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70 anos de Ricardo Villa, campeão da Copa 1978 e dono do gol mais bonito de Wembley

Originalmente publicado nos 65 anos, em 2017, revisto, atualizado e ampliado

Ricardo Julio Villa não é nem o primeiro, nem o segundo, terceiro ou décimo nome que vem à cabeça quando se lembra da seleção argentina campeã mundial pela primeira vez. Reserva, somou precisamente 90 minutos no mundial de 1978, entrando duas vezes no intervalo. O reconhecimento que não tem nem na própria Argentina, já que não brilhou em nenhum clube grande do país, desfrutou na Inglaterra, e em tempos de fechadíssimo futebol britânico: brilhou na final da centésima edição da tradicionalíssima FA Cup, marcando dois gols pelo Tottenham Hotspur sobre o Manchester City – e um deles foi eleito pelos próprios ingleses como o gol mais bonito de Wembley. Segundo o livro Quién es Quién en la Selección Argentina, hoje Ricky Villa faz 70 anos.

Vindo de Roque Pérez, interior rural da província de Buenos Aires Villa foi profissionalizado em um clube trajado em branco e azul marinho, como o Tottenham: o Quilmes, justamente o clube de futebol mais antigo ainda em atividade na Argentina, não por acaso tendo as cores das seleções inglesa e escocesa. Camisa 10 clássico dos argentinos, a dividir opiniões entre os que enxergam na sua frieza uma inteligência para providenciar passes precisos, e os que enxergam nesse estilo cerebral uma suposta lentidão e falta de entusiasmo, apareceu em 1970 no futebol adulto. De forma pouco auspiciosa: os Cerveceros terminaram rebaixados, embora também tivessem ninguém menos que um garoto Ubaldo Fillol como goleiro.

Foi uma queda penosa. O Quilmes nem tinha se saído tão mal no Torneio Metropolitano, como 15º de 21 times. Não havia promedios, mas havia uma fórmula maluca: os cinco últimos (Argentinos Jrs, Unión, Lanús, Colón e Los Andes) não cairiam diretamente, tendo a chance de uma sobrevida na pós-temporada, com o chamado “Torneio Reclassificatório”, uma miniliga que os envolveria junto com os dois últimos de outra miniliga – O Petit Tournament, a por sua vez englobar os quatro clubes acima deles (um Estudiantes desleixado, totalmente focado ao tri na Libertadores, Chacarita, Quilmes e Huracán). Pelos critérios de desempate, os Cerveceros só ficaram acima do Huracán e precisaram então jogar o Reclassificatório com ele e aqueles outros cinco times. Villa estreou exatamente na rodada inicial do Reclassificatório, onde o Huracán acordou, com um sonoro 5-0; o goleiro não foi Fillol e sim Miguel de Julio, que inclusive pegou um pênalti.

Villa e colegas se atordoaram nas duas rodadas seguintes, também sob derrotas, e então venceram por 2-0 o Argentinos Jrs na 4ª. Ilusão: na seguinte, o Lanús conseguiu um 3-2… graças a um gol contra de Villa a quinze minutos do fim. Uma reação de quatro vitórias na reta final não bastou, embora ainda houvesse uma sobrevida extra; enquanto os dois lanternas do Reclassificatório (Unión e Lanús) enfim caíram “diretamente”, os dois times acima (Quilmes e Colón) precisaram jogar um quadrangular em turno único com o campeão e vice da segunda divisão, que tampouco tinham acesso garantido naquele formulismo. Era, enfim, simples: os dois primeiros participaram da elite em 1971 e os dois últimos precisariam jogar na divisão inferior.

