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60 anos de Rubén Paz, o uruguaio querido por brasileiros e argentinos

Rubén Paz iniciando seu segundo ciclo no Racing, nos anos 90

D’Alessandro já tinha uma ligação indireta com o Internacional literalmente décadas antes de tornar-se colorado. Seu ídolo de infância era Rubén Walter Paz Márquez, um meia talentoso que brilhara no Inter nos anos 80 antes de virar ídolo ainda maior no Racing, time pelo qual D’Ale torcia na infância até assimilar-se como millonario. Até os anos recentes de Diego Milito, a Academia não teve um ídolo tão querido em níveis equiparáveis aos membros dos gloriosos anos 60 como aquele camisa 10, reconhecido até pelo site da FIFA como um dos maiores zurdos (“canhotos”) do futebol. Trajetória que merece ser destacada nesse 8 de agosto de 2019, quando o uruguaio que chegou a ser apelidado de El Fútbol mesmo completa 60 anos.

Rubén Paz não foi brasileiro por 750 metros, nascendo na fronteiriça Artigas, começando a jogar aos cinco anos para ingressar ao sete no Peñarol daquela cidade. Curiosamente, era zagueiro, sendo deslocado à camisa 10 pelo treinador Odilio Duarte. Após dez anos no Peñarol de Artigas e com um título pela seleção municipal no campeonato uruguaio da categoria rendendo uma primeira convocação à seleção uruguaia para o Sul-Americano sub-20 de 1977 (campeão, Paz disputaria também a primeira edição do Mundial da categoria, em julho), rumou ao Peñarol original. E não tardou a ser aproveitado no time adulto ainda naquele ano – que, se não foi dos mais gloriosos aos manyas, eliminados na fase de grupos da Libertadores e vices por um ponto para o arquirrival no campeonato uruguaio, é ressaltado no livro Peñarol 120 que nem por isso foi um ano perdido: o técnico aurinegro, o brasileiro Dino Sani (reserva da seleção campeã de 1958 e ex-jogador do Boca), promovera a estreia de diversos juvenis que trariam êxitos em pouco tempo.

Foi o ano das estreias de Venancio Ramos (também proveniente de Artigas), Mario Saralegui, Fernando Álvez e daquele que sonhava desde a infância em “ser como Alberto Spencer. Quando aos 17 anos tive o gosto de estrear, fiz realidade um sonho. Ali aprendi que isso não era só um jogo e sim um trabalho, e para tanto devia encara-lo seriamente. Foram cinco anos maravilhosos onde fiz o que gostava: ser jogador de futebol”. No time principal do Peñarol, ainda alternava-se com Ildo Maneiro como meia-esquerda ou era improvisado na ponta, mas em 1978 já estava mais firmado entre os titulares – e o Peñarol não só terminou campeão uruguaio invicto, como venceu também as competições menores da Liga Maior e da Liguilla, ainda que não superasse nas semifinais da Libertadores o Deportivo Cali dos argentinos Carlos Bilardo (técnico) e Néstor Scotta (artilheiro da edição e por sinal outro ídolo racinguista que brilhou também em Porto Alegre).

O domínio peñarolense absoluto em casa se refletiu no desempenho recordista do centroavante Fernando Morena, que superou seu próprio recorde de gols em um só campeonato uruguaio, com os 34 anotados em 1975 quebrados pelos 36 daquele ano; sete deles, somente no 7-0 no Huracán Buceo, onde assinalou todos. O desempenho de Morena chamou a atenção europeia e o superartilheiro foi vendido à Europa em 1979. Paz, que no primeiro semestre já havia obtido novo título com o Uruguai no Sul-Americano sub-20 (sobre a Argentina de Maradona) e anotado três gols na campanha semifinalista da Celeste no Mundial da categoria, foi então deslocado para suprir a lacuna do matador e fez sua parte: com vinte gols, foi o artilheiro do elenco na temporada que rendeu novo título uruguaio – com destaque ao 6-0 na rodada final sobre o Liverpool, onde marcou duas vezes. Em paralelo, estreou em setembro na seleção principal, na malfada campanha na Copa América. Quase foi herói, anotando no minuto 83 o 2-1 contra o futuro campeão Paraguai; foi seu primeiro gol na seleção adulta.

