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Ascenso argentino: porrada pra todo lado na semifinal do Reducido

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Indispensável dizer que tudo isto é normal. Quase sempre acontece. E ninguém faz nada até por que não se trata de gigantes e sim de nanicos. Pancadaria que ninguém vê, pois nem sempre as câmeras se deslocam para as canchas “calientes” das equipes do ascenso. Então, eis que a Primeira D chegou ao seu final com o título do glorioso Club Riestra de Nueva Pompeya. Uma vaga à 4ª Divisão ficou à disposição de outras quatro equipes, que foram para a disputa do chamado “Torneo Reducido”. Neste domingo saíram os dois finalistas, Só que além do futebol, teve pancada. E não foi pouca. Vejamos.

Antes da pancadaria uma explicação

E antes de tudo as disputas. De forma que os encontros foram determinados pelas posições finais na tabela. O Yupanqui jogaria contra o San Martín Burzaco, enquanto o Juventud Unida, de San Miguel, duelaria contra o Leandro Além, de General Rodríguez. Os vencedores farão a Final do Reducido e o campeão ingressará na Primera C, a quarta divisão argentina. Em Villa Lugano, os hinchas do Yupanqui estão à beira de um ataque de nervos, pois a equipe nunca saiu da quinta divisão desde que foi fundada em 1935. Na semana passada ocorreram os encontros de ida. Em Villa Lugano, Yupanqui e San Martín não saíram do zero, enquanto que em San Miguel, o Juventud Unida perdeu de 3×0 para o Leandro Além.

Contudo, a peleja foi suspensa quando faltavam dez minutos para o fim. Os atletas do “Lobo Rojo” invadiram a cancha para agredir seus próprios jogadores. Muitos ficaram sem roupa. No chão e levando pontapés, Gabriel Cano viu a cavalaria chegar para espalhar todo mundo do campo. Sobre os cavalos não havia nenhum dos policiais que guardava o jogo e que fugira correndo, quando o pau começou. Mesmo com cavalos correndo atrás dos barras, o árbitro julgou que a partida deveria acabar ali mesmo. E fazia muito bem, já que também ele, o árbitro, havia levado três pancadas, antes de se juntar ao elenco do Além e se esconder nos vestiários.

Os jogos de volta

Para o alívio dos hinchas do Yupanqui, “el Trapero” foi a Burzaco cheio de fé. Demorou nadinha e Essers guardou. Foi aos 17 minutos de jogo. Apesar de serem ambos da quinta divisão, o San Martín é um gigante perto do naniquito Yupanqui. Normal que todos imaginassem o triunfo de “La Tribu Azul” do Oeste Bonarense. E foi sufoco até o fim. E sofrimento também. Primeiro porque uma bomba foi jogada no gramado aos 40 minutos da etapa final. Depois, porque nas arquibancadas vários barras tinham outros artefatos nas mãos e ameaçavam entrar na cancha. Jogo suspenso por 10 minutos até que o próprio presidente do clube conseguisse acalmar os malditos. E o Yupanqui sofria. E temia. Faltava a certeza sobre se sairiam vivos ou não do local. Mas em campo resistiam. Maldita hora que teve uma bola perdida. Justo aos 50 minutos do segundo tempo. E o San Martín Burzaco empatou.

Pois bem, que venham o inferno dos pênaltis. No arco trapero, Dário Alemán estava prontinho para pegar uma ou outra cobrança e colocar o Yupanqui pertinho de seu primeiro passeio fora da quinta divisão argentina. O menino não ganha quase nada, é semiamador. Salário são uns trocados que mal dá para levar mistura para os filhos. Tudo isso importa menos que sua vontade de levar o Trapero à maior glória de sua história. Olmos e Centurión chutaram a pelota com força e com raiva. De nada valeu. Dário Alemán voou para um lado e pra outro e pegou. O Club Yupanqui venceu e seus jogadores saíram chorando de campo. Já os atletas locais foram chamados por seus torcedores para um choro coletivo e respeitoso. Sempre existe o próximo ano para os pequenos clubes do ascenso e para seus hinchas apaixonados.

No outro confronto o bicho pegou. Após vencer por 3×0 na partida de ida, bastava ao Leandro Além que empatasse ou até que perdesse por dois gols. A torcia ajudaria. Cancha lotada e todo mundo vestindo amarelo. Só que no campo quem amarelou foi o time. Aos oito minutos, Ezequiel Cano guardou. Sinal de que a coisa era séria foi que logo aos 15 Morales ampliou a fatura para o Lobo Rojo de San Miguel. Oito minutos depois mais um gol. Ninguém acreditava. Prova de que era pesadelo foi que aos 29 minutos de jogo Gonzalo Vivanco decretaria 4×0 para os visitantes. Román Gnocchi descontou três minutos depois e igualou a diferença de gols.

Quisera o conjunto local que a reação continuasse. Ocorre que no quinto minuto da etapa final, Nico Zurco ampliou a contagem para o conjunto de San Miguél: 5×1. O quinto gol foi azar. Sorte, porém, foi que o Lechero tinha ainda 40 minutos para buscar. Foi luta até o fim. Foi desespero e entrega total. Não raro dá certo, mas hoje deu. Quando faltavam dois minutos para o fim, apareceu o herói de General Rodríguez. Pelota sobrou para Angel Ríos na entrada da área. A sua frente 21 jogadores. Buscou o canto de Bello e já ia sair para o abraço. Uma mão esperta desviou a pelota do rumo e o árbitro marcou pênalti. O próprio Ríos ajeitou a redonda na cal e arrematou no canto oposto meio alto de Bello. Que venham o inferno dos pênaltis, então.

Foi tudo estilo Carlito Tevez: só bomba. E para a felicidade dos hinchas locais, o visitante perdeu sua primeira cobrança. Ocorre que o Leandro Além anotou os dois primeiros gols e foi só. Não fez mais nenhum e perdeu a disputa por 3×2. O brioso Lobo Rojo conseguira um feito assombroso ao reverter uma vantagem de 3×0 do Além. Desnecessário dizer que seus jogadores saíram correndo, pulando e chorando. Mas lamentamos informar que do outro lado a coisa foi feia. Barras bravas no campo e corra e salve-se quem puder. A polícia tentou, mas também foi vítima da fúria dos barras.

Pedras e pedaços de paus. Gás lacrimogênio e punhos ferozes em campo. Já não existia futebol e tampouco alguma pessoa lembrava dele. Era só pancadaria. Quem mais sofreu foram justamente os heróis da pequena e orgulhosa San Miguel. Parecia uma briga de rua. Parecia uma guerras entre tribos urbanas. Parecia qualquer coisa, menos o final de uma grande partida de futebol. Foram vários feridos. Entre eles estão alguns atletas que precisarão ficar bons até o próximo fim de semana, momento em que o Juventud Unida irá á cancha do Yupanqui para a final do Reducido. Que a paz esteja com eles. E o futebol também.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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