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Blog FP – Riquelme x Falcioni – Uma briga sem sentido, nem vencedor

O “cabaré” das brigas internas em Casa Amarilla sempre teve um quê de Guerra Fria. Duelos indiretos, pois se as forças do Boca batessem de frente pra valer, o prejuízo seria incalculável.

Juan Roman Riquelme se compara aos Estados Unidos. Aquele mais forte, dominador neoliberal, mesmo que não admita. Palermo era a União Soviética. Luta pelo “povo”, mas com os dias contados pela velhice. Nesse cenário, o elenco Xeneize, tal como o mundo antes dos anos 90, estava dividido.

Antes que o cabaré terminasse entre os dois, chegou Julio César Falcioni (talvez análogo a China, não sei). Se posicionou com intenção de cumprir com o que lhe cobravam: levar o Boca ao topo de novo. Para isso, queria um elenco em forma física ideal para implantar seu estilo tático de jogo. Por orientação de seu preparador, segurava Riquelme no banco quando podia. Começava ali uma nova rusga.

Enquanto Falcioni não trazia resultados, perdia feio a briga com JR10, ainda que de forma comedida e escondida no vestiário. Alguns dizem que o técnico teria até pedido para Palermo continuar na ativa para ajudá-lo. Mas a saída para JC veio no Apertura, e não por sorte ou acaso. Achou um jeito do time se virar melhor sem o astro maior, e ganhou o Apertura invicto como prêmio.

Tal necessidade de se virar sozinho era algo que o Boca precisava de forma natural. Mas Román, tal como os EUA, sempre terá influência no clube. E para ele, o estilo pragmático, distinto do que foi com Bianchi, não agrada pelo risco da fraqueza no ataque, assim como contra o Zamora. O DT, por sua vez, não quer dividir o comando, menos ainda com um dos subordinados. Falcioni, então, tomou o lugar de Palermo no conflito, que explodiu de vez.

Para entender o que houve, leia a matéria de Tiago de Melo

No entanto, diferente da Guerra Fria, ninguém vai vencer no final. Talvez Riquelme, prevaleça, como prevaleceram os americanos, mas o Boca sairia prejudicado. Aliás, o adversário com maior chance de tirar a invencibilidade dos Xeneizes na temporada.

Se Falcioni cair, o time perde a identidade que o levou até a Libertadores e ao título do Apertura. Mesmo que Bianchi volte, talvez não tenha tempo para ajeitar a casa.

Riquelme não deve sair, mas se ele acabasse punido de alguma forma, o clima no grupo ficaria insuportável. Taticamente, o Boca joga até melhor sem JR10, mas não se for distraido em meio a este cabaré interno.

Zamora x Boca: o que houve?

A luz amarela piscou após a quase derrota na Copa Argentina para o Santamarina. Cessou no triunfo sobre o Olimpo, mas acendeu com força no empate na Venezuela. O Boca subestimou o Zamora? É preciso mesmo repensar o estilo “sortudo” de jogo?

Não necessariamente. O fato do campeão argentino não vencer estes dois times mais discretos não é coincidência. Assim como o fato de 8 das 12 vitórias no Apertura terem sido por um gol de diferença. Ambos mostram o padrão econômico e eficaz de Falcioni.

Nas subidas de Clemente Rodriguez e Rivero pelos lados. Nas assistências de Erviti e Román. No jogo rápido de Chávez e Cvitanich (ou Mouche). Tudo isso coroado na medida certa com a precisão de Blandi (Viatri ou Santiago Silva). Esses atributos não formam um futebol superofensivo, menos ainda um jogo bonito. Funcionam, sim, ao esperar o momento certo, nos espaços da defesa adversária.

E quando a defesa adversária não oferece estes espaços? Ou então, o que acontece se o ataque não aproveita as poucas chances que cria? Nessa hora, o cenário se assemelha ao que vimos nos jogos do Boca contra Zamora e Santamarina. Não se trata da tradição ou força do adversário, mas sim de como ele se comporta.

O Futebol Portenho vai lançar, em breve, uma previsão de como seriam os confrontos do Boca Juniors contra os favoritos da Libertadores.

Por enquanto, o que se sabe é que o mérito de Falcioni está em arrumar a defesa, ponto fraco do clube mesmo durante os anos dourados da década passada. A fraqueza do ataque vem como efeito colateral, mas por enquanto ainda não foi suficiente para derrubar a invencibilidade. Entretanto, o mesmo não se pode dizer da pelea JR10 x JCF.

Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

2 thoughts on “Blog FP – Riquelme x Falcioni – Uma briga sem sentido, nem vencedor

  • yuri cezar

    Boca sempre teve postura ofensiva em libertadores, ficou marcado por atropelar os adversários na Bombonera, onde também botava medo nos adversários. Falcioni tem seus méritos por vencer o Apertura mas não é a cara do Boca essas vitórias por 1×0, 2×0. Os resultados contra o Santamarina e Zamora dois times fracos que deviam ser goleados é a prova de que tem que haver mudanças.

  • Willian Alves de Almeida

    Não me preocupo com os resultados contra Santamarina e Zamora, mas com estra briga de egos derrubar o elenco.

    Por mim, cara de bulldogue (Falcioni) permanece, pelo menos até o fim da CL. Já Román, é um problema mais grave, o que fazer com o maestro que provoca tantas dores de cabeça?

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