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Elementos em comum entre River e Independiente

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Cambiasso pelos dois lados: foi mais ídolo no Independiente, mas passou bem pelo River

Hoje tem jogo entre gigantes da Argentina: River Plate e Independiente farão duelo que já poderia ser interessante pelo porte de ambos, entre os cinco grandes do país (ao lado de Boca, Racing e San Lorenzo). Só que o River luta pelo título, que injetaria moral no clube, que acabou de voltar da segundona – justamente o que pode ocorrer hoje ao oponente, que, ao lado do Boca, jamais caiu. O próprio River era, até 2011, o outro a ter este orgulho. A queda dos Rojos também significaria uma torcida rival a menos para zombar dessa mancha na Banda Roja.

Como ambos são clubes dos mais vitoriosos no país – o River é o maior campeão argentino (34 vezes, contando um amador) e o Independiente, o maior da Libertadores (7), não são raros aqueles campeões por ambos. Mas, ídolos mesmo, foram poucos. Curiosamente, já fizemos um especial no estilo falando exatamente dos rivais Boca e Racing, aqui.

José Varacka

De pais tchecos, este volante do Independiente que virou zagueiro no River foi pé-frio. Passou oito anos nos Diablos (1952-59) e sete nos Millonarios (1960-66), que lhe adquiriam por 2 milhões e meio de pesos, então uma exorbitância. Não conseguiu dar voltas olímpicas em nenhum, justamente na época em que viviam seus maiores jejuns (respectivamente, 1948-60 e 1957-75). El Puchero, contudo, era um grande líder e, embora lento, tinha forte presença física e também no jogo aéreo. Qualidades que fizeram dele primeiro que a Argentina usou de ambos. Campeão da Copa América de 1959 e da Copa das Nações de 1964 (maior título da Albiceleste até 1978), jogou as Copas 1958, 1962, 1966 e foi técnico na de 1974.

Luis Artime

Também nos anos 60, a Argentina convocou de ambos o matador Luis Artime. Embora fosse mais oportunista do que técnico, El Diente foi um dos maiores goleadores que a América já viu (pela seleção, foram 23 em 24 jogos; no River, 70 em 80; no Rojo, 53 em 86). Já havia chegado à ela através do nanico Atlanta, em 1961, indo ao River no ano seguinte. Foi por quatro anos o goleador da seleção, só sendo superado neste aspecto por Maradona e Batistuta.

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Varacka e Artime foram ídolos e chegaram à seleção por ambos

Artime esteve com Varacka no jejum do River, no título da Copa das Nações e no mundial de 1966 (3 gols em 4 jogos). Após a Copa, rumou ao Independiente, onde integrou o grande ataque campeão em 1967. Treinado por Osvaldo Brandão, os Rojos obtiveram o melhor aproveitamento da história do profissionalismo, cerca de 87% (ver aqui). Ele, ironicamente, era torcedor do rival Racing, no qual marcou duas vezes em um 4-0 no jogo do título.

Por cada um, Artime foi duas vezes artilheiro do campeonato argentino. Apenas Maradona tem mais artilharias (cinco) no profissionalismo. Artilheiro da Copa América de 1967 (5 gols em 5 jogos), sua saída para o Palmeiras em 1968 (campeão) o afastou da seleção, pois decadente ele não estava: guiou o Nacional do Uruguai ao primeiro título na Libertadores, em 1971, sobre o tricampeão seguido Estudiantes de La Plata. Também esteve no Fluminense.

Antonio Alzamendi

La Hormiga foi um dos numerosos uruguaios de sucesso nos dois clubes. Era defensor, mas ao chegar no Independiente em 1978, virou ponta. Naquele mesmo ano, foi campeão nacional, realizando com Ricardo Bochini grande dupla (“a mescla perfeita entre pensamento e execução”, segundo a El Gráfico): foi chave para os gols dele na final, diante do próprio River. Como diablo, marcou numerosos gols para um ponta: 80 em 196 jogos. Saiu em 1982 para jogar um ano no River. Manteve a veia goleadora para a posição: 43 em 108 jogos. Mas um gol já lhe bastaria para eternizá-lo: cabeceou um rebote para as redes do Steaua Bucareste, marcando o único gol da Taça Intercontinental de 1986, a única vencida pelo Millo.

