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Marcelo Bielsa e Newell’s: uma era que terminou há 25 anos

Hoje, completam-se 25 anos do capítulo final do Newell’s sob Marcelo Bielsa. Ou, quem sabe, sob a primeira passagem de Marcelo Bielsa. Com esta inspiração, vale atualizar este Especial publicado em 2012 sobre o que representou para ambos aquilo que se passou entre julho de 1990 e 5 de julho de 1992 para os lados do Parque Independencia.

Bielsa antes de 1990

A obsessão “científica” de Marcelo pelo futebol, com suas táticas aprimorando o rendimento de elencos sem maiores estrelas, lhe renderia o apelido de El Loco, que lhe cairia bem por outros motivos: sua família é renomada em Rosario, inserida na história acadêmica e mesmo política da região (sua irmã María Eugenia, por exemplo, foi vice-governadora de Santa Fe de 2003 a 2007). Escolher virar jogador de futebol, mesmo que no clube do coração dos Bielsa, foi de grande desgosto para seus entes mais conservadores, o que incluiu seu pai (Rafael Pedro Bielsa, nome de uma das salas da Faculdade de Direito da Universidade de Rosario).

Não ajudou muito o fato de o zagueiro Marcelo Alberto Bielsa ter sido um jogador medíocre. Ele só conseguiu ser chamado para a seleção argentina pelo time olímpico. E isto porque o selecionado foi composto precisamente por atletas do Newell’s ainda não chegados ao time profissional. Foi para tentar um lugar nos Jogos de 1976, mas a vaga sul-americana em Montréal ficou com o Brasil.

Bielsa, naquele mesmo 1976, profissionalizou-se, começando uma malograda carreira encerrada apenas quatro anos depois e ainda aos 25 anos de idade, no pequeno Argentino de Rosario, depois de ter defendido também o Instituto de Córdoba. Aos 27, já começava a dar ordens à beira do gramado, no time de futebol da UBA, a Universidade de Buenos Aires. No meio da década de 80, conseguiu um chamado do seu querido clube, para trabalhar nas categorias de base rubronegras.

Marcelo Bielsa como jogador do seu Newell’s Old Boys, nos anos 70

Prólogo sobre o Newell’s

O NOB vinha indo bem. Sob seu ex-jogador Jorge Solari, foi bivice-campeão nacional consecutivo nos campeonatos de 1985-86 e 1986-87. Como este foi dramaticamente perdido para o arquirrival Rosario Central, El Indio Solari, às turras com a falta de apoio dos barras, retirou-se. A garganta leprosa desentalou o grito de campeão uma temporada depois, com José Yudica como treinador em 1987-88. Dentre as revelações, o jovem Abel Balbo. Tanto ele como seu reserva Gustavo Dezotti iriam à Copa do Mundo de 1990, assim como o beque Néstor Sensini.

Ainda em 1988, mesmo já sem Balbo, Dezotti e Sensini, o time foi ainda mais longe, chegando a um vice-campeonato na Libertadores. No mesmo ano, Bielsa conseguiu um título argentino juvenil na categoria que treinava. Todavia, nas duas temporadas seguintes, o grupo de Yudica ficou apenas na décima segunda colocação em ambas. Os dirigentes entenderam que uma renovação precisava ser feita e recorreram àquele técnico que vinha fazendo sucesso com os juvenis, alguns dos quais bem integrados aos profissionais após indicações dele.

O objetivo inicial seria equilibrar um promedio que vinha caindo, e assim afastar o risco de rebaixamento. “Olhe, Marcelo, o importante é manter o Newell’s na primeira. O resto, iremos vendo mais à frente”, declarou-lhe o próprio presidente leproso, Mario García Eirea. El Loco foi promovido em julho de 1990. Do vitorioso elenco pré-Bielsa, algumas peças importantes já haviam ido embora.

Os retirantes, além de Balbo, Dezotti e Sensini, incluíam também desde um jovem Gabriel Batistuta ainda visto com reservas – não pelo técnico – até jogadores de fatos ídolos leprosos, como os zagueiros Jorge Theiler e Jorge Pautasso, o lateral-direito Fabián Basualdo, o lateral-esquerdo Sergio Almirón (campeão mundial em 1986), o volante Juan José Rossi, o meia Roque Alfaro e os atacantes , Ariel Cozzoni e, sobretudo, Víctor Ramos, o maior artilheiro da história do NOB.

