Rugby

História dos Pumas – Parte III: O começo na elite

Hugo Porta, maior puma da história, na Copa do Mundo de 1987. Defendeu a Argentina entre 1971 e 1990

Após o triunfo histórico de 1965, os nascentes Pumas alcançaram a maioridade no rúgbi mundial, conforme os próprios vencidos naquela viagem pela África do Sul. Reconhecimento tal que fez da Argentina uma das nações convidadas para a primeira Copa do Mundo deste esporte, em 1987, após os hermanos solidificarem cada vez mais seu lugar entre as seleções de elite. O terceiro capítulo desta série de especiais focará neste período, em que os argentinos só não venceram dois adversários de porte: a Inglaterra e um até hoje ainda não derrotado, a Nova Zelândia, o oponente de logo mais no Quatro Nações (4:30 da manhã desta sexta para sábado, com transmissão ao vivo da ESPN+).

No regresso à Argentina, a seleção deparou-se com o campeão francês de 1964 (Section Paloise), vencendo-o com autoridade um mês depois do triunfo nos Junior Springboks. No mesmo ano, o combinado de Oxford e Cambridge veio pela terceira vez ao país. Os argentinos conseguiram logros com a seleção B (3 a 0) e com o Belgrano Athletic (10 a 0) e até um empate por meio de uma seleção de jogadores da segunda divisão (6 a 6), mas ainda não seria aquela a vez em que venceriam com o selecionado principal os universitários: 19 a 19 e 3 a 9 foram os resultados dos Pumas. Os britânicos saíram com vitórias em seus outros cinco compromissos, contra outros clubes e combinados locais.

No ano seguinte à vitória sobre sul-africanos, os vencedores receberam outra seleção secundária de lá, os Gazelles. Estes mostraram o seu valor, vencendo todos os doze jogos da viagem, incluindo um 9 a 3 e um 20 a 15 nos sul-americanos. Em 1967, ano do centenário do pioneiro Buenos Aires FC (e também do antigo Rosario Cricket Club, a ter originado o Atlético del Rosario), por sua vez, a seleção argentina ficou inativa. Seria a partir do ano seguinte que, enfim, as conquistas para ela viriam em série. A começar pela primeira vitória contra a equipe principal de uma nação de alto nível.

Os Pumas que derrotaram Gales em 1968: Handley, Farina, Otaño, García Yáñez, Anthony, Chesta, Travaglini, Silva e o árbitro Ricardo Colombo; Dartiguelongue, Seaton, Rodríguez Jurado, Etchegaray, Walther, Pascual e Loyola

Foi em 14 de setembero de 1968, há quase 44 anos, no estádio do Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires. O tradicionalíssimo País de Gales, segundo maior vencedor do então Cinco Nações, passou três semanas daquele mês na Argentina, para o primeiro embate entre ambos. E não se saiu bem, mesmo nas vitórias (24 a 11 no Belgrano, 14 a 3 em uma seleção do interior argentino e 9 a 6 na seleção C). Pois, além da derrota de 5 a 9 no dia 14, não venceu na revanche contra os Pumas, no dia 28 (9 a 9) e empatou também com a seleção B (8 a 8).

Os quinze desta primeira vitória foram Jorge Seaton (Atlético del Rosario), Mario Walther (SIC), Arturo Rodríguez Jurado (SIC), Marcelo Pascual (Pucará), Alejandro Travaglini (CASI), Jorge Dartiguelongue (San Martín), Adolfo Etchegaray (CASI), Raúl Loyola (Belgrano Athletic), Héctor Silva (Los Tilos), Miguel Chesta (Duendes de Rosario), Aitor Otaño (Pucará), Adrian Anthony (SIC), Marcelo Farina (CASI), Ricardo Handley (Old Georgian) e Luis García Yáñez (San Fernando) – em negrito, Pumas originais de 1965.

Já os galeses haviam se alinhado com J.P.R. Williams, Laurie Daniel, Glen Ball, John Dawes, Andy Morgan, Phil Bennett, Glyn Turner, Tony Gray, Dennis Hughes, Dai Morris, Bill Mainwaring, Lyn Baxter, Britan Butler, Brian Rees e John Lloyd. Dois penais de Seaton e um try de Loyola garantiram a vitória dos anfitriões, por sua vez vazados por um try de Turner convertido por Dawes.

