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Elementos em comum entre Atlético Paranaense e San Lorenzo

Nesta quarta-feira, o Club Atlético San Lorenzo de Almagro volta a se deparar com rubronegros do Brasil, dessa vez os do Clube Atlético Paranaense, que visitarão o Nuevo Gasómetro em confronto decisivo já na segunda rodada de um grupo de morte: o Furacão deixou escapar pontos preciosos na estreia em casa ao sofrer dois gols da Universidad Católica nos cinco minutos finais e o Ciclón foi goleado no Maracanã pelo Flamengo. Vale relembrar coisas em comum entre CASLA e CAP.

Para começar, os mencionados apelidos: o Atlético virou “Furacão” nos anos 40, enquanto o San Lorenzo havia sido apelidado de Ciclón (“ciclone”) nos anos 30. Ambas as alcunhas “tempestuosas” surgiram por goleadas aplicadas pelos clubes. O apelido da equipe argentina ainda servia para se contrapor ao nome do rival Huracán – que significa justamente “furacão” em espanhol (e que revelou, por sinal, o veterano Lucho González, hoje atleticano. A ver como agirá diante do velho “inimigo”).

Outro ponto em comum foi o ano de 2001, a render dois títulos para cada, doméstico e além, com ineditismos: treinado pelo chileno Manuel Pellegrini, futuro técnico de Real Madrid e Manchester City, o Sanloré venceu o Clausura (de forma especial, diga-se: com um recorde de pontuação na história dos torneios curtos e no embalo de treze vitórias seguidas, outro recorde nacional) e a última edição da Copa Mercosul, sua primeira conquista internacional. Já o Atlético ganhou o Estadual e seu primeiro e único título de elite no campeonato brasileiro. No ano seguinte, os rubronegros ganharam o Superestadual e os azulgranas, a primeira edição da Copa Sul-Americana, que sucedeu a Mercosul.

O ano de 1995 também foi de desafogo. Os argentinos encerraram ali seu maior jejum na elite argentina, vinte e um anos que perduravam desde 1974. E os brasileiros conseguiram sua primeira conquista a nível nacional, ainda na Série B, com o gosto extra de deixar de vice o rival Coritiba. Outros anos de títulos em comum foram 1936 (Argentino; Estadual) e 1982 (segundona argentina; Estadual).

Vale menção ao ano de 1983 também: o Furacão do “casal 20” Washington e Assis, além do título estadual, realizou sua melhor campanha na elite brasileira até então, parando nas semifinais após sufoco no futuro campeão Flamengo (derrota de 3-0 no Maracanã e vitória em casa por 2-0). Já o Ciclón também triscou o título na elite, perdido por um mísero ponto para o Independiente. O clube do Papa ficou perto de um raríssimo bicampeonato da segundona com a primeira. Além disso, quatro homens passaram pelos dois clubes. Vamos a eles:

Gustavo Matosas, o Furacão e o “Ciclón”

O primeiro era argentino de nascimento, mas crescido no Uruguai e ex-jogador da Celeste, o meia Gustavo Matosas. Nasceu em Buenos Aires quando seu pai, o volante uruguaio Roberto Matosas, brilhava no River dos anos 60. Campeão em 1987 da Libertadores pelo Peñarol (onde se formara) e da Copa América pelo Uruguai, o filho teve uma passagem razoável no San Lorenzo entre 1991-92. Teve o carinho das arquibancadas ao fazer o serviço sujo do meio-campo, ainda que houvesse críticas por enfeitar demais para a torcida – como na estreia, onde na primeira rodada do Clausura 1991 conseguiu um gol (sobre o Estudiantes), comemorando-o efusivamente demais com direito a beijo no escudo e trepada no alambrado.

Naquele 1991, veio uma volta olímpica pela liguilla pré-Libertadores, repescagem vigente entre 1987 e 1992 para oferecer em mata-matas entre os melhores abaixo do campeão a outra vaga argentina no torneio continental (entenda). O Diccionario Azulgrana aponta que o melhor jogo de Matosas pelo Sanloré foi mesmo na Libertadores de 1992, no 6-0 sobre o futuro vice-campeão Newell’s, em plena Rosario. Mas o próprio Newell’s de Marcelo Bielsa, adiante, eliminaria o Ciclón, nas quartas-de-final. Matosas acabaria contratado pelo campeão, o São Paulo.