A agonia de esperar pelo resultado final do jogo do River Plate e as comemorações leprosas no estádio do Ferro, ao fim do Apertura 1990

Dos que ficaram, boa parte era de jovens recém-promovidos, alguns pinçados dos juvenis que Bielsa dirigia. Os substitutos de Basualdo e Almirón, respectivamente Julio Saldaña e Eduardo Berizzo, haviam sido lançados apenas no ano anterior, bem como o zagueiro Mauricio Pochettino (o celebrado treinador do Tottenham ainda tinha 16 anos em 1989). A eles, se juntaram em 1990 o atacante Cristian Ruffini, e, no ano seguinte, Cristian Domizi. Fernando Gamboa já se vestia profissionalmente de sangre y luto desde 1987, mas só tinha 20 anos quando o novo treinador assumiu.

De veteranos, seguiam o trio de jogadores com mais partidas pelo Ñuls: Gerardo Tata Martino (509), então um refinado volante que nem imaginava um dia treinar a seleção e o Barcelona, o goleiro Norberto Scoponi (408) e o também volante Juan Manuel Llop (403), todos com dez anos de clube, ou entrando neles. Outro remanescente do título de 1988 foi o zagueiro Miguel Fullana. O único reforço foi o atacante Julio Zamora, que regressava após não ter dado certo no futebol espanhol. Outro a retornar seria Ariel Cozzoni, que saíra em 1990, mas voltaria já no ano seguinte.

Campeonato de 1990-91

A temporada que começaria no mês seguinte traria uma novidade: Apertura e Clausura, até então os turnos do calendário ao estilo europeu introduzido no futebol argentino em 1985, passariam a ser campeonatos separados. O título ficaria com o vencedor do tira-teima entre os primeiros colocados de cada turno, a não ser que ambos fossem faturados pela mesma equipe.

O início foi irregular. Bons resultados como vitórias fora de casa por 3-1 no Unión e 5-1 no Chaca For Ever, além de dois 1-0 caseiros sobre Independiente e Platense contrastavam com duas quedas em Rosario: o Huracán, recém-promovido da segunda divisão, venceu por 2-1 na terceira rodada e o River, por 1-0 na sétima. Estas seriam justamente os únicos reveses da campanha no Apertura 1990.

Os onze da finalíssima na Bombonera: Berizzo, Martino, Scoponi, Pochettino, Garfagnoli e Fullana; Saldaña, Domizi, Llop, Cozzoni e Zamora

A certeza de que os jovens poderiam ser protagonistas veio logo após a derrota para o River. Ainda não totalmente firmado no cargo, o jovem técnico desabafou com seu irmão mais velho, Rafael Antonio (que seguira o “modelo” familiar, chegando a ser chanceler da Argentina entre 2003 e 2005): se o Newell’s marcasse cinco gols na oitava rodada, Marcelo cortaria um dedo da mão. “Lhe vi tanta ferocidade nos olhos, tanta deliberação, tanta solidão”, dramatizou (ou não) Rafael em um livro seu, no capítulo “Los dedos de mi hermano”.

A partida em questão nada mais era do que um clássico rosarino. Além disso, seria disputada no Gigante de Arroyito, que não conhecia derrotas do Rosario Central para o arquirrival desde o dérbi de Héctor Yazalde, em 1980. Para arrematar, os auriazuis eram os líderes e estavam invictos no Apertura. Para o alívio de Rafael Antonio Bielsa, os visitantes marcaram “apenas” quatro gols, o que não o impediu de viajar a Rosario para conferir as mãos do irmão caçula. A preparação para o cotejo chegou a incluir o treinamento de 32 variações para arremessos de laterais.

A vitória teve a marca de Marcelo, com seu time asfixiando o adversário no campo de defesa deste, roubando-lhe a bola, anulando os criadores do oponente e entregando-se em uma frenética correria, cobrindo todos os espaços. Os três gols do Central só saíram de bola parada, com duas faltas e um pênalti convertidos por David Bisconti, só servindo para abafar momentaneamente as comemorações dos rubronegros, que em momento algum ficaram atrás do placar. Gamboa, Zamora, Ruffini e Lorenzo Sáez anotaram os gols dos vencedores.

