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Estudiantes: um ano para se esquecer

Nos últimos anos a Argentina e a América do Sul passaram a ver o Estudiantes como um grande clube, capaz de enfrentar qualquer outro do continente e do mundo. No entanto, algo surpreendente aconteceu: um ano terrível em 2011, no qual subitamente o grande time comandado por Verón se transformou em figurante dos torneios domésticos e internacionais.

Com isso, a equipe que desde 2006 nunca deixou de frequentar os torneios sul-americanos, corre seríssimo risco de ficar apenas no âmbito doméstico em 2012. Da Libertadores certamente não participará: se classificam os campeões dos dois torneios de 2011 e os melhores classificados na soma de ambos. Nessa lista, a equipe platense é a segunda pior das 16 que disputaram os dois torneios, á frente apenas do Newell’s. Para a próxima Sul-Americana se classificam os melhores na soma do atual apertura e do próximo Clausura. Como até agora o Pincha nada mais fez do que tentar fugir da lanterna, só poderá disputar o torneio se conseguir uma grande melhora no restante da temporada.

E o que torna tudo mais surpreendente é que ao fim de 2010 nada poderia sugerir algo assim. No ano passado o Estudiantes foi vice-campeão do Clausura e campeão do Apertura, somando um total de 85 pontos (apenas como comparação, o Fluminense no mesmo ano foi campeão brasileiro com 71 pontos, disputando 38 partidas, o mesmo número que o Pincha). A equipe perdeu um titular (Marcos Rojo) na janela de contratações, mas trouxe Nelson Benitez do Porto e o bom Pitu Barrientos, do Catania, para repor a vaga. Nada parecia indicar que as coisas desandariam.

Mas foi o que aconteceu. Tudo começa com a surpreendente saída de Alejandro Sabella, que entrou em rota de colisão com os líderes do elenco (Verón e Desábato), por acreditar que estes tinham demasiado poder no vestiário e até no clube. Para seu lugar veio Eduardo Berizzo, ex-auxiliar de Marcelo Bielsa e sem experiência como treinador. El Toto desmontou o vitorioso sistema de jogo de Sabella, e não conseguiu construir outro que funcionasse. Se foi antes do final do Clausura, deixando para trás a certeza de que ainda não é um treinador em condições de assumir uma equipe forte. Resultado: o mesmo time que havia conquistado brilhantemente o Apertura 2010 foi apenas o 13o do torneio seguinte.

Para o atual Apertura houve diversas mudanças. Saíram titulares como Orión, Roncaglia, Federico Fernandez e Enzo Perez. Mas a reposição foi em alto nível: para o gol, o paraguaio Vilar, destaque da Copa América; na defesa Cellay, com histórico de títulos no clube; para o meio campo vieram Coria, protagonista do título do Argentinos Jrs. no Clausura 2010, Gonzalez (ex-Racing, Internazionale e Porto) e Fernandez (ex-Racing e Benfica); no ataque chegou Mauro Boselli, artilheiro nato, também com histórico de sucesso no clube. Além disso, chegaram apostas como os colombianos Dominguez, Zapata e Carbonero e o jovem atacante Mauro Fernandez. Para comandar a equipe foi trazido Miguel Angel Russo, campeão da Libertadores pelo Boca e um nome histórico do clube, o único pelo qual atuou como atleta.

O otimismo inicial se dissipou rapidamente. A equipe só conseguiu marcar o primeiro gol na quarta rodada, um decepcionante empate em casa com o San Martin por 2 a 2. Só venceu na sétima rodada, contra o Argentinos Jrs. Realizou a primeira atuação convincente na última partida, contra o Atletico Rafaela, quando venceu pela 2a vez em 11 rodadas, para finalmente abandonar a lanterna. Alguns jogadores demoraram para ter condições de atuar (Coria), outros ainda não conseguiram espaço (Fernandez, Zapata), algumas apostas ainda não conseguiram se consolidar (Carbonero, Mauro Fernandez) e alguns velhos conhecidos demoraram para reencontrar seu espaço no clube (Cellay, Boselli e até Gaston Fernandez, que sequer saiu do clube, e passou de titular inquestionável para o banco de reservas). Tudo isso em meio a rumores de descontentamento com Miguel Angel Russo, que para alguns não veria mais o futebol como prioridade.

Mas o desespero atual parece exagerado. A péssima campanha do primeiro semestre claramente foi fruto de uma escolha equivocada do substituto de Sabella. Mas no atual Apertura houve muitas mudanças. O clube perdeu jogadores em todos os setores do campo, e contratou praticamente uma equipe inteira, além de um novo treinador. Seria demais esperar que imediatamente a equipe rendesse em alto nível. Por certo o início poderia ter sido melhor, mas há bons motivos para esperar que as coisas possam mudar. E que a campanha acidentada do Apertura 2011 seja o preço a pagar para que a equipe se acerte e retome o caminho das vitórias em 2012.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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