No estádio neutro do Atlanta, Fillol e Villa começaram bem, com um 2-1 no Almirante Brown, vice-campeão da B e que até hoje jamais pôde disputar a elite, enquanto o campeão Ferro sapecava 3-0 no Colón, ainda que a partida ocorresse na cidade rojinegra, Santa Fe (no campo “neutro” do rival Unión). Na segunda rodada, o 3-1 do Ferro sobre o Brown no terreno do Argentinos Jrs eliminou antecipadamente os aurinegros, diante do terceiro ponto somado pelo Quilmes, que arrancou o 1-1 com o Colón em nova partida na casa do Atlanta; na época, as vitórias só valiam dois pontos. Assim, na rodada final o Colón não precisava apenas vencer e torcer por derrota quilmeña, sendo necessário também reverter um saldo de -2 gols. No campo do Huracán, o Ferro até abriu cedo o placar, aos 4 minutos, o que não bastava aos santafesinos, que seguiam no zero com o Brown – e que ainda assim viam o saldo cervecero estar em -1.

Daniel Bertoni, Ubaldo Fillol e o barbudo Villa foram os pratas-da-casa do Quilmes que estiveram na seleção de 1978

A salvação do Quilmes parecia vir aos 20 minutos da rodada, pois o já eliminado Brown abriu o placar sobre o Colón. Aos 35, o Sabalero empatou. E já aos 38, virou. E, no minuto final do primeiro tempo, ampliou para 3-1. Quando veio o intervalo, Quilmes e Colón tinham ambos 3 pontos e saldo respectivamente em -1 e 0. Com treze minutos de segundo tempo, o Colón fez 4-1 e foi a saldo positivo de gol: o Cervecero precisava empatar urgentemente com o Ferro. Aos 20 minutos, o Brown descontasse para 4-2 e deixou zerado o saldo colonista, mas simultaneamente o Ferro abriu 2-0. Empatar era menos provável do que lutar pelo saldo, mas Fillol, Villa e colegas se abriram demais e tomaram mais dois gols nos dez minutos finais enquanto o concorrente anotou 5-2 no último minuto. Nas voltas que a vida daria, houve foto registrando Villa, ainda sem a característica barba, consolando um Fillol aos prantos, sem que imaginassem que dali a oito anos o clube deles seria campeão argentino, e após mais de sessenta anos. E que eles dois seriam campeões da Copa do Mundo.

O potencial de Fillol foi logo descoberto por um gigante, o Racing. Já Villa chegou a jogar ainda no Quilmes com outro colega da Copa de 1978, o ponta Daniel Bertoni, também logo catapultado a um gigante de Avellaneda, o Independiente (em 1973). Diferentemente deles, Villa precisou sair do radar. Foi a Tucumán, inicialmente emprestado ao San Martín para a disputa do Torneio Nacional, em 1973 – o técnico, curiosamente, era Nelson Filpo Núñez, um tio de Eduardo Coudet e famoso como o argentino que chegou a treinar a seleção brasileira, em 1965. Filpo Núñez logo deu lugar a Benicio Acosta em meio à campanha ruim, que incluiu derrota no Clásico Tucumano com o Atlético, onde Villa até foi expulso junto com um rival nos 4-3. Sem impedir a antepenúltima colocação no Grupo A, ele só pôde deixar golzinhos sobre Newell’s, River e um Instituto de Córdoba que alinhava outro futuro campeão de 1978, Miguel Ángel Oviedo.

Villa encerrou a passagem pelo Quilmes em 1974, também incapaz de, sozinho, fazer o clube sondar as primeiras posições da segundona. No segundo semestre, voltava a Tucumán, agora pelo Atlético – treinado por Manuel Giúdice, técnico bicampeão de Libertadores com o Independiente nos anos 60. Ali, sim, o volante explodiu para o país ver: os alvicelestes cumpriram um bom papel, em 5º num grupo com Vélez, Independiente e o forte Huracán da época (semifinalista da Libertadores naquele ano). Villa fez gols como nunca: oito, incluindo nesses três times. Outra camisa forte na época era a do Atlanta, 3º colocado no Nacional do ano anterior. O pobre Bohemio levou de 7-1 dos tucumanos, com Villa marcando. Em paralelo, começava na seleção o ciclo de César Menotti, treinador que não hesitou em dar oportunidade a diversos jogadores do interior naquela geração dourada dos anos 70, abertura sem igual na história da seleção.

