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Antes de Sebastián Beccacece, Independiente e Racing já tiveram treinadores em comum

Beccacece – à direita, em sua primeira imagem oficial pelo Racing

Sebastián Beccacece, já dado há alguns dias como fechado com o Racing e com a apresentação oficial adiada de ontem para hoje, enfim foi oficializado pela Academia dois meses após encerrar vínculos com o grande rival racinguista, o Independiente – onde não conseguiu emplacar o desempenho visto por seu Defensa y Justicia vice para o próprio Racing no início do ano, na Superliga de 2018-19. A situação é incomum, mas longe de ser inédita. A dupla de Avellaneda não só já compartilhou outros técnicos antes como houve previamente quem virasse a casaca em um mesmo ano. O que jamais aconteceu é de um treinador trabalhar em ambos em um mesmo campeonato, como ocorrerá com “BK7” na Superliga de 2019-20. Vale assim listar seus antecessores.

Guillermo Stábile: ele não foi “só” o artilheiro da primeira Copa do Mundo, em 1930. Stábile é o técnico com mais jogos, anos e títulos à frente da seleção argentina, trabalho que iniciado no início dos anos 50 e mantido por anos a fio até o desastre na Copa de 1958. El Filtrador ainda conciliava o cargo na Albiceleste com trabalho em clubes, onde teve mais êxito à frente do Racing, onde esteve de 1946 a 1953: é o técnico mais longevo da Academia também. No período, encerrou em alto estilo um jejum que perdurava desde 1925, fazendo da Acadé a primeira equipe tricampeã seguida no profissionalismo, entre 1949-51, além de brigar pela taça também em 1948, 1952 e 1953.

Stábile, que já havia treinado a dupla Huracán e San Lorenzo (no mesmo ano, 1939!), apareceu no Independiente em 1960, meses após um breve regresso à seleção – recuperando alguma honra ao levantar o Pan-Americano. O Rojo, curiosamente, atravessava seu maior jejum, doze anos. José Curti começara o ano treinando o clube e no decorrer do torneio terminou substituído por uma dupla técnica formada por Stábile e Roberto Sbarra. Eles tiveram êxito e devolveram o time ao título. Ainda que na prática Stábile fosse mais um assistente, é o único treinador campeão na dupla de Avellaneda – outro feito ofuscado por aquela artilharia. Beccacece será inclusive o primeiro vira-casaca na função desde Stábile a jamais ter defendido ao menos um da dupla como jogador.

Humberto Maschio: meia-direita treinado por Stábile na seleção campeã da Copa América de 1957, o Racing terminou por vendê-lo ao futebol italiano. Na época a Argentina não convocava quem jogasse no exterior e El Bocha terminou adotando a seleção italiana, pela qual foi à Copa de 1962. Voltou ao Racing (time do seu coração, devido a uns tios) em 1966 a tempo de enfim ser campeão argentino no clube – para então participar também da Libertadores e do Mundial vencidos em 1967. Parou de jogar após a perda do Nacional de 1968 e uma semana depois já começava com tudo sua carreira de técnico: na seleção. Mas na bagunça da AFA durou só quatro jogos, ainda que invicto. Foi o primeiro dos quatro técnicos que o Racing teve no complicado ano de 1971, em que a 11ª colocação era a pior de sua história até então. Após exilar-se na amadora seleção da Costa Rica, foi repatriado pelo Independiente.

Maschio (à direita, na terceira foto, com Gustavo Costas) e Dellacha foram ambos ídolos como jogadores do Racing que, sem êxito como técnicos no clube, treinaram elencos campeões da Libertadores pelo rival Independiente

