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Especial Eurocopa – colônias argentinas no futebol francês

Nas últimas temporadas, o Paris Saint-Germain emendou série de títulos tendo consigo Javier Pastore e Ezequiel Lavezzi, acompanhados na última por Ángel Di María. Mas o PSG está longe de ser o clube francês que mais deve aos argentinos. Está abaixo do modesto Lyon dos anos 60, sobre o qual já dedicamos um Especial. E a outros três times em especial: Nice, Nantes e Monaco. Os dois primeiros se rechearam de hermanos em suas curtas fases áureas, a ponto do Nantes ser o primeiro clube europeu a exportar um jogador à seleção argentina. Já os monegascos, que vivem de títulos bissextos, quase sempre tiveram um argentino importante nessas conquistas.

O primeiro a apostar neles largamente foi o Nice nos anos 50. Os rubro-negros não se arrependeram, ganhando naquela década os seus quatro títulos franceses – 1951, 1952, 1956, 1959. Também ganharam naquele tempo duas das suas três Copas da França, em 1952 e 1954. Héctor González (1951-61) esteve em todos. Juan Carlos Auzoberry (1954-64) também passou dez anos na Côte d’Azur. Luis Carniglia (1951-55, marcando nas duas finais da Copa, além de técnico no título de 1956) e o matador Rubén Bravo (1954-57), ex-Botafogo, também venceram no período.

O time da Riviera, ainda que sem o êxito dos anos 50, recebeu ainda recebeu Alberto Muro (1956-59), Osvaldo Dandru (1959-64), Héctor de Bourgoing (1959-63), Héctor Maison (61-64), Horacio Barrionuevo (66-67), Rafael Santos (66-69), Raúl Nogués (1980-81), Rolando Barrera (1985-87), Jorge Domínguez (85-86), Ariel Cozzoni (1990-91), Pablo Rodríguez (2002-03), Pablo Dolci (2003-06). Também formou Neal Maupay (filho de argentina que joga pelas seleções francesas juvenis) e foi um dos primeiros clubes da carreira de Carlos Bianchi como treinador.

Entre meados dos anos 60 e os 70, o Nantes venceu cinco dos seus sete títulos franceses. Bi em 1965 e 1966 com a dupla Rafael Santos e Ramón Müller, ganharia também em 1973, 1977 e 1980, além da Copa da França de 1979, com uma nova colônia: foi como jogador do clube que o beque Ángel Bargas (1972-79) tornou-se o primeiro a jogar pela seleção argentina vindo do futebol europeu, em 1973. Iria à Copa do Mundo de 1974 e no estádio Beaujoire repetiu a dupla com o xará Ángel Marcos (1971-75), vitoriosa no Chacarita campeão argentino pela única vez, em 1969.

Bargas jogou também com Hugo Curioni (74-75), ex-Boca, que se destacaria mais como goleador no Metz; e também Oscar Müller (74-84) e Víctor Trossero (78-80). Os dois últimos foram campeões com o zagueirão Enzo Trossero (1979-81), sem parentesco com Víctor e grande ídolo no Independiente. Les canaris ainda abrigariam Víctor Ramos (84-85), Jorge Burruchaga (85-92), Julio Olarticoechea (86-87), Javier Mazzoni (1997), Néstor Fabbri (98-2002), Sergio Comba (98-99), Diego Bustos (98-2000) e Julio Rossi (2005-07). Enquanto Burruchaga venceria como jogador auriverde a Copa do Mundo de 1986, o zagueiro Fabbri esteve nas últimas taças do clube: as outras duas Copas da França, no bi de 1999 e 2000, e a última Ligue 1, em 2001.

Nice campeão da liga e da copa em 1952. González é o 2º em pé e Carniglia, o penúltimo agachado. À direita, Bravo, ex-Botafogo
Nice campeão da liga e da copa em 1952. González é o 2º em pé e Carniglia, o penúltimo agachado. À direita, Bravo, ex-Botafogo

Já o Monaco foi campeão em 1978 com três passaportes hermanos, embora curiosamente só um dos portadores tenha nascido na Argentina: o meia Raúl Nogués (1977-80), acompanhado do superartilheiro Delio Onnis (retratado neste Especial) e do zagueiro Heriberto Correa (1976-79), paraguaio que havia jogado pela Albiceleste nas eliminatórias à Copa de 1974. O Principado celebrou em 2000 pela última vez o campeonato, tendo consigo a dupla de David Trezeguet (1996-2000) com Marcelo Gallardo (1999-2003), eleito naquele ano o melhor jogador da Ligue 1. Também foi vice da Liga dos Campeões de 2004 com o armador Lucas Bernardi (2001-08) e o lateral Hugo Ibarra (2003-05), nomes históricos de Newell’s e Boca.

Nogués e Onnis também venceram a Copa da França em 1980; Juan Simón (1983-86) a ganhou em 1985 (iria à Copa do Mundo de 1990) e o veterano atacante Ramón Díaz (1989-91), em 1991, última vez em que ela foi vencida pelos monegascos – a ausência de Díaz ao mundial de 1990 foi uma das maiores injustiças da convocação. Monte Carlo também abrigou Raúl Conti (53-56), Eduardo Gianella (64-65), Miguel Pérez (66-67), José Cammamari (67-68), Aníbal Tarabini (73-75), José Pastoriza (73-76), Víctor Trossero (1980-81), Omar Da Fonseca (86-88), Javier Saviola (2004-05) e Sergio Almirón (2007-08). Tarabini e Pastoriza foram ídolos históricos no Independiente e Saviola, encostado no Barcelona, manteve-se na seleção.

