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11 jogadores para os 110 anos do Vélez Sarsfield

Nessa noite, José Luis Chilavert marcou um de falta e outro de pênalti em um 5-1 de virada sobre o Boca de Maradona e Caniggia, em meio ao título do Clausura 1996. O paraguaio é o maior jogador dos 110 anos de história do Vélez

Dedicado aos amigos Esteban Bekerman, dono da única livraria de futebol em Buenos Aires, e Thiago Henrique de Morais, editor-chefe do Futebol Portenho

“Pegue você a rua Rivadavia e suas laterais por quinze quadras em ambas as margens: ao chegar em Flores, respirará ainda os ares verdolagas (que se iniciam pelo Ferro no Parque Lezica), mas passando Nazca e entrando em Floresta, tudo será comum e inalterável até além de Ramos Mejía, inclusive até Morón. Tudo será velezano nesse largo percurso, com um alargado que poderíamos imaginar até Directorio olhando à esquerda e até Gaona olhando à direita. Tudo isso preenche os domínios do Vélez. O Vélez Sarsfield soube das vantagens de contrair dívidas, mas implantou o firme mote de gastar e endividar-se sensatamente. Gastar e endividar-se com bens que ficam no clube; não, como em sua maioria gastaram e mal gastam o dinheiro as demais instituições de futebol profissional… a administração consciente e o exemplar testemunho de uma orientação responsável, alheia a toda política, são os grandes orgulhos do clube que mais bairros aglutina atualmente em Buenos Aires (muito mais que Boca Juniors, San Lorenzo ou River Plate)”.

A crônica acima, da pena ácida de Dante Panzeri, foi publicada na revista El Gráfico nas comemorações de 50 anos do Club Atlético Vélez Sarsfield, em 1960. Na época, o clube não tinha um único título argentino, que tardaria até 1968, taça que gerou expectativa alta para 1969. Elas não se cumpriram ali, e a retrospectiva daquele ano feita pela mesma El Gráfico registrou isso como “a grande decepção” de 1969, começando assim a descrição: “quando o Vélez ganhou o torneio Nacional, tivemos a certeza de que outro autêntico grande se incorporava ao núcleo de equipes ganhadores de nossos campeonatos. O Vélez já era GRANDE na face institucional”. Essas duas impressões mostram o patamar que o Fortín já possuía muito antes de seus gloriosos anos 90. Pois se Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo se gabam como “os cinco clubes grandes”, com o Racing indo além ao se denominar “o primeiro clube grande”, o Vélez inverteu com categoria os fatores: o “primeiro a ser um grande clube” celebra hoje 110 anos.

Não que ele tenha surgido do nada naquele 1º de janeiro de 1910. Ele tampouco foi fundado por italianos, apesar da camisa tricolor adotada ainda nos primórdios e que virou um tradicional manto reserva depois de ser substituída nos anos 30 pela icônica V Azulada: Julio Guglielmone era uma exceção entre os fundadores Nicolás Marín Moreno, Martín Portillo, Antonio e Plácido Marín Moreno (irmãos de Nicolás), Adolfo Barredo, Luis Barredo, Alejandro Doldán, Fidel Rodríguez, Vicente Pozo, Rodrigo de la Hoz e Julio Money. Essa barra de amigos apenas formalizou após o réveillon a seriedade de uma equipe que já existia desde meados do ano anterior em jogos de várzea no oeste portenho. Ideia nascida pelo trio Guglielmone, Moreno e Portillo enquanto, fugindo de uma chuva, se abrigavam no túnel da estação ferroviária Vélez Sarsfield – que por sua vez homenageava o jurista Dalmacio Vélez Sarsfield, pai do primeiro Código Civil Argentino e que possuía um sítio naquela área.