Eleito três vezes o melhor jogador uruguaio, Rubén Paz é um dos poucos jogadores que disputaram dois Mundiais sub-20. No Sul-Americano da categoria, foi bi sobre Maradona

O 2-1 forçaria jogo extra, mas Eugenio Morel (pai de Claudio Morel Rodríguez) empatou aos 88 e classificou os guaranis dentro do Centenário. Outra decepção veio pelo regulamento doméstico: apesar do título uruguaio, o troféu não bastava para confirmar os carboneros na Libertadores. Era necessário ratifica-lo na Liguilla, realizada no início de 1980. A vaga não veio, o arquirrival Nacional terminaria adiante campeão de La Copa e Dino Sani deixou o Uruguai ainda em maio rumo ao México, sendo substituído uma penca de vezes: José Etchegoyen, Luis Prais, Jorge Kistenmacher, Alcides Ghiggia e Leonel Tuani se revezaram no cargo de treinador aurinegro, com o elenco abrigando ainda reforços exóticos com o ganês John Yawson e os sul-africanos Shaka Ngcobo e Ace Knomo. Ao fim, o time ficou apenas em terceiro no campeonato, posição complicadíssima em um contexto de duopólio – com o Nacional terminando nove pontos à frente quando a vitória ainda valia dois. Azar no clube, sorte na Celeste: na virada de 1980 para 1981, Paz marcou a maior parte de seus gols pela seleção (o quarto de um 5-0 na Bolívia e três em 4-0 na Suíça, ambos amistosos) e foi titularíssimo da conquista uruguaia no Mundialito sediado em Montevidéu.

Após a vitória de 2-0 sobre a Itália, o lateral adversário Antonio Cabrini implorou publicamente para que sua Juventus, que só dali a um semestre compraria Platini e Boniek, contratasse aquela promessa charrua. O Peñarol, para reagir à tríplice coroa do Nacional, segurou Paz e criou uma campanha arrecadatória para repatriar Morena. O matador voltou e Paz regressou à armação, mas foi o próprio meia quem terminou na artilharia do campeonato, com 23 gols. Sorte dos manyas, que viram Morena anotar 20 e o título doméstico assim voltar naturalmente às mãos aurinegras, ainda que na semifinal da Libertadores prevalecesse o Cobreloa. Mas Paz terminaria vivendo situação inversa com a seleção que, em contraste com a glória no Mundialito, não se classificou à Copa do Mundo; o meia anotou só um gol nas eliminatórias, em 3-2 sobre a Colômbia. O Peñarol, que segurara as investidas inclusive do próprio Cobreloa na época do Mundialito, na expectativa de que a Juventus estaria disposta a adquirir a joia por 1,5 milhão de dólares, aceitou negocia-la por um terço disso ao Internacional.

Eleito melhor jogador uruguaio em 1979, 1980 e 1981, Paz se despediu dos carboneros após a Liguilla de 1982 – onde, desmentindo boatos de que se protegeria no Superclásico para preservar a transferência, marcou um golaço e fez a jogada de outro no triunfo de 2-1 sobre o Nacional, portando inclusive a faixa de capitão nos minutos finais. Acabou sendo sua principal contribuição ao título do clube na Libertadores ao fim do ano, garantindo-lhe a vaga na competição. No Inter, por sua vez, o “Maradona uruguaio” (como era rotulado; ele retrucava que a única semelhança era ter na canhota a perna boa) seria mais valorizado com o passar do tempo. Pois ele, tal como o fã ilustre D’Alessandro, tardou um pouco a engrenar no Rio Grande. Demorou, inclusive, a se acostumar ao condicionamento físico diariamente exigido no Sul. O casamento duraria quatro anos de altos e baixos; após um início morno na disputa do Brasileirão de 1982 (em que o Inter via o Grêmio novamente finalista enquanto ficava longe de avançar às fases decisivas; inclusive ofereceu o reforço a europeus), Paz recuperou fôlego no segundo semestre com a conquista do Troféu Joan Gamper, sobre Barcelona e Manchester City; e, sobretudo, do estadual, municiando o artilheiro Geraldão.

Porém, o desempenho do time no Brasileirão de 1983, realizado no primeiro semestre, foi novamente aquém da expectativa e o uruguaio reclamou publicamente de salários atrasados, sendo retaliado pelos cartolas com nova oferta de seu passe. Paz também foi esquecido pela seleção uruguaia nas convocações à itinerante Copa América de 1983 – na realidade, ele ficou cinco anos ausente da Celeste, entre a queda nas eliminatórias em setembro de 1981 e uma lembrança de última hora em amistoso pré-Copa em abril de 1986 (contra a Irlanda em Dublin, abrindo o placar no 1-1 e cavando sua vaga no México), outro reflexo de seu desempenho sinuoso como colorado. Após a polêmica com os cartolas em meados de 1983, uma calmaria veio com bom desempenho em outros troféus amistosos na Europa e novo título estadual, com o Inter sob o comando do velho conhecido Dino Sani: “me ajudou a desenvolver o talento. É um dom, mas também é preciso ter paciência para praticar e aperfeiçoar-se”, declararia Paz sobre a importância do treinador.