Outros clubes também formaram suas colônias bem antes de um PSG já estrelado vencer o último campeonato e de antes contar com Martín Cardetti, Mauricio Pochettino e Gabriel Heinze juntos – detalhamos aqui. Outro dos diversos clubes que dividam Paris antes do representante atual, o Club Athlétique teve em 1937-38 o ex-vascaíno Hugo Lamanna e o futuro flamenguista Carlos Volante, que acabaria massagista da seleção brasileira na Copa de 1938 e dali intermediado o negócio com o Flamengo. Volante também estivera com Atilio Bernasconi no Rennes, em 1934-35.

Também nos anos 30, o Antibes teve em 1936-38 Juan Espósito e Mario Evaristo, vice da Copa de 1930; o Sochaux recebera em 1936-37 Oscar Tellechea, Raúl Sbarra e Miguel Ángel Lauri (único deles titular no último título francês do clube), além do ex-palmeirense José Montagnoli e Alberto Muro em 1951-52; e o Metz,os irmãos Horacio e Oscar Tellechea em 1938-39 – depois, também reuniu Roberto Aballay com Antonio Porcel (1952-53) e José Montagnoli (1953-55).

O Nancy reuniu Roberto Aballay, Oscar Vega e Juan Carlos Lorenzo em 1952-53, Orlando Gauthier, Alberto Muro, José Florindo em 1961-62 e Raúl Castronovo e Eduardo Flores em 1972-73. Héctor de Bourgoing e Raúl Rodríguez ficaram de 1963-68 no Bordeaux, que em 2009 encerrou a era do Lyon tendo os reservas Fernando Cavenaghi e Diego Placente.

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Bargas foi o primeiro que a seleção argentina usou do futebol europeu. À direita, Nantes campeão de 1980: Enzo Trossero é o quarto em pé. Oscar Müller é o 1º agachado e Víctor Trossero, o 3º

Ramón Müller, José Farías e Rafael Muñoz se dividiram no Strasbourg em 1966-67, assim como Diego Garay e Gonzalo Belloso em 2000-01. Ricardo Montivero e Juan Trebucq estiveram no Troyes em 1973-74. O Reims tentou duas vezes nos anos 70: em 1972-73 contou com Onnis, Roberto Zwyca e César Laraignée; depois, reuniu em 1974-75 Carlos Bianchi, Ignacio Peña e Santiago Santamaría.

O Laval teve César Laraignée e Joaquín Martínez em 1977-78, ambos ex-River, assim como o Rouen reuniu Ignacio Peña e Jorge Trezeguet, cujo filho David nasceu naquela cidade na época. Clube desmembrado do PSG, o Paris FC teve em 1978-79 (sua última temporada na elite) Daniel Alberto e Humberto Bravo, este pré-convocado à Copa de 1978 ainda no Talleres – foi um dos três últimos cortados, ficando famoso por acompanhar Maradona nisso. Onnis esteve em 1982-83 com Omar Da Fonseca no Tours e em 1985-86 com Víctor Ramos no Toulon.  O Toulouse teve Alberto Tarantini e Alberto Márcico juntos em 1985-88, além de Darío Cabrol, Raúl Cascini e Sebastián Romero em 2000-01. Márcico chegou a ser candidato a vaga na Copa de 1986.

Entre 1987-88, o Brest teve Carlos Tapia, campeão da Copa de 1986, e o zagueiro Jorge Higuaín, que naquela cidade viu nascer o filho Gonzalo. Patricio Fuentes e Néstor Fabbri estiveram no Guingamp em 2002-03. Por fim, o Olympique de Marselha acumulou várias colônias: Raúl Nogués esteve 1974-75 com Alfonso Troisi e em 1976-77 com Héctor Yazalde e Norberto Alonso; em 1999-2000, foi a vez de Eduardo Berizzo e Daniel Montenegro; Christian Giménez e Renato Civelli foram colegas em 2005-06. Mas título, só com Gabriel Heinze e Lucho González em 2010, encerrando jejum de 18 anos do OM.

Vale ainda o registro de que o zagueiro Osvaldo Piazza foi convocado à Copa de o Mundo de 1978. Eram tempos em que ir à Europa mais atrapalhava do que ajudava a manter-se na seleção. Mas ele jogava no Saint-Étienne, o grande clube francês da época. Porém, um acidente automobilístico de sua esposa o fez declinar a chamada (e o único “estrangeiro” no elenco acabou sendo justamente Mario Kempes, do Valencia). Já Sergio Goycochea jogou pela Argentina estando na segundona pelo Brest.

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Correa (camisa 2), Onnis (9) e Nogués (10) no Monaco campeão de 1978. Trezeguet e Gallardo, campeões em 2000. Bernardi na final da Liga dos Campeões de 2004

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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