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Em goleada histórica River Plate deixa Bohemio no chão

Vinte e sete anos depois de um encontro oficial entre as duas equipes, o River Plate deu uma lição histórica no Atlanta e venceu por 7×1. Falamos em lição, e não somente em resultado, pela forma como o Bohemio se comportou na partida desde o seu início. Era como se o seu adversário não fosse propriamente um gigante. Uma equipe que passeia pela B Nacional, mas que é consenso de muitos que rapidamente voltará à elite de onde nunca deveria ter saído. Com essa postura e com o futebol apresentado, o Atlanta mostrou que enquanto seu rival é realmente de Primeira ele, Bohemio, não é sequer uma equipe de segunda. Perdeu feio. De 7 e poderia ter perdido de mais. Mais parecia um bohemio borracho, daqueles que sequer escolhem uma calçada limpa para cair. Problema dele. Não do River Plate que teve uma atuação de gala na cancha do Ciclón. Mais que isso? Sim. Presenteou sua torcida com um futebol espetacular, cinematográfico e circense. Um luxo.

O cotejo começou com ambas as equipes procurando o ataque. Contudo o River tinha a vantagem de se posicionar melhor pela cancha. O que lhe permitia que alternasse bem as jogadas de ataque pelo centro, pelo flanco esquerdo e pelo direito. Para ajudar o Atlanta se comportava estranho. Procurava as jogadas ofensivas como uma prioridade tamanha que se posicionava mal no combate às ações milionárias. O Bohemio perdia o meio-de-campo, setor em que marcava mal e que por isso deixava desguarnecida sua primeira linha de quatro. Não bastasse isso, e para piorar, também os homens da primeira linha estavam mal. Não bastasse isso e o grande arqueiro bohemio parecia mais um jovem iniciante da várzea. Neste contexto não demorou para que a supremacia millionaria resultasse em gol. Após boa jogada pelo setor esquerdo, a pelota sobrou nos pés de Cavenaghi que a conduziu com maestria. Disparou para o arco e, no rebote de Llinás, a boa ficou para alguém. Para quem? Para quem estava atrás do marcador bohemio e que ainda assim chegou primeiro: Aguirre. 1×0 para o River.

Restava ao Bohemio jogar. Há formas e formas para isso, sabemos. E o visitante escolheu a pior. Escolheu uma proposta que não considerava o tamanho de seu rival. Dessa forma continuou a marcar mal. Deixava Ocampos livre para lá e para cá. E o jovem do River disparava sempre com liberdade e perigo pelo setor direito. Avançava sua primeira linha de maneira irresponsável, e assim deixava Aguirre solto para articular as jogadas. Fragmentava a segunda linha em um amontoado de jogadores para o qual se somava os dois alas que iam para o ataque e sequer recebia a pelota. Assim nada acontecia no campo de ataque e ainda perdia a pelota e dava o contra-ataque como se estivesse diante de um amigo histórico e não de um rival.

Todavia, o segredo da equipe de Núñez e de sua bela atuação o Bohemio não via. Estava no centro nervoso que compreendia a excelente marcação e primeira bola de Cirigliano e a condução e articulação das jogadas por Carlos Sánchez. O Bohemio não estava nem aí para isso. Resultado? Tomou o segundo gol sete minutos depois do primeiro. E um golaço. Milán não sabia o que fazer com a pelota e resolveu entregar a Segóvia. Segóvia não sabia se a queria recebe e ela sobrou para Sánchez, que a recuperou na meia cancha e disparou rumo à área de Llinás. O arqueiro olhou e onde estavam seus defensores? Resolveu ser ele o zagueiro e foi combater Sánchez na entrada da área. Foi bem. Contudo a bola sobrou para Cavenaghi que não não deixou de ter e combate da zaga bohemia. Teve. O que não teve foi a competência da zaga em combatê-lo. Cavenaghi quase sem ângulo guardou a pelota no arco. 2×0.

Então o River poderia sossegar. Para quê, se seu adversário parecia mais um amontoado de jogadores encantados em campo? O Bohemio era estúpido. Reproduzia os mesmos erros em uma sucessão inacreditável. Poderia ter levado o terceiro gol em várias oportunidades. Aos 26 com Ocampos. Aos 35 e 38 e 41 com Ríos. Nesta última o atleta do River acertou uma meia-bicicleta que passou próxima do arco. Um luxo. Aos 45, Aguirre recebeu a pelota e a tocou para Ocampos apenas escolher o canto e marcar. 3×0 para o River, fora o baile. Fim da primeira etapa.

