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Blog FP – Promoción e desempate: duas boas idéias argentinas

O campeonato argentino está longe de ser um modelo de organização. Possui elementos questionáveis (torneios curtos) e outros francamente bizarros (promédios). Mas também possui boas idéias que poderiam ser levadas a sério em outros países, como o desempate e a promoción.

O desempate parte de um princípio que me agrada muito. Uma equipe ser campeã ou rebaixada é algo importante demais para ser decidido em critérios de desempate. Na Argentina há critérios de desempate (o primeiro é o saldo de gols), e eles valem para todas as posições. Mas não definem campeões ou rebaixados.

Além disso, jogos-desempate são dramáticos, e frequentemente inesquecíveis. A grande final de 2006, envolvendo Boca e Estudiantes foi incrível, assim como o fenomenal triangular que envolveu Boca, San Lorenzo e Tigre em 2008. Imagine como seria Cruzeiro e Corinthians decidindo um brasileirão em um desempate no Maracanã, ou um Internacional x Flamengo fazendo o mesmo no Morumbi?

A promoción me agrada porque me parece excessivo rebaixar quatro clubes de cada vez. O Brasil já teve uma experiência assim: em fins dos anos 70 havia no paulistão o “rebolo”. O penúltimo colocado do paulistão jogava um mata-mata ida e volta contra o vice da segunda. No brasileirão isso poderia acontecer. Os jogos seriam interessantíssimos. De preferência sem a “ventaja deportiva” que dá ao time da primeira o privilégio de jogar em casa a segunda partida e lhe garante permanecer na primeira caso o confronto termine empatado.

Além disso, são jogos emocionantes, que ocorrem em um momento em que o campeonato já acabou, recebendo atenção total. Vários confrontos da Promocion são históricos, mesmo quando não envolvem um gigante do porte do River. A espetacular virada do Gimnasia, que conseguiu o 3 a 0 que precisava sobre o Rafaela em 2009 com dois gols nos minutos finais da partida é um exemplo. E não me lembro de felicidade maior que meu Huracán tenha me proporcionado que a vitória contra o Godoy Cruz no confronto de 2007 que lhe valeu o ascenso. É uma idéia a ser estudada.

ERRATA – Ao contrário do que escrevi em outro post, o sistema de promedios não foi inventado em 1983 para beneficiar o River. O sistema foi criado no início daquela temporada, sem que se imaginasse que no mesmo ano salvaria o gigante milionário do rebaixamento. Graças ao leitor Caio Brandão Costa por chamar a atenção para o fato, que confirmei com o amigo Esteban Bekerman (sub-editor de esportes do jornal Perfil e do site 442), o maior especialista que conheço em história do futebol argentino.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

5 thoughts on “Blog FP – Promoción e desempate: duas boas idéias argentinas

  • concordo com o texto. Só acho que a “promoción” aqui deveria ser apenas entre o 17o. da Série A e o 4o. da Série B, com vantagens (empate e decidir em casa) para o time da Série B. Dar vantagem para o time da Série A (como acontece na Argentina) é premiar a incompetência.

    A “promoción” permite que o 20o. e o 19o. colocado cheguem às rodadas finais ainda brigando por alguma coisa, o que não ocorre hoje na nossa Série A. Faltando quatro rodadas, mais ou menos, esses times já estão praticamente rebaixados.

    não acho ruins os torneios curtos, só acho que deveria haver uma final entre os campeões de cada um (turno e returno) pra decidir o campeão. Assim, as 19 rodadas iniciais valeriam alguma coisa (vaga na final e, consequentemente, na Libertadores) e não seriam esse marasmo que é aqui no Brasil..

  • Marcio

    Eu gosto muito do desempate no futebol argentino, e acho que seria muito interessante se esse processo fosse adotado no Brasil, pois ele torna o campeonato ainda mais emocionante, e em um campeonato como o nosso acho que seria muito legal pelas finais que poderiamos ter. E digasse de passagem uma equipe ser campeã no saldo de gols, e qualquer outro critério que não seja uma pontuação maior é muito estranho, e digo que esse sistema é o verdadeiro ponto corrido pois ganha quem soma mais pontos.

  • Willian Alves de Almeida

    Sistema muito bom, principalmente o desempate. Já a vantaje deportiva na promción acho uma injustiça.

  • Aron Ruales

    Concordo plenamete com o companheiro Tiago Melo e com os demias cometários postados.
    Seria uma novidade muito bem aceita no Brasil. Não sei por que ainda não foi trabalhada essa hipótese pela CBF.
    Parabéns pelos comentários!

  • Caio Brandão Costa

    Pensava da mesma forma…

    Minha ideia? Quando houvesse empate na dianteira ao final do campeonato, haveria jogo único, na casa do time que se saiu melhor nos critérios de desempate como a única vantagem deste, a não ser que ambos os times fossem da mesma cidade: neste caso, este teria a vantagem do empate.

    Se mais de dois times dividissem a ponta, aqueles que terminassem abaixo se enfrentariam, em moldes parecidos com o de acima (jogo único favorável de alguma forma ao que foi melhor entre estes), para decidir quem iria à “final” contra o primeiro.

    Rebaixamento: dois últimos descidos diretamente. Dois penúltimos em play-offs contra terceiro e quarto colocados da Série B. Desta forma, os dois últimos teriam mais chances de chegar à última rodada sem rebaixamento matemático, continuando a ter realmente motivação para ganhar, pois ainda haveria a chance de sobrevida.

    Os play-offs já teriam de ser em dois jogos, sem a vantagem dos resultados iguais. Concordo com o Felipe: o time da B deveria ter a vantagem de decidir em casa. Justamente para frear incompetências e para “punir” o desleixo do time da Série A. Ele realmente teria de fazer valer o direito de permanecer na elite…

    E outra: a Copa do Brasil deveria ser disputada durante todo o Brasileirão, de forma análoga à Europa, tendo sua decisão no meio da semana da última rodada. Para evitar que o campeão se permita relaxar no Brasileirão. Assim, se os dois finalistas tiverem chances de título também no campeonato, continuariam a ter motivação após a final: no caso do vice, o de salvar em grande estilo a temporada; no caso do campeão, o de fazer história com o que na Europa é chamado de “double”, “doblete” ou afins…

    Ah, Tiago, obrigado pela lembrança! Muito bacana da sua parte :)

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