Em março de 1975, a Albiceleste participou de triangular da inauguração do Serra Dourada, em jogos não-oficiais contra Palmeiras no dia 12 e com o Goiás no dia 16. Villa, curiosamente, estreou substituindo outro jogador do Atlético, Víctor Arroyo, no decorrer do jogo contra os paulistas, que venceram por 2-1. Foram quatorze estreantes, um recorde. Outro ineditismo: ninguém de clubes de Buenos Aires; os utilizados provinham de equipes cordobesas, Salta, Mendoza e Jujuy. Facetas também presentes para jogos oficiais, quando Menotti fez o mesmo em um 2-1 amistoso sobre a Bolívia em Cochabamba em junho – partida que ainda teve outro do Atlético, o ponta René Alderete.

Osvaldo Ardiles, ainda no Instituto de Córdoba, também começou na seleção naquelas primeiras partidas de Villa (contra Palmeiras, Goiás e Bolívia) e assim nasceu a relação entre Ricky e Ossie, futuros colegas de quarto na Copa de 1978. E de White Hart Lane. Futuros outros vencedores do mundial de 1978 também foram pinçados ali, casos de um Miguel Ángel Oviedo ainda no Racing de Córdoba, de um José Daniel Valencia ainda no Gimnasia de Jujuy e com Luis Galván no seu Talleres de sempre. A convocação de Villa mostrou-se justificada pelo que viria nos meses seguintes: no Torneio Nacional de 1975, o Atlético Tucumán foi simplesmente líder de um grupo que tinha Boca, San Lorenzo e os tradicionais Argentinos Jrs, Ferro Carril Oeste e Gimnasia LP, classificando-se assim ao octagonal final, onde ficou a um ponto do 4º lugar. Das camisas pesadas da fase de grupos, Villa só não fez gol no Gimnasia.

Clubes argentinos de Villa: no Quilmes (consolando o goleiro Ubaldo Fillol no rebaixamento de 1970), Atlético Tucumán, Racing e Defensa y Justicia. E seu golaço desenhado em livro do Tottenham

Ainda como jogador do Decano, acumulou outros três jogos oficiais pela seleção, já em 1976, quando o clube foi 4º em uma chave com Independiente e Boca. O Racing, que chegara a brigar contra o rebaixamento em 1976, contratou aquela revelação, ainda que pela loucura de 80 milhões de pesos. Se Villa não foi ruim em Avellaneda, mantendo-se na seleção ao longo de 1977, também não foi o Messias esperado. Alfio Basile era um iniciante técnico cuja idolatria como jogador racinguista nos anos 60 permitiu-lhe ser tolerado até a 36ª rodada de uma campanha de 17ª colocação no Metropolitano. Juan Carlos Giménez, por sua vez glória dos tricampeões de 1949-51, o substituiu por oito rodadas e nas três finais o cargo fica vago, sendo creditado à diretoria de futebol do clube, embora na prática o veterano goleirão Agustín Cejas atuasse como jogador-treinador.

Para o Nacional, Víctor Rodríguez tornou0-se o novo treinador e o time se recuperou bem, terminando em segundo no seu grupo, propiciando até que o veterano Cejas fosse pré-convocado à Copa do Mundo. Mas só o líder, o Talleres, avançava em um regulamento duríssimo. No fim das contas, os racinguistas que ficaram na lista final de convocados seriam mesmo Villa e o zagueiro Daniel Killer: curiosamente, embora não tenham se tornado ídolos no Cilindro, eles dois são os únicos a venceram a Copa do Mundo como jogador da Academia. Killer não chegou a entrar em campo, mas Villa sim, primeiramente no segundo tempo do duelo contra Polônia, o primeiro da segunda fase – “apareceu quando ninguém se lembrava dele (…). Se converteu em uma das chaves do triunfo. Abriu o campo atirando-se na ponta-esquerda e arrastou todo polaco que lhe cruzou o caminho (…). Voltou a ser o jogador que tanto elogiamos”, avaliou a El Gráfico.

