Independiente

Tragédia anunciada

Setor de onde foram arremessadas as bombas

Desde Buenos Aires – Não é de hoje que o clima no Independiente é muito parecido ao de uma “guerra civil”. Esse ambiente conturbado entre a barrabrava versus torcedores comuns e dirigentes é algo que já vem se arrastando desde a presidência anterior, de Julio Comparada. Na época, Comparada tinha respaldo dos torcedores mais violentos que eram beneficiados em viagens e ingressos. Em uma determinada partida do campeonato de 2011, enquanto os torcedores que normalmente ocupam os setores de plateia protestavam contra o então presidente Comparada, um grupo pertencente a barrabrava cruzou o estádio e ameaçou os sócios que persistiam em protestar.  O ex-técnico do Rojo na ocasião, Turco Mohamed, deu declarações que havia sido demitido pelos violentos e não pela dirigência do clube, numa clara tentativa de mostrar quem realmente estava no comando do Independiente.

Nas últimas eleições, Javier Cantero venceu com 60% dos votos e com sua promessa de campanha de acabar com os barras. Desde então vem travando uma luta perigosa e solitária contra os principais líderes da facção organizada. Assim que assumiu cortou os benefícios deste grupo. Algum tempo depois decidiu entregar todas as bandeiras e instrumentos musicais que ficavam guardados no clube a uma delegacia de polícia. O grupo organizado não gostou nada da postura adotada pelo atual presidente e foram tomar satisfação cara a cara. Numa demonstração de apoio a Cantero, torcedores comuns e sócios organizaram uma marcha na sede do clube no dia 11 de maio deste ano.

O que se viu na noite de ontem na partida contra o Belgrano (bombas arremessadas do setor ocupado pela barrabrava no campo de jogo) seria uma represália dos violentos contra a postura mais firme de Cantero. O mandatário sempre disse que não daria um centavo ao grupo violento e, fiel ao seu pensamento, não aportou fundos para as últimas duas viagens (Chile e San Juan). Segundo informações locais, os líderes, que estão impedidos de entrar no estádio, entraram em contato com outra barrabrava, a do San Telmo, e pediram alguns “homens” de reforço que pudessem colocar o plano das bombas em ação. Dito e feito.

Cantero falou com a imprensa após os incidentes e a suspensão da partida. Assumiu a responsabilidade por tudo o que aconteceu, pediu desculpas aos profissionais do Belgrano e assegurou que a luta contra a barrabrava continuará. Admitiu o uso dos vídeos para identificar, expulsar e punir aqueles que atiraram as bombas no gramado. Ao final da curta entrevista foi aplaudido por todos que estavam presentes.

Tomara que a luta deste homem não seja apenas mais uma contra os moinhos de vento.

Leonardo Ferro

Jornalista e fotógrafo paulistano vivendo em Buenos Aires desde 2010. Correspondente para o Futebol Portenho e editor do El Aliento na Argentina.

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