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Boca Juniors: Uma história vencedora na Copa Libertadores de América – Parte 1


E lá vem ela de novo, charmosa e graciosa, fazendo milhões de pessoas sonharem. Um prazer raro e para poucos, conseguir tê-la ali no salão de glórias do clube. Desejo e ambição de muitos é a Copa Libertadores, que chega em sua 53° edição, e é sem sombra de dúvidas, o torneio mais importante em todo o continente e quiçá, em todo o mundo, se formos discutir que a Champions League é feita em grande parte por jogadores sul-americanos, e às vezes, verdadeiras seleções mundiais, (isso daria motivo pra discutirmos o ano todo, inclusive entre nós, aqui dentro do site).

O fato é que as equipes argentinas são as melhores quando o assunto é Copa Libertadores, o aproveitamento beira o excelente, com 22 títulos conquistados. As equipes que mais conseguiram títulos foram o Independiente com sete e o Boca Juniors com seis. Em seguida o Estudiantes com quatro e o River com dois títulos conquistados. Racing, Argentinos Juniors e Vélez Sársfield fecham a lista, levando um cada. A Argentina ainda possui quatro vice-campeonatos, sendo um com o Estudiantes e três com o Boca, que agora volta após três longos anos sem disputar a competição.

A equipe de La Ribera tem uma história de amor com o torneio que começa tão logo a Copa Libertadores teve seu início, três anos depois de sua primeira disputa oficial, em 1960.

Logo de sua primeira edição o uruguaio Peñarol levou o campeonato e repetiu a dose no ano seguinte, sendo freado pelo Santos de Pelé e Coutinho em 1962. Neste mesmo ano o Boca se sagra campeão da Primera División argentina deixando River e Gimnasia La Plata para trás e tem a sua primeira chance de disputar a Copa Libertadores. O Boca foi a primeira equipe argentina a dar importância devida a competição e priorizar o torneio.

No grupo três com Olimpia de Asunción e Universidad do Chile, o Boca teve um início vacilante e caiu no Paraguai por um gol. Nesta competição a equipe Xeneize troca de treinadores por três vezes, chegando a ter no grupo José D’Amico, que pediu licença no meio do torneio e teve Arcadio Julio López como interino. Adolfo Pedernera e Aristóbulo Deambrosi chegam para colocar a equipe em ordem e assim levam o Boca a final.

Em oito partidas disputadas o Boca marcou 15 gols, a equipe tinha entre outros jogadores o lendário arqueiro Antonio Roma, o excepcional lateral esquerdo Silvio Marzolini (mais tarde seria técnico do fabuloso time do Boca de 81, com Maradona e Brindisi), os meio campistas Ubaldo Rattin e Angel Clemente Rojas, além dos artilheiros, Paulo Valentim (brasileiro ídolo Xeneize) e Francisco Sanfilippo, artilheiro do Boca na Copa com sete que viria a brilhar no Cuervo, anos depois.

Logo na estreia um susto com a derrota fora de casa, no entanto, o grupo Xeneize recebeu o Olimpia em Buenos Aires e venceu por cinco a três, com um gol de Corbatta, e Mendéz e Paulo Valentim fazendo dois cada.

Ruben Suñé, Pelé e Julio Melendez

O Boca então teria seu desafio mais complicado na fase de grupos, indo assim para as partidas mais duras, contra o Universidad Católica do Chile. Na primeira partida em casa o Boca venceu com gol de Mario González e aproximadamente um mês depois em Julho, com um Sanfilippo (que jogou no Brasil, no Bahia e também no Bangu) inspiradíssimo, marcando três gols a equipe se classifica e vai a semifinal enfrentar o temido Peñarol.

No jogo de ida em Montevideo, El Flaco Martín Errea, arqueiro que substituía Roma, fecha o gol e faz os uruguaios tremerem. O brasileiro Paulo Valentim abre o placar aos 27 minutos. Porém o Boca se fecha e espera demais os uruguaios que gostam do jogo e partem para cima. Aos 20 minutos uma bola desvia em outro brasileiro, o defensor Orlando Peçanha de Carvalho, enganando assim Errea e empatando a partida. Mas como a história conta, o Peñarol viveu apenas para fazer aquele gol.

