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35 anos da Copa 1978: Argentina 2-1 França

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Passarella, Houseman, Olguín, Tarantini, Kempes e Fillol; Gallego, Ardiles, Luque, Valencia e Luis Galván

Há 35 anos, novamente às 19:15, novamente no Monumental de Núñez e com a mesma escalação titular da estreia, a Argentina teve seu segundo desafio no mundial que sediava. Contra outra incógnita ausente de Copas desde 1966. E encerrado em outro 2-1.

Era a vez de enfrentar a França, na época ainda uma seleção de porte mediano. Em entrevista à imprensa brasileira em 1973, o próprio Alfredo Di Stéfano, ao comentar sobre Raymond Kopa, antigo colega de Real Madrid, sentenciou que “o futebol francês nunca deu coisa boa, a não ser aquela turma de 1958”. Algo parecido com o Portugal de 1966 para os lusitanos, antes que estes tivessem as gerações de Figo e Cristiano Ronaldo.

De qualquer forma, era uma partida que prometia dificuldades para ambos os lados: os franceses haviam perdido para a Itália na estreia e novo revés os eliminaria já na segunda partida – no mesmo dia, mais cedo, os italianos já haviam derrotado também a Hungria. Do lado oposto, nova vitória alviceleste classificaria antecipadamente o time de César Menotti.

A primeira etapa foi bastante movimentada, com boas chances para os dois lados – destaque para uma cabeçada de Lacombe em lançamento de Michel e uma tentativa prensada de Rocheteau após cruzamento de Bathenay, para a França; e petardos na trave direita em chutes de Luque e Kempes.

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Passarella, de pênalti, abre o placar

Já no finzinho, Kempes girou pela marcação de Bathenay no meio-de-campo e avançou. Driblou Michel e lançou Luque, que adentrou na grande área francesa. Seu chute resvalou no braço de Trésor e o árbitro suíço Jean Dubach apitou pênalti, após consultar o bandeirinha.

O capitão Daniel Passarella, segundo maior zagueiro-artilheiro da história do futebol, chamou para si a responsabilidade e deslocou Bertrand-Demanes, desferindo uma paulada no canto esquerdo do goleiro francês, que pulou para o outro lado e precisaria ser substituído já no começo do segundo tempo: chocou as costas com uma trave após espalmar para fora ousada tentativa de Valencia, que arriscara um chute por cobertura bem de longe da grande área. Baratelli foi o substituto, em momento bastante aplaudido pela plateia em Núñez.

Os Bleus procuraram dar o troco: Lacombe tentou encobrir Fillol, acertando o travessão, mas a igualdade, enfim, veio na sequência, por meio de uma promessa que inauguraria uma nova etapa do futebol gaulês: Michel Platini, então um jovem que conseguira liderar o nanico Nancy ao título da Copa da França de 1977-78. Pegando o rebote da tentativa, o presidente da UEFA empatou.

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Platini (o mais à direita) comemora seu gol de empate

Disputadíssima, em partida cheia de plasticidade dos dois lados. Six chegou a perder grande chance de virar, ao ficar cara a cara com Fillol e ver seu chute sair para fora rente à trave. Apesar dos dois times jogarem soltos, sem marcação tão dura, Norberto Alonso acabou tendo presença encurtada no mundial. Um dos maiores craques argentinos e do River Plate, o meia vivia grande fase e era provavelmente o mais habilidoso dos millonarios convocados, a base da seleção: Fillol, Passarella, Luque, Ortiz e ele, em tese, comporiam meia Albiceleste titular.

Beto, contudo, lesionou-se nove minutos depois de entrar em campo. Posteriormente, carregaria a pecha de ter sido incluído no mundial por pressão dos militares em seu favor na vaga que poderia ter sido de Maradona. Alonso, que havia entrado no lugar de Valencia, teve que sair aos 27 do segundo tempo, com o colega riverplatense Ortiz (que só no decorrer do torneio se firmaria na titularidade) entrando em seu lugar.

Logo no minuto seguinte à saída de Beto Alonso, outro River trouxe, enfim, festejos: Luque recebeu de Ardiles na meia lua da grande área adversária, levantou a bola, deixou pingá-la e, com ela no ar, soltou um chutaço que acertou o ângulo de Baratelli. A França não se entregou e Six tentou fazer o mesmo que Luque, mas Fillol conseguiu espalmar. No último lance, El Pato segurou uma última tentativa adversária, em cruzamento de Michel para a grande área. A Argentina estava classificada e a França, já eliminada.

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O golaço de Luque

Com Di Stéfano ainda tendo razão por mais um pouco de tempo, a página mais lembrada da França naquela Copa acabou sendo mesmo uma curiosidade. Em Mar del Plata, no jogo dos eliminados contra a Hungria, o uniforme azul, branco e vermelho francês não teria maiores problemas para enfrentar o vermelho, branco e verde magiares, mas isso confundiria telespectadores de transmissões em preto e branco.

Desta forma, seria pedido que uma das seleções usasse o uniforme reserva (o de ambas tinha camisas brancas) – por um equívoco, pediu-se isso às duas, que não levaram o titular consigo, atrasando o início do jogo. Um dirigente do Kimberley então ofertou as camisas alviverdes do Dragón, que ficaram com os Bleus no sorteio. Platini & cia jogaram com quatro cores: verde e branco em listras verticais na camisa, calça azul e meias vermelhas. Venceram por 3-1.

FICHA DA PARTIDA – Argentina: Ubaldo Fillol, Luis Galván, Jorge Olguín, Daniel Passarella e Alberto Tarantini, Osvaldo Ardiles, Américo Gallego e José Valencia (Norberto Alonso 18/2º, Oscar Ortiz 27/2º), René Houseman, Leopoldo Luque e Mario Kempes. T: César Menotti. França: Jean-Paul Bertrand-Demanes (Dominique Baratelli 13/2º), Patrick Battiston, Maxime Bossis, Christian Lopez e Marius Trésor, Henri Michel, Dominique Rocheteau e Dominique Bathenay, Bernard Lacombe, Michel Platini e Didier Six. T: Michel Hidalgo. Árbitro: Jean Dubach (SUI). Gols: Passarella (45/1º), Platini (15/2º) e Luque (28/2º)

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A decepção de Platini com a eliminação e a França com a camisa do Kimberley, prestes a entrar em campo após a confusão de cores que atrasou o início da partida contra a Hungria

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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