Seleção

Inimigos da Albiceleste – Brasil

Goiânia – Na competição mais importante entre seleções do continente, o Brasil apresenta uma imagem diferente da que costuma ostentar. Estrela da festa em Mundiais, desde 2004 sempre chega a Copa América rejeitando o favoritismo, como se fosse tóxico. Ainda assim, tanto a força da rivalidade quanto a qualidade do elenco Canarinho impedem que a Seleção Brasileira se esquive totalmente dos holofotes, mesmo em território inimigo.

Eis que a partir da oportunidade de assistir pela primeira vez a Seleção Brasileira in loco após a Copa, o Futebol Portenho aproveitou para análisar o clássico Brasil x Holanda da maneira que mais “convem”. Analisaremos as fraquezas e forças, os pontos de possível evolução com os reforços de Ganso e Pato, além de traçar um duelo “futuro” entre El Scratch e a Albiceleste, da mesma forma que em 2009, nas Eliminatórias Sul-Americanas.

Antes de tudo isso, um relato sobre a reedição em si das quartas-de-final na África do Sul. Já que a torcida goiana compareceu em peso ao estádio, a Seleção se preocupou em agradá-la no início do amistoso. Neymar e Robinho tentaram até pedaladas contra a zaga da “Oranje”. Os holandeses, porém, ignoravam as pompas brasileiras e marcavam por pressão. Bem ao estilo que fizeram na Copa do Mundo de 2010.

A alternativa que os comandados de Mano Menezes acharam para criar perigo estavam nos passes em profundidade. Num deles saiu um gol na triangulação entre Neymar, Robinho e Ramires, mas o assistente Rodney Aquino anulou a jogada por impedimento, aos 11 minutos.

Foi a oportunidade mais clara, e quase única, que o Brasil teve de abrir o placar. Nesse ponto, a Holanda levou vantagem na etapa inicial, principalmente na figura de Afellay. Ainda que sem jeito na posição de armador, o meia do Barcelona forçou Júlio César a agir rápido em duas ocasiões: aos 20, num lance cara a cara após um contragolpe, e aos 28, num chute da entrada da área.

Mas ao longo do primeiro tempo, depois destes lances de emoção, a equipe de Bert van Marwijk recuou a marcação de forma eficiente. De modo que nem as ofensivas insinuantes de Robinho surtiam efeito contra uma zaga sólida. Eis que a torcida foi perdendo a paciência aos poucos, e chegou a gritar por Lucas, astro do São Paulo mas reserva da Seleção.

Segundo tempo

Se a galera ficou na bronca pelos primeiros 45 minutos, mudou totalmente de humor na etapa complementar. Na volta dos vestiários, Brasil e Holanda se transformaram, de maneira que o protagonismo passou para os donos da casa. A zaga da “Oranje” já não estava tão segura, algo que a Seleção Canarinho soube aproveitar.

Neymar brilhou da forma que se esperava dele desde o início. Já no primeiro minuto, ficou cara a cara com o goleiro Krul, que fez ótima defesa. Instantes mais tarde, ele arriscou de longe e seu chute teve rebote, só que Robinho não aproveitou. Estava tão inspirado o menino da Vila Belmiro que até chapéu ele aplicou.

Só que em todos os lances, o goleiro holandês se mostrou seguro e firme. Robinho, Fred, Ramires e até Thiago Silva tentaram, mas não conseguiam superá-lo. No máximo, o atacante do Fluminense conseguiu uma bola que quase entrou, mas o lateral Pieters salvou a Holanda em cima da linha, aos 14 minutos.

O time de van Marwijk, alias, estava nulo no ataque. Não conseguia carregar a bola com qualidade nem paciência para chegar a fazer valer a famosa máxima do “quem não faz, leva” contra o Brasil. Robben até se viu livre dentro da área após falha de passe da zaga Canarinho, mas se atrapalhou com a bola.

Eis que Mano Menezes resolve agir e escuta o apelo da torcida nas alterações. Coloca Lucas no lugar do apagado Elano, e Leandro Damião para substituir o vaiado Fred. Só que após o pacotão de mudanças de ambas as equpes, o ritmo do jogo esfriou. Em 20 minutos, apenas um voleio aos 21, e um chute de longe aos 38 do volante Sandro arrancaram suspiros do Serra Dourada.

Para piorar, Ramires fez falta dura em Robben, discutiu com Carlos Amarilla e acabou expulso de campo, o que facilitou a vida da Holanda com a posse de bola, e irritou os goianienses, que até chamaram a Seleção Brasileira de “timinho”.

Como joga o Brasil?

Lembra do Corinthians campeão da Copa do Brasil em 2009? Pois o esquema tático e o estilo de jogo da Seleção lembram muito aquele time, até por ter Mano Menezes como denominador comum. Ambos se baseam no 4-3-3, ainda que por vezes se alterne para o 4-2-3-1, a moda do Mundial. A diferença está no posicionamento dos pontas, Neymar e Robinho, mas da mesma forma que no Timão (com JH e Dentinho), apostam na velocidade e na habilidade para criar jogadas nas laterais.

