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Barra-bravas em rota de colisão com a AFA e o Estado

Em uma reunião feita em um hotel de Buenos Aires, cerca de 250 barra-bravas (termo equivalente a membros de torcidas organizadas no Brasil) membros da HUA (Hinchadas Unidas Argentinas, ONG criada para unir as torcidas organizadas da Argentina) apresentaram ao público e à imprensa algumas reivindicações para a AFA.

A principal solicitação da HUA é para que a AFA aprove um documento onde a associação autorize os barras a trabalhar nos estádios como uma espécie de guias, onde a principal função seria a de ajudar a acomodar torcedores do clube adversário no estádio. Segundo o documento, o trabalho seria remunerado pelos clubes e pela AFA. Outra solicitação é a de que seja liberado o acesso de torcedores visitantes nas partidas da B Nacional, algo proibido há dois anos.

Pablo Bebote Alvarez, líder da barra do Independiente e membro fundador da HUA, escreveu uma carta que foi lida por sua advogada, Débora Hambo. Bebote menciona na carta: “A AFA e o Estado não acabam com a violência nos estádios porque têm interesses econômicos. Sem a violência, não haveria subsídios milionários às organizações responsáveis pela segurança de eventos esportivos, não teríamos fortes esquemas de segurança com 1.200 policiais e nem se venderiam tantas câmeras e leitoras de impressões digitais. E se não houvesse violência talvez se comentasse sobre os 700 milhões de pesos que vêm da TV e que são administrados por Julio Grondona, que por sua vez repassa a verba aos clubes seis meses depois em cheques, e que neste meio tempo alguém embolsa 6,5 milhões de pesos só de juros. Não somos os únicos vilões nesse filme, tem gente muito pior no nosso futebol e já está na hora de eles irem embora”.

Caso a reivindicação da HUA seja atendida, a Argentina será o primeiro país no mundo onde a segurança dos torcedores estará nas mãos de um grupo comandado por próprios torcedores, ao invés do Estado. Segundo Marcelo Mallo, líder da HUA ligado ao kirchnerismo, as relações entre os barras tende a ser mais amistosa: “Se na arquibancada brigam dois caras da mesma torcida e a polícia chega para separar, os caras se juntam para bater na polícia. Se quem separa a briga é um cara da própria torcida, os caras sossegam”.

Embora a palavra oficial dos clubes seja de desacordo com o documento apresentado pela HUA, é sabido que a conivência dos dirigentes dos clubes com as barras é grande. Um membro da barra do Independiente reconheceu que eles têm a aprovação da diretoria do clube para trabalhar como guias. Assim, o documento apresentado pela HUA deixaria as relações entre as barras e as diretorias dos clubes ainda mais evidentes.

Apesar das pressões da HUA, a tendência é que o documento nem seja analisado pela AFA. Segundo informações, quando soube do documento Julio Grondona declarou: “Se querem trabalhar, que procurem a UTEDyC (União de Trabalhadores de Entidades Esportivas e Civis, responsável pelo controle e venda de ingressos)”.

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

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