O triunfo sobre os canallas ainda seria seguida por três empates em 1 a 1, dois deles no Coloso del Parque, contra Gimnasia LP e Vélez, outro forte na briga pela liderança (terminaria em terceiro). Então veio a série de vitórias: foram seis nas oito rodadas que passavam a restar. Deportivo Español, Lanús, Racing, Deportivo Mandiyú, Boca e Estudiantes caíram, e um empate contra o Talleres em um sempre duro confronto fora de casa contra os cordobeses colocaram o Newell’s na liderança para a última rodada. O único concorrente era o River, um ponto atrás.

Cenas no lamaçento Newell’s x Boca na Bombonera, na decisão da temporada 1990-91

Os millonarios, além do peso da camisa, eram detentores do campeonato de 1989-90 e, ainda em 1990, só caíram nas semifinais da Libertadores. Seu último compromisso seria em casa, contra um Vélez já fora da disputa havia algumas rodadas. O goleiro velezano era o antigo mito riverplatense Ubaldo Fillol, que havia marcado a aposentadoria para o fim do certame. O NOB, para não depender do resultado alheio, teria que vencer o San Lorenzo em Buenos Aires, no campo do Ferro Carril Oeste (o adversário continuava a não ter cancha própria desde 1979).

Ruffini abriu o placar para os rosarinos aos 17 do primeiro tempo, em um belo chute a trinta metros do gol. Só que os inexperientes comandados do Loco sentiram a pressão e, de forma atípica, recuaram. E o San Lorenzo, que ficaria apenas em décimo primeiro, empatou com Flavio Zandoná. O desespero dos líderes era aparente no final, com qualquer bola em sua área sendo repelida aos chutões.

O jogo ficou no 1-1 e um afoito Bielsa não conseguiu ficar no Estádio Arquitecto Ricardo Etcheverri para acompanhar seus comandados nas notícias transmitidas de Núñez. Estes próprios não conseguiam saber o que se passava no Monumental, pois o zagueiro Fabián Garfagnoli, com o rádio no ouvido, não repassou nada dos minutos restantes do concorrente, para o enlouquecimento dos colegas: “Gringo, decí algo, carajo!”. Ele continuou mudo por seis minutos, até tirar a camisa e começar a correr. O River conseguira perder por 2-1, com Fillol tornando-se carrasco ao defender um pênalti do ex-clube. O técnico estava atravessando a rua do estádio quando enfim pôde comemorar:

“Sofremos. Mas parece que o Newell’s não seria Newell’s se não sofresse. Fui caminhar por fora do estádio como uma espécie de fetichismo que precisava. Quando escutei o grito da gente, senti a alegria mais grande da minha vida. É que faz vinte e cinco anos que estou no Newell’s e adoro este clube. Alguém (…) às vezes se pergunta por que o jogo é tão desgastante, por que exige tanto. E a resposta, temos em vista: porque dá tudo isso (em troca). Tomara que eu tenha energia para seguir festejando”.

 
Scoponi defendendo o pênalti de Graciani e Bielsa carregado, com as luzes da Bombonera já apagadas

A marcha foi reduzida para o Clausura 1991. Foram apenas seis vitórias – incluindo outros quatro gols no Central, que daquela vez perdeu a zero – em dezenove compromissos e um oitavo lugar. O Boca, contando com um Batistuta enfim triunfante, venceu o returno com sobras e, melhor embalado, foi para o tira-teima sedento para, depois de dez anos (desde o maradoniano Metropolitano de 1981), voltar a ser campeão argentino. Já era o maior jejum doméstico do mais popular clube do país.

O reencontro decisivo de Batigol contra o antigo clube, porém, não ocorreu. As duas partidas da final aconteceriam em meio às disputas da Copa América. A Argentina havia recrutado ele e sua dupla, Diego Latorre – para o lugar deles, foram acertados os empréstimos de Gerardo Reinoso e do brasileiro Gaúcho (artilheiro da Libertadores daquele ano pelo Flamengo), personagem dos mais achincalhados até hoje pela torcida. Pela mesma razão, o Newell’s estaria desfalcado somente de Gamboa e do meia Darío Franco. Por outro lado, o quadro de Rosario vinha de cinco partidas sem vencer, incluindo um 1-0 para o próprio Boca na antepenúltima rodada. E teria que encarar a Bombonera no jogo de volta das finais.