Esteban Cambiasso

O classudo volante foi produzido no Argentinos Jrs e contratado como um novo Fernando Redondo pelo Real Madrid após estrelar o mundial sub-20 de 1997. Os espanhóis o emprestaram ao Independiente ainda em 1997, e El Chuchu refinou o meio-campo rojo dali até 2001, com pedido dele próprio para o empréstimo ser prorrogado. Os primeiros torneios foram oscilantes até o time se acertar bem na virada do século, com um vice em 2000, justo para o River. Cambiasso trocou de camisa no ano seguinte. Em Núñez, enfim foi campeão, no Clausura 2002, voltando em seguida ao Real. Marcou nos dois Superclásicos que jogou, incluindo um no 3-0 em plena Bombonera na campanha daquele título.

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Alzamendi e Gallego: campeões de tudo no River e encerraram jejuns nacionais no Independiente

Américo Gallego

El Tolo havia sido aprovado nos juvenis do River, mas só foi jogar pelo clube em 1981, quando já fazia sucesso na seleção, como jogador do Newell’s Old Boys. Fora o volante titular campeão mundial em 1978 e, com 63 convocações vindo do NOB, é quem mais esteve na seleção a partir de um clube argentino. Esteve outras dez vezes nela a partir do River. Era ele o capitão no mágico 1986: o Millo foi campeão nacional e também obteve, enfim, suas primeiras Libertadores e Intercontinental.

Como técnico, comandou o primeiro elenco campeão nacional invicto no clube, no Apertura 1994, vencendo também o Clausura 2000. Foi na nova função que destacou-se no Independiente: sob ele, os Rojos foram campeões argentinos pela última vez, em 2002 (falamos aqui), com o melhor ataque da década, quando estavam ameaçadíssimos de rebaixamento e em jejum nacional de oito anos. Por conta disso, os dirigentes chamaram-no de volta dez anos depois, mas nem ele conseguiu fazer a equipe render o suficiente para fugir da degola. Hoje, a batata está com Miguel Brindisi.

Em comum na seleção…

Fora Varacka, Artime, outros dois estiveram na Albiceleste por ambos. Carlos Morete foi um dos jovens trabalhados pelo brasileiro Didi, que o lançou no River em 1970. El Puma destacou-se desembestando a marcar em Superclásicos, nove. Dois deles viraram para 5-4 uma derrota parcial por 3-4 em um dos dérbis mais recordados, cheios de outras viradas, em 1972 – o River usara juvenis, por conta da greve de seus profissionais, ao passo que o rival usara titulares (falamos aqui). Foi um dos pilares na quebra, em 1975, do jejum de dezoito anos, sendo o artilheiro do campeão, com 25 gols.

Após o troféu, foi jogar na Espanha. Ao todo, ele marcou 105 vezes em 200 jogos vestindo a Banda Roja. Retornou à Argentina em 1981… no Boca. O time foi campeão, mas ele não se destacou. Relançou-se no Talleres e, logo depois, no Independiente, no qual foi artilheiro do Metropolitano de 1982 e retornou à seleção depois de dez anos – é o segundo maior hiato de um jogador nela. Outro torcedor do Racing, minguou depois, não se firmando tanto na idolatria roja.

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Morete e Altamirano

Ricardo Altamirano surgiu no Unión de Santa Fe, onde é mais querido: este lateral fez um dos gols nas finais pelo acesso na segunda divisão de 1989, logo em um dérbi contra o Colón – falamos disso aqui. Foi logo contratado pelo Independiente e Alfio Basile o usou na seleção em quase todo o seu ciclo, mas Altamirano acabou sendo um dos crucificados nos 0-5 para a Colômbia em Buenos Aires nas eliminatórias para a Copa de 1994, não indo aos EUA. Já estava desde 1992 no River, onde jogou até 1997. Foi titular na última Libertadores vencida pelo clube, em 1996.

Atualização em 2015: neste ano, o River voltou a vencer a Libertadores.

…e em comum em títulos

Além de Alzamendi, Gallego (como técnico no Independiente) e Morete, outros já foram campeões em ambos. Miguel Ángel Raimondo, um meia do início do tetracampeonato seguido do Independiente na Libertadores, nos anos 70. Ganhou também os Metropolitanos de 1970 e 1971. Após vencer as três primeiras Libertadores do tetra, chegou ao River em 1975, participando naquele ano da quebra em dose dupla daquele jejum que se vivia em Núñez desde 1957. Mas é mais lembrado no Rojo.

