Primeira Divisão

Como funcionam os rebaixamentos na Argentina

Apesar da ótima campanha, Godoy Cruz pode ser rebaixado
Apesar da ótima campanha, Godoy Cruz pode ser rebaixado

Para os brasileiros é muito difícil entender como funciona o sistema de descenso no futebol argentino. E em certas situações, a coisa parece verdadeiramente incompreensível. A duas rodadas do fim, o Godoy Cruz disputa o título, a dois pontos dos líderes, mas está apenas dois pontos acima da linha do rebaixamento. Situação similar à do Colón, quatro pontos atrás dos líderes, mas apenas um acima do Rafaela, o primeiro da zona de rebaixamento.

Na B Nacional ocorre algo semelhante. Se o torneio acabasse agora, o Gimnasia Jujuy seria rebaixado, apesar de estar a apenas 3 pontos de Instituto e Crucero del Norte, empatados na última vaga que dá acesso à elite. Talvez a situação mais surreal tenha sido na temporada 2011/12, quando o Tigre chegou à última rodada empatado com o Arsenal na liderança, mas correndo o risco de ser campeão e rebaixado no mesmo dia. De fato o futebol argentino não é para principiantes.

A questão é que a tabela que define o campeão e os rebaixados não é a mesma. O campeão é definido da maneira tradicional. Mas o rebaixamento é definido pela média das três últimas temporadas, ou seja, dos seis últimos campeonatos. Assim, pode ser que uma equipe tenha ótimo desempenho em um torneio, ou até em uma temporada, e mesmo assim seja rebaixada, caso tenha tido um desempenho muito ruim nos anos anteriores.

Nesta temporada, por exemplo, o Godoy Cruz soma 53 pontos, um desempenho bastante razoável. Mas paga o preço dos 38 pontos obtidos na péssima temporada 2011/12. O caso do Colón é mais impressionante. Os sabaleros tiveram bom desempenho nas temporadas anteriores, mas fizeram ridículos seis pontos no último torneio, o que puxou muito para baixo a média da equipe. Mesmo tendo se recuperado no Final, a equipe soma apenas 33 pontos na temporada, um desempenho fraquíssimo que levou o clube à insólita situação.

Vale notar que o sistema, apesar de estranho e de difícil entendimento, não é apenas uma excentricidade. A ideia manifesta é premiar a regularidade das equipes, levando em consideração um período maior de tempo. Mas para muitos, é uma forma de proteger os grandes, que poderiam compensar um ano ruim com outros dois bons. Mas a verdade é que não está funcionando, já que River Plate e Independiente foram rebaixados em anos recentes.

O motivo é que o futebol argentino chegou a tal nível de imprevisibilidade que nem os grandes conseguem ter um desempenho regular, já que são muito mal administrados. O que também explica a frequência nos últimos anos de situações esdrúxulas como as citadas, em que uma equipe consegue lutar pelo título logo após ter feito temporadas ruins o bastante para possibilitar um rebaixamento.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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