Seu maior momento na seleção principal, o Mundialito de 1980, e no Grenal: somou três gols no clássico, todos na conquista estadual de 1984

O ioiô retornou em 1984: desempenho coletivamente insatisfatório no Brasileirão no primeiro semestre seguido de novo título estadual no segundo, com Paz inclusive marcando seus únicos gols em Grenais – na vitória por 2-0 no Olímpico no primeiro turno e os dois no 2-1 em casa no segundo turno. Sequência boa enfim mantida para o torneio nacional, no primeiro semestre de 1985, ainda que a torcida tivesse de se resignar com o regulamento duríssimo da segunda fase de grupos: só os líderes sobreviveriam rumo às semifinais e os gaúchos ficaram na segunda colocação da chave, três pontos abaixo do turbinado elenco do Bangu. A Placar, porém, reconheceu a boa campanha colorada, premiando três membros com a Bola de Prata: Luís Carlos Winck, Mauro Galvão e o uruguaio. No segundo semestre, o Grêmio desfez a hegemonia colorada para iniciar seu hexa estadual. E o ano de 1986 começou já com nova edição do Gauchão, com o Brasileirão passando ao segundo semestre.

O rival foi bi gaúcho seguido e Paz sairia do Beira-Rio pelos fundos. Após ele recusar o endinheirado América de Cali, Toulouse, Lecce e Brescia, terminou em agosto vendido por módicos 350 mil dólares ao Racing. Não ainda o argentino, e sim o original de Paris, que em paralelo adquiriu também seu compatriota Enzo Francescoli. A ironia é que se o time francês parecia querer ambos juntos, a seleção uruguaia não fez isso no Mundial: o treinador Omar Borrás aparentemente os via como concorrentes e preferia Enzo para a vaga de armador da dupla ofensiva; Paz não foi usado na primeira fase. Apesar da surra de 6-1 para a Dinamarca, os charruas avançaram para as oitavas, onde teriam de encarar a Argentina. Carlos Bilardo, agora técnico da Albiceleste, intuiu que dessa vez Paz seria titular e planejou sua tática e preleção com esse pensamento. De fato, Francescoli, recém-artilheiro do campeonato argentino de 1985-86 por um River arrasador, foi deslocado para atacante. Mas Paz só jogaria a Copa na meia hora final daquele clássico.

A Celeste já vinha sendo derrotada por 1-0 e Borrás, no desespero, colocou Paz no lugar de um zagueiro (Eduardo Acevedo). O colorado quase empatou em um chute cruzado aos 27 minutos, mas não evitou a eliminação pelo placar mínimo. E na Ligue 1 a história acabaria similar: Francescoli vingaria no Parc des Princes, mas Paz não completou dez jogos; o desempenho tímido na Europa inclusive privou-o de um lugar na seleção campeã da Copa América de 1987 e ele trocou de Racing, transferido sob empréstimo ao de Avellaneda. No ano de 1988, em matéria sob o título “trocou Paris pela Ponte Alsina”, em referência à ponte que separa Buenos Aires de Lanús, o reforço, já com três filhas de até cinco anos no colo, explicou: “eu sou provinciano, de Artigas, do interior. E nós do interior somos sãos, ao menos isso dizem. Por isso, sempre gostei de estar em lugares familiares, conhecer muito as pessoas, me comunicar. E no Racing encontrei uma diferença enorme do que vivia na França. Sim, sei que é uma situação que surpreende um pouco, mas tem explicação. Eu estava em Paris, sem chances de jogar, cobrando um salário por treinar, num meio onde vão três mil pessoas a campo e lhes dá no mesmo se ganhas ou perdes. Me sentia um fracassado”.