José Amalfitani à frente do estádio (ainda com obras atrás de si) que leva seu nome: uma vida pelo Vélez

A estação então inspirou o nome Club Atlético Argentinos de Vélez Sarsfield. Dali o trio rumou à casa de Antonio Marín, organizando com os outros citados a reunião que elegeu Luis Barredo como primeiro presidente e Alejandro Doldán como secretário; o sótão da casa de Marín Moreno, no número 3800 da José Bonifacio, serviu de primeira secretaria. A primeira camisa era totalmente branca e o campo inicialmente usado, com traves desmontáveis, se situava rodeado pelas ruas Juan Batista Alberdi (então Provincias Unidas), Ensenada, Mariano Acosta e José Bonifacio (atual Convención), no atual bairro da Floresta – como o terreno não era próprio, não era incomum serem expulsos dali por autoridades. Mas a seriedade das intenções não era pouca; embora não exatamente organizados, já em 1911 aquela garotada competia no equivalente à terceira divisão da liga argentina, depois de um ano se limitando a amistosos de várzea com Los Fuertes de Flores, Campeones de Villa Crespo, Taitas de Nazca ou Esforzados de Mataderos e outros nomes folclóricos.

A escalação de 1911 já evidenciava gente nova: A. Schuster, José Charrieri, A. Areán, A. Barredo, Luis Barredo, Antonio Marín, A. Blaseti, S. Rey, F. Aule, J. Fadeux e M. Rey. Algunseram provenientes da Librería del Colegio, entidade comercial cuja ajuda econômica permitiu a sobrevivência velezana naquele momento. Por um breve lapso, a equipe até teria se denominado Librería del Colegio Athletic Club. Em 1912, ano em que a camisa branca foi trocada por uma azul marinha, os reforços vieram do San Lorenzo, ainda um time de divisões inferiores e que parecia prestes a extinguir-se. Competindo na terceira divisão da federação argentina, os velezanos chegaram à decisão. Mesmo perdendo, subiram, pois o campeão era um time B, o do Tigre. Já no ano seguinte, quase houve novo acesso, dessa vez à elite. “Se nesse ano o Vélez Sarsfield tivesse subido à primeira, o San Lorenzo não existiria”, contaria Luis Gianella, precisamente o fundador azulgrana que fizera questão que o padre-mecenas Lorenzo Massa fosse homenageado no nome do time do Papa.

Gianella e seus velhos colegas preferiram retomar as atividades do seu antigo clube (que enfim chegaria à elite em 1915), desfazendo uma simbiose que ganharia ares irônicos quase um século depois, diante da rivalidade aflorada nos anos 90. Em paralelo a esses desfalques, porém, o ano de 1913 (onde o Argentinos de Vélez Sarsfield simplificou-se para apenas Vélez Sarsfield) recebeu o seu grande reforço histórico: um sócio chamado José Amalfitani, admitido ainda em 7 de fevereiro. Ele gradualmente se galgaria internamente até chegar à presidência. Foi um exemplo de cartola honesto e austero, falecendo em 14 de maio de 1969 ainda como presidente velezano, podendo ter vivido para ver seu clube enfim campeão na elite. A data de sua morte passou a ser celebrada desde 1972 como “o dia do dirigente esportivo” na Argentina, tamanho o impacto de sua gestão, tão elogiada indiretamente na crônica que abre essa matéria.

José Luis Chilavert (com curiosa camisa mesclando a tradicional tricolor com a listra V), Luis Gallo e Ángel Allegri

A história do Vélez de 1913 até 1969 (incluindo sua própria “marcha ao Oeste”, com o time deixando Floresta para instalar-se em Villa Luro até radicar-se em Liniers, isso em meio à dramática salvação da existência do clube no início dos anos 40) passa pela vida de Don Pepe. Resumimos a trajetória de Amalfitani neste Especial publicado nos 50 anos sem o homem que nomeia oficialmente o estádio Fortín de Liniers. Outras partes dessa história, contemporâneas à presidência dele ou não, serão resgatadas por outros Especiais dedicados ao clube e também pela escalação de um time dos sonhos. Para ser considerado, um pré-requisito foi mínimo de meia década a serviço do clube (ainda que isso limasse gente do ciclo de quatro títulos erguidos entre 2009-13, em tempos de exportação acelerada à Europa). Outro pré-requisito foi ter servido a seleção argentina como jogador do Vélez, algo obedecido por todos os eleitos e muitos dos mencionados – com uma só óbvia exceção, a do primeiro dos nomes nessa escalação. Vamos a eles:

GOLEIRO: Uma rara posição sem maiores questionamentos. O que engrandece ainda mais a escolha óbvia por José Luis Chilavert é a qualidade de tantos outros nomes históricos que o Fortín desfrutou, desde o León de Wembley Miguel Rugilo, passando por Roque Marrapodi (raro destaque comum nos rivais Vélez e Ferro Carril Oeste), Miguel Marín, Julio César Falcioni, o jovem Carlos Navarro Montoya e até mesmo os arqueiros titulares dos títulos mundiais da Argentina: Nery Pumpido e um veteraníssimo Ubaldo Fillol. Nenhum deles, porém, incutiu tanto espírito vencedor quanto Chila, mesmo antes de seus gols de falta se tornarem moda – o que só se deu ao longo de 1996, já após o paraguaio protagonizar a ascensão velezana de um time de bairro a campeão mundial.

As conquistas anuais em série vividas entre 1993-98 tornaram detalhe menor algo histórico para qualquer outra rivalidade: Chilavert ainda marcou um hat trick em pleno Clásico del Oeste em 1999, algo esquecido justamente pelo desequilíbrio de patamar no dérbi a partir das glórias simbolizadas pelo melhor goleiro do Vélez e dos anos 90 (só ele foi eleito três vezes na década o melhor do mundo na posição, e segue sendo o único melhor do mundo atuando fora da Europa). Desde os anos 90, as rixas velezanas se direcionaram ao San Lorenzo, o que não impediu que o decente passado sanlorencista também terminasse esquecido em Liniers. Já dedicamos este Especial a um ícone daquela década.

Mauricio Pellegrino, Raúl Cardozo e Pedro Larraquy

LATERAL-DIREITO: o prata-da-casa Carmelo Simeone (sem parentesco com Diego, também revelado no Vélez, mas que dele só herdou o mesmo apelido de Cholo), chegou à seleção em meio ainda antes de qualquer título festejado em Liniers na elite, na virada dos anos 50 para os 60. Proveniente em 1992 do Estudiantes, Roberto Trotta jogou nessa posição como o capitão do elenco de 1994, mas era mais habitualmente um zagueiro – e em momento de fúria como posterior adversário chegou a desqualificar o peso de sua antiga torcida. O uruguaio Jorge González, do time vice em 1979, esbarra no critério da meia década, ao jogar só naquele ano e no seguinte, mas pode ser visto no time dos sonhos escalado semana passada para o Rosario Central. Víctor Curutchet e Carlos Maggiolo, ambos por sua vez longevos nos anos 30, jamais defenderam a seleção…

Ficamos então com Luis Gallo. Quando ele saiu em 1974, após nove anos, era o segundo jogador com mais partidas pelo clube. Já jogava no futebol adulto desde os 14 anos, na liga municipal de sua Santiago del Estero natal, cuja seleção já defendia desde os 15 – início precoce de quem também faleceria cedo, aos 45 anos, em 1990. Sua grande qualidade era cobrir espaços deixados pelos colegas, e o exemplo mais famoso foi sua mão impedindo um gol certo do River no triangular final de 1968, decisivo para adiante La V Azulada ser pela primeira vez campeã da elite. Membro também dos vices em 1971, defendia a seleção nas eliminatórias para 1970.

ZAGUEIROS: Ángel Allegri, que pulou do time sub-19 do Vélez ao principal em 1946 para defendê-lo por quatorze anos seguidos (com 399 jogos oficiais e ótimos 37 gols marcados, portando no pé direito um canhão especialista em tiros livres que fez dele um dos maiores zagueiros-artilheiros do futebol argentino) e Oscar Huss (doze anos e 255 jogos a partir de 1945), um ponta incomumente musculoso para a época convertido em beque, formaram uma dupla temida e longeva nos anos 40 e 50. Tiveram como ponto alto o vice-campeonato em 1953. A longevidade maior de Allegri, que chegou a ser o recordista de jogos pelo Fortín até os anos 80 (só ele superava Gallo, embora hoje seja o quarto), o preserva, mas para acompanha-lo escalamos Mauricio Pellegrino.