Outra semelhança está na presença de um meia armador, o enganche da Argentina. Elano não conseguiu cumprir tal função em Goiânia, mas a posição com Ganso deve ficar melhor preenchida. Com o auxílio de Lucas e Ramires, não precisa se preocupar tanto com a marcação, e pode se concentrar em abastecer o ataque do jeito raro que só ele faz últimamente.

Quanto à zaga, uma dupla de qualidade ainda superior a que Dunga usou para vencer em Rosário. Lúcio até já esteve em melhor fase em tempos anteriores, mas Thiago Silva atravessa um auge invejável. De longe, o melhor zagueiro em atividade na Itália, como ratificam os amigos do Quattrotratti. Já os laterais se destacam mais pelo bom apoio ofensivo, ainda que deixem muitos espaços abertos nos flancos que protegem (mais Daniel Alves que André Santos).

Brasil x Argentina

Com Mano e Checho de DT’s, os rivais já protagonizaram um “Superclássico das Américas” num amistoso em 2010, no Qatar. Só que deste duelo não se permite um paralelo com a mais aguardada final da Copa América 2011. Sem Ganso e Pato, nem substitutos a altura dos dois, o Brasil teve de alterar o esquema do meio para frente. Sem sucesso, mesmo com mais finalizações (14 a 9).

De interessante, apenas a questão defensiva. Por natureza, os 11 de Sérgio Batista tem uma postura mais cautelosa. Mas não bastou para impedir os ataques pelas laterais, principais pontos onde o Brasil pode prevalecer contra a Argentina. Já os comandados de Mano Menezes seguraram bem o time de Messi. Não fosse o cochilo de Douglas nos acréscimos, talvez tudo terminasse na igualdade sem gols.

Agora com o atacante do Milan, a Scratch terá a referência de área que lhe fez falta no Oriente Médio. Já Ganso não deve ter vida fácil.  Vai trabalhar no setor que o Checho mais gosta de lotar com volantes (Masche, Banega e Cambiasso), mas se trabalhar em sintonia com os pontas, deve criar incômodos aos locais.

E como a Argentina reagiria? Por mais clichê que soe, com Messi.

Não só contra a Seleção, mas também contra Portugal, La Pulga jogou com extrema qualidade como “falso nove”. Nele recaem as responsabilidades de criação, drible e finalização, apesar da ajuda valiosa de Tevez (Di Maria) e Lavezzi nos lados, Banega e Cambiasso no centro. Como de costume, os contragolpes se configuram na arma mais perigosa para Messi e sua trupe.

Deixando a questão tática de lado, ainda existem outras variáveis a considerar. Como esta equipe jovem do Brasil lidará com a pressão dos hinchas argentinos? O histórico de jogos em território Albiceleste favorece totalmente os donos da casa.

Entretanto, as duas últimas edições do torneio animam os brasileiros pela questão do favoritismo. Não há como negar a obrigação que os jogadores de Checho carregam para sairem campeões. Em outras palavras, são os favoritos. Assim como nas finais de 2004 e 2007, quando o resultado favoreceu a Canarinho. Seria, então, sinal do primeiro Tri

Títulos: 8 (1919, 1922, 1949, 1989, 1997, 1999, 2004 e 2007)
Posição no Ranking da Fifa: 5º
Time-base: Júlio César; Daniel Alves, Lúcio, Thiago Silva e André Santos; Lucas e Ramires; Robinho, Ganso e Neymar; Pato.
Demais convocados: Jefferson, Victor, Maicon, David Luiz, Luisão, Adriano, Elias, Jadson, Sandro, Lucas (São Paulo), Elano e Fred
Técnico: Mano Menezes
Craque do time: Neymar
Cotação FP: candidato ao título

 

Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

5 thoughts on “Inimigos da Albiceleste – Brasil

  • Willian Alves de Almeida

    Ótimo texto. Na minha opinião, o craque do time é o Ganso, mas de resto ótimo texto.

  • Concordo com o texto! Para mim o Brasil vai ser um dos maiores obstáculos para o título da Argentina…

  • Pelodan

    Vai ser um jogão Brasil contra a Argentina, a tabela foi feita para favorecer os donos da casa, por isso vou ficar muito desapontado se a final não for essa. Mas essa Copa América vai ser a mais equilibrada e forte de todos os tempos.

  • VALE LEMBRAR QUE MANO MENEZES SÓ GANHOU 30% DOS CLÁSSICOS QUE DISPUTOU EM TODA SUA HISTÓRIA NOS CLUBES …. JÁ NA SELEÇÃO NÃO GANHOU DE NINGUÉM, POR ISSO ACHO QUE A ARGENTINA GANHARÁ SIM ESSA COPA E SERÁ A MAIOR E, NUMEROS DE TÍTULOS.

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