Praticamente um ano depois, em 13 de setembro de 1969 e novamente no campo do GEBA, veio a segunda vitória contra um adversário de renome, um sonoro 20 a 3. Foi contra outros britânicos, os da Escócia, também a enfrentarem por sua seleção os argentinos pela primeira vez. Exatamente outro ano mais tarde, foi a vez da Irlanda ter sua primeira derrota contra os Pumas. No estádio do Ferro Carril Oeste, deu Argentina por 8 a 3. Os irlandeses perderiam também a revanche, por 3 a 6 no dia 27 de setembro de 1970.

SIC (tricolor) e CASI (alvinegro) em um dos Superclássicos da década de 70, quando a San Isidro de ambos tornou-se, oficialmente, a capital do rúgbi argentino

A evolução foi sentida também em 1971, com o troco naqueles primeiros adversários após a glória de 1965. Uma nova viagem à África do Sul foi realizada entre junho e agosto, e o retrospecto foi bem similar: quatro derrotas, um empate e nove vitórias ao todo. Além de se depararem contra combinados universitários e regionais, os argentinos pegaram duas vezes os Gazelles, vencendo-os por 12 a 0 após derrota por 6 a 12 naquela turnê. No final de agosto, derrotou-se pela primeira vez também os de Oxford-Cambridge: um 11 a 3 no dia 28 e, já em 4 de setembro, um 6 a 3.

Aquele ano ainda marcaria novo título sul-americano seguido, o sexto. Foi naquela edição que Hugo Porta tornou-se Puma. Trata-se do Maradona do rúgbi argentino e principal personagem do período tratado aqui. Foi também em 1971 que os dois arquirrivais de San Isidro iniciariam um duopólio no torneio da URBA, o mais valorizado, com dez taças para o SIC e oito para o CASI. Apenas em 1989 a cidade de ambos, oficialmente reconhecida em 1972 como a capital do rúgbi nacional, teria a série de títulos de seus clubes interrompida – justamente pelo clube de Porta, o do Banco de la Nación.

1972 marcou também nova vitória sobre os Gazelles, que voltavam a visitar a Argentina. O SIC, que emendaria um tetracampeonato seguido, também chegou a batê-los na ocasião. No ano seguinte, mais do que os primeiros jogos – e vitórias – contra a Romênia (15 a 9 e 24 a 3 em uma das principais seleções europeias de fora das Seis Nações), ocorreu a primeira viagem da Argentina à Europa. Foi para alguns jogos na Irlanda a na Escócia, com saldo de duas vitórias em oito jogos, contra os irlandeses do Connacht (16 a 7) e uma seleção do norte escocês (28 a 23). Nos tests matchs, os Trevos venceram por 21 a 8 e os Cardos, por um duro 12 a 11.

Para os 75 anos da União Argentina de Rúgbi, em 1974, foi convidada a primeira seleção nacional de peso a ter enfrentado os hermanos: a França. Não seria ainda que os Bleus seriam derrotados, mas os confrontos foram os mais parelhos de até então: vitórias gaulesas por 20 a 12 e 31 a 27. No ano seguinte, a visita se inverteu e os Pumas conseguiram arrancar um 21 a 36 no Parc des Princes. Nenhuma não-vitória foi tão agridoce, porém, do que uma que ocorreria em 1976.

Cena de Gales 20 x 19 Argentina em 1976. Na imagem, Gareth Edwards, por vezes considerado o maior rugbier do século XX, aparece com as mãos na bola

Foi em visita a Gales, que vencera o Cinco Nações do ano obtendo um grand slam (vitórias em todos os jogos). Os argentinos adentraram no mítico Millennium Stadium de Cardiff com Martín Sansot (Pueyrredón), Daniel Beccar Varela, Alejandro Travaglini, Gonzalo Beccar Varela (todos do CASI), Jorge Gauweloose (CUBA), Hugo Porta (Banco de la Nación), Adolfo Etchegaray (CASI), Carlos Neyra, Ricardo Mastai (ambos do CUBA) e Jorge Carracedo (SIC), José Fernández (Deportiva Francesa), Eliseo Branca (Curupaytí), Fernando Insúa (SIC), José Costante (Jockey Club de Rosario) e Rito Irañeta (Mendoza), com Jorge Braceras (Alumni) a substituir Costante. Em negrito, os que haviam estado também em 1968.