O uruguaio causou impacto imediato na temporada argentina de 1987-88, com oito gols. A Academia, que voltara à elite um ano antes após duas estadias seguidas na segundona, foi ao páreo com uma regularidade que não se via desde os dourados anos 60. Sob o técnico Alfio Basile e com o uruguaio municiando o brocador José Iglesias, o time venceu as cinco primeiras rodadas, que incluíram um 6-0 sobre o Boca, mantendo a invencibilidade nas onze rodadas iniciais. A 11ª foi inclusive o próprio Clásico de Avellaneda e Paz mostrou serviço, soltando a canhota indefensável para Luis Islas para marcar o gol racinguista no 1-1 na casa do Independiente – um esforço que lhe custou febre por alguns dias. Convivendo com algumas lesões na época, o reforço chegou até a conseguir um hat trick no 3-1 sobre o Estudiantes, mas o elenco perderia fôlego ainda em fins de 1987. O declínio foi compensado no primeiro semestre de 1988 ao faturar-se sobre o Cruzeiro a primeira edição da Supercopa Libertadores.

O sumido Racing de Paris contratou Paz e Francescoli juntos, mas só o compatriota vingou. Paz daria certo no outro Racing – provavelmente é o único que jogou nos dois

A Supercopa foi o primeiro troféu da Academia desde o Mundial Interclubes de 1967 e o último até o Apertura 2001. Paz apareceu principalmente no gol do empate sobre os mineiros em Avellaneda, antes da virada argentina; foi dele o lançamento para Miguel Ángel Ludueña cabecear para Omar Catalán na grande área – Catalán foi derrubado e o pênalti seria convertido por Walter Fernández aos 44 minutos do primeiro tempo, reoxigenando os donos da casa para a segunda etapa. No campeonato argentino, o Racing terminou em terceiro, sua melhor colocação desde o vice em 1972, e chegou ainda à final da Liguilla pre-Libertadores, perdida para o San Lorenzo. Ironicamente, os dois times abriram a temporada 1988-89 com vitória racinguista por 2-0, no estádio do Huracán alugado pelo adversário. Paz marcou no ângulo de Esteban Pogany um dos muitos gols de falta que se tornariam marca registrada na Argentina.

O Racing se manteve invicto nas seis primeiras rodadas da temporada 1988-89, com o uruguaio impossível – voltando inclusive à seleção (em outubro), onde se ausentava desde a Copa. Embora fosse mais armador do que definidor e pudesse passar longos minutos sem sequer encostar na bola, marcou sete vezes nas 17 rodadas iniciais, incluindo outro sobre o Independiente, derrotado por 2-1. A 19ª rodada, a marcar o fim do primeiro turno, opôs precisamente os dois clubes que dividiam a liderança: La Acadé e o Boca jogaram no Cilindro um duelo que não durou 90 minutos. A partida, em 0-0, foi suspensa após um rojão racinguista atingir o goleiro adversário Carlos Navarro Montoya. Os tribunais deram os pontos em jogo ao Boca e os blanquicelestes não recuperaram o ânimo. Ainda que o desempenho ao longo do ano valesse a Paz o prêmio de melhor jogador da América do Sul (e do futebol argentino, onde foi o primeiro estrangeiro contemplado), ele e colegas só venceram mais três vezes pelas dezenove rodadas seguintes e terminaram em nono, enquanto o título foi justamente para o Independiente.

Paz, por outro lado, firmou-se na seleção, disputando em 1989 sua primeira Copa América, com Francescoli, Rubén Sosa, Pablo Bengoechea e José Perdomo (depois um folclórico ídolo no Gimnasia LP) se revezando para formar a dupla de armadores com o racinguista. A Celeste teve chances de título até o último jogo do quadrangular final, um duelo direto no Maracanã contra o Brasil, onde não se repetiu em 16 de julho o que a mesma data reservara em 1950. O meia então voltou à Europa para a temporada 1989-90, agora para um Genoa “uruguaio” onde teve a companhia de Perdomo e de Carlos Aguilera. A colônia charrua não bastou para ambientar-se: marcou na Serie A um gol sobre o campeão Napoli e só, em campanha de fuga contra o rebaixamento. Paz, ainda assim, permaneceu titular do Uruguai para a Copa do Mundo, embora fosse deixado de fora por Óscar Tabárez justamente no mata-mata com a anfitriã Itália. Após a primeira fase, não voltaria mais a defender seu país.