Campeão da Libertadores anterior, o Rojo adentrou já no triangular-semifinal da edição 1973. Sem muito tempo para trabalhar no plantel, Maschio notabilizou-se mais por saber mesclar as figuras já carimbadas com as revelações Daniel Bertoni e Ricardo Bochini, logrando o bi seguido – virando o primeiro campeão da Libertadores como jogador e técnico e um dos dois vencedores do torneio pela dupla (o outro, como jogador, foi Miguel Mori). Também levantaria a obscura Copa Interamericana ainda válida por 1972, mas não ficou para o Mundial, por um motivo prosaico: para preservar seus jogadores, lutou para que uma viagem fosse feita de avião, mas os cartolas bateram pé pelo ônibus e renunciou, após já não ter engolido uma suspensão interna após insistir contra os dirigentes em usar o próprio estádio para treinos. “Foi uma estupidez”, admitiu à El Gráfico em 2011. Maschio, que trabalharia ainda nos quatro grandes clubes cordobeses (Talleres, Belgrano, Instituto e o Racing local) e na dupla equatoriana LDU e Barcelona, brincou na mesma entrevista ao mesmo tempo em que lembrou de tempos sadios da rivalidade:

“Sempre gozo os do Independiente. Lhes digo: vocês foram campeões com Dellacha e comigo, dois ídolos do Racing, e também lhes fizeram campeões Cap e Brindisi, dois que jogaram no Racing. Assim como Pastoriza. Graças ao Racing, vocês foram campeões várias vezes. Os velhacos do Independiente não me queriam, havia algo de folclore, e me gritavam um pouco nos treinos. O torcedor do Racing me perdoa. Antes era outro espírito, outra coisa. Almoçávamos no Racing e íamos caminhando até o campo deles. E não em grupo, um a um. Ninguém te dizia nada. E terminava o jogo e voltávamos caminhando também. Os torcedores se misturavam, se zombavam, mas não acontecia nada. Nessa confeitaria onde estamos hoje, nos anos 60 e 70, se juntavam as torcidas do Racing e do Independiente. E daqui iam ao campo: os do Racing por uma vereda e os do Rojo, por outra. Não acontecia nada”. Foi no Rojo que Maschio adotaria uma peruca só abandonada em 1995, quando já estava de volta ao Racing, como espião de Brindisi (outro nome dessa lista). El Bocha ainda voltou a ser técnico da Academia como bombeiro na crise que quase extinguiu a instituição em 1999, em dupla com Gustavo Costas: “eu estava velho e precisava de alguém do lado. Dirigia Gustavo e eu lhe dava minhas opiniões. E ele punha a cara ante à imprensa e demais”.

Pedro Dellacha: ex-colega de Maschio no Racing e na seleção nos anos 50, onde atuava como defensor, Don Pedro del Area foi contratado no réveillon de 1971 para 1972 para ser simultaneamente técnico e preparador físico do Independiente. A resistência foi freada em seis meses, ao devolver o Rojo ao título da Libertadores em 1972. Também foi ele quem promoveu a estreia profissional do maior ídolo do clube, Bochini, ainda que o jovem tardasse até 1973 para começar a se firmar. A conquista rendeu-lhe convite para treinar o Celta de Vigo. Com créditos, reassumiu o Independiente em abril de 1975. O clube àquela altura emendara um tri seguido em La Copa e o ciclo parecia prestes a terminar, em campanha que começou bastante acidentada mas terminou gloriosa.

O recordista tetra seguido veio, mas o desleixo nos torneios domésticos em prol da cena internacional gradualmente minou a moral de Dellacha em 1976 a ponto de ele cair ainda antes de nova edição da Libertadores. Não tardou a atravessar a esquina, sendo o quarto e último técnico que o Racing teve naquele ano. O time não pôde avançar aos mata-matas do Nacional e já começou o ano de 1977 sob comando de Alfio Basile. Dellacha, curiosamente, também treinou a dupla San Lorenzo (1969-70) e Huracán – onde trabalhou de fevereiro a junho de 1986, sem evitar o primeiro rebaixamento quemero embora tenha promovido a reação que manteve as chances de permanência até o último jogo possível.