Os galeses se opuseram com J.P.R. Williams, Gerald Davies, Ray Gravell, Roy Bergiers, J.J. Williams, Phil Bennett, Gareth Edwards, Terry Cobner, Derek Quinnell, Trefor Evans, Barry Clegg (Jeff Squire), Geoff Wheel, Charlie Faulkner, Bobby Windsor e Graham Price. Os visitantes, com tries de Gauweloose e Gonzalo Beccar Varela, dois penais deste e um penal e conversão de Porta, conseguiam vencer até o último lance. Foi quando Bennett acertou um penal, seu quarto no jogo, e garantiu um árduo 20 a 19 para o dragão, a ter contado também com tries de Davies e Edwards.

Os dois anos seguintes foram marcados por outras não-vitórias das mais recordadas, desta vez em empates. O de 2 de julho de 1977 marcou a primeira ocasião em que os Pumas não saíram derrotados pela França (18 a 18 no campo do Ferro Carril Oeste). O de 14 de outubro de 1978 foi um 13 a 13 contra a Inglaterra, enfrentada pela primeira vez. A partida deu-se não na Argentina, mas dentro de Twickenham, o mítico estádio londrino que equivale para o rúgbi o que Wembley é para o futebol.

Martín Sansot (Pueyrredón), Marcelo Campo (Old Georgians), Marcelo Loffreda, Rafael Madero (ambos do SIC), Adolfo Cappelletti, Hugo Porta (ambos do Banco de la Nación), Ricardo Landajo (Pueyrredón), Tomás Petersen (SIC), Héctor Silva (Los Tilos), Gabriel Travaglini (CASI), Alejandro Iachetti (Hindú), Ricardo Passaglia (La Tablada de Córdoba), Hugo Nicola (Curupaytí), Alejandro Cubelli (Belgrano Athletic) e Alejandro Cerioni (Pueyrredón) envergaram a camisa alviceleste naquele dia. Alejandro Cubelli é pai de Tomás Cubelli, também do Belgrano e membro do elenco argentino neste Quatro Nações.

Os Pumas pela primeira vez no principal templo do rúgbi, o Estádio de Twickenham, em 1978: Iachetti, Travaglini, Passaglia, Silva, Cerioni, Nicola, Cubelli, Petersen e Madero; Landajo, Cappelletti, Loffreda, Porta, Campo e Sansot. Arrancaram um 19 a 19 com a anfitriã Inglaterra

Kevin Bushell, Peter Squires, Peter Warfield, Paul Dodge, Mike Slemen, John Horton, Chris Gifford, Barry Nelmes, Peter Wheeler, Fran Cotton, Bill Beaumont, Maurice Colclough, Peter Dixon, Mike Rafter e John Scott, do outro lado, carregaram o brasão da Rosa no peito. Os pontos argentinos vieram com tries de Campo e Passaglia e com Porta acertando uma conversão e um penal; os ingleses, com tries de Gifford e Squires, uma conversão de Bushell e um drop goal de Horton.

Em 1981, seria a vez de a seleção inglesa, pela primeira vez, visitar o adversário, com quem empatou novamente: 19 a 19, embora depois vencesse por 12 a 6. A Rosa aportara justamente quando se desenrolaria um Sul-Americano, o que fez os argentinos deixarem de participar da competição continental. O Uruguai, então, venceria aquela que ainda é a única das 34 edições não-faturada pelos Pumas.

Ainda naquela mesma turnê europeia de 1978 em que Porta completou 94 dos 157 pontos argentinos, houvera uma derrota por 6 a 19 para a Itália, no primeiro duelo contra os Azzurri. Já em 1979, a Argentina esteve pela primeira vez na Oceania, para compromissos contra a Nova Zelândia: derrotas honrosas por 9 a 18 e 6 a 15 após os atropelos de 9 a 21 e 6 a 26 ocorridos dentro da Argentina em 1976 (quando os neozelandeses foram confrontados pela primeira vez pelos hermanos). Também enfrentou-se a Austrália, mas com esta de visita ao Rio da Prata. Os Pumas conseguiram vencer por 24 a 13, em 27 de outubro, no primeiro pega contra os Wallabies.