No Atlético, o argentino-uruguaio apareceu em 1995, integrando o elenco campeão da segundona. Foi breve, indo ao Goiás em 1996, mas deixou boa impressão: voltou à Baixada para o jogo de despedida do ex-colega Paulo Rink em 2007 e chegou a ser sondado como novo técnico atleticano em 2013, credenciado pelo título mexicano com o León. O primeiro sucessor de Matosas foi outro ex-jogador da seleção uruguaia, o goleiro Carlos Nicola, obscuro nos dois clubes: no San Lorenzo, em 1998, não saiu da reserva de Oscar Passet. No Atlético, em 2000, o titular era Flávio.

O ano de 1995 no qual Matosas vencera a segundona foi de festa também ao San Lorenzo, por sua vez no Clausura. Uma das estrelas era o brasileiro Silas. Já no fim da carreira de jogador, o meia apareceu em 1994 no CASLA, que vivia jejum havia vinte anos. Logo na estreia, pelo Clausura 1994, Silas  marcou no clássico com o Boca (que chegou a sofrer até gol olímpico dele em outro encontro). Atleta de Cristo, contaria depois que antes do jogo decidira que se marcasse naquele dia interpretaria como um sinal divino para continuar na Argentina. Um gol ainda mais lembrado foi um sobre o River dentro do Monumental após passar por praticamente meio time (cinco adversários) antes de arrematar ainda fora da área. O jejum sanlorencista durou só mais um semestre, caindo de forma emocionante no Clausura 1995.

Silas ainda marcou três vezes sobre o rival Huracán, uma delas na maior goleada do clássico, o 5-0 naquele mesmo 1995; outro foi um 5-1, em 1997, ano em que o ex-“Menudo do Morumbi” voltou ao São Paulo. Em 2000, uma volta do brasileiro (que estava no futebol japonês) ao Nuevo Gasómetro foi ventilada. O meia já faria 35 anos e o técnico Oscar Ruggeri, seu ex-colega, barrou: “tem a mesma idade que eu”, justificou Ruggeri (que, na realidade, é três anos mais velho). Silas então acertou com o Atlético, que participaria pela primeira vez da Libertadores, após ter ganho uma seletiva em 1999. O veterano foi uma regular opção para o segundo tempo no título estadual e na segunda melhor campanha da primeira fase da Libertadores de 2000, com cinco vitórias e um empate.

San Lorenzo festeja o título de 1995. Ariel Graña é o segundo da esquerda para a direita, tocado pela luva do goleiro. Silas é o último

Mas a boa campanha ruiu já no primeiro mata-mata, dramaticamente, em duelo de Atléticos. O Mineiro ganhou em casa por 1-0 e diminuiu fora para 2-1 faltando dez minutos – o que pelo regulamento da época forçou pênaltis. Silas, que substituiu Kléber Pereira aos 18 do segundo tempo, acertou sua cobrança, mas o Galo converteu todas as suas cinco e o erro de Adriano Gabiru logo na primeira rubronegra custou a classificação. O meia, usual reserva de Kléberson, ficou até o fim do ano. Ganhou titularidade, fazendo dupla com o próprio Kléberson, na reta final da Copa João Havelange.

O Furacão, eliminado na Copa do Brasil nas oitavas-de-final pelo campeão Cruzeiro, ficou em oitavo na primeira fase da João Havelange, caindo também nas oitavas, para o Internacional. Com drama: segurou o 0-0 no Beira-Rio, mas perdeu de virada aos 44 do segundo tempo no Paraná. Silas saiu no início de 2001, voltando ao futebol paulista. O inédito título brasileiro atleticano, adiante, credenciou o CAP à sua segunda Libertadores, em 2002. O clube então fez a “clássica” contratação do argentino que, mesmo sem qualidade exatamente comprovada, trouxesse fluência em espanhol “para peitar árbitros caseiros” e experiência na “catimba” (que é sempre só enxergada nos vizinhos).

Ariel Graña, aprovado em vídeo pelo técnico Geninho, foi buscado no futebol grego para La Copa. Mas, sem entrar em forma, foi dispensado antes mesmo de estrear oficialmente. Foi colega de Silas na campanha campeã do Clausura 1995, mas longe do mesmo destaque: com o mencionado Ruggeri como titular absoluto, Graña entrou só em quatro partidas, sempre saindo do banco. Saiu em 1996 após só quinze jogos oficiais, tendo uma passagem ainda menos lembrada mesmo no rival Huracán, onde esteve em 1999. Em 2002, ficou no CT do Caju de janeiro a maio. Seguiu então para Portugal.

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Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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