Após uma bola enfiada por Angel Clemente “Rojitas”, encontra Valentim entrando pela esquerda e tocando com suavidade na saída do arqueiro uruguaio. Era o gol da vitória em pleno Centenario de Montevideo. O caminho feito para a partida de volta em casa.

Em Buenos Aires, em uma partida muito amarrada e disputada, dois expulsos para cada lado, com um gol de Sanfilippo, o Boca passou a final da sua primeira Copa Libertadores, onde enfrentaria o Santos.

A partida de ida foi um passeio santista em pleno Maracanã, com três gols logo na primeira etapa. Sanfilippo descontou no final do primeiro tempo e ao término da partida. A volta seria a chance de tentar reverter o placar, mas o imbatível Santos conseguiu sair com a Copa de dentro da Argentina, após estar atrás no placar com um gol do artilheiro Xeneize, Francisco Sanfilippo. Coutinho e Pelé marcaram para os santistas, que colocavam fim a esperança Xeneize, demorando 40 anos para devolver a derrota.

Se a primeira participação não trouxe o título, ao menos deixou o gosto de ser campeão continental bem próximo. Mas ainda levariam 14 anos para o primeiro título chegar, e até lá o Boca trabalharia muito para isso caindo nas semifinais de 1965, 1966, eliminado nas quartas-de-final em 1970, uma eliminação escandalosa em 1971 e então finalmente o primeiro título em 1977.

A primeira conquista

Para ser Xeneize tem que ser antes de qualquer coisa guerreiro, ou pelo menos ter um coração guerreiro. A Copa Libertadores 1977 teve a participação de 21 equipes, sendo que o Brasil enviará um terceiro por ter sido o Cruzeiro o campeão de 1976, contra o River Plate.

Na estreia do torneio, os Xeneizes enfrentaram uma equipe forte e como se não bastasse, seu eterno rival River Plate. Para manter a tradição das coisas, venceu por um gol de Roberto Mouzo em casa, batendo o arqueiro Fillol em um penal cometido por Lonardi em Felman aos 43 do segundo tempo, em uma partida em que o Boca foi mais o tempo todo.

Na cobrança, o tiro foi no canto esquerdo e Pato Fillol, mergulhou atrás resvalando seus dedos na bola que encontrou o poste, batendo em seu calcanhar e quicando na linha do gol. Mouzo correu para a bola e acertou com toda a sua força e raiva para fazer a bola entrar e dar o primeiro passo para o campeonato de 1977.

O próximo adversário, fora de casa ficou no empate, em uma partida dura e sem gols contra o Defensor Sporting do Uruguai. Na continuação do giro, ainda no Uruguai, enfrenta o sempre perigoso Peñarol e vence com um gol de Mastrángelo.

O Boca ainda voltaria a enfrentar as mesmas equipes nos jogos de volta e se classificaria em primeiro no grupo com dez pontos passando assim para a próxima fase, que seria disputada em um triangular de ida e volta, contra Deportivo Cali da Colômbia e Libertad do Paraguai.

Contando com a ajudinha da equipe paraguaia, a quem derrotou nas duas partidas o Boca empata com o Deportivo e vê o adversário cair com um empate e uma derrota para o mesmo Libertad. Estava aberta a estrada que levaria a equipe a final contra o Cruzeiro que entrou na fase eliminatória, por ter sido o campeão do torneio anterior.

Um plantel vencedor

Pouca coisa havia mudado da equipe que vinha do torneio Metropolitano de 1976, e o Nacional, ambos conquistados pelo Boca, sendo que o Metropolitano ocorreu no primeiro semestre e o Nacional no segundo. Torneios distintos que foram conquistados pela mesma equipe, e ainda há quem sempre irá dizer que o Metropolitano daquele ano foi injusto, mas jogadores não fazem regras e torcedores apenas comemoram.