Villa substituíra El Rana Valencia, que vinha mesmo fazendo um mundial tímido e não voltaria a ter chances naquela edição. Contra o Brasil, o problema era o estado físico precário de Ardiles, que já jogava sob infiltração e ainda viu Chicão “caminhar” em cima dele (nas palavras da Placar). Menotti então voltou a acionar Villa a partir do intervalo, para substituir o futuro parceiro de aventura europeia – dessa vez, o barbudo teve seus lançamentos bem neutralizados e apareceu mais por lances faltosos em uma partida marcada pela rispidez mútua. Não voltaria a aparecer na Copa, mas, mais do que entrar nesses jogos, ele entrara, sobretudo, em um dos lugares que poderiam ter sido de Maradona na convocação final. Recém-saído da segundona inglesa ao fim da temporada 1977-78, o Tottenham então ousou. O sindicato britânico de jogadores era fortemente contra a importação de forasteiros do reino de Elizabeth II, e de fato apenas estrangeiros que já residissem no império eram admitidos na liga inglesa, cujos portos enfim se abririam para a temporada 1978-79.

Assim, o técnico lilywhite Keith Burkinshaw viajou pessoalmente ainda assim a Buenos Aires buscando jogadores do River, base daquela seleção campeã mundial. Em tempos de menor disparidade econômica, eles ficaram tão inegociáveis quanto a joia Maradona – pela primeira vez artilheiro da liga argentina, em parte graças ao corte que o liberou da longa concentração da seleção. Burkinshaw então buscou Ardiles. Ciente de que a adaptação de Ossie seria menos difícil se um compatriota o acompanhasse, perguntou-lhe por uma sugestão. E assim foi atrás de Villa, cujo contrato foi pactuado em dez minutos, após autorização telefônica de Londres para fechar a verdadeira pechincha de 750 mil libras pela dupla – cada campeão mundial estaria avaliado em 600 mil dólares, segundo estimativa da revista Placar na época. Villa despediu-se do Racing com um único jogo oficial na temporada de 1978, derrota de 2-1 para o Boca em 2 de julho, uma semana após a conquista da seleção; ainda em janeiro, ela iniciara uma longa concentração com os pré-convocados, que desfalcaram seus clubes ao longo de todo o primeiro semestre.

Na Inglaterra, Villa estraria muito bem: fez o primeiro gol do novo clube na temporada, no 1-1 na rodada inaugural com o poderoso Nottingham Forest da época, então detentor do título nacional e logo (bi)campeão europeu. Contudo, resultados ruins se seguiram e foram postos na conta dos dois argentinos. Que tiveram total apoio dos colegas: “eu amei jogar com Ossie e Ricky. Foi especial. Ossie foi certamente o mais astuto jogador com quem joguei. Ele lia o jogo melhor do que ninguém. Ricardo foi provavelmente o mais tecnicamente dotado. Eu lembro que nós jogávamos um amistoso de pré-temporada contra o Royal Antuérpia. No jogo, eu e Ricky fizemos uma série de tabelas de primeira pela meio do campo e pensei ‘isso é maravilhoso. Este é alguém na mesma onda que a minha’. Nos petrificamos”, declarou o craque local Glenn Hoddle. Paul Miller, zagueiro que jogou por dez anos nos Spurs, resumiria: “eles mudaram o clube. Para sempre”.

Ardiles e Villa juntos na seleção em 1977. Ao meio, capa lamentando a transferência (ir ao exterior mais os atrapalhava que ajudava-os a se manter na seleção). E apresentados em Londres

Ambas as declarações estão no The Biography of Tottenham Hotspur, em um capítulo chamado ….And Still Ricky Villa!, boa evidência do impacto causado pelos hermanos. O nome do capítulo é uma referência à célebre narração daquele golaço de Villa na final da FA Cup de 1981. Ardiles vinha fazendo sucesso a ponto de ser importado pela seleção argentina quando ir à Europa mais atrapalhava do que ajudava a manter-se nela (quando ele e Ricky foram negociados, a revista El Gráfico chegou a estampar: “tchau, seleção”). Villa, ainda nem tanto. Isso e o fato de Maradona ter deslanchado mais perto do radar fez com que a última partida do barbudo pela Albiceleste fosse aquela contra o Brasil na Copa. “O que meu companheiro Osvaldo Ardiles levou três anos para conseguir, eu consegui num único jogo”, afirmou Ricky em julho de 1981 à revista Placar.