Pastoriza é tão ligado ao Independiente (até falecendo como técnico do clube) que isso ofusca suas passagens decentes como jogador e técnico do Racing

José Omar Pastoriza: ele foi vira-casaca em Avellaneda tanto como jogador como também como treinador. Indagado sobre como não morrer no processo, ele brincou em 2002 que “as condições se deram em seu momento”. Revelado pelo Colón, El Pato chegou ao Racing em 1965, sendo um dos pilares da reação que tirou o clube da zona de rebaixamento rumo a um 6º lugar. Acabou lembrado para a Copa de 1966, para a qual chegou semanas após ser trocado com o Independiente pelo citado Miguel Mori. Ainda como jogador rojo, venceu sob o comando de Dellacha a Libertadores de 1972, logo passando ao Monaco. Em 1976, já com as chuteiras penduradas, sucedeu o ciclo de Dellacha no comando do Independiente. Foi o primeiro dos diversos ciclos de Pastoriza por lá; desavenças com Bochini pesaram para que saísse ao fim de 1979 após dois títulos argentinos, por 1977 (um épico) e 1978, e uma Interamericana ainda em 1976, válida por 1975. Em 1981, Pastoriza voltou ao Racing e negou em 2002 que isso fosse uma nova traição: “não, sou profissional, tenho que ir onde me contratem. Não sou torcedor, sou torcedor do momento”.

Com peito para barrar no gol a veterana lenda Agustín Cejas, teve um desempenho honroso no Metropolitano: o 5º lugar foi a colocação mais alta que a Academia teve entre o vice de 1972 e o 3º em 1988, mas então sobreveio uma lanterna no Nacional. Ele reassumiu o Independiente em 1983 e pôde de imediato ser campeão argentino (o time vivia jejum desde o troféu de 1978) justamente em um Clásico de Avellaneda contra um Racing já rebaixado pelos promedios das péssimas temporadas que fizera sem El Pato em 1982 e naquele 1983. Técnico boleiro, entusiasta de churrascos para entrosar o grupo, entrou para o grupo dos campeões da Libertadores como jogador e técnico ao levantar a edição de 1984 – ainda a última do Rey de Copas, faturando em seguida também o segundo Mundial do clube. De olho nisso, o Fluminense contratou-o em 1985, mas o argentino, descontente com promessas não cumpridas no Rio, voltou ao Rojo para um novo ciclo. Ficou até 1987 e ainda teria outros entre 1990-91 e em 2004, quando faleceu em pleno exercício do cargo. É no Independiente o recordista de jogos, títulos e passagens na função.

Carlos Fren: é o outro único doblecamiseta em Avellaneda como jogador e técnico. Revelado no Argentinos Jrs dos anos 70 como um meia, desenvolveu ali uma parceria com Maradona. Em 1978, integrou sob Pastoriza o Independiente campeão nacional e permaneceu ali até 1981. Foi considerado um dos cem maiores ídolos do clube em edição especial da revista El Gráfico publicada em 2011, embora virasse a casaca para defender o Racing em 1982. Pendurou as chuteiras nas divisões de acesso em 1985. Para a morna temporada 1991-92, estava de volta ao Independiente em uma dupla técnica com Bochini – eles sucederiam Pastoriza, justamente. Reencontrou Maradona em 1994: suspenso dos gramados por quinze meses após o doping na Copa do Mundo, Dieguito usou esse tempo para suas primeiras experiências como técnico e ambos fizeram uma dupla técnica no Deportivo Mandiyú no Apertura. Apesar da falta de resultados, a parceria foi contratada pelo Racing para o Clausura 1995, onde igualmente não lograram êxito, embora a desculpa pela saída tenha sido a não-reeleição do presidente que os contratara. Já os outrora parceiros estão pessoalmente rompidos há longa data.

Pedro Marchetta: “meu pai era torcedor do Boca, minha mãe do Independiente e eu me fiz do Racing por uns vizinhos”, explicou em 2016. Marchetta pôde defender o clube do coração no início dos anos 60, mas a falta de comprometimento fez a diretoria repassa-lo ao Gimnasia antes do período glorioso do fim da década. Restou a amizade com o beque Alfio Basile e Marchetta viraria seu assistente contínuo a partir do ótimo trabalho no Racing de Córdoba vice nacional em 1980. Como Maschio, ele terminaria trabalhando também no rival Instituto e na dupla cordobesa principal (Belgrano e Talleres). Lançou carreira solo no Los Andes em 1983 e ainda voltou ao Racing cordobês antes de seu grande êxito, quando tirou o Rosario Central da segundona em 1985. O primeiro passo como treinador do Racing original, de Avellaneda, veio em 1989, sucedendo exatamente Coco Basile. “Aí estive mal eu, acabava de me separar da minha primeira mulher, a que havia sido minha namorada desde os 14 anos”. Mesmo sendo um confesso torcedor racinguista, Marchetta, bem avaliado por Julio Grondona, foi procurado pelo Independiente para a temporada 1992-93.