Oscar Ortiz surgiu como um ponta ciscador no grande San Lorenzo do início dos anos 70, passou pelo Grêmio em 1976 e, sem se fincar no Tricolor, chegou ao River. Com a banda roja, obteve três metropolitanos e um nacional entre 1977 e 1981, além de sair como titular da Copa do Mundo de 1978. Aposentou-se com apenas 30 anos, vencendo o Metro 1983 com o Independiente, mas na reserva. Carlos Enrique era seu colega naquele Metro, sendo o lateral titular. Participou ativamente do ocaso do Rojo na Libertadores e Intercontinental, com os títulos neles em 1984.

El Loco Enrique foi ao River em 1988, passando a jogar ao lado do irmão, Héctor (campeão mundial em 1986). Obteve dois títulos argentinos, até sair em 1992. Também chegou à seleção, em 1991. Rafael Gordillo, apesar dos 1,63 m de altura, foi defensor do River por mais de dez anos, de 1981 a 1992, período em que o Millo conseguiu quatro nacionais, e, em 1986, a primeira Libertadores e Intercontinental. Seguiu a carreira por mais três anos, no Independiente, conseguindo o Clausura 1994 (sob o técnico Miguel Brindisi, o mesmo que está atualmente no clube – ver aqui), mas na reserva.

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Raimondo e Enrique, campeões da Libertadores e Intercontinental pelo Rojo e nacionais no River

Aquele Independiente de 1994 teve dois antigos colegas de Gordillo: o zagueiro titular José Serrizuela, que esteve em Núñez entre 1988 e 1990, venceu o campeonato de 1989-90 e participou da Copa 1990; e o veterano atacante Ricardo Gareca, que encerrou a carreira após o título com os diablosEl Tigre Gareca surgira no Boca, passando diretamente ao arquirrival em 1985, em polêmico troca-troca com Oscar Ruggeri por Julio Olarticoechea e Carlos Tapia. Ficou pouco: participou do início da vitoriosa temporada 1985-86 e rumou ao América de Cali, sendo trivice seguido na Libertadores.

Sebastián Rambert era o artilheiro do Independiente de 1994 e 1995, quando o clube foi também bicampeão seguido na Supercopa. Chegou à Internazionale com mais pompa que o compatriota Javier Zanetti, mas uma lesão o atrapalhou em Milão. Tentou retomar a carreira no Boca e, logo depois, no River. Integrou os vencedores do Apertura 1997, mas sem brilho. Por fim, dois que estarão em campo hoje pelos de Avellaneda: o zagueiro Eduardo Tuzzio e o meia Daniel Montenegro. O zagueiro Tuzzio integrou os últimos títulos nacionais do River, os Clausuras de 2003, 2004 e 2008; e a última taça internacional do Rey de Copas, a Sul-Americana de 2010, onde bateu o pênalti decisivo contra o Goiás.

Atualização em 2015: o River voltou a ser campeão nacional em 2014.

Pelo River, Tuzzio chegou à seleção, mas foi, ainda que sob certa má vontade da torcida, um dos crucificados pela má fase que o clube viveu no segundo semestre de 2008: após ser campeão no Clausura, foi simplesmente o último do Apertura. Já El Rolfi Montenegro está em sua quarta passagem pelo Independiente, onde conseguiu tornar-se ídolo como nos tempos de Huracán. Retornou uma vez mais neste 2013, para tentar tirá-lo do abismo. Venceu o último nacional rojo, em 2002, e por ele chegou à seleção, em 2007. No ínterim, teve dois passos pelo River, ganhando o Clausura 2004 e sendo no mesmo ano semifinalista da Libertadores.

Clique nestas outras rivalidades para acessar seus elementos em comum: Boca-Racing, Independiente-San LorenzoRacing-San LorenzoRacing-IndependienteRiver-RacingBoca-IndependienteBoca-San LorenzoRiver-San LorenzoBoca-River IBoca-River II, Boca-River IIIBoca-River IV. No mesmo estilo, também fizemos a da rivalidade San Lorenzo-Huracán.

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Montenegro e Tuzzio, últimos a terem algum destaque em ambos, especialmente no Independiente

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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