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Elementos em comum entre Cruzeiro e San Lorenzo

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Só Montillo jogou nos dois: nas imagens, em um de seus últimos jogos por San Lorenzo (em 2007) e Cruzeiro (em 2013)

Hoje o San Lorenzo recebe o Cruzeiro pelas quartas da Libertadores, já tendo passado pelos também brazucas Botafogo e Grêmio. Já a Raposa, curiosamente, enfrentará outro azulgrana apelidado de Ciclón e que dentro do próprio país é o maior clube que ainda não venceu a Libertadores, três características do Cerro Porteño também presentes no CASLA.

Ambos os clubes já se enfrentaram seis vezes em torneios da Conmebol. Quatro delas só na primeira Copa Mercosul, em 1998. Ambos se classificaram no grupo que tinha ainda São Paulo e Colo Colo, com um 2-1 para cada lado, gols de Eduardo Coudet, Eduardo Tuzzio e Marcelo Ramos na Argentina e Valdo, Müller e Alberto Acosta no Brasil. Nas semis, os mineiros venceram em casa por 1-0 (Alex Alves) e arrancaram um 1-1 fora (Federico Basavilbazo e Djair).

Dez anos depois, eles novamente se encararam na primeira fase e terminaram ambos classificados. Os cuervos almejavam a Libertadores mais do que nunca, pois viviam seu centenário, com Andrés D’Alessandro sendo sua principal contratação para tentar o feito. No Nuevo Gasómetro, foi 0-0, e em Ipatinga, um 3-1 brasileiro com Jorge Wagner e dois de Marcelo Moreno, que deve jogar hoje a noite; Andrés Silvera descontou. A Raposa logo caiu para o Boca nas oitavas, onde D’Alessandro ajudou a eliminar o seu velho River. Mas o bom elenco do Ciclón caiu logo, para a campeã LDU nas quartas.

Meia década após deixar escapar um troféu que parecia ganho do Estudiantes de Verón e do técnico Sabella (hoje na seleção), o Cruzeiro busca um troco imediato ao título do maior rival e juntar-se a São Paulo e Santos como brasileiro mais vencedor da Libertadores. O CASLA, o inédito título para enfim livrar-se da piadinha Club Atlético Sin (“Sem”) Libertadores de América com a sigla de Club Atlético San Lorenzo de Almagro. Eles têm mesmo poucas semelhanças fora o título nacional ano passado.

De semelhanças, pode-se citar também que, se hoje têm vantagem nos troféus em relação aos rivais, houve tempo diferente: o Cruzeiro era uma terceira força em Minas e até meio século atrás, em 1964, ainda tinha menos Estaduais que o América. Foi a partir da Era Mineirão, inaugurado em 1965, que se firmou como “o” rival do Atlético. Se continua a ter menos Estaduais e vitórias no clássico mineiro, a Raposa pode gabar-se de uma coleção nacional e internacional de troféus bem maior.

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Gloriosos anos 70 para ambos: o Cruzeiro do argentino Perfumo (ao centro) contra o Atlético; e Héctor Scotta (irmão do ex-gremista Néstor Scotta) vibrando em clássico com o Huracán

Já o San Lorenzo estava atrás do Huracán em títulos argentinos até os anos 30. Ou até os anos 40, visto que a “taça-desempate” de 1936 só foi reconhecida como título argentino no ano passado. Mas hoje domina amplamente o clássico de bairro: dez títulos nacionais a mais, dois internacionais (Mercosul 2001, Sul-Americana 2002) contra nenhum do rival, maior número de vitórias no dérbi mesmo fora de casa, atual campeão da elite enquanto o rival está na segundona…

Também pode-se mencionar o início dos anos 70. Os rivais até foram campeões nacionais (Atlético em 1971, Huracán em 1973), mas em um período dos mais vitoriosos aos oponentes de hoje. O Cruzeiro foi tetra estadual de 1972-75 e bivice nacional em 1974-75, contando consigo com Roberto Perfumo, capitão da Argentina na Copa 1974. Além de ser em 1976 o primeiro brasileiro a vencer a Libertadores desde o Santos de Pelé (curiosamente, enfrentando Perfumo, já no River).

Já o San Lorenzo, que vinha de conquistas bissextas, conseguiu quatro títulos argentinos entre 1968 e 1974, alguns históricos: o de 1968 foi o primeiro campeonato profissional ganho invicto no país (clique aqui). Já em 1972 foram ganhos os dois, o primeiro deles também invicto: o Metropolitano e o Nacional, os torneios anuais que dividiram o calendário dos principais times argentinos entre 1967-85 – o San Lorenzo foi o primeiro a ganhar ambos no mesmo ano (clique aqui). O time também foi semifinalista na Libertadores de 1973, até hoje o mais perto que chegou dessa taça ainda inédita.