À esquerda, Bochini e Fren são perseguidos pelo encoberto Maradona. E o barbudo Fren faria dupla técnica com Bochini em um e com Maradona no outro

“Me ultraxingavam. Dizem que a tribuna San Martín do Monumental é a mais difícil do mundo; eu te digo que a pior é a do Independiente. E isso que estivemos 22 jogos invictos, heim. Lembro de um homem em cadeira de rodas, que ia a todos os jogos e perdendo, empatando ou ganhando, me gritava: ‘o que você sabe fazer, negro torcedor do Racing?’. Um dia, depois de ganhar de 2-1 do San Lorenzo, cansei e respondi: ‘sabes o que sei fazer, paralítico da b… da tua mãe? Sei pular, veja, pule se você pode’, e fiquei pulando na frente dele. Que loucura, por Deus! Fiquei péssimo”. Vice no Clausura 1993, causou surpresa ao pedir para sair faltando quatro rodadas para o fim do Apertura 1993, onde o Rojo estava de novo no páreo pelo título – ficaria a dois pontos do River. O torneio fora pausado em dezembro essas quatro rodadas só seriam retomadas a partir do fim de fevereiro, e nesse ínterim Marchetta foi seduzido a voltar ao Rosario Central. Em meados do Clausura 1995, Marchetta foi chamado de volta pelo Racing, para substituir a dupla Maradona-Fren. Aguentou até novembro. Na mesma entrevista de 2016, foi perguntando como ele fez para vivenciar esse vaivém sem ser xingado e refutou: “no Racing te xingam sempre, é por sistema. Eu catalogo a torcida do Racing de histérica”.

Miguel Ángel Brindisi: como jogador, chegou a ter o recorde de jogos pela seleção e brilhou por Huracán e como parceiro de Maradona no Boca. No fim da carreira, reforçou o Racing na segunda divisão de 1984, sem evitar a perda do acesso na final com o Gimnasia LP. O passado racinguista não foi um problema para o Independiente contrata-lo em 1993, substituindo exatamente Marchetta. “Eu não havia trabalhado nunca antes como técnico na Argentina, salvo um pequeno passo pelo Alumni de Villa María, em Córdoba, mas conhecia a história do clube e a ela me aferrei”, contou em 1994 à El Gráfico, após embalar com o Rojo na reta final do vitorioso Clausura. Foi a primeira taça do time desde 1989 e ela logo seria emendada com a da Supercopa, levantada após diversos jogos em alto nível contra três times brasileiros. No primeiro semestre de 1995, veio a Recopa, recolocando o clube à frente do Milan como maior vencedor de copas internacionais. Mas àquela altura já se vivia um fim de festa, com desmanche do elenco e desavenças com a diretoria. Curiosamente, tinha como assistente Carlos Squeo, ídolo da Academia nos anos 70 e seu ex-colega de seleção na Copa de 1974. Brindisi viria a ser outro a treinar os rivais em um ano – e foi o mais perto que conseguiu títulos pelos dois em um mesmo.