Os dois jogos não foram dos mais técnicos, marcados mais pela entrega e pernas fortes. A Lepra venceu por um magro 1-0 no Coloso, gol de El Toto Berizzo, e segurou o empate sem gols em Buenos Aires até os últimos oito minutos, quando enfim Reinoso devolveu o placar, não alterado na prorrogação e assim encaminhando a decisão para os pênaltis. Aí, foi a vez de El Gringo Scoponi brilhar. Ele retomou a tranquilidade para os batedores do NOB ao defender a primeira cobrança da série, do xeneize Alfredo Graciani, que estava despedindo-se do Boca.

Berizzo emendou novo festejo ao converter o seu e abrir o escore. Título que ficou mais perto dos visitantes quando o goleiro leproso defendeu o penal de Claudio Rodríguez. As contínuas conversões rosarinas (Llop e Zamora) nas metas de Carlos Navarro Montoya obrigaram o próximo chutador bostero a converter a penúltima cobrança para manter as pequenas chances auriazuis. Só Blas Giunta, no terceiro pênalti, havia convertido para eles, e por bem pouco Scoponi também não o defendeu.

Walter Pico, porém, chutou por cima do travessão. E, assim, em 9 de julho de 1991, Bielsa, logo em sua primeira tentativa como técnico, inaugurava uma era juntamente com a formação Scoponi; Saldaña, Fullana, Pochettino e Berizzo; Llop, Martino, Domizi e Garfagnoli; Cozzoni e Zamora. Apenas Fullana (que ocupou o lugar de Gamboa) ficaria de fora na escolha dos maiores ídolos do NOB feita pela El Gráfico em edição especial de março de 2012. Edição esta que conteve o zagueiro Juan Simón, que defendera o Newell’s no início dos anos 80 e que agora estava no Boca. Só que Simón era e é torcedor justamente do Rosario Central, assumindo que teve uma crise de choro na semana inteira seguinte à derrota.

Clausura e Libertadores de 1992

 
“A moda Newell’s”, “O país fala do Newell’s”, manchetes daquele primeiro semestre de 1992, recheado de vitórias no San Lorenzo

Em 1991, o Newell’s funcionara a todo vapor “apenas” na hora mais importante, naquele tira-teima frente o Boca Juniors. Isto porque, no Apertura, ficou dez posições atrás do modesto oitavo lugar no Clausura, na antepenúltima colocação. O Apertura 1991, por sinal, inaugurava outra novidade: a partir dele, cada turno passou a valer efetivamente como um título em separado, fórmula adotada na Argentina até 2014.

A constância de vitórias que faltara em 1991 voltaria bem no primeiro semestre do ano seguinte, provavelmente o melhor período curto da história leprosa. O elenco não mudou muito, recebendo os acréscimos do antigo ídolo Julio Rossi, o recém-promovido Alfredo Berti e o paraguaio Alfredo Mendoza.

Na Libertadores, após a vexaminosa estreia (um 6-0 para o San Lorenzo dentro de Rosario), o clube foi emendando bons resultados, conseguindo uma invencibilidade de quatorze jogos, com direito a eliminar o próprio San Lorenzo, nas quartas-de-final. Sobre a campanha na Libertadores, já dedicamos este outro especial.

Mesmo com os compromissos em La Copa, o gás foi o mesmo no Clausura 1992. Posturas como a feita na terceira rodada, no uso de reservas no clássico rosarino, acabariam rareando conforme o time não saía das primeiras colocações, resolvendo arriscar uma possível dupla coroa semestral. O dérbi, por sinal, é bem lembrado à parte: pela Libertadores, o Newell’s jogara em 6 de março e no dia 9 entraria em campo no Chile, contra a Universidad Católica. O pedido para adiamento do jogo contra o Rosario Central, programado para o dia 8, não foi aceito.

O time no Morumbi, na final da Libertadores: Berizzo, Martino, Scoponi, Gamboa, Pochettino e Saldaña; Berti, Lunari, Llop, Zamora e Mendoza

Apenas Llop e Rossi, dos titulares, seriam usados contra o Central. Mesmo assim, a vitória rubronegra veio. 1-0, gol de cabeça de Domizi após escanteio cobrado por Rossi, logo aos 11 do primeiro tempo. No restante da partida, os comandados de Bielsa ficaram apenas no contra-ataque, ajudados pela ineficácia dos treinados por Eduardo Solari (irmão de Jorge) em completar três passes seguidos. Inconformada, a torcida centralista iniciou confusões que obrigaram o árbitro a encerrar a partida antes dos 90 minutos, decretando o 8 de março como o dia da paternidad (freguesia) canalla.

