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35 anos da Copa 1978: Argentina 0-1 Itália

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Passarella persegue Tardelli

A Espanha de 2010 “roubou” da Argentina de 1978 o posto pouco honroso de última seleção campeã mundial não-invicta, a ter sido também das Alemanhas Ocidentais de 1974 (que perdeu para a Oriental) e 1954 (para a Hungria). O dito revés argentino, a completar hoje 35 anos, porém, tem um atenuante: era o último compromisso da primeira fase, com a Albiceleste já classificada para a seguinte.

Não que os comandados de Menotti tenham entrado desmotivados para a partida diante da Itália, também já classificada: se vencessem, continuariam em Buenos Aires e no Monumental de Núñez, a habitual casa da seleção, nos três jogos previstos para a fase seguinte (também em grupos e não em mata-matas). Já o perdedor do confronto jogaria as suas três partidas seguintes em Rosário, no Gigante de Arroyito.

Em preparação para a Copa, a seleção italiana havia, a seis dias da estreia, enfrentado o Deportivo Italiano, clube da colônia que estava na segunda divisão argentina (hoje, na quarta). Embora o jogo tenha tido ares de confraternização, o time titular do técnico Enzo Bearzot venceu por apenas 1-0; falamos aqui a respeito. Não obstante, a Azzurra, sem maiores alterações em relação àquele jogo, vinha se saindo bem na Copa.

Com a mesma escalação das vitórias sobre França e Hungria, a Itália se alinhou contra a Argentina, que, após ter usado os mesmos titulares nos jogos anteriores, precisou de alterações: Leopoldo Luque, o principal destaque até então (marcara nos dois jogos), havia luxado o cotovelo em choque contra o francês Christian Lopez.

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O cumprimento de dois fenômenos dos campos, Zoff e Passarella

Mas o pior para o centroavante argentino foi extracampo: o grande desempenho de Luque motivara seu irmão Fernando a viajar da Santa Fe natal de ambos rumo a Buenos Aires para vê-lo. No caminho, sofreu um acidente no carro que usava na viagem e morreu, sendo homenageado com um minuto de silêncio antes daquele Argentina-Itália.

Menotti colocou então Mario Kempes (então improvisado na ponta) como centroavante. O ponta-direita René Houseman, que não demonstrou tanto brilho nos jogos anteriores, foi sacado para a entrada do então reserva Daniel Bertoni entre os titulares. A ponta deixada por Kempes ficou com Oscar Ortiz, outro também até então suplente.

Do lado italiano, Bellugi, do Bologna, contundiu-se cedo e deu lugar a Antonio Cuccureddu, aumentando a sensação de que a Albiceleste enfrentava a Juventus: apenas Antognoni (Fiorentina) e Rossi (Vincenza e futuramente jogador da Juve) não eram do alvinegro de Turim. A primeira etapa contou com boas chances de ambos os lados: uma falta cobrada por Kempes, que já havia rendido indiretamente o gol da virada contra a Hungria, foi bem espalmada por Zoff para fora. Na sequência, o goleiro defendeu um dos potentes cabeceios de Passarella, após escanteio cobrado por Bertoni.

Kempes, bem anulado por Gentile, ainda chegou a ficar cara a cara com Zoff, mas não foi eficiente ao tentar emendar de primeira um lançamento. Já a Azzurra assustou com Bettega, a disparar um tiro espalmado à queima-roupa por Fillol, e Tardelli, a cabecear uma bola que passou rente à trave.

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Após grande jogada com Antognoni e Rossi, Bettega fica livre e Fillol pouco pode fazer

No segundo tempo, a Itália foi bem superior. A única chance boa do anfitrião resumiu-se a uma tentativa de Ortiz, que tentou um chute colocado após livrar-se na ponta da grande área de dois adversários. Os europeus chegaram bem mais perto de abrir o placar, primeiramente com uma falta rasteira de Antognoni.  O gol viria em uma triangulação entre o este com Rossi e Bettega, que, após receber de letra um passe final de Rossi, ficou livre na frente de Fillol e chutou forte antes que Tarantini aparecesse para bloquear o arremate, aos 22 minutos.

Após marcarem, os italianos estiveram mais perto de ampliar do que de serem igualados. Rossi tentou jogada parecida, desta vez com Zaccarelli. Bettega, que já havia marcado também contra o Deportivo Italiano (não deixe de ver, aqui, no vídeo: um fantástico calcanhar aéreo), quase marcou o segundo, após Causio enganar dois marcadores apáticos e cruzar pela direita à grande área.

Mas o placar não se alterou. A Argentina teve que ir a Rosário: linhas tortas que funcionariam muito bem, especialmente para um Kempes que vinha se saindo aquém do esperado. Único jogador da Europa convocado, após os dois últimos campeonatos espanhóis terem tido ele como artilheiro pelo Valencia de Di Stéfano, ele, sem marcar, enfim justificaria a alcunha de El Matador ao retornar ao lar do seu antigo Rosario Central.

FICHA DO JOGO – Argentina: Ubaldo Fillol, Luis Galván, Jorge Olguín, Daniel Passarella e Alberto Tarantini, Osvaldo Ardiles, Américo Gallego e José Valencia, Oscar Ortiz, Mario Kempes e Daniel Bertoni. T: César Menotti. Itália: Dino Zoff, Claudio Gentile, Mauro Bellugi, Gaetano Scirea e Antonio Cabrini, Romeo Benetti, Marco Tardelli e Giancarlo Antognoni, Franco Causio, Paolo Rossi e Roberto Bettega. T: Enzo Bearzot. Árbitro: Abraham Klein (ISR). Gol: Bettega (22/2º)

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Benetti, Scirea, Zoff, Bellugi, Bettega e Gentile; Causio, Antognoni, Rossi, Cabrini e Tardelli, antes da partida: só eles venceram a Argentina na Copa, mas terminariam em quarto. Oito iriam à 1982

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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