Após a saída de Marchetta e um comando interino de Rodolfo Domínguez, o Racing contratou Miguelito para as quatro rodadas finais do Apertura. O efeito foi imediato: 4-1 no Newell’s, 6-4 dentro da Bombonera sobre o então líder invicto Boca (de Maradona) e um 2-0 no Gimnasia fizeram a Academia chegar à rodada final com chances de título. O problema é que era preciso que o rival Independiente vencesse o Vélez e o Rojo ainda estava de ressaca pela conquista de nova Supercopa dias antes. O Vélez venceu de 3-0 e La Acadé tampouco fez sua parte, caindo por 5-1 para o Colón (jogos que fizeram 24 anos ontem, por sinal). “Me faltaram mais quatro jogos. Não tiro os méritos do Vélez, mas se conseguisse isso nesse plantel a coisa teria sido diferente”, lamentou já em 2002. Atraso nos salários o fizeram renunciar em 1996. Seu “duplo antecessor” Marchetta brincaria em 2014: “Miguel pegou o guardanapo e começou a comer. Eu fui duas vezes vice com o Rojo e ele ganhou o campeonato e a Supercopa. Com o Racing foi o mesmo: eu armei e ele terminou sendo vice. Um fenômeno, Miguelito! Espiava onde Marchetta ia, e aí ia ele depois”. Brindisi ainda voltou ao Independiente em 2013, como bombeiro contra o inédito rebaixamento rojo, sem evitar a queda. Só ele trabalhou em ambos na segundona, embora o reacesso em 2014 tenha vindo já sob Omar De Felippe.

Humberto Grondona: sim, ele é filho do chefão Julio Grondona, ex-presidente da AFA e do Independiente, o clube do coração da família além do Arsenal, criado por eles. “Sempre fui torcedor do Independiente e do Arsenal, e meu ídolo era Pastoriza”, contou em 2009 à El Gráfico. Isso não impediu que Humbertito tentasse jogar inicialmente no Racing, onde chegou até o time sub-19, para depois resignar-se em times menores: “Arsenal, Tigre, Morón… parei em 1988. Um mês depois de parar, me convidaram Noray Nakis e Chiche Sosa (guarde esse nome) para dirigir o Deportivo Armenio. Fiz o curso em La Plata e comecei”. No início de 1992, apareceu no Racing como sucessor do tal Osvaldo Chiche Sosa. Não se livrou naquela entrevista de ser indagado se não havia traído a família: “antes de nada, sou profissional. O Racing foi uma alavanca esportiva que todo técnico precisa. Sou grato ao Racing, se aos 30 anos tive a possibilidade de ser vice da Supercopa. Quando foi campeão em 2001, fiquei contente”.

Ex-jogador e assumido torcedor do Racing, Marchetta brincaria que armou dois bons elencos da dupla…

Grondona foi inclusive além: “no Racing vem Pizzuti (técnico do vitorioso 1967), Basile (técnico da vitoriosa Supercopa 1988), Merlo (técnico de 2001) e eu, os demais não fizeram nada. Fizemos 14 pontos em 18 possíveis, o classificamos para a liguilla e chegamos à final da Supercopa”. Ele durou até 1993 e foi abrigado no Arsenal familiar, presidido pelo primo Roberto. Chegou a conciliar o cargo de técnico no Arse aos sábados, na segunda divisão, com o de assistente de Miguel Ángel López no Independiente campeão da Supercopa em 1995. Em meados de 1996, virou então o titular na prancheta do Rojo. Embora incapaz de competir com o River, foi vice do Apertura, nove pontos atrás, não seguindo porque “não sentia o apoio de toda a comissão diretiva, e tinha tudo combinado em Mendoza: dirigir o Godoy Cruz, estar na rádio e televisão. Estava recém-separado e precisava me distanciar de Buenos Aires”. Humbertito volta e meia reassume o seu Arsenal. Curiosamente, seu sucessor no Independiente foi César Menotti, que como jogador havia defendido o Racing em 1964.

Osvaldo Sosa: com destaque no Argentinos Jrs na segunda metade dos anos 50, Chiche Sosa chegou a defender brevemente o Independiente como jogador por cinco jogos em 1969. Como treinador, também ficou mais associado ao Argentinos Jrs, tendo como ponto alto o reacesso à elite em 1997. Salvo o clube do bairro de La Paternal, concentrou seu trabalho basicamente nas divisões de acesso, o que incluiu passar pelos rivais Tigre e Chacarita. Em Avellaneda, ficou pouco marcado: no Racing, foi um técnico tampão em 1992, entre as passagens de Roberto Perfumo e Humberto Grondona. No Independiente, foi o terceiro técnico que o clube teve em 2003, após Américo Gallego e Oscar Ruggeri. Para o retorno à Libertadores (classificado de antemão como vencedor do Apertura da temporada 2002-03) em 2004, a diretoria optou por recontratar o velho ídolo Pastoriza.

