos a casaca, reverteram ainda no primeiro tempo. Entre os 8 e os 11 minutos, o protagonista foi o lateral Carlos Córdoba, que marcou dois e perdeu um pênalti. O quinto foi de Gareca, aos 30 minutos. Poderia ter sido 5-2, como em 1980, mas o millonario Jorge García também perdeu um pênalti, aos 43. Nem Boca nem River teriam vida longa na competição, ganha pela primeira vez pelo modesto Ferro Carril Oeste.

O River nunca conseguiu uma goleada como aquelea mas em 1994 se deu ao luxo de garantir o título do Apertura com um 3-0 na Bombonera. O veterano (e artilheiro do campeonato) Enzo Francescoli abriu de pênalti aos 14, após Ariel Ortega ser derrubado por Néstor Fabbri. Aos 24, o próprio Ortega ampliou com um golaço, matando no peito e emendando de fora da área. Ainda no primeiro tempo, o xeneize Alberto Márcico foi expulso. O terceiro foi de Marcelo Gallardo, de pênalti aos 25 (Alejandro Mancuso derrubara Hernán Díaz e Francescoli já havia sido substituído) do segundo tempo.

O Apertura 1994 foi um campeonato especial para o River, campeão argentino invicto pela única vez. Esse título também o classificou à vitoriosa Libertadores de 1996. Além disso, o time já havia derrotado o Boca na Bombonera mais cedo naquele mesmo ano, no Clausura. Vitórias que aliviaram o pesadelo millonario nos anos 90: entre 1991 e 1999, não ganhou uma sequer no Monumental. Onde foi derrotado no Superclásico seguinte por 4-2, no Clausura 1995.

Ao fim do primeiro tempo, parecia que o River emendaria a terceira vitória seguida, com gol contra de Fernando Gamboa. Mas o Boca virou com dois gols antes dos três minutos do segundo tempo, com Julio César Saldaña e Alberto Márcico. A goleada se consumou nos últimos cinco minutos, espaço que reuniu os gols do camaronês Alphonse Tchami (3-1), do uruguaio Rubén da Silva (4-1) e o desconto de Francescoli, de pênalti. Mas nem um nem outro disputou seriamente o torneio, ganho pelo San Lorenzo.

A última goleada na casa rival ocorreu no Clausura 2002, uma goleada como vaselina, como os argentinos chamam o gol de cobertura. Esteban Cambiasso e Eduardo Coudet abriram 2-0 ainda no primeiro tempo, o que já assegurava o primeiro triunfo millonario na Bombonera desde aqueles de 1994. O folclore ficou para os 43 do segundo tempo. Ricardo Rojas, defensor argentino que defendia o Paraguai, só tinha um gol na carreira (pelo Libertad). Ainda no campo de defesa, passou a bola a Andrés D’Alessandro, que acionou Ortega, que a devolveu a Ricky. O defensor definiu como craque para Roberto Abbondanzieri acompanhar só pelo olhar. O River, que não enfrentou Riquelme, terminaria campeão.

Carrasco no 5-2, Francescoli e a “vaselina” de Rojas em dois 3-0: as goleadas do River na Bombonera

 

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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