O único momento de inflexão na caminhada ocorreu entre a sétima e a décima rodada, com três empates, dois deles como mandantes (contra Vélez e Deportivo Español, e outro visitando o Deportivo Mandiyú), em quatro jogos, momento em que a Lepra finalizava a primeira fase e ia passando pelas oitavas-de-final da Libertadores.

Os rosarinos foram para as quartas-de-final após, pelo Clausura, emendarem um 2-1 no Huracán com um sonoro 5-0 no River em pleno Monumental de Núñez, com dois gols de Ricardo Lunari e um de Berti, Gamboa e Lukas Tudor em dia de polêmica arbitragem de um certo Javier Castrilli, a expulsar diversos jogadores do time da casa e o técnico Daniel Passarella. Entre as duas partidas das quartas contra o San Lorenzo, que também caiu de 5 (a 1), arrancou-se um 1-1 contra o Boca na Bombonera, gol de Mendoza para os visitantes.

Três dias depois de se classificar para as semifinais, Pochettino fez o gol da vitória sobre o Independiente. O Newell’s, em todos os sentidos, vinha se metendo entre os grandes do futebol argentino (o Racing caíra na quarta rodada, após o clássico rosarino). A única derrota no Clausura viria em 7 de junho. As semifinais da Libertadores já haviam sido ultrapassadas e a primeira partida da decisão contra o São Paulo seria dali a três dias. O elenco reserva do NOB foi a La Plata e perdeu por 1-0 para o Estudiantes.

Festejos pelo título do Clausura 1992, em 5 de julho

O compromisso seguinte no Clausura só viria depois das finais continentais. No dia 17 de junho, o título sul-americano depois de dois 1-0 caseiros para cada lado, acabaria perdido nos pênaltis para os brasileiros. A imagem de derrotados ficou no país vizinho. Três dias depois de desembarcar em Ezeiza, os rosarinos voltaram a deixar o San Lorenzo no ridículo. O adversário, ainda sedento por sua primeira Libertadores (ainda mais por ser o único grande argentino sem tê-la), havia sido eliminado dentro de Buenos Aires pelos leprosos nas semifinais de 1988 e nas quartas-de-final de 1992 da competição.

Em 21 de de junho, gols de Berti, Mendoza e Zamora em nova visita aos azulgranas mantinham as boas recordações a sobre estes (que, vale lembrar, foram também o oponente do jogo que assegurara o Apertura 1990). Se a Libertadores já não estava mais ao alcance, o campeonato argentino não escaparia. Até porque havia o estímulo de empatar com as quatro conquistas já obtidas pelo arquirrival Rosario Central. E, de fato, o título seria assegurado antes da última partida.

Quem seguia na cola dos vice-campeões sul-americanos era o pequeno Deportivo Español, que vivia boas épocas. Quando ele empatou no dia 3 de junho contra o Racing em Avellaneda, viu suas chances acabarem. Era o último compromisso do Español, que precisava vencer e torcer pela derrota dos homens de Bielsa dois dias depois. Isso estimularia ainda mais que 14 mil torcedores do Ñuls tomassem o estádio do pequeno Platense, na cidadezinha de Vicente López, para celebrarem naquela derradeira rodada o que sabiam ser uma festa de despedida.

El Loco já havia acertado sua ida para treinar o Atlas (por sinal, um time com uniforme de cores e desenho idênticos ao do NOB), da mexicana Guadalajara, e ainda naquela década chegaria à seleção argentina. O Clausura fora vencido com uma derrota (e com reservas) em dezenove jogos, nos quais foram sofridos apenas oito gols. O Rosario Central virara freguês e estava igualado em títulos nacionais, com a diferença que a Lepra possuía mais prestígio internacional.

Com isso, os rubronegros colocavam-se como nunca como sérios postulantes ao rótulo de “sexto grande” do futebol argentino, atraindo até Diego Maradona para as suas fileiras em 1993. Dois títulos caseiros podem parecer bem pouco, mas eles e todo o contexto por trás foram o suficiente para que o Coloso del Parque fosse nomeado oficialmente, em 2009, como Estádio Marcelo Bielsa.

El Loco Bielsa às lagrimas, recebendo um troféu e uma miniatura do Coloso del Parque, no dia em que o estádio leproso passou a levar oficialmente o nome do técnico

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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