“Sim, porque não fossem esses dois gols, eu seria mandado de volta à Argentina. É tão difícil impor-se no futebol inglês que, se alguém me pedisse um conselho, eu diria: não tope essa parada”, completou à Placar. “O dinheiro era bom, e o clube era brilhante comigo, mas eu não podia ler os jornais, não podia ver televisão, e mesmo embora Ossie estivesse aqui, sentia falta da Argentina. Hoje eu vejo que era sortudo. E tenho que reconhecer que sou uma pequena parte da história do futebol inglês”, declararia em 2006 ao jornal Independent (em entrevista na qual se mostrou satisfeito por Luiz Felipe Scolari ter recusado a seleção inglesa: “eu não gosto dele, não tem mente ofensiva. É um destruidor do futebol, acho, e ganhou a Copa do Mundo só porque é impossível parar o Brasil de jogar assim”).

O barbudo já havia sido decisivo nas semifinais contra o Wolverhampton: normalmente travadas em jogo único em campo neutro, a primeira terminou empatada em Hillsborough (Sheffield), forçando uma segunda. Foi em pleno Highbury, casa do Arsenal, o grande rival dos Spurs. “Cada criança do norte de Londres faltou na escola”, exaltou o The Biography of Tottenham Hotspur. Ricky fez o terceiro gol, um golaço de 30 jardas. Inicialmente, porém, ele não deixou boa imagem nas finais contra o Manchester City. Também foram necessários dois jogos após empate com prorrogação ser o resultado do primeiro. Em 9 de maio, Villa, ao ser substituído, saiu diretamente aos vestiários. O capitão Steve Perryman sugerira que Burkinshaw não voltasse a escalar Ricky.

Perryman, desde 1969 e remanescente do título na edição inaugural da Copa da UEFA (atual Liga Europa, em 1972), já era uma lenda no White Hart Lane bem antes de sedimentar-se como recordista até hoje de jogos pelos Spurs. Mas o treinador declararia que um sexto sentido, ao ver a tristeza do argentino, o fez perdoa-lo: “Ricky, levante a cabeça. Você vai jogar na terça-feira”. O jogo quase fora desastroso mesmo; os Citizens abriram o placar em um típico chuveirinho, ameaçando o retrospecto invicto dos Spurs em finais. O empate veio com muita sorte, em falta de Hoddle que desviou em um infeliz adversário (o mesmo que havia feito o gol!), que marcou contra.

Aquela foi a primeira partida de um clube inglês transmitida ao vivo para a Argentina. Na segunda final, o marcador foi aberto em jogada hermana: Ardiles carregou pela esquerda e tentou um chute de fora da área. A bola pegou em Villa e no colega Steve Archibald, que pôde aproveitar a sobra para tentar também. O goleiro rebateu. A bola resvalou em outro oponente e sobrou para Ricky, prestes a presentear seu próprio aniversário de 29 anos – a partida se deu quatro dias antes do bolo, em 14 de maio de 1981.

Villa fez gol na estreia pelo Tottenham, sobre o poderoso Nottingham Forest. Mas só conquistou os Spurs graças à final contra o Manchester City em 1981

Ardiles, em sua autobiografia à venda na loja do White Hart Lane, escreveu sobre o lance que “em minha opinião, foi o gol que mudou a vida de Ricky. Eu digo que o gol foi fácil porque a bola estava quicando quase sozinha na frente de um gol vazio. Mas do jeito que as coisas estavam na época, se ele perdesse essa facilidade, se a bola misteriosamente desviasse para fora, Ricky poderia sentir-se tão diferente. Em vez disso, o jeito que a bola entrou encheu-o de confiança. Eu repito bastante essa palavra, porque eu penso que é fundamental. Às vezes um jogador medíocre com muita confiança é melhor que um Maradona perdendo autoestima. Um primeiro gol gera confiança para o resto do time também, mas nessa noite particular eu acredito que aquele gol cedo foi o que impulsionou Ricardo Villa”. O City, porém, virou. Já no segundo tempo, veio o empate londrino, de Garth Crooks.