Este jogo marcou a estreia internacional de Enrique Rodríguez, personagem das duas seleções. Quatro anos depois, foi a vez dos argentinos visitarem a Austrália e lá ele defendeu a terra natal pela última vez, ficando na dos cangurus, adotando-a tão bem que estaria no plantel australiano quarto colocado da Copa de 1987 – ano em que jogaria pela última vez pelos auriverdes, contra… a Argentina, em Buenos Aires. El Topo atuou ainda por outras duas seleções, uma delas a do Taiti.

Scrum entre Springboks e Jaguares em 1980. E capa da El Gráfico de 6 de abril de 1982, com Hugo Porta: a histórica vitória três dias antes sobre a África do Sul ofuscou chamadas sobre Maradona e as Malvinas

A outra foi a da América do Sul. Ela foi reunida em 1980, 1982 e 1984 para burlar o boicote à racista África do Sul (intensificado a partir da década de 70 por conta do Massacre de Soweto) e enfrentar os Springboks, que viviam um ostracismo por conta do cada vez mais polêmico apartheid. Este selecionado sul-americano foi formado basicamente por argentinos em todas as ocasiões, e seu apelido foi justamente Jaguares – o animal presente no distintivo do rúgbi argentino.

Os únicos rugbiers brasileiros presentes foram Diego Padilla (1982), do Alphaville e que é imigrante argentino naturalizado, e Pedro Cardoso (1980 e 1982), do Niterói. Paraguaios, uruguaios e chilenos também foram representados em números mínimos na delegação, e nenhum entraria em campo. O único Jaguar não-argentino a sair da reserva contra os sul-africanos, ironicamente, nem sul-americano era: foi o espanhol Tomás Pardo Vidal, em 1984, nas partidas que marcaram também os últimos tests do primeiro Bok negro, Errol Tobias. Antes, em 1980, Héctor Silva, um daqueles que diante dos Junior Springboks em 1965 tornaram-se os primeiros Pumas, encerrou seu ciclo diante da seleção sul-africana, desta vez a principal.

Nestes oito jogos em que os argentinos ostentaram um brasão a reunir o seu jaguar, a águia do Chile, o quero-quero do Uruguai, o jacaré do Paraguai, a vitória-régia do Brasil e vestiram as cores de todos esses países, conseguiram a única vitória sobre a seleção principal da África do Sul, até hoje não-derrotada quando se deparou oficialmente com os Pumas (este tabu quase acabou no jogo passado entre eles neste Quatro Nações, encerrado em 16 a 16 em Mendoza).

Este triunfo Jaguar ocorreu em 3 de abril de 1982. Os argentinos disfarçados vinham de um acachapante 18 a 50 na semana anterior contra os mesmos Springboks, o que só aumentou o choque dessa vitória. Eduardo Sanguinetti (CUBA), Guillermo Varone (CASI), Marcelo Loffreda, Rafael Madero (ambos do SIC), Alejandro Puccio (CASI), Hugo Porta (Banco de la Nación), Alfredo Soares Gache (SIC), Jorge Allen (CASI), Ernesto Ure (CUBA), Mario Negri (Alumni), Eliseo Branca (CASI), Carlos Bottarini (Banco de la Nación), Pablo Devoto, Andrés Courreges (ambos do CASI) e Serafín Dengra (San Martín) foram os quinze por trás do histórico 21 a 12 no Free State Stadium de Pretória.

Tomás Petersen a galope contra a Austrália em 1983. Ele marcou um dos tries dos surpreendentes 18 a 3 em Brisbane

Porta foi o personagem principal: além de ser o capitão, todos os pontos sul-americanos foram concluídos por ele, através de um try, uma conversão, quatro penais e um drop goal no conjunto formado por Johan Heunis, Willie du Plessis, Carel du Plessis, Danie Gerber, Ray Mordt, Naas Botha, Divan Serfontein, Rob Louw, Wynand Claassen, Theus Stofberg, Louis Moolman, Burger Geldenhuys, Ockie Oosthuizen, Willie Kahts e Hempies du Toit. Gerber fez um try e Botha completou os pontos sul-africanos com uma conversão e dois penais.

