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1950 e os dois quase-rebaixamentos do Huracán

Normalmente, apesar de prometido para um ano, a boa parte dos campeonatos argentinos não terminam no ano em que foram prometidos. Com isso, ao entrar em campo há 60 anos, no dia 3 de dezembro de 1950, o Huracán estava lutando, pela segunda vez, contra o rebaixamento.

Para entender isso, temos que ir para a Primeira Divisão de 1949. Nela, no ano no qual o Huracán inaugurou oficialmente o seu estádio Tomás Adolfo Ducó, o Globo ficou na lanterna, junto com o Lanús, com a fraca campanha de 9 vitórias, 8 empates e 17 derrotas.

Para decidir quem seria rebaixado, foi realizado dois jogos-desempates. O primeiro, no estádio do rival San Lorenzo, o Huracán venceu o Lanús por 1-0 em 18 de dezembro de 1949. Essa rivalidade vivia tempos mais sadios, aliás: registros da época apontam que os huracanenses contaram com o apoio da torcida vizinha. Do outro lado, o Banfield também apoiava o Lanús, embora em tempos em que suas torcidas eram mesmo aliadas (o principal rival lanusense era o Talleres de Escalada, enquanto o Los Andes fazia esse papel para os banfileños), antes de florescer o Clásico del Sur.

Na véspera de Natal de 1959, o Lanús viu o Papai Noel virar Granate e aplicou um 4-1. Mas o saldo de gols não servia como critério de desempate. Dessa forma, precisou de um terceiro jogo a ser realizado em 8 de janeiro de 1950. Nele, Huracán e Lanús empataram em 3-3. No quarto jogo-desempate, em 16 de fevereiro, o Huracán estava ganhando por 3-2 quando os jogadores do Lanús, sentindo-se prejudicados pela arbitragem desde o duelo anterior, abandonaram o campo aos 35 minutos do segundo tempo.

Assim, o Huracán não foi rebaixado no começo de 1950 e pôde jogar tranquilamente a Primeira Divisão daquele ano. Tranquilamente em termos, porque fez uma péssima campanha novamente: com as mesmas 17 derrotas, mas 12 vitórias e 5 empates. Como, em 1959, seriam duas equipes rebaixadas, o lanterna Rosario Central caiu direto. Com 29 pontos, Huracán e Tigre empataram na vice-lanterna e o rebaixamento seria decidido em uma dupla de jogo-desempates.

Assim, quando pisou no estádio do Independiente, em Avellaneda, naquele 3 de dezembro de 1950, o Huracán iria lutar contra o rebaixamento pela segunda vez naquele ano.

No entanto, ao contrário do Lanús, o Tigre não era uma equipe muito competitiva e aquele 3 de dezembro terminou com um 3-1 para o Huracán. Sete dias mais tarde, no Monumental de Núñez, o Huracán fazia 5-1 e escapava do rebaixamento pela segunda vez em 1950.

Eram os tempos de Enrique Ceroni, half esquerdo e craque do Huracán. Ceroni foi o único jogador do Huracán a aparecer na capa da El Gráfico (a foto é da edição de 25/08/1950) em 1949 ou 1950. Ele estava no Huracán desde, pelo menos, a primeira inauguração do Ducó em 1947. Treinado por Luis Monti, o onze inicial daquele dia foi:  Quiroga; Pascal e Alberti; Naya, Giménez e o craque Ceroni; Unzué, a estrela Méndez (que sairia em 1948 para o Racing), Salvini, Llamil Simes e Ferreyro.

Rafael Duarte Oliveira Venancio

Em 2010, na primeira versão desse texto, Rafael Duarte Oliveira Venancio escrevia para o Futebol Portenho, era professor do Senac e doutorando na USP. Em 2014, era professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia e mantinha o blog Lupa Esportiva no Correio de Uberlândia. Agora, em 2020, é pós-doutor pela ECA-USP, além de escritor e dramaturgo com peças encenadas em 3 países e em 3 línguas. Nestes 10 anos, sempre tem alguém comentando este texto com ele, seja rindo, seja injuriado...

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