Recopa Sul-Americana

Atlético Mineiro vence Lanús no jogo de ida da Recopa Sul-Americana

Guilherme foi o nome do gol para o Galo.
Guilherme foi o nome do gol para o Galo.

Galo em campo para a disputa do jogo de ida da Recopa Sul-Americana. O palco era o La Fortaleza, no Sul da Grande Buenos Aires. Mas onde estava o Lanús? De férias. Problema do Granate, não do Galo. Só que a equipe mineira não fez bem aquilo que um time sério precisa fazer: aproveitar-se da fragilidade rival e visitar o seu arco várias vezes. Disto decorre que o 1×0 foi pouco. E foi mesmo. “Mas quem se importa com isso?”, diriam os dirigentes da CONMEBOL? Afinal, não há placar qualificado na decisão da Recopa. Importa mais que o Galo saiu na vantagem. E ela pode ser decisiva no jogo de volta, em BH, na próxima semana.

Cadê o Lanús? Ninguém viu! Mas não era o anfitrião? Pouco importa, não foi para o jogo. Quem foi então? Um bando de jogadores sem foco, gordinhos até. Desatentos. Parecia que todos eles estavam de mal com a bola. A “pelotita” não era bem tratada, amaciada e chamada de meu bem. Era só chutão na redonda e a coitadinha vivia voando da defesa para o ataque, sem passar pelo espaço da cancha que ela mais aprecia: o meio-campo. Coisa feia de ver.

Quanto a esquemas o Lanús foi assim: um 4-3-3 no papel e um 4-3-l-2, na real. Problema é que os três do desenho eram volantes. E ao menos no jogo de hoje foram três cabeças-de-bagre. E da pior espécie. Melano era meia isolado e sem bola. Deprimido, ele preferia recuar para uma segunda linha de quatro, no meio. Fosse assim e seria algo bom; mas não foi. Sem nenhuma boa vontade com a partida, as duas linhas se aproximavam, ficavam juntinhas e recuavam para proteger a área de Marchesín. Isto em si já é feio. Mas o resultado disso foi um quadro horrendo: um vasto meio-campo sem ninguém para povoá-lo. Efeito disso? Pelota voando da defesa para o ataque. A procura de quem? De ninguém, pois tanto Tanque Silva quanto Benítez tentavam recuar para matar a saudade da bola.

E o Galo? Era um retrato sem cor de um time que aprendeu a ser decisivo. E por quê? Porque Ronaldinho estava emburrado. Fazia cara feia pra bola e não sabia tratá-la com a maestria que todos conhecem. Não estamos falando em querer, mas em saber oferecer um fino trato à pelota. Em parte, talvez em razão de que o tempo de R10 já passou; em parte, talvez pelo fato de que nas férias é melhor comer bem do que treinar um pouquinho. Melhor se divertir do que trabalhar. Melhor maltratar o corpo nos exercícios do prazer do que no castigo diário de uma academia. Melhor pararmos por aqui, para isto não virar uma crônica de fofocas. Melhor pensar que o Galo tem gente que pensa. E essas pessoas estavam no banco.

Levir Culpe é um deles. Guilherme outro. E vejam só… Jô também. Além de Ronaldinho, havia outro que só fazia papel. Tanto é assim que o resumo do esquema era esse: um 4-4-0-1. O zero era o André, sem função na equipe; sem noção de onde estava. Sem noção de quem era. Sem noção. Uma tristeza a presença do moço. E o problema ficava todo com o Maicosuel, o tal do “mago”, que volta a desfilar seu futebol em canchas tupiniquins. Em tese, era para ser atacante de lado de campo. Mas como o André era invisível, o “Mago” ocupava o mesmo espaço que ele. E se sentia estranho. Então voltava para ver se achava algo para fazer no meio-campo. Batia cabeça com Ronaldinho e ficava perdido. Fazia as vezes de ala e tampouco era feliz, já que esse era o único setor da equipe em que as coisas aconteciam. Desta forma, era útil que tanto R10 quanto André fossem embora. E foram.

Na segunda etapa, Jô entrou no lugar de André; Guilherme no de Ronaldinho. E o Galo se achou. Meio-campo ganhou dinamismo. O ataque também. Guilherme otimizou o trabalho dos alas, soube articular com passes precisos e curtos. Soube preencher o setor com um mínimo de qualidade necessária à construção da vitória. E para tanto, encontrou no ataque alguém que sabia fazer o mínimo para um centroavante: o pivô. Jogando de costas para Marchesín, Jô foi decisivo também para o trabalho de Guilherme. Quase todas as pelotas eram ganhas de um sonolento Braghieri. Além disso, as duas alterações finalmente deram sentido às presenças de Tardelli e do Mago Maicosuel. E não fosse por Marchesín o Galo chegaria no arco várias vezes.

Contudo, bastou chegar uma vez, já que pouco importa o número de gols da vitória. Aos 20 minutos, a pelota sofreu aquele carinho típico dos bons momentos do futebol brasileiro. Mas a descrição não diz tudo. Necessário completá-la batendo na tecla de que o Granate estava sonolento e pouco a vontade com o jogo. Todo mundo com sono. Numa cobrança rápida de lateral a pelota caiu nos pés de pés de Jô. Passe bonito para Guilherme e uma assistência perfeita para Tardelli. Pelota no arco, aos 20 minutos da segunda etapa.

Outras chances apareceram, pois o Lanús seguia sofrendo nas disputas do meio-campo. Mesmo a entrada de Lautaro Acosta foi suficiente para modificar o panorama e oferecer um pouco de vida ao Granate, em termos de articulação de jogadas. Disto decorre que a vitória do Galo foi justa. Resta saber se na próxima semana o Lanús ainda estará de férias ou se vai entrar em campo em BH. Independente disso, basta para o Galo que saiba tirar proveito do resultado de ida. Para tanto, mais de 30 mil ingressos já foram vendidos. Prova de que a fiel torcida do Galo se une à equipe na busca de seu quarto título internacional.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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