Rigorosamente falando, porém, a Argentina ainda não havia vencido longe de casa seleções principais do alto escalão (já que oficialmente o triunfo foi do Sudamérica XV). Todas as vitórias alvicelestes contra estas, incluindo ainda um 34 a 22 e um 38 a 16 em Fiji em 1980, um 35 a 0 no Canadá em 1981 e, contra o Resto do Mundo, um 36 a 22 (1980) e 28 a 20 (1983), foram em torno da Bacia do Rio da Prata. Tal pendência seria resolvida no ano seguinte ao triunfo dos Jaguares. Foi na primeira visita à Austrália.

Em 31 de julho de 1983, os Wallabies foram derrotados por sonoros 3 a 18 no Bellymore Stadium, em Brisbane, por metade e algo mais da escalação daquela vitória jaguar sobre a África do Sul (negrito): Bernardo Miguens (CUBA), José Palma (Pucará), Marcelo LoffredaRafael MaderoMarcelo CampoHugo PortaAlfredo Soares Gauche, Ernesto Ure, Buenaventura Mínguez, Tomás Petersen (ambos do SIC), Gustavo Milano (Jockey Club de Rosario), Eliseo Branca, o futuro australiano Enrique Rodríguez (Tala de Córdoba), Andrés Courreges Serafín Dengra. Petersen e Mínguez anotaram um try cada, e Porta assinou o resto: duas conversões, um penal e um drop goal.

O único ponto australiano foi de David Campese, a ser o homem que mais marcou tries por uma seleção (64, só sendo superado por Daisuke Ohata, aposentado em 2011 com 69 pelo Japão). Ainda assim, foi de penal que Campese marcou. Os colegas deste ponta foram Roger Gould, Andrew Slack, Mike Hawker, Brendan Moon, Mark Ella, Dominic Vaughan (Tony Parker), David Codey, Simon Poidevin, Chris Roche, Duncan Hall, Spider Hillhouse, Stan Pilecki, Bill Ross e Declan Curran.

O rúgbi duas vezes capas da El Gráfico em 1985, por conta da primeira vitória sobre a França (com Ernesto Ure no momento de seu try), a ofuscar derrota da seleção de futebol para o Peru nas eliminatórias para a Copa de 1986; e da única não-derrota frente a Nova Zelândia (Porta)

Os novos feitos do período viriam em 1985. Em 22 de junho, os Pumas, enfim, venceram o antigo bicho-papão a atender pela seleção francesa, em um 24 a 16. Em 2 de novembro, foi a vez de um histórico 21 a 21 com a Nova Zelândia, na única vez em que não se perdeu para ela. Hugo Porta foi mais uma vez o nome destes logros. Contra os gauleses, ele conseguiu duas conversões, em tries de Ernesto Ure e Fabián Turnes, além de marcar um drop goal e três penais.

Já sobre os temidos All Blacks, Porta, a exemplo daquela vitória jaguar, marcou todos os pontos, com quatro penais e três drops. Isto renderia ao abertura (posição equivalente ao meia-armador – ou enganche, para os argentinos – no futebol) de 34 anos as premiações de melhor esportista argentino do ano (o Olimpia de Oro) e de melhor jogador de rúgbi do mundo, na opinião da revista francesa Midi Olympique – a premiação oficial da International Rugby Board só começaria em 2001.

Porta, de qualquer forma ainda o único argentino e americano a ser eleito o melhor jogador mundial do esporte, foi naturalmente o rugbier que mais apareceu na primeira página da El Gráfico, quando esta revista mais voltada ao futebol resolveu estampar manchetes sobre a bola oval. Além de personalizar as vitórias da seleção nas capas, ele chegou a aparecer também com a tenista Gabriela Sabatini, o piloto Guillermo Maldonado, o pugilista Uby Sacco e, do futebol, Enzo Francescoli (o uruguaio do River Plate fora o primeiro não-argentino eleito o melhor jogador da liga nacional) e Claudio Borghi (o atual técnico do Chile havia sido a estrela do nanico Argentinos Juniors vencedor da Libertadores) em uma edição dedicada aos “feitos e protagonistas de 1985”.

