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Instituto de Córdoba teve três campeões da Copa 1978. E Alberto Beltrán, melhor que os três

Entre 1992 e 1993, um time do interior brilhou no futebol paulista: o Mogi Mirim, cujo “Carrossel Caipira” venceu a Série A2, revelou Rivaldo, mas tinha em Válber o jogador mais visto como promissor na época (além de Leto, Capone e o técnico Vadão). Ironia semelhante do destino ocorreu em outro interior, em outro alvirrubro, vinte anos antes. O Instituto de Córdoba ganhou a liga cordobesa em 1972 para, em 1973, participar pela primeira vez de um torneio da elite nacional. Meia década depois, três membros daquele elenco venceriam a Copa do Mundo: Miguel Oviedo e, sobretudo, Osvaldo Ardiles e Mario Kempes. Que não eram as maiores estrelas da La Gloria. E sim um camisa 10 que hoje faz 65 anos.

A curiosa percepção aparece na ficha de Alberto César Beltrán no livro Quién es Quién en la Selección Argentina, a conter perfis de todos os que atuaram oficialmente (isto é, contra outras seleções filiadas à FIFA) pela Albiceleste entre 1902 e 2010: “talentoso, mas descontínuo. Surgiu no Instituto de Córdoba, ao mesmo tempo que Osvaldo Ardiles e Mario Kempes, com quem formou um recordado ataque. Todos o consideravam como o melhor dos três. Apesar disso, não chegou a ter o voo dos outros dois, que figuram na história. Na seleção, disputou apenas 25 minutos do jogo contra o Chile em outubro de 1976, no qual ingressou como suplente”.

O campeonato argentino, apesar do nome, estava restrito geograficamente à Grande Buenos Aires, La Plata, Rosario e Santa Fe (e Junín, na segunda divisão). Os times do resto do país não eram diretamente filiados à AFA e sim às associações regionais, disputando ligas próprias. Entre 1967 e 1985, então, o campeonato argentino foi adequadamente renomeado para “Metropolitano” enquanto paralelamente passou a disputar-se também o Torneio Nacional, que opunha os melhores do Metropolitano com os melhores das ligas do interior.

Bom, a liga cordobesa era historicamente duopolizada por Belgrano e Talleres. O Instituto era a terceira força, com conquistas bissextas: após vencer seguidamente em 1925, 1926, 1927 e 1928 (elenco que originaria o apelido de La Gloria), só ganhou novamente em 1961, 1966, 1972 e 1990. O título oportuno de 1972 rendeu a estreia em nível nacional no ano seguinte. Tendo ainda o veterano Daniel Willington (ex-seleção e estrela do primeiro título argentino do Vélez, em 1968), ficou no meio da tabela em 8º de 15 clubes no seu grupo. Mas a dupla ofensiva chamou a atenção.

Kempes ficou em 3º na artilharia e foi contratado pelo campeão Rosario Central. Já Beltran foi contratado pelo San Lorenzo, 4º colocado e que havia no ano anterior sido o primeiro clube a ganhar no mesmo ano tanto o Metropolitano como o Nacional. Nos cuervos, também foi bem. O time terminou campeão do Nacional em 1974, superando uma má fase inicial. 

No San Lorenzo e no River, ao lado de outros campeões de 1978, Ortiz e Luque. Mas seu maior brilho individual foi no Gimnasia LP

Beto Beltrán chegou a marcar em um 2-2 no clássico com o Huracán e dois em outros dois duelos cheios de rivalidade, contra o Boca. E em 1975 o Sanloré esteve de novo no páreo, ficando em 3º no Nacional. Beltrán totalizou dez gols em 74 jogos pelo clube – que, de dominante no cenário doméstico desde 1968, entrava em jejum do qual só sairia em 1995, vez seguinte em que venceria a elite.

O Diccionario Azulgrana, lançado no centenário sanlorencista, descreve assim o meia: “o protótipo dos camisas 10 cordobeses. Calmo, frio, cerebral e dotado de uma técnica riquíssima. Com o escasso antecedente de ter jogado uma temporada no Instituto de Córdoba, se incorporou ao clube em 1974 e contribuiu notoriamente na obtenção do Nacional deste ano, com Osvaldo Zubeldía como treinador. De boa química com Héctor Scotta na geração e consolidação do jogo ofensivo, permaneceu um ano mais no clube e logo percorreu um largo caminho no futebol de elite”.

A percepção de que poderia ser melhor que Kempes e Ardiles foi reforçada em 1976. Beltrán foi ao Gimnasia LP e virou um goleador. Só no Metropolitano, fez quinze, incluindo três em um 4-3 no Independiente, tetracampeão da Libertadores naquele ano. O Gimnasia terminou em segundo no seu grupo na fase inicial, mas sucumbiu no dodecagonal final. Foi essa fase que rendeu uma rápida passagem pelo River e aquela convocação à seleção no fim do ano, já como jogador millonario para a disputa do Nacional. 

O River foi vice, justamente para o Boca, na única final disputada pelos arquirrivais. Beltrán foi titular na decisão, mas o desempenho despencou em Núñez. Foi o único que o River substituído nela. Fez só três gols, todos no rebaixado San Telmo. Em 1977, já estava de novo no Gimnasia. Voltou a ir bem individualmente em La Plata, com vinte gols no Metropolitano enquanto a equipe ficava longe das cabeças. Foi o canto do cisne, insuficiente para voltar à seleção. Fez só três gols em 1978.

Ainda assim, sem ele em 1979 o clube foi rebaixado. Beltrán estava de volta ao Instituto, mas retornou ao Gimnasia para as segundonas de 1980 e 1981. Mas com só cinco gols de Beto (apelidado também da La Vieja) em 42 jogos e sem êxito na promoção. Passou ainda por Defensores de Belgrano, Unión San Vicente e Belgrano seja pela segunda divisão metropolitana, seja na liga cordobesa, sem repetir o destaque vivido entre 1972 e 1977. 

Roca, Acevedo, Oviedo, Carballo, Anelli e Perriot; Saldaño, Ardiles, Kempes, Beltrán e Willington

 

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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