Faixas-bônus: vale ainda mencionar os que jogaram em um (ou ambos) e treinaram somente o rival. Além de César Menotti (ex-meia do Racing em 1964 e provavelmente o mais querido técnico no Independiente a jamais ser campeão, com três diferentes passagens e um cargo de gerente nessa década), isso também ocorreu com Vladislao Cap, ídolo racinguista nos anos 50 que treinou o Rojo campeão argentino em 1971 – conquista que credenciou o clube para aquele tetra seguido na Libertadores de 1972-75; e com Néstor Clausen. El Negro jogou em ambos, com muito mais destaque no Independiente: brilhou nele ao longo dos anos 80 para virar a casaca em 1994, quando chegou à Academia, e ainda revira-la em 1995, quando voltou à antiga casa a tempo de vencer a Supercopa. Reserva da seleção campeã de 1986, assumiu a prancheta vermelha no fim de 2001 e não resistiu à lanterna do Clausura 2002.

Há ainda o caso de irmãos em cada um, e não falamos ainda dos Milito – por hora só Gabriel treinou o seu lado, ao passo que Diego tornou-se diretor após pendurar as chuteiras. O Independiente foi campeão argentino em 1989 sob as ordens de Jorge Solari, que ficou até o fim daquele ano após chegar em meados de 1988 – ligação que não impediu que um neto, Augusto Solari, hoje defenda a Academia. Irmão mais novo de Jorge, Eduardo Solari (pai de Santiago, ex-jogador e treinador do Real Madrid) passou pelo Racing no primeiro semestre de 1993, longe do mesmo êxito. Curiosamente, os dois irmãos foram rivais na sua Rosario natal, com Jorge jogando e treinando o Newell’s enquanto Eduardo fez o mesmo no Central.

Por fim, eis outros técnicos nas principais duplas rivais argentinas: o duo Boca & River teve Renato Cesarini, Ferenc Plattkó, José Manuel Moreno, José D’Amico, Néstor Rossi, Juan Carlos Lorenzo, Alfredo Di Stéfano, o citado Vladislao Cap, José Varacka, o citado César Menotti, Héctor Veira e Ángel Cappa; os vizinhos Huracán & San Lorenzo tiveram o citado Guillermo Stábile, Manuel Giúdice, Osvaldo Zubeldía, o brasileiro Delém, Alberto Rendo, Adolfo Pedernera, Carmelo Faraone, os citados José Varacka e Pedro Dellacha, Alfio Basile, a dupla Oscar López & Oscar Cavallero, Ricardo Caruso Lombardi e Gustavo Alfaro; Estudiantes e Gimnasia tiveram o citado Roberto Sbarra, Saúl Ongaro, Alberto Zozaya, Carlos Aldabe, Ricardo Infante, Héctor Antonio, Miguel Ignomiriello, Higinio Restelli, José Ramos Delgado e o citado Eduardo Solari; e Newell’s e Rosario Central tiveram Gerónimo Díaz, Juan Piotto e Ángel Tulio Zof. Além de Stábile (em Avellaneda), somente Di Stéfano pôde ser campeão por rivais na função, conforme lembramos ontem mesmo. Outro feito ofuscado pela parte notável da carreira de jogador…

…para que o sucessor Brindisi levasse os créditos. Brindisi é quem mais esteve perto de ser campeão por anos em um mesmo ano – em 1995, levantou a Recopa e foi vice do Apertura. Mas só ele também trabalhou com ambos na segunda divisão, jogando pela Academia em 1984 (à esquerda) e treinando o Rojo na parte inicial da temporada 2013-14
https://twitter.com/RacingClub/status/1211634779998871556

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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