Em 2009, a publicação completou 90 anos e com isso lançou três edições especiais com cada uma retratando períodos de três décadas da história da mesma. Na dedicada aos “heróis modernos”, dos idos de 1979-2009, Porta voltou a aparecer com Sabatini e Francescoli, além de Maradona, Martín Palermo e, da geração dourada do basquete argentino, Manu Ginóbili. Outra das capas foi a da edição de 6 de abril de 1982: mesmo com letreiros dedicados a uma eventual compra definitiva de Maradona pelo Boca Juniors (não-concretizada, uma vez que Diego, que estava emprestado, rumou ao Barcelona após a Copa) e à Guerra das Malvinas, a imagem escolhida foi a do capitão dos Jaguares a vencerem os Springboks.

A El Gráfico incluindo Hugo Porta entre outros celebrados do esporte argentino. Na da esquerda, de 1985, pode-se ler os letreitos “exclusivo desde a França: Porta, o melhor rugbier do mundo”

O festejado cotejo contra os franceses em 1985 reuniu Bernardo Miguens, Juan Lanza (ambos do CUBA), Diego Cuesta Silva (SIC), Fabián Turnes, Ricardo Annichini, Hugo Porta (os três, do Banco de la Nación), Javier Miguens, Ernesto Ure (ambos do CUBA), Tomás Petersen (SIC), Jorge Allen, Eliseo Branca (ambos do CASI), Gustavo Milano (Jockey Club de Rosario), Diego Cash (SIC), Alejandro Cubelli (Belgrano Athletic) e Fernando Morel (CASI). Pedro Lanza (CUBA) entrou no lugar de Annichini e Guillermo Holmgreen (Olivos), no de Javier Miguens, para a partida contra os neozelandeses. Rafael Madero (nestes dois jogos), do SIC, e Sergio Carosio (no segundo), do Olivos, também participaram, vindos do banco.

Os Bleus derrotados foram Serge Blanco (venezuelano de nascimento), Jean-Baptiste Lafond, Didier Codorniou, Philippe Sella, Éric Bonneval, Jean-Patrick Lescarboura, Pierre Berbizier, Jean-Luc Joinel, Éric Champ, Jacques Gratton, Alain Lorieux, Jean Condom, Jean-Pierre Garuet-Lempirou, Philippe Dintrans e Pierre Dospital. E os All Blacks que não venceram foram Kieran Crowley, John Kirwan, Warwick Taylor, Victor Simpson, Craig Green, Wayne Smith, David Loveridge, Mark Shaw, Murray Mexted, Jock Hobbs, Gary Whetton, Andy Haden, Brian McGrattan, Hika Reid e Steve McDowall.

O público abarrotou tanto nas duas partidas o Arquitecto Ricardo Etcheverri (o campo do Ferro Carril Oeste) que, por conta disso, a seleção passou a usar o do arquirrival Vélez Sarsfield em 1986, em nova série de jogos contra a França. Em uma nova vitória, por 15 a 13, registrou-se no estádio José Amalfitani o maior público de um jogo de rúgbi na Argentina, com estimadas 48.500 pessoas na cancha velezana. El Fortín de Liniers acabaria firmando-se como a nova casa puma a partir da década seguinte.

Ainda que 1986 reservasse uma mal-sucedida gira pela Austrália (que venceu os tests por 39 a 19 e 26 a 0), todo esse histórico colocou os Pumas como uma das principais equipes a participarem da primeira Copa do Mundo, um ano depois – cuja final reuniria exatamente França e Nova Zelândia. Chegar ao menos nas quartas-de-final era algo plausível. No próximo especial, contaremos o que realmente aconteceu.

Lance do histórico 21 a 21 em 1985 contra a Nova Zelândia, o adversário de logo mais

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

4 thoughts on “História dos Pumas – Parte III: O começo na elite

  • canalha_rs

    Grave error: Gustavo Milano no era de Atlético del Rosario, nunca jugó ahí… es de Jockey Club (Rosario).
    Miguel Chesta tampoco es de Atletico del Rosario, jugó en Duendes R.C. de Rosario… incluso fue presidente.

  • canalha_rs

    enrique “topo” rodriguez nació en realidad en Concordia, Entre Ríos aunque después si jugo para un club de córdoba ( Tala Rugby Club) y la seleccion cordobesa, Los Dogos

  • Caio Brandão

    Valeu, Esteban! Equívocos ajustados, abração :)

  • Pingback: Austrália, histórica pedra nas chuteiras da seleção argentina

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