Relatos contam que na final do Nacional de 1976 a 22 de dezembro, aos 27 minutos de jogo, o árbitro da partida, Ithurralde, marcou uma falta na entrada da área. Rubén Suñé pegou Fillol de surpresa e colocou a bola na gaveta, fazendo assim o gol da vitória Xeneize, na final única e histórica entre os dois rivais. A partida tem relatos em gravações feitas por amadores e alguns trechos em preto e branco, porém a lenda conta que um militar fanático pelo Millo, Almirante Carlos Alberto Lacoste, apagou o momento do gol, existindo apenas a gravação do áudio.

O Boca do treinador Juan Carlos “Toto” Lorenzo, tinha um plantel considerado fraco no início e que pouco impressionava, porém após algumas modificações e reposições a equipe venceu os dois torneios locais e conquistou também a América: Hugo Gatti, Carlos Alberto Rodríguez, Vicente Pernía, Francisco Sá, Roberto Mouzo, Alberto Tarantini, José Benítez, Rubén Suñé, Jorge Daniel Ribolzi, Ernesto Enrique Mastrángelo, Severiano Pavón, Carlos Veglio, Dario Felman, Nicasio Zanabria, Eduardo Enrique Oviedo, Mario Carballo, José Maria Suárez, Héctor Oscar Bernabitti e Carlos Enrique Ortiz e José Luis Tesare fizeram história em La Ribera.

Mas retornando ao assunto, os placares iguais conquistados em casa por Boca e Cruzeiro, um a zero, forçou uma terceira partida entre as equipes finalistas no Uruguai. O placar permaneceu sem gols por 120 minutos e assim a partida foi decidida nos pênaltis, com Hugo Gatti brilhando e dando o primeiro torneio (também o primeiro disputado nos pênaltis) a equipe Xeneize.

Nesta partida Mouzo, Tesare, Zanabria, Pernía e Felman converteram para o Boca. Darci Menezes, Neca, Morales e Livio para o Cruzeiro. Gatti defendeu a cobrança de Vanderley, o último pênalti cruzeirense, dando a vitória para o Boca por 5 a 4.

Curiosidade: O Nelinho tinha saído machucado e o Vanderley chutou exatamente aquele que deveria chutar o inefável craque da lateral.

Equipe da Final

Em Pé: Mouzo, Suñé, Tesare, Pernía e Gatti Agachados: Mastrángelo, Benítez, Veglio, Zanabria, Felman e Tarantini

Colaborou: Martín Russo

Junior Sagster

Jornalista esportivo, formado em Comunicação Social/Jornalismo. Acompanha o futebol argentino desde a Copa do Mundo realizada no México em 1986, quando viu pela primeira vez Maradona jogar pela Seleção Argentina. Em sua carreira como jornalista tem 06 anos de experiência, 02 em redação e 04 em assessoria de imprensa esportiva.

9 thoughts on “Boca Juniors: Uma história vencedora na Copa Libertadores de América – Parte 1

  • Yuri Cézar

    Excelente matéria, é sempre bom resgatar essas glorias

  • Diogo Terra

    Excelente. Sobretudo para aqueles que já não têm argumentos para desmoralizar as nossas conquistas, em especial editores de pasquins esportivos provocadores…

  • DFJ

    VOU TORCER MUITO PRO BOCA LEVANTAR A SÉTIMA TAÇA ESTE ANO!

    AVANTE BOCA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • Willian Alves de Almeida

    Faltou os dois vices do Newell’s (1988 e 1992) na matéria.

  • N.O. Boys

    A Argentina não pode ficar por mais de 2 anos sem uma liberta! Assim espero que o campeão seja Velez ou Boca.

  • Igor Sosa

    Será lindo se o Boca ganhar esta Libertadores. Depois de 2 anos longe da competição, voltaremos com o título. Como sempre, torceremos muito

  • Rodrigo Figueiredo

    Faltou lembrar que o árbitro mandou voltar uma cobrança defendida pelo goleiro do Cruzeiro (Raul) e validou a defesa de Gatti que claramente se mexeu antes da cobrança de Wanderley. Cruzeiro foi roubado!!!

  • Faltou colocar o vice do River para o Cruzeiro em 1976.

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