Ele acertou um regresso ao Racing em outubro de 1990, em semestre tenebroso em que o time só ganhou dois jogos em dezenove no campeonato e caiu no segundo mata-mata da Supercopa. Mas foi outro no semestre seguinte: reunindo boa fase de Sergio Goycochea, Claudio García, Norberto Ortega Sánchez e Luis Alberto Carranza, a Academia chegou a ganhar de 5-2 do River e liderava até a 13ª rodada. Nela, Paz somou seu quarto gol na competição, sobre o cascudo time do Deportivo Mandiyú. O problema é que ele se lesionou no lance e foi desfalque para o jogo seguinte, um duelo direto com o concorrente Boca da revelação Gabriel Batistuta – que não perdoaram e impuseram um 6-1 na Bombonera, com três de Batigol, e terminariam por manter a liderança até o fim enquanto o time de Avellaneda decaiu para quarto. Na Liguilla, foi possível reverter um 3-0 sofrido para o Vélez com um 5-1 (o uruguaio fez o segundo), mas não superar o San Lorenzo na semifinal. San Lorenzo que, em um 0-0 na temporada regular, chegara a usar oito homens na barreira de uma falta para prevenir a jogada mortal do uruguaio…

No jogo de ida da final da Supercopa de 1988, contra o Cruzeiro: originou a jogada que cavou o pênalti do primeiro gol racinguista

Na temporada seguinte, porém, Paz já começou a viver mais de lampejos, como o lance contra o Unión onde roubou a bola no círculo central e arriscou dali mesmo para anotar um golaço ao perceber que o grande Nery Pumpido estava adiantado. Mas o Racing caiu para o Peñarol no primeiro mata-mata da Supercopa de 1991 e basicamente só fez empatar na temporada argentina de 1991-92: foram 39 pontos em 38 jogos, onde a igualdade prevaleceu 21 vezes, com quatro gols registrados em nome do ídolo (todos, ainda em 1991). Inicialmente, o estrelismo do uruguaio, cada vez mais presente, prevaleceu nas quebras de braço contra treinadores – ainda que fossem igualmente mitos no Cilindro, como Roberto Perfumo (o comandante na virada de 1991 para 1992). No segundo semestre de 1992, Paz seguiu titularíssimo em nova campanha finalista na Supercopa, onde a Academia superou a única vez em que o Clásico de Avellaneda ocorreu em partidas válidas pelo continente, mas terminou sofrendo a revanche do Cruzeiro nas finais.

Só que o meia também não se inibia em deixar o próprio time com dez em campo por alguns minutos, o que aconteceu em um 0-0 com o Platense no Apertura, ao notar que seria substituído pelo treinador Humberto Grondona; saiu de campo antes da autorização do árbitro para a alteração. As críticas de falta de compromisso ganharam mais volume e Paz permaneceu em Avellaneda somente até fevereiro de 1993, despedindo-se em plena rodada inicial do Clausura. Após sair pelos fundos com 33 gols oficiais em 152 jogos na elite argentina, trotou pelo Uruguai: recomeçou no Rampla e em 1995 já aparecia na segunda divisão, no Frontera Rivera. Ele voltou brevemente à Argentina na temporada 1995-96 para defender o Godoy Cruz, então também na segundona – sem gols do uruguaio, os mendoncinos ficaram no quarto lugar geral, mas caíram no primeiro mata-mata.

Em 1996, Paz regressou à sua Artigas para atuar pelo Wanderers local e estendeu a carreira por mais dez anos nas divisões inferiores interior adentro de seu país. Nada que afastasse a visão romântica que prevaleceu na outra margem do Rio da Prata: em 2011, quando a El Gráfico publicou uma edição especial sobre os cem maiores ídolos da Academia, deixou de fora da capa os atacantes Juan Carlos Cárdenas, autor do gol do título mundial, e Alberto Ohaco e Evaristo Barrera, respectivamente o maior artilheiro geral (Ohaco remontava ao time que subiu à elite em 1910 e participou de todo o heptacampeonato argentino seguido naquela década, ainda um recorde exclusivo do clube) e o maior goleador profissional racinguistas. O uruguaio esteve entre os seis escolhidos para a primeira página, junto de Omar Corbatta, Basile, Perfumo, Milito e Natalio Perinetti, o remanescente do hepta que foi à Copa de 1930.

“Andei bem, mas ainda assim me custa explicar o amor que a torcida do Racing ainda sente por mim”, resumiu um charrua com o mérito de ser apreciado por torcidas brasileiras (nacionalidade de suas duas filhas mais velhas) e argentinas (nacionalidade da terceira filha), incluindo rivais dos clubes em que se destacou.

No Uruguai e no Beira-Rio com o fã confesso D’Alessandro, torcedor do Racing na infância, durante o auge de Paz na Argentina
https://twitter.com/SCInternacional/status/1159441628446232581
https://twitter.com/RacingClub/status/1159435690280726528

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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