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Blog FP: Por que o Vélez corre perigo contra o Peñarol

Após a derrota em Montevidéu, alguns jogadores do Fortín têm sido contundentes em afirmar que reverterão o placar desfavorável no jogo de volta, em Liniers. Da mesma forma, os torcedores do Vélez e alguns comentaristas também apóiam essa tese, que, traduzida em miúdos, quer dizer não somente que os comandados de Gareca têm um time superior ao do Peñarol, como ainda que o clube de Liniers perdeu o primeiro jogo, embora tenha sido muito superior ao local. Contudo, pelo menos no Uruguai e em poucos outros rincões do futebol mundial, algumas pessoas pensam diferente: para elas, o Vélez corre perigo diante dos carboneros.

O Peñarol contraria o princípio barcelonista de que quem tem a posse da bola não sofre gol. Isto porque os caborneros oferecem a posse da pelota ao adversário e joga com a expectativa de que ele não vai fazer nada com ela, pois vai se desgastar em meio à sua forte marcação. Talvez isto não funcionasse contra o Barça, que exerce o seu modelo à perfeição, mas funciona contra times com uma objetividade e criatividade reduzidas ou no mínimo menores do que as do time que tem Messi como seu principal jogador. Neste sentido, para o Vélez, não ter Moralez em campo ajuda ainda mais o clube de Liniers a entrar na sinuca de bico carbonera.

O técnico Aguirre monta o seu time com duas linhas defensivas fortes, com um 4-4-1-1, tendo Martinuccio como enganche e apenas Olivera na frente isolado e com pouca serventia. Porém, embora esse esquema seja quase a mesma coisa que o 4-5-1, já que Martinuccio recua para compor o sistema defensivo, alguns críticos talvez prefiram essa segunda denominação à primeira. Porém, não é bem isso o que ocorre no caso do Penãrol. Aguirre monta o time em um esquema que se configura como um 8-1-1, já que a segunda linha de quatro joga recuada à primeira, formando oito defensores para guardar a meta de Sebastian Sosa.

Numa estratégia defensista ao extremo, o Peñarol se configura para receber o adversário no seu campo de defesa, dominando completamente os seus espaços e obrigando-o ao exercício de uma criatividade absoluta. Criatividade que, ao contrário do que muitos pensaram, o Vélez não conseguiu ter no Centenário de Montevidéu.

Para os adoradores do futebol do Barcelona, talvez o jogo dos carboneros seja feio e atente contra o futebol. Contudo, para quem não dispõe da criatividade do time catalão, a estratégia de Diego Aguirre talvez seja a melhor ou a única possível. O curioso é que ambos os times bloqueiam todos os espaços possíveis de seus adversários. Mas, enquanto o Barça exerce esse bloqueio no ataque, em agrupamento total de seus jogadores, o Peñarol o faz em seu campo de defesa, em um esquema que suga até mesmo o seu enganche para a marcação. Enquanto o time espanhol o faz com a posse de bola, o uruguaio o pratica doando essa posse para o seu oponente.

Nessa estratégia, que leva à defesa ao extremo, a idéia de Aguirre é que o time jogue com ligação direta e principalmente pelos lados do campo: o que de certa forma elimina a função de enganche exercida por Martinuccio. Além disso, a aposta se concentra nas bolas paradas e nas cobranças de escanteio, já que o time tem bom aproveitamento nas jogadas aéreas. Aguirre sabe que seus comandados não terão muitas chances durante o jogo, mas, se tiver apenas uma, poderá levar vantagem frente a seu adversário.

Além disso, mas dois aspectos chamam a atenção para os riscos que o Fortín correrá na partida desta quinta-feira, no José Amalfitani. Uma delas tem a ver com a formação da equipe. Se Moralez não jogar, o time não somente perderá em criatividade como ainda poderá não ter um substituto à altura. Não que ele não exista no elenco, mas por uma questão de opção tática de Ricardo Gareca. Em Montevidéu, ele preferiu recuar Martínez para a função de armador e deixou o cerebral David Ramírez mais uma vez no banco de reservas.

O outro aspecto, que mencionamos acima, tem a ver com a presença do presidente da nação uruguaia, José Mujica, ao confronto entre Peñarol e Vélez. Mujica visitou o elenco carbonero na noite anterior ao jogo no Centenário e desejou sorte para o plantel. Mais que isso, sua visita significou que o Peñarol tem a responsabilidade de jogar pela nação. A enorme responsabilidade jogada às costas dos carboneros poderia ser contrapoducente caso o time em questão fosse o Danúbio ou o Defensor, por exemplo. Porém, se trata do Peñarol e de sua camisa pesada de história e tradição no futebol sul-americano. Dessa forma, o confronto em Liniers segue aberto e sinaliza para o Fortín que além do bom futebol terá de colocar também o coração em campo, assim como farão os carboneros uruguaios, comandados por Aguirre.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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