Especiais

Huracán, a 38 anos do último título

Há 38 anos o Huracán perdia para o Gimnasia La Plata por 2 a 1, mas mesmo assim conquistava o título do Metropolitano de 1973. Era o quinto título nacional do Globo, o primeiro e único da era profissional. Um time que entraria para a história.

E um time que surpreenderia o país. Afinal, havia muito tempo que o Huracán não assustava ninguém. Haviam ficado para trás os gloriosos anos 1920 e 1930, quando o clube tinha jogadores como Guillermo Stabile (artilheiro do mundial de 1930) e Herminio Masantonio, goleador máximo da história do Globo. Tempo de glória em que o clube conquistou seus quatro primeiros títulos (1921, 1922, 1925, 1928). Nos anos 40 ainda passaram pelo clube jogadores históricos, como Di Stefano e Mendez. Mas no quarto de século seguinte o Globo havia se tornado apenas mais um pequeno clube portenho. O epíteto de “sexto grande” havia se transformado em uma lembrança.

Mas isso começaria a mudar em 1971, com a chegada de César Menotti, um atacante de razoável qualidade que recém havia encerrado a carreira, e era auxiliar de Gitano Juarez no Newell’s. Mesmo sem experiência de treinador, El Flaco logo mostraria serviço. Aos poucos reformulou o elenco, trazendo jovens promissores, mesclados com atletas experientes e alguns produtos de uma bela safra das categorias de base do clube. O Huracán chegou assim ao 3o lugar no Metropolitano de 1972.

Mas era apenas o aperitivo. Em 1973 viria a campanha que assombraria o país. Nas primeiras 16 partidas o Huracán teve a assombrosa marca de 45 gols em 16 partidas. Um feito especial da “delantera mágica”, formada pelo ponta direita René “Loco” Houseman, e seus dribles mágicos; Omar Larrosa, ponta-esquerda habilidoso e multifuncional; o valente centroavante Roque Avallay; e uma dupla de excepcional talento, os meio campistas Carlos Babington e Miguel Angel Brindisi.

A campanha de sucesso paradoxalmente atrapalhou o clube, que passou a sofrer seguidamente com as convocações de seus jogadores para a seleção nacional. Então foi a hora da defesa mostrar serviço: em todo o segundo turno o Huracán sofreria apenas 10 gols. O setor era comandado pelo experiente Alfio Basile, que tinha a companhia do uruguaio Nelson Chabay (os dois haviam estado juntos na equipe do Racing que conquistou a Libertadores e o Mundial de 1967), do valente Buglione, filho do bairro de Parque Patrícios, onde o clube é sediado, do talentosíssimo lateral esquerdo Jorge Carrascosa e do goleiro Roganti. À frente estava o combativo volante Francisco “Fatiga” Russo.

Mais do que uma grande equipe, aquele Huracán marcou a história do futebol argentino. Na copa de 1974, cinco dos oito gols da seleção argentina foram marcados por jogadores do Globo. E logo após o mundial Menotti foi levado para a seleção nacional, com a missão de impedir um vexame em 1978. Comandado primeiro pelo brasileiro Delém, e depois por Gitano Juarez, o clube seria vice em 1975 e 1976. Especialmente dolorosa foi a derrota de 1976, quando liderou com folga o torneio, e terminou perdendo a decisão contra o Boca por 1 a 0, gol de Chino Benitez. Uma partida que jamais deveria ter sido disputada, dadas as lamentáveis condições do gramado.

Mas em 1978 Menotti levaria a Argentina a seu primeiro título, praticando o mesmo futebol vistoso dos tempos de Huracán. Do time de 1973, Houseman e Larrosa estavam no grupo e participaram da grande decisão. Carrascosa era titularíssimo e capitão, mas se lesionou pouco antes do mundial. Bailey e Ardiles, que participaram das campanhas de 1975 e 1976, estavam lá, o segundo como titular absoluto.

O triunfo da albiceleste no mundial terminou de colocar o Huracán na história do futebol do país. Mais que isso, é o ponto máximo na história do clube, grande referência afetiva para todos os hinchas quemeros, incluindo o autor destas linhas. E foi o ponto de partida do “menottismo”, visão que defende que o melhor para o futebol argentino é manter-se longe dos padrões europeus, explorando o talento dos jogadores do país para construir um jogo vistoso e eficiente. Mas essa é outra história.

httpv://www.youtube.com/watch?v=pit2TQ3XWkE

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

6 thoughts on “Huracán, a 38 anos do último título

  • Willian Alves de Almeida

    Flaco não era assistente do Juárez no Central?

    Mas vendo esse post, me lembro imediatamente da musiquinha:

    ” Cantemos todos, con alegria,
    Parque Patrícios de Fiesta está…

    Arriba Globo, dale Huracán!”

  • Tiago Melo

    É no Newell’s mesmo, no Central (clube do seu coração) ele começou a carreira de jogador.

    Essa música é a cara daquela campanha, tanto que coloquei um link para ela no fim da matéria

  • Douglas

    Grandioso time dos anos 70, conseguir concorrer e ganhar um Metropolitano sobre times de grande cartaz a época, de grandes campanhas em Copa Libertadores. Bater Independiente bi-campeão da américa com o sensacional Bocchini, o Racing do letal Scotta, o River do artilheiro Oscar Más… Grandes tempos de grandíssimos (em técnica e nível rico de jogo) do Campeonato Nacional…

    Vamo Globo… Vamos á ganar!!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

nove − 4 =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.