Christian Bassedas, Norberto Conde e Daniel Willington

Se não foi tão longevo com Huss, Manuel de Sáa (com trajetória de 1923 a 1941, salvo um exílio no America-RJ!) ou Eleuterio Forrester (1927-39), o gigante Pellegrino passou expressivos oito anos em tempos mais globalizados do futebol. E, sobretudo, foi partícipe da década dourada, após ser profissionalizado em 1991. Se sofreu com a concorrência descomunal com defensores de renome na seleção, sua qualidade foi reconhecida ao ser importado pelo Barcelona antes de viver os anos dourados de outro clube – o Valencia bivice da Liga dos Campeões, bi espanhol e campeão da Liga Europa no período de 1999 a 2005, quando esteve nos Ches. Currículo que valorizamos mais do que nomes recentes como Sebá Domínguez ou Nicolás Otamendi; afamados como José Luis Cuciuffo (único a vencer a Copa do Mundo como fortinero, em 1986) e Oscar Ruggeri, em que pese seus desempenhos; ou vitoriosos como Héctor Almandoz e Eduardo Zóttola, nunca aproveitados na seleção.

LATERAL-ESQUERDO: Armando Ovide fechou entre 1944-55 a célebre linha defensiva com a dupla Allegri-Huss e o goleiro Rugilo. Foi sucedido por Armando Mareque (1959-67), que nunca defendeu a seleção ao contrário até do paraguaio Heriberto Correa (1969-75), naturalizado pela própria Albiceleste em 1973 após iniciar uma fase de defensor artilheiro. Juan Carlos Bujedo, com dois vices entre 1979-87, poderia estar. Mas Raúl Cardozo foi mais longevo que todos: defendeu o clube de 1987-99, vivenciando como poucos toda a ascensão fortinera. Sabia marcar (seu apelido de Pacha foi criado pelo próprio pai ao notar alguma semelhança de seu estilo ao de Carlos Pachamé, volante do mal afamado Estudiantes dos anos 60. Cardozo, vale lembrar, foi expulso no Morumbi naquela final de Libertadores) e também projetar-se ofensivamente, atribuição ainda incomum a laterais da escola argentina na época. Pacha Cardozo é o terceiro jogador com mais partidas pela equipe.

MEIAS: Agora sim, a concorrência começa a pesar. Para volante central, não falta gente renomada, desde quem construiu seu nome mais fora de Liniers do que dentro, como Diego Simeone ou Alejandro Mancuso (nenhum deles campeão por La V); a quem equilibrou sucesso ali e além, como Carlos Ischia (vice argentino em 1979 antes de ser vice da Libertadores com o América de Cali) e José Basualdo (único jogador do time campeão em todas as esferas entre 1993-94 a voltar a vencer a Libertadores, e também o Mundial, já pelo Boca); e a figuras quase exclusivas do Fortín – casos do Victorio Spinetto, Iván Mayo, Antonio Cielinsky, Ludovico Avio, Iselín Santos Ovejero, Julio Asad ou Mario Vanemerak. Uma escolha aparentemente óbvia poderia recair em Fabián Cubero. Afinal, ele é o atual recordista de jogos pelo clube.