Villa virou seis minutos depois, quando faltavam menos de quinze para o fim da partida. Recebeu na meia-esquerda e correu. Na grande área, passou por Tommy Caton e Ray Ranson, mas ia perdendo ângulo. Villa então levou a bola para o meio, voltando a se esquivar de Caton e concluiu entre as pernas do goleiro Joe Corrigan para se presentear – a final foi três dias antes do seu 28º aniversário. “Ele era um vencedor de Copa do Mundo, mas ele sempre disse que não se sentia que ele realmente havia jogado para vencer a Copa. Mas esta vitória em Wembley pela FA Cup era verdadeiramente dele”, escreveu Ardiles em seu livro. Contamos a história daquele título neste outro Especial.

O Tottenham venceria também a FA Cup seguinte, com direito a eliminar no caminho o rival Arsenal, além de chegar às semifinais da Recopa Europeia com um 6-1 agregado no Ajax com ambos os hermanos marcando… Mas muita coisa mudou para a pior naquele espaço de um ano. Eclodiu a Guerra das Malvinas. Villa, o herói de 35 anos atrás, pediria para não jogar a final: “Ossie saiu para jogar no Paris Saint-Germain, mas eu fiquei. E eu fui criticado nos jornais argentinos. Eles diziam ‘Ricky está feliz no país inimigo’. Filhos da puta imbecis. Eu era profissional, eu tinha um contrato, e pessoas aqui me tratavam muito bem. Às vezes eu era vaiado, mas isso era tudo. Um jogador inglês em Buenos Aires na mesma época poderia nunca ter ficado. Era fácil para mim ficar aqui. Mas não foi difícil decidir não jogar a final da FA Cup de 1982. Eu sabia o que a história diria estando eu certo ou não”, declarou na entrevista ao Independent – uma de suas filhas nasceria na Inglaterra, tendo dupla cidadania.

A torcida continuou idolatrando-os, gritando “Argentina! Argentina!” no dia seguinte à invasão – justamente um jogo decisivo contra o Leicester City, pelas semifinais da FA Cup, décadas antes de ambos disputarem a Premier League de 2015-16. Villa ficou mais uma temporada em Londres, dali rumando ao Fort Lauderdale Strikers, da moribunda NASL, e ao Deportivo Cali, do forte narcofútbol colombiano da época, até aportar em 1986 como grande reforço da temporada de estreia do Defensa y Justicia. Eram tempos bem mais modestos aos auriverdes, ainda um clube satisfeito com o ascenso argentino.

Ricky ficou por três temporadas no clube de Florencio Varela, pendurando as chuteiras após a eliminação nas quartas-de-final de 1988-89. Em 2008, ele e Ardiles foram introduzidos no Hall da Fama do Tottenham. Em 2017, antes do último North London Derby contra o Arsenal no velho White Hart Lane (logo demolido), ambos estiveram entre os convidados de honra do clube treinado pelo também argentino Mauricio Pochettino.

Ontem, outro campeão de 1978 fez 70 anos: o defensor titular Jorge Olguín, quem mais defendeu a Argentina vindo do San Lorenzo. Clique aqui e veja.

Trio argentino no Tottenham: Ardiles e Villa visitando Pochettino, na ocasião do último clássico com o Arsenal antes da demolição do White Hart Lane

https://twitter.com/SpursOfficial/status/858229392522137600

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

4 thoughts on “70 anos de Ricardo Villa, campeão da Copa 1978 e dono do gol mais bonito de Wembley

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