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Um bósnio é o único europeu que conseguiu hat trick sobre a Argentina (homenagem a Srebrenica)

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11 de julho de 2015 marca os vinte anos do início do Massacre de Srebrenica, na Guerra da Bósnia. É a maior tragédia em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial e mesmo antes da data completar os vinte anos as animosidades se reviviam nesta semana, com a Rússia (aliada histórica da Sérvia) usando seu poder de veto na ONU para impedir o reconhecimento formal de que aquilo tratou-se de um genocídio. Nosso singelo tributo é relembrar os homens que conseguiram marcar três gols em um só jogo sobre a Argentina. Foram seis e apenas um é europeu: Safet Sušić, velho conhecido dos hermanos.

O primeiro foi o uruguaio José Piendibene, em um 4-2 em Montevidéu em 7 de dezembro de 1919. O Uruguai é o adversário mais vezes enfrentado pela Albiceleste, 187 vezes já contando com a Copa América de 2015, mas só este encontro teve um hat trick da Celeste. Piendibene era o grande maestro do Peñarol e de sua seleção naqueles tempos, em que os charruas começaram a ganhar mais vezes dos vizinhos. Tanto que nos anos 20 foi eleito em votação promovida pela revista argentina El Gráfico (ainda existente) o maior craque de futebol de até então. Jogou pelo Uruguai dos anos 1900 aos 20.

O outro gol uruguaio foi do craque Héctor Scarone, o primeiro jogador que o Barcelona compraria do futebol sul-americano, em 1926. Para os argentinos, marcaram Atilio Badalini e Julio Libonatti, que similarmente a Scarone foi o primeiro jogador sul-americano vendido ao futebol europeu (ao Torino, em 1925).

Demorou-se quase meio século para a Argentina voltar a sofrer três gols de um mesmo adversário em um só jogo, uma entre tantas e tantas façanhas da carreira de Pelé. Foi pela Copa Roca de 1963, na vitória brasileira de 5-2 no Maracanã – Amarildo fez os outros dois do Brasil, com Raúl Savoy e Enrique Fernández descontando. O “sucessor” de Pelé foi Sušić.

Foi em uma ocasião em que a seleção argentina estava celebrada como nunca, pois havia acabado de ser campeã mundial pela primeira vez. Foi em 1979, no Marakana de Belgrado, na partida que marcaria a despedida do craque Dragan Džajić da seleção iugoslava. O bósnio simplesmente foi fazendo um gol atrás do outro e “sozinho” abriu 3-0. No primeiro, carregava a bola perto na entrada direita da grande área e tentou passa-la a um colega. Um hermano interceptou mas sem afastá-la, Sušić a pegou de volta, penetrou pelo centro e chutou prensado por dois adversários, mandando ao canto esquerdo.

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Sušić pela Iugoslávia na Copa de 1990 e contra a Argentina pela Bósnia em 2014

No segundo, ele foi fominha mesmo: em contra-ataque com três iugoslavos contra dois zagueiros argentinos, preferiu carregar, atraindo o goleiro para enfim chutar alto. No último, arriscou rasteiro de fora da área e o goleiro argentino foi incapaz de segurar após espalmar: a bola o encobriu e morreu nas redes. A partida terminaria em 4-2, com Daniel Passarella diminuindo em cobrança de falta, Blaž Slišković ampliando e Ramón Díaz, em seu primeiro gol pela Argentina, diminuindo outra vez.

Sušić brilharia nos anos 80 no nascente Paris Saint-Germain, sendo o líder do primeiro título francês do clube, em 1986, a única taça que o PSG conseguiu na Ligue 1 antes de ser favorecido por injeções financeiras (do Canal+ nos anos 90 e dos Emirados Árabes nos anos recentes). Aos fãs-modinha do clube parisiense, o maior ídolo da história dele é este bósnio e não Ibra.

Já veterano, Sušić deu trabalho novamente à Argentina na Copa de 1990, onde a Iugoslávia, treinada pelo bósnio Ivica Osim, jogou melhor mesmo com um a menos – outro bósnio, Refik Šabanadžović, fora expulso. Em tarde onde até Maradona falhou, já na decisão por pênaltis, Sergio Goycochea salvaria a Albiceleste a pagar a cobrança de outro bósnio, Faruk Hadžibegić. Sušić voltou a encontrar a Argentina na Copa de 2014, treinando a independente terra natal em derrota complicada por 2-1.

Voltando aos hat tricks, Rivaldo realizou sua melhor partida pelo Brasil naquele seu iluminado ano de 1999 no qual foi eleito o melhor jogador do mundo. Em Porto Alegre, Brasil e Argentina travaram um amistoso promovido pelo Zero Hora. Foi uma partida marcada pela alta movimentação no fim: Rivaldo abriu e ampliou o placar aos 41 e 42 minutos do primeiro tempo e Roberto Ayala diminuiu aos 45. O terceiro do pernambucano veio já aos 25 do segundo. Ronaldo matou a partida aos 37, com Ariel Ortega enfileirando a zaga brasileira para diminuir o vexame aos 43.

Em 2004, Ronaldo entrou para o clube. Relembrou os grandes tempos de Cruzeiro ao marcar no Mineirão todos os três gols brasileiros em um 3-1 nas eliminatórias para a Copa de 2006, ainda que todos tenham sido de pênalti. Outro ex-cruzeirense diminuiu, o lateral Juan Pablo Sorín.

A última vez já estaria naturalmente fresca na memória, mas ainda por cima foi a derrota mais elástica da história da Argentina: aqueles 6-1 contra a Bolívia em 2009, nas eliminatórias à Copa 2010, com Messi e tudo. Joaquín Botero, maior artilheiro da seleção boliviana, fez as honras da casa, com a outra metade dos gols verdes vindos de Didí Torrico e dos “brasileiros” Marcelo Moreno e Alex da Rosa. O incrível é que aquele vexame chegou a estar empatado em 1-1, quando Lucho González fez o gol alviceleste de honra, aos 25 do primeiro tempo.

Já falamos de Sušić em outros especiais: clique aqui e aqui.

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A grande Iugoslávia de 1990. Os bósnios aparecem agachados: Jozić é o primeiro, Sušić é o segundo, Hadžibegić é o quarto e Vujović, o último

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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