Carlos Bianchi ainda atacante, José Oscar “Turu” Flores e Victorio Spinetto com o juvenil Christian Bassedas

Ainda em atividade, quarentão e grisalho, Cubero é o último jogador dos títulos dos anos 90 (onde era reserva) remanescente na atualidade. Mas há quem veja essa insistência mais como vaidade exagerada de quem há tempos não rende o bastante em campo. Ficamos, assim, com o sujeito a quem Cubero superou: Pedro Larraquy, que também já foi o quinto maior artilheiro fortinero – foram 81 gols em 449 jogos, sendo um dos volantes com mais gols na Argentina, graças ao bom cabeceio e tiros de longa distância; não fez talvez mais pois a partir de 1982 passou à zaga. Supriu a lacuna deixada pelas lesões de Julio Asad para vestir La V de 1975 a 1987, participando dos vices de 1979 (foi ele o artilheiro do elenco, inclusive) e 1985, o local mais alto que o time de Liniers subiu no pódio no jejum vivido de 1968 a 1993. Ganha o perdão de ter defendido o San Lorenzo antes dessa rivalidade emergir.

Para não desguarnecer tanto a defesa, os avanços de Larraquy seriam cobertos por Christian Bassedas. Jogador de esforço, solidário e bom passe, Bassedas era uma garantia a mais pela esquerda entre 1990 e 2000, participando de todos os anos dourados antes de migrar à Premier League. Sua ausência na Copa de 1998 após participar de todo o ciclo prévio foi a mais polêmica surpresa na lista de Daniel Passarella, pois as ausências de Caniggia e Redondo já eram previsíveis ainda que criticadas. À frente, dois jogadores que hoje seriam qualificados como box-to-box, pois eram volantes ofensivos. E como: Norberto Conde ainda é o terceiro maior artilheiro velezano. Conde fez 110 gols em 225 jogos, especialmente na passagem que durou de 1952-59 – tendo como pontos altos o vice de 1953 (jogou todas as partidas), a artilharia do campeonato de 1954 e o gol que deu a primeira vitória da Argentina sobre a Itália, em 1956.

Mesmo passando pelo Ferro em 1964, Conde ainda voltou a Liniers já no ano seguinte, já como um volante mais recuado. Daniel Willington também era destro como Conde, mas reluzia justamente no outro flanco. El Cordobés era daqueles camisas 10 tão talentosos como irregulares, mas esteve ativamente presente na primeira conquista da elite, em 1968, sendo a cota artística daquele elenco. Era considerado o maior ídolo do time até a eclosão de Carlos Bianchi, de quem foi assistente técnico Durou de 1962 e 1970, exatamente seu período de seleção, além de um breve retorno em 1978 após seguir brilhando no Talleres no Instituto de Kempes e Ardiles.

Vélez de 1933, último ano da tricolor como camisa principal: o técnico José Luis Boffi, Victorio Spinetto, Alfredo Curti, Manuel de Sáa, Oscar Sciarra e Agustín Cosso; o massagista Chichilo Sosa (por décadas conciliou essa função na seleção), Osvaldo Reta, Iván Mayo, Carlos Querzoli, Napoleón Seghini e Carlos Maggiolo

ATACANTES: um é inquestionável. Já repetimos diversas vezes em outras notas que o sucesso estrondoso como treinador ofuscou o quão notável goleador foi Carlos Bianchi. Ele simplesmente era o argentino com mais gols em ligas nacionais antes de Messi. Ele teria sido o maior goleador do futebol argentino se não passasse tanto tempo na França – e vice-versa. El Virrey teve dois ciclos igualmente goleadores em Liniers, bairro cujo nome provém do Vice-Rei que originaria o próprio apelido de Bianchi, tamanha sua identificação com La V. Foram 206 gols em 324 jogos (de 1967-73 e de 1980-84), conseguindo ser um reserva proeminente e artilheiro no título inaugural de 1968 antes de um protagonismo arrebatador no time vice por um triz em 1971. Ainda conseguiu uma artilharia de campeonato em 1981, com seus 32 anos já ostentando precocidade em fios grisalhos e em calvície. Já dedicamos este Especial à carreira de jogador de Carlitos.

O problema é escolher o companheiro de Bianchi. O segundo maior artilheiro fortinero é Juan José Ferraro, com 157 gols em 306 jogos, entre os ciclos de 1941-1949 e 1953-57. Agustín Cosso, dos anos 30, teve média ainda melhor, com 95 em 123, mas só esteve três anos, indo ao Flamengo. Ambos são de tempos menos retrancados do futebol, nos fazendo preferir gente mais recente – e campeã. Um nome que poderia ser automático é o de Omar Asad, homem dos gols decisivos na Libertadores e no Mundial de 1994. Só que El Turco ficou mais como um (adoradíssimo) talismã: fez só 30 gols em 145 jogos, tendo média inferior à do goleador de 1968, Omar Wehbe; à dos setentistas Miguel Ángel Benito, Juan Carlos Carone e Omar Roldán; à dos oitentistas Jorge Comas e Juan Gilberto Funes; a contemporâneos como Esteban González, Martín Posse e Patricio Camps; e a sucessores como os irmãos Rolando e Mauro Zárate ou Santiago Silva e Lucas Pratto.

Para segundo atacante, prevaleceu os anos 90. E o nome é José Oscar Flores, aprovado pelo especialista Esteban Bekerman. El Turu Flores era um tanque como Asad, mas reconhecido por unir essa potência (ele havia sido zagueiro na base dado seu físico) com habilidade, especialmente a partir de 1994 – quando a partir de então saíram a maioria dos seus 56 gols em 181 jogos. Virou a referência ofensiva no único bicampeonato argentino do Vélez, na temporada 1995-96, antes de provar-se como um bom segundo atacante para Roy Makaay no único título espanhol do Deportivo La Coruña, em 2000. Vale menção ainda a pontas sacrificados pelo esquema de dois atacantes – além dos citados Carone, Comas e Posse, também Ernesto Sansone, Juan Carlos Mendiburu, José Luis Luna, Mario Nogara, José Antonio Castro (cuja arroba no twitter, nada modesta, é @mejorwing) e Sergio Zárate, o mais velho da dinastia de irmãos.

O primeiro pódio no profissionalismo, os vices de 1953: o técnico Victorio Spinetto, Armando Ovide, Nicolás Adamo, Oscar Huss, Ángel Allegri, Jorge Ruiz e Rafael García Fierro; Ernesto Sansone, Norberto Conde, Juan José Ferraro, Osvaldo Zubeldía e Juan Carlos Mendiburu

TÉCNICO: Bianchi seria a escolha natural, mas não usaremos a figura de jogador-treinador. Manuel Giúdice (1968), Osvaldo Piazza (títulos de 1996 e 1997), Marcelo Bielsa (1998) e Miguel Ángel Russo (2005) foram campeões também, mas o debate se resumiria entre Ricardo Gareca, quatro vezes campeão entre 2009 e 2013 (são as últimas taças em Liniers, inclusive) e Victorio Spinetto. A concorrência parece desleal, pois o único título de Spinetto foi a segunda divisão em 1943. Mas prevalece o contexto vivido por Don Vitorio: até sair da segundona, o Fortín beirou seriamente a extinção, enquanto Gareca (que foi também um atacante querido em seu clube do coração, mas sem servir a seleção… e sem títulos) assumiu em cenário onde a fragilidade estava mais para os cinco grandes.

Com o V de Vélez e o S de Sarsfield no nome, Victorio Spinetto (que poderia tranquilamente ser o volante desse time, com seus ótimos 46 gols em 219 jogos nos anos 30, mas jamais defendeu a seleção) foi o treinador mais longevo em Liniers. Foram quatorze anos seguidos, entre 1942 e 1956, além de retornos em 1958, 1961 e 1966 do homem que criou uma escola: seu pragmatismo com jogadas ensaiadas e vista grossa a malandragens foram bem aprendidos por um dos jogadores comandados, Osvaldo Zubeldía, que elevou esse nível comandando o Estudiantes tri da América nos anos 60 – transmitindo essa herança por sua vez a Carlos Bilardo, o treinador da Argentina de 1986. Nem sua posterior boa passagem também pelo Ferro puderam desassociá-lo do Fortín. Até porque, no fim da vida, regressou para treinar juvenis, polindo de Diego Simeone a Christian Bassedas.

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https://twitter.com/CONMEBOL/status/1212360207587794947

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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