Na segunda as coisas voltaram exatamente como estavam antes. Uma bagunça. Ao menos na postura do Bohemio que mais parecia um borracho preste a sofrer como alcoólico. Um horror. Mas não são poucas as partidas em que certo time se depara com um rival como hoje esteve o Atlanta na cancha do Ciclón. E nem sempre ocorre as goleadas; por vezes nem gols. O fato é que o River estava numa tarde notável. Ninguém jogava mal. Nem mesmo seus defensores. Se por um lado o conjunto da Villa Crespo parecia não respeitar o rival, o conjunto de Núñez fazia o contrário. O respeitava como sempre há de ser o caso: com gols. Aos 11 Cirigliano recuperou a pelota no meio e a soltou para Ocampos. Tranquilo o jovem da base millionaria a entregou para Cavenaghi guardá-la nas redes de Llinás: 4×0. Antes disso, aos cinco, O jovem Ocampos quase havia feito um gol de placa. Recebeu lançamento espetacular do campo de defesa e driblou vários defensores bohemios para finalmente disparar a pelota sobre a trave do pobre arqueiro Llinás. Aos 14 novamente Cirigliano entregou para Cavenaghi que indisposto a fazer qualquer gol, fez um golaço: encobriu o arqueiro e fez 5×0. Tava fácil. Era possível fazer mais. A defesa do Bohemio? Um lixo.

Ocampos, Aguirre e Carlos Sánchez saíram para oferecerem um treinamento de luxo para os atletas do banco. Ingressaram Affranchino, Mauro Díaz e Bordagaray. Continuou tudo do mesmo jeito. Tanto foi assim que aos 27 minutos Fabián Bordagaray (quem?), ele mesmo, resolveu tirar uma casquinha do Bohemio borracho. Na hora de concluir havia cinco defensores olhando, assim como se estivessem em um boteco qualquer da Villa Crespo. Bordagaray fez 6×0 para o River.

A exibição de gala de um era comparada só à vergonhosa apresentação do outro na cancha do Ciclón. Enquanto os locais continuavam na mesma pegada de qualidade e na excelente articulação de jogadas no ataque, todo o elenco do visitante já não sabia mais onde estava. Corria para um lado. Corria para outro. Batia cabeça. Tinha um arqueiro que se achava líbero e uma primeira linha de marcação na qual todos os seus bravos soldados pareciam certos que nesta honrosa data seriam alçados à condição de alguns dos melhores atacantes do futebol argentino. Um espetáculo de horror só comparado ao verdadeiro espetáculo de futebol que o River como há muito tempo não propiciava à sua então sofrida e humilhada torcida. Aos 39 uma prova disso. Na cobrança de falta no setor direito do ataque, Affranchino recebeu e pelota sem nenhuma marcação e a tocou bem para Ríos dar um toque de classe e colocar a pelota novamente no arco de Llinás. 7×0. Nem mesmo o gol de honra aos 41, através de penal convertido pro Abel Soriano alterou as emoções de ambas as partes.

Com o resultado histórico o River Plate não somente obteve uma grande vitória. Mostrou quem dá as cartas na B Nacional. Mais que isso, se apresentou de vez para adversários que ousam enfrentá-lo como se estivessem diante de uma camisa qualquer (o Atlanta hoje foi um exemplo disso). No entanto, o mais importante do triunfo foi que o conjunto de Núñez deixou absolutamente claras as diferenças básicas entre uma grande equipe de Primeira e outra de “terceira divisão”. Na próxima rodada o Millionário será local diante do Huracán, enquanto o Atlanta, perdido e borracho, apresentará os belos botecos da Villa Crespo ao Instituto Central de cordobês.

Formações:

River: Leandro Chichizola; Luciano Vella, Alexis Ferrero, Jonatan Maidana, CarlosArano; Carlos Sánchez (Fabián Borgadaray), Ezequiel Cirigliano, Martín Aguirre (Mauro Díaz), Lucas Ocampos (Facundo Affranchino); Andrés Ríos e Fernando Cavenaghi. Técnico: Matías Almeyda

Atlanta: Rodrigo Llinás; Carlos Arancibia, Guido Milán, Juan Segovia, Maximiliano Lugo (Nicolás Cherro); Mauro Pajón (Martín Fabbro), Maximiliano Pogonza, Juan Galeano, Emiliano Ferragut (Fernando Lorefice); Erik Aparicio e Abel Soriano. Técnico: Jorge Ghiso

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

5 thoughts on “Em goleada histórica River Plate deixa Bohemio no chão

  • dio cruz

    s ta 7 no atlanta ..quero ver no cental ai treme ..galinhada…..vamo racing

  • João Carlos Guirladas

    Gostei do texto quando disse que River é de primeira e o Atlanta de terceira. É bem isso mesmo. Grande vitória, estou com a alma lavada. Um recadinho para os bosteros. Sorte a de vocês que a gente não quer fazer aquele joguinho besta de verão, se não a gente poderia olhar para aquela camisas amarelona e achar que era o bohemio. Como diz o texto: bohemio bêbado.Tô rindo a toa.

  • João Carlos, se olha no espelho. Teu time goleia um adversário medíocre até mesmo para os padrões argentinos e vocês se acham? Vai cuidar das estafas da equipe do Passarella, vai.

  • Lucas de Castro Oliveira

    Estou feliz com a vitória, mas acho que não tá na hora de ficar tirando não. Foi fantástico e é isso que importa. Não vale nem ficar rindo de ninguém nem ficar lembrando que nosso time ainda tem alguns problemas, é hora só de comemorar. Dale River!

  • Elsio Limoeiro Filho

    Esse é o River que queremos ver em todas as partidas. Foi lindo, mas vamos manter o nosso foco principal.

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