O outro elemento em comum é o único que vestiu as duas camisas: Walter Montillo. Uma grande pena que a transferência ao Santos no início de 2013 tenha se revelado uma ironia: Neymar, seu fã confesso e com quem faria dupla, rumou no meio do ano ao Barcelona; o argentino não foi tão esplendoroso como no Cruzeiro e sumiu da seleção; e o ex-clube abocanhou com sobras o Brasileirão que Montillo, hoje na China, não conseguira conquistar em três tentativas com a Raposa.

No San Lorenzo, La Ardilla (“O Esquilo”) debutara profissionalmente, em agosto de 2002, no início do Apertura. O Ciclón vivia sua última grande época até hoje: no ano anterior, o time faturou o Clausura com um recorde de pontos na era dos torneios curtos (47) e conseguiu um recorde nacional de 13 jogos seguidos vencendo. No início de 2002, levantara seu primeiro troféu internacional na era profissional, a Copa Mercosul válida por 2001, sobre o Flamengo: clique aqui.

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Montillo ainda no San Lorenzo: comemorando gol sobre o Independiente de Kun Agüero; e com a camisa 10 entre o ex-gremista/corintiano/botafoguense Herrera e Lavezzi

Mesmo com a debandada da maior parte do elenco, incluindo o técnico Manuel Pellegrini (hoje no Manchester City), o San Lorenzo seguiria forte até o fim daquele 2002, quando faturou também a primeira edição da Sul-Americana: clique aqui. O novo treinador era Rubén Insúa, que enxergou potencial em Montillo e o pôs de titular no início da temporada 2002-03 para fazer dupla com o grande maestro daquele elenco, o meia Leandro Romagnoli, que segue presente no time. Mas o novato machucou-se em treino e acabou não integrando a campanha vitoriosa na Sul-Americana.

Em 2003, dessas vez com Romagnoli lesionado, um Montillo já recuperado o substituiu bem na armação das jogadas no segundo semestre enquanto Alex liderava a tríplice coroa cruzeirense. Já o San Lorenzo só não terminou campeão do Apertura porque tinha pela frente o último Boca formidável de Carlos Bianchi, recém-campeão da Libertadores e em breve também na Intercontinental. Fizeram um confronto direto na Bombonera na penúltima rodada, e Iarley marcou o único tento de uma partida em que Montillo não pôde participar: revelação do torneio, isso se voltou contra o próprio CASLA, que perdeu em novembro ele, Pablo Zabaleta e Jonathan Bottinelli para o mundial sub-20.

Aquele desempenho de Montillo e do San Lorenzo, porém, não se manteve, com o clube colhendo tardiamente os efeitos da parceria com a ISL, mesmo treinado por emblemas da instituição (Néstor Gorosito, Héctor Veira, Oscar Ruggeri): foi 9º no Clausura 2004; eliminado na primeira fase da Libertadores 2005, ano em que também foi 16º no Clausura e 9º no Apertura; 8º no Clausura 2006… o meia foi emprestado ao futebol mexicano e não foi levado em conta por Ramón Díaz ao retornar em 2007, quando o time enfim acabara de voltar a ser campeão, no Clausura (clique aqui).

Em 2008, veio a ida consagradora à Universidad de Chile. O resto é conhecido: exibição de gala contra o Flamengo na Libertadores 2010 ainda por La U; líder da arrancada cruzeirense quase campeã em 2010; único a se salvar no time por um triz não rebaixado em 2011 (tanto que recebeu a Bola de Prata assim como em 2010); chegada à seleção A em 2012 (sem considerar o Superclássico das Américas em 2011). Na Raposa, virou também goleador: é o estrangeiro com mais gols nela, 36.

Montillo não pôde se firmar como ídolo azulgrana, mas seu talento não deixou de ser reconhecido: interagindo com amigos torcedores do clube em Buenos Aires em 2012, nosso colaborador Tiago de Melo Gomes indagou por que o time, muito ameaçado de rebaixamento antes de engatar a campanha campeã, não soube aproveitar o meia. No que ouviu: “San Lorenzo es un club de m…“.

*Veja também: Elementos em comum entre Botafogo e San Lorenzo e Elementos em comum